Fanfics Brasil - Cap. 2 - Uma Luz na Escuridão Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16]

Fanfic: Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16] | Tema: Nárnia


Capítulo: Cap. 2 - Uma Luz na Escuridão

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Ao abrir os olhos, Edmundo viu o interior de um chalé, feito de madeira e alvenaria. Era quente e aconchegante, ainda que um pouco pequena. Lembrava a casa do Sr. Tumnus. Tentou se levantar, mas estava fraco, e seu corpo, dolorido. Ouviu uma voz grave vinda do fundo da sala.


— Não se levante! — Era uma voz severa, mas melodiosa. Ouviu batidas de cascos. Edmundo se sentou e viu um fauno, de aparência robusta, cabelos e barba encaracolados de coloração preta com mechas grisalhas. — Trouxe um guisado de coelho, deve estar com fome.


— Quem é você? — perguntou o rapaz reparando na grande janela curva de vidro ao lado de sua cama, e através dela, um bosque recoberto de neve. Ali também era a sala principal, pois havia uma lareira cujo fogo crepitava, uma pequena mesa e banquinhos de madeira. Na parede havia um escudo e uma acha d’armas. — É o brasão de Nárnia!


— Oh, aquilo? Relíquia de família. Não luto há muito tempo. Tome, tente comer. A faca nas suas costas estava envenenada. Por sorte, sou bom com ervas.


Edmundo estava apenas com suas calças e meias, pois no peito, uma faixa de pano segurava o unguento sobre o ferimento.


— Obrigado, salvou minha vida. — Ele estava lânguido e comeu com apetite a refeição.


O rosto do fauno era carrancudo, mas algo em seus olhos vermelho acastanhados desmentia sua expressão. Parecia ser alguém bondoso.


— Meu nome é Cérus.



Ressabiado por ter aparecido em Nárnia pelo feito de uma magia sombria, Edmundo decidiu ocultar sua identidade.


— Will... William! Meu nome é William.


— Will William? Que nome engraçado. E me diga, por que tinha uma faca cravada nas costas, rapaz? Envenenada, ainda por cima.


— Eu... me perdi e fui atacado por criaturas na floresta.


— Pelas barbas do meu avô! Quem é que se perde na floresta das Ruínas da Bruxa? Devia viajar com um guia, se não tem um mapa.


— Perdi tudo, na verdade. Onde estamos, falando nisso? Vi uma cidade antes de desmaiar.


— É Tír-Kalleb, estamos bem ao norte.


— Estamos em Ettinsmoor?


— Do outro lado das montanhas. Aqui é o território selvagem do Norte.


— Quem é o rei atual?


Cérus o mirou com desconfiança e ergueu uma sobrancelha. Edmundo percebeu tardiamente que a pergunta soara peculiar.


— Parece que perambulou sem rumo por muito tempo.


— É que as coisas às vezes mudam rápido, não é? — Tentou disfarçar seu nervosismo. — É o Rei Cáspian?


— Sim, o Décimo.


“Ufa!”, pensou Edmundo dando um suspiro. “Acho que não se passou tanto tempo dessa vez.”


— Preciso ir para os Bosques Ocidentais.


— Uma semana a cavalo, talvez menos se estiver com pressa.


— Bom, eu tenho um cavalo, e ele corre bem. Talvez eu chegue em quatro ou cinco dias.


Cérus concordou. Apesar de ser apenas um garoto, notou que ele tinha experiência em cavalgar.


— É de alguma família nobre?


— Não exatamente. Será que posso pegar mais um pouco de ensopado? Está muito bom!


— Claro, rapaz, fique à vontade. — O fauno pegou a tigela dele e a encheu.


— Você salvou minha vida, não tenho nada de valor comigo, mas tem minha gratidão, Sr. Cérus.


— Apenas Cérus está bom, não sou tão cerimonioso assim.


— Como queira.


— Amanhã estará bem para viajar. Acompanharei você até a cidade. — E entregou a tigela com um leve ar de suspeita.


Depois de comer, Edmundo caiu no sono, mas apesar de exausto, acordou várias vezes sobressaltado. Cérus dormia aos roncos em sua confortável poltrona ao lado da lareira. Olhou pela grande janela dupla e pensou em seus irmãos.


— Eles devem estar apavorados. Acho que eu não deveria estar aqui. Tenho que tentar voltar pelo guarda-roupa. — E quase sem notar, adormeceu de novo.


 *****


Na alvorada, a claridade e o cheiro de chá forte despertaram Edmundo. O fauno já estava acordado e com o dejejum servido à mesa.


— Coma bastante. Preparei uma algibeira com pães, carne salgada e frutas para a jornada, já que está sem nada.


— Nossa, nem sei o que dizer. Você é muito generoso, Cérus.


— É que... Bem, eu já tive uma esposa... E um filho, antes da guerra levá-lo de mim, e ele se parecia muito com você. Só que sem barba. Se tivesse barba rala e chifres, aí eu teria levado um grande susto.


— E cascos! Eu teria que ter cascos para ser o fantasma do seu filho.


— Verdade. Você tem pernas fininhas, nem deve aguentar caminhar por um dia inteiro.


Edmundo sorriu amistoso.


— Sei que sou pequeno, mas minhas pernas não são tão fracas assim.


— Assim espero. Vamos indo antes que comece a nevar de novo.  Tome, vai congelar se não usar um desses. — E passou ao garoto uma grossa manta de peles cinzentas.


— Obrigado!


Tudo arrumado, rumaram para a cidade sob a luminosidade de um dia nublado. A poucos quilômetros do chalé de Cérus, passando pela comprida alameda, avistaram a estrada principal.


— Depois da cidade há uma ponte, e depois uma colina onde a estrada se bifurca. Deve seguir à esquerda, compreendeu?


— Sim, você é o guia. — O sorriso do garoto suavizou a expressão séria do fauno.


Edmundo estava mais tranquilo, e se divertia com a companhia de seu benfeitor. Sentia-se seguro, e isso fez seu espírito desejar entrar em uma nova aventura.


— Garoto William, você é muito esquisito.


— Sério? Por que me acha esquisito?


— É que... Tem um cheiro estranho em você.


— Cheiro? — Fungou seu braço pensando estar com algum fedor. — Acho que devia ter tomado banho.


Cérus riu da preocupação dele, afinal se referia a um odor mágico, que só algumas criaturas mais sensíveis conseguiam diferenciar.


— Banho... Garoto, tenho cheiro de bode velho, e está preocupado com isso?


— Você não tem... bem, só um pouquinho. — E seguiram rindo, conversando trivialmente; ele montado no grande cavalo negro, e Cérus andando tranquilamente sobre a terra úmida e batida, levando seu velho machado na cinta e uma besta pequena nas costas.


 *****


Num dado momento, quando já seguiam pela estrada, Cérus segurou as rédeas do cavalo e parou, olhando para a floresta. Edmundo sentiu seu coração disparar.


— O que foi, Cérus?


— Shh! Tem alguém nos rodeando pela mata.


Ouviu-se um assovio e de repente o cavalo empinou, derrubando o garoto da sela. Nesse momento, quatro lobos surgiram dos arbustos espinhosos e correram de encontro a eles. O primeiro foi derrubado por um golpe certeiro do fauno, mas a arma era pesada e antes que a erguesse novamente, o outro lobo abocanhou seu braço esquerdo.


Os dois restantes cercaram Edmundo, que tentava mantê-los afastados com a grossa manta de peles. Como havia desmaiado na noite anterior, a cimitarra provavelmente havia escorregado e se perdido pelo caminho, e agora estava desarmado para enfrentá-los.


Agilmente, Cérus voltou o machado para a cabeça do lobo que o mordia, e com o braço machucado pelas dentadas, pegou a faca do cinto e a arremessou para o garoto.


— William, pegue!


Ele habilmente apanhou a faca do chão e riscou o ar. A lâmina acertou o olho de uma das feras que se afastou aos ganidos. E assim que o último lobo pulou sobre ele, com as presas à mostra, Edmundo se inclinou para a frente e estocou a boca do animal com a faca. O lobo se debateu, engasgado com o sangue, e tombou morto ao lado dele no momento seguinte.


— Você está bem, Cérus?


— Garoto, onde aprendeu a lutar desse jeito? Deu conta deles com uma faca de pão!


— Mas muito bem afiada, devo acrescentar. O seu braço!


— Não foi nada. E quanto a você?


— Só uns arranhões.


Sorriram por estarem inteiros depois do ataque surpresa. O lobo que estava cego de um olho, rosnou, mas não ousou se aproximar. Correu de volta para a floresta, de onde um homem jovem apareceu caminhando, brandindo uma espada de fio largo. Tinha longos cabelos descoloridos e uma cicatriz no rosto. Trajava uma armadura de couro escuro. Era o mesmo homem, de mãos reptilianas, que apunhalara Edmundo.


— Você é sorrateiro como uma doninha, moleque — disse ele. — Mas foi tolice da sua parte fugir no meu cavalo. Deixou um belo rastro para eu seguir.


— Cuidado, garoto! Sei quem ele é. — Cérus se pôs entre eles.


— Eu também. Foi ele quem lançou a faca nas minhas costas — respondeu Edmundo com a faca em riste. Encarou-o em desafio. — Quer tentar de novo?


— Seria uma honra! — Ele avançou girando a espada.


— Não interfira, Cérus, eu dou conta dele!


— Mas ele é um feiticeiro! É o filho da bruxa Styr, do Castelo do Abismo. Não sei por que estão atrás de você, mas não vou ficar apenas olhando.


— Venham! — bradou o feiticeiro. — Podem vir os dois!


Edmundo foi o primeiro a atacar, e mesmo com apenas uma faca, desviou do movimento dele e cortou seu braço. Lâminas tilintaram enquanto o fauno tentava se aproximar buscando uma brecha pelo flanco, percebendo como o garoto era habilidoso, lutando de igual para igual com o homem que tinha quase o dobro do seu tamanho.


Cérus golpeou a perna do bruxo, mas ao contra-atacar, a espada larga soltou um brilho branco, formando um rastro de gelo pontudo. A onda gélida acertou o fauno, imobilizando sua perna num bloco de estalagmites. Preso, viu quando a espada se ergueu para o derradeiro golpe. Subitamente, Edmundo trombou com o feiticeiro e ambos rolaram pela estrada coberta de neve.


O homem meio réptil jogou seu peso sobre o rapaz, forçando o fio da lâmina contra sua garganta. Apenas a faca de Edmundo detinha o corte, e entredentes, alertou seu inimigo.


— Não pode... me matar!


Como que se lembrando daquele importante detalhe, ele abrandou a força da espada, para em seguida golpear Edmundo no rosto. Zonzo, o rei de Nárnia foi rendido pelo caçador das sombras.


— Não preciso te matar. Um talho nesse seu belo rosto já será suficiente para o meu deleite. Eu, Duvran, sempre marco minhas presas, e você não será exceção!


— Ei, feiticeiro! — gritou Cérus, ainda preso ao bloco de gelo.


No momento em que Duvran virou a cabeça, um virote voou da besta do fauno atingindo seu olho em cheio. Seu corpo caiu num rodopio já sem vida ao lado de Edmundo.


— Bela pontaria...


Com a morte do feiticeiro, o gelo mágico se desfez e o fauno se viu livre da armadilha elemental. Claudicou até o garoto e o ajudou a se levantar.


— Mas afinal, o que ele queria com você? Parece que não está sendo totalmente sincero comigo, William.


Edmundo baixou os olhos, um pouco envergonhado.


— É, eu... Eu não fui totalmente sincero em minhas palavras.


— Temos que sair daqui. — Observou que densas nuvens se aglomeravam sobre a floresta. — Outra nevasca se insinua sobre nós. Não teremos tempo de chegar à cidade. É melhor voltarmos até meu abrigo. A neve irá cobrir nossos rastros.


— Você me salvou de novo...


— Conversaremos quando chegarmos. Vamos.


E assim, voltaram pelo caminho da alameda sob o céu escuro e tempestuoso.


Fim do Capítulo 2



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Autor(a): callyzah

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

A nevasca demorou a passar, o que atrasou a ida deles à cidade. Acomodados no chalé, Cérus serviu chá e bolo para seu misterioso hóspede. — Esses são sua esposa e filho? — Edmundo olhava as pinturas dependuradas na parede. — Ele realmente se parecia comigo, sem a barba e os chifres, claro. — E os cascos &mda ...


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