Fanfic: Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16] | Tema: Nárnia
Quando Cáspian e Lúcia alcançaram o topo da montanha nevada, iluminada pelo obelisco de luz estelar, depararam-se com os corpos de Edmundo e Pedro, tombados um ao lado do outro, e a carcaça sem vida do dragão um pouco mais acima.
Correram até eles e Cáspian verificou que ainda respiravam.
— O Edmundo está bem, parece apenas desacordado. — Virou-se para o outro. — Mas o Pedro não! Lúcia!
A garota se agachou e deixou cair uma gota nos lábios arroxeados do irmão. Como ele demorou para voltar, ela o chacoalhou com força.
— Pedro! Pedro, acorda!
Vagarosamente alguma cor voltou ao rosto dele, e seus olhos claros se encontraram com os dela.
— Lúcia... Como você...? — Viu Cáspian ao seu lado. — E o Ed?
— Não se preocupe, ele está bem — respondeu o rapaz, aliviado com o desfecho milagroso. — Vocês, Pevensie, são mesmo resilientes!
Mal tiveram tempo de conversar, pois Féarigan já os focinhava apressado.
— Deixem a conversa para depois. Farejo outra tempestade se aproximando; temos que sair das montanhas!
Dito isso, colocaram Edmundo sob as costas felpudas do grande lobo enquanto Lúcia, Cáspian e Pedro montaram nos lobos menores. Durante a corrida, outros dois lobos haviam se juntado à matilha.
Ao chegarem no Castelo, deixaram que Ariel conduzisse seu mestre até seus aposentos para repousar. Enquanto isso, os três hóspedes foram agraciados com um farto dejejum na Sala de Jantar. Ali, Pedro narrou em tom baixo tudo o que aconteceu até o ponto em que desmaiara.
— O Ed está dominando o poder da Feiticeira. Eu o vi matar o dragão sem nem mesmo dar um passo. O gelo se curva perante a vontade dele e o frio não o afeta. Os olhos dele estavam assustadores, como os daqueles lobos.
— Mas se não fosse por essa magia, vocês provavelmente estariam mortos — argumentou Lúcia. — Acha mesmo que o Edmundo se deixaria dominar? Depois de tudo o que ele passou por causa dela!
— Não que eu duvide da força dele, não é isso, mas estamos falando da Jadis! E afinal, por que aquele dragão nos atacou?
— Eu estive pensando nisso desde que voltamos — falou Cáspian. — Seria bem conveniente se a Feiticeira tivesse chamado o dragão para te atacar, Pedro. Isso forçaria o Edmundo a usar magia.
— Não podem estar falando sério! — Lúcia foi enfática ao discordar. — Isso não faz sentido! Ela não arriscaria matar o Edmundo, porque é lógico que ele defenderia o Pedro nessas circunstâncias.
— Então por que outra razão fomos atacados? — redarguiu Pedro.
— Não sei, mas certamente há algum outro motivo. Tem de haver...
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No dia seguinte, o Rei Edmundo já se sentia bem o suficiente para se juntar a todos no dejejum matinal. Lúcia estava sentada em sua cadeira almofadada ao lado de Pedro, que tomava seu chá, pensativo. Cáspian revisava alguns mapas e documentos sobre a mesa.
— Bom dia a todos — falou o garoto com um breve suspiro, imaginando que seria questionado por ter usado magia para derrotar o dragão. Sentou-se sem olhar para ninguém e começou a comer os pães doces regados a mel e frutas. Também não disse mais nenhuma palavra. Como a atmosfera estava tensa, Cáspian tentou desviar a atenção de todos para os pergaminhos à sua frente.
— Creio que está tudo em ordem para enviar esses documentos ao Conselho. Só preciso do sinete do Edmundo.
— Por que só o do Edmundo? — perguntou Lúcia.
— Ora, porque... — Cáspian estava confuso, afinal eram quatro reis governando ao mesmo tempo na Era de Ouro. — Bem, como oficializavam os decretos na época de vocês?
— A gente só falava o que estava pensando e todos davam sua opinião — respondeu ela naturalmente.
— Sim, numa assembleia, mas e depois?
— Se não concordávamos com algo — falou Pedro com um leve sorriso no rosto —, decidíamos num jogo.
— Como assim, num jogo? — espantou-se, Cáspian.
— Uma partida de xadrez, uma caçada...
— Um concurso de vestidos! — falou Lúcia com os olhos brilhantes. — Aquilo foi tão lindo! As dríades fizeram uma grinalda de flores, as náiades, de algas marinhas e conchinhas!
— Isso durou meses — comentou, Pedro. — Mas não foi tão divertido quanto os jogos olímpicos do Edmundo.
Lúcia caiu na gargalhada, relembrando o acontecido.
— É verdade! Aquilo se tornou uma baita confusão!
— Eu ainda era jovem, não sabia direito como avaliar aquilo — disse Edmundo, amuado.
— Como assim? — Cáspian queria saber, pois agora estava curioso; sempre adorava ouvir histórias de eras antigas. Pedro deu continuidade ao relato.
— O Ed era o juiz mais indeciso do mundo. Era justo uma corrida onde guepardos participavam? Provas de força com centauros e ursos de um lado e faunos e lebres do outro; isso só pra começar.
— Eu devia ter pensado em dividir os participantes por algum critério... — resmungou Edmundo. — Mas o torneio de xadrez deu certo!
— Exceto pelo fato de você ter perdido para o Sr. Tumnus...
— Foi sorte de principiante.
— E depois ficou emburrado por um mês porque queria ter ficado com o prêmio. E então foi criada a regra! — Pedro olhou para Lúcia, que respondeu:
— Nunca ofereça um prêmio que você queira muito.
— É, eu aprendi a não subestimar meus oponentes... — replicou Edmundo.
Cáspian estava tão espantado quanto preocupado.
— Isso tudo soa como uma fábula.
— E era — falou Pedro, saudoso. Mirou o amigo. — Não se preocupe, sabemos que tudo está diferente agora, por isso estamos deixando a burocracia pra você. Não que a gente se importe.
Eles riram ao ver a expressão de cansaço de Cáspian, pois era ele quem teria que lidar com os Fidalgos e suas perguntas infindas. Foi então que uma súbita questão passou pela mente do Rei Telmarino.
— Como é no mundo de vocês? Sempre quis perguntar isso.
— Um tédio. — Edmundo respondeu de supetão. Lúcia se opôs.
— Não é não! Você só não gosta de lá porque gosta demais daqui.
— Lá é muito chato...
— Só porque lá você é só um estudante adolescente — completou Pedro.
— E provavelmente vou perder toda a minha magia quando voltar pra lá.
Pedro se remexeu na poltrona. Não havia pensado nisso, mas era realmente uma saída simples e certeira. Voltaria para casa, na Inglaterra, e Edmundo se livraria da influência de Jadis.
— Mas... — Cáspian interrompeu os devaneios dele. — Se não há magia lá, por que foram escolhidos para governar um mundo mágico?
— Já cansamos de tentar descobrir — comentou Lúcia.
— Os desígnios de Aslam pertencem apenas a ele próprio — concluiu Pedro.
— E você governa aquelas terras, Pedro? — perguntou Cáspian.
— Não, eu piloto um avião.
— Avião? O que é um avião?
Foi Edmundo quem elucidou uma boa explicação, após pensar por um momento:
— Pense num avião como um grifo de metal, que não é vivo, mas você consegue montá-lo e voar nele.
— Nossa! E ainda dizem que não há magia no mundo de vocês? Um grifo de metal voador!
— O que a Susana deve estar fazendo agora? — comentou Lúcia.
— Provavelmente se preocupando com a gente — respondeu Pedro; e jogou um olhar rápido para o irmão, que baixou os olhos.
— Está tudo bem, ela confia em nós. E em Aslam — interrompeu Lúcia.
— Bem — Cáspian reuniu os pergaminhos e se levantou —, se está tudo certo, vou seguir para o castelo e mostrar os decretos para os Fidalgos. Vocês ficarão bem sem mim?
— Eu tomo conta deles, Cáspian — falou lúcia, resoluta.
— Está bem então. Se algo acontecer... algo maior do que já está acontecendo, mandem um emissário.
— Não se preocupe.
— E podem ficar no meu castelo, sempre que quiserem — falou cortesmente, Cáspian, o Décimo, e saiu com uma vênia.
Depois dele sair, Pedro encarou Edmundo sem cerimônias. Incomodado, o irmão mais novo devolveu o olhar, impaciente.
— O que?
— Nada. Só queria te agradecer por salvar a minha vida e derrotar o dragão.
A tensão novamente se instalava ali.
— E o que mais? Que o dragão veio a mando dela? É isso o que vocês pensaram?
— Eu não acredito nisso. — Lúcia foi enfática.
— Eu não duvidaria. — Pedro arriscou tocar no assunto, mas Edmundo apenas deu de ombro.
— Ela nunca faria isso.
— Por que tem tanta certeza?
— Porque eu estava com você. Ela não arriscaria me ferir.
— Foi o que eu disse! — Lúcia se sentiu satisfeita por ele ter dito o óbvio.
— Ed... — Pedro se debruçou sobre a mesa e olhou bem nos olhos do irmão. — Por acaso, você está gostando dela?
A pergunta o pegou de surpresa. Retrucou gaguejando as palavras.
— Eu tenho é medo dela!
— Vocês lutam a tanto tempo que acho que podem ter se acostumado um com o outro. Isso acontece, sabe?
— Sei disso melhor que ninguém, mas não é o caso.
— E o que será que vai acontecer depois que a criança nascer? Porque a Feiticeira não faz nada sem um propósito.
Edmundo ponderou e então respondeu antes de sair.
— Aslam também não.
Fim do Capítulo 13
Autor(a): callyzah
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).