Fanfics Brasil - Cap. 3 - A Fúria da Serpente Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16]

Fanfic: Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16] | Tema: Nárnia


Capítulo: Cap. 3 - A Fúria da Serpente

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A nevasca demorou a passar, o que atrasou a ida deles à cidade. Acomodados no chalé, Cérus serviu chá e bolo para seu misterioso hóspede.


— Esses são sua esposa e filho? — Edmundo olhava as pinturas dependuradas na parede. — Ele realmente se parecia comigo, sem a barba e os chifres, claro.


— E os cascos — completou o fauno. Observou o rapaz em silêncio, e assim que ele se aquietou, bebendo o chá sentado na cama, se encararam por um momento. Edmundo suspirou.


— O meu nome não é William. E eu não me perdi, fui sequestrado pela Styr. Só não disse a verdade antes porque não queria envolver você nessa confusão.


— E que valor tem um menino para o Reino Sombrio? Eles não se importam com fidalgos, nem com ouro; apenas com as trevas e suas bruxarias. Afinal, quem é você?


— Meu nome é Edmundo. — Esperou para ver se ele adivinharia, mas parecia que o fauno não acreditaria estar diante de um rei lendário.


— Você tem algum título?


— Rei de Nárnia serve? — respondeu de um jeito maroto.


— Certo... Se não quer me contar é porque deve ter lá seus motivos, mas saiba que é de muito mau gosto enganar um anfitrião, principalmente depois dele ter arriscado o próprio pescoço para... — Cérus se calou diante do sorriso enigmático do garoto. — Mas que diabos! Não sei por que, mas não consigo me zangar com você.


— É melhor eu seguir sozinho. Já fez muito por mim, não quero que se arrisque ainda mais.


— Um pouco tarde pra dizer isso. O lobo que fugiu irá contar para a bruxa serpente sobre a morte do filho dela. Irão acabar me encontrando, cedo ou tarde.


— Então é melhor eu levar a besta comigo e deixar um rastro pra eles pensarem que eu atirei a seta.


— Mas aí eles irão atrás de você! Não é costume as crianças serem protegidas lá de onde você vem?


— De onde eu vim, sim. Aqui, é meu dever proteger quem quer que seja, mesmo sendo apenas um garoto. Ei, olhe! O céu está se abrindo. Acho que já posso ir para a cidade.


— Sim, mas sem uma montaria... É melhor eu ir com você, por precaução.


— E quanto a você, Cérus? Por que insiste em proteger um desconhecido? Não pode ser apenas pela minha aparência.


— Pode-se dizer que é um velho hábito, eu acho — disse com certo pesar. — Venha, vamos nos apressar ou não chegaremos antes do anoitecer.


Edmundo se enrolou na manta de peles. Lembrou da vez que perambulara pela floresta com o casaco de peles do guarda-roupa. O fauno deu uma olhada no garoto e bufou.


— Não pode viajar com esses trajes tão finos. — Ele abriu um baú e tirou uma simples armadura de couro forrado castanho avermelhado e uma bainha com uma espada fina; provavelmente de seu filho.


— Mas isso era do... Não posso...


— Fique, por favor. Será mais útil aos vivos. Afinal, se a arma e a armadura ajudar a mantê-lo vivo, haverá uma família a menos enlutada.


Edmundo se emocionou com a bondade dele e o abraçou de súbito. Cérus não se mexeu pela surpresa, mas então retribuiu o abraço, meio embaraçado.


— Sim, sim, agora vamos indo!


  *****


Andando pela neve grossa, contornaram a estrada indo pela orla da mata. Quando a escuridão caiu sobre eles, as luzes da cidade de Tír-Kalleb iluminavam o manto sombrio do horizonte. Passaram pela guarita e atravessaram pela movimentada cidade. Quase chegando ao portal sul, em uma deserta praça, Cérus e Edmundo viram seis homens encapuzados, vindo de encontro a eles. Perceberam o metal do pomo das espadas reluzir sob a luz dos archotes presos nos muros. Estavam cercados.


— Uma emboscada — sussurrou Cérus.


— É o que parece. Eu pego os da esquerda, três pra cada não é tão ruim.


— Verdade. — Ele pegou o machado do cinturão enquanto o garoto sacava a espada e a faca.


— Já estive em situações bem piores.


— Acredito.


Os homens de capa avançaram. Eram humanos, provavelmente mercenários, e apesar da vantagem numérica, iam caindo um após o outro, pois tanto Cérus quanto Edmundo já haviam vivenciado duras batalhas. E assim que o último deles caiu, uma estranha neblina recaiu sobre o lugar. Pela penumbra, uma mulher serpente apareceu segurando uma espada em cada mão.



— Styr! — Cérus mirou o garoto que ainda tinha fôlego para continuar a batalha, atingido apenas por alguns cortes. — Edmundo, fuja para a guarita e chame os guardas. Eu a deterei aqui.


— Tem certeza? Nós podemos com ela!


— Faça o que estou mandando! Agora vá!


Edmundo desapareceu pela bruma enquanto Cérus corria insanamente contra a bruxa, gritando com o machado sobre a cabeça. Entretanto, ela era ágil, grande e forte, e foi capaz de se desviar dos pesados golpes do fauno.


— Está apenas me atrasando — disse ela, irritada. Com um movimento brusco, sua cauda acertou o fauno no estômago. Ele cambaleou e caiu, e antes que pudesse se defender, foi atingido pela magia dela. Uma lufada de ar congelante o fez permanecer no chão, tendo sua pele recoberta por uma fina camada de gelo. Era difícil se mover, e os pulmões queimavam ao respirar. Ela o pegou pelo chifre e o ergueu. — Diga-me, fauno, foi você quem tirou a vida do meu filho?


— Foi uma luta inglória, mas ele teve o que mereceu! — disse sem desviar os olhos da espada erguida, prestes a decapitá-lo.


De repente, uma seta atravessou a bruma e resvalou na armadura metálica de Styr. Edmundo armava a besta, preparando outro disparo.


— Reconhece isto?


— Você irá pagar pelo que fez! — A mulher jogou o fauno no chão e deslizou na direção dele, furiosa. O rapaz atirou de novo, mas ela se desviou girando o corpo. Sua cauda bateu em Edmundo, que foi jogado contra a mureta dos canteiros da praça. — Até que o momento da sua morte chegue, você sofrerá um tormento comparado aos condenados do próprio Abismo!


Contudo, mesmo atordoado, Edmundo se jogou para frente, cortando a pele escamosa da cauda e desferindo uma sequência de golpes com sua espada e faca. Styr recuou, temendo a pesada mão do pequeno rei narniano. E por mais que ela tentasse atingi-lo, era como se alguma magia tornasse seus movimentos perfeitos, sua força desmedida, e sua presença grande demais para não ser temida. Assim, percebendo que seu oponente era mais ameaçador do que pensara, ela ergueu suas espadas a fim de lançar um feitiço.


Nesse momento, um machado cortou o ar e se cravou nas costas dela. Não fosse pela armadura, o golpe teria sido fatal. Encurralada, vendo tanto Edmundo quanto o fauno se aproximarem, ela emanou uma aura brilhante que se expandiu numa incandescente explosão de frio.


Tanto Cérus, quanto o garoto, foram arremessados para trás, parcialmente congelados. O fauno mal conseguia respirar ou se mover, e viu aflito quando a bruxa pegou Edmundo pela garganta e o ergueu. O rapaz, desarmado e entorpecido pela magia, podia apenas ranger os dentes, tentando não sufocar pela força do aperto dela.


— Não faça isso! — gritou o fauno. — Não foi ele quem matou Duvran, fui eu! Solte o menino e lute comigo!


— Menino? — sibilou ela com um sorriso cruel no rosto. — Sua criatura patética, por acaso não sabe que essa criança é o lendário Rei de Nárnia, coroado pelo próprio leão maldito?


— Rei... Edmundo? — O fauno gaguejou, sentindo o peso de seu fracasso em protegê-lo. — Não! Espere...!


A gargalhada dela foi interrompida pelo som de passos e vozes de guardas correndo para aquele lugar.


— Os dias de paz de Nárnia estão prestes a terminar! — Ela evocou as névoas que rodopiaram, formando um túnel luminoso. Styr atravessou o portal levando o garoto consigo.


Edmundo perdeu os sentidos, tendo como sua última visão a expressão atribulada do fauno.


  *****



Ao despertar, sentindo o calor reconfortante dos tripés de bronze que ardiam chamas esverdeadas no grande salão, percebeu estar preso em uma estátua de serpente, encurvada em forma de ‘S’. Sentado sobre a cauda arqueada, tendo suas pernas acorrentadas abaixo dela, e os braços esticados para os lados, igualmente presos à duas hastes de ferro paralelas à estátua, estava completamente imobilizado, podendo girar apenas o rosto. A cabeça da serpente estava sobre ele, com seu olhar de rubi e a bocarra aberta. Atrás de si, havia um portal de pedra com rústicas inscrições em baixo relevo. Ali seria o lugar onde a magia de gelo abriria a passagem entre os dois Planos, permitindo que a Feiticeira Branca novamente retornasse ao mundo dos vivos.


Tambores e uivos ecoavam por toda parte enquanto as Banshees dançavam freneticamente, entoando encantamentos nefastos. Styr se esgueirou pela serpente de bronze e encarou o jovem rei. Ergueu o rosto pálido dele.


— Eu lhe prometi o pior dos tormentos antes do fim. Minhas palavras não são sussurros tolos, são profecias!


Edmundo a encarou, tremendo de raiva e medo. Estava vestido apenas com a calça e as botas; já imaginava que ela o machucaria fisicamente. Por isso, antes que a desesperança lhe arrebatasse a coragem, inclinou-se para frente, retesando seus braços acorrentados e falou com a voz firme.


— E você viverá apenas o suficiente para ver todos os seus desejos ruírem diante de você. Não é uma profecia, é o decreto de um Rei de Nárnia!


Ela estapeou o rosto dele, deixando a marca de suas garras. Subitamente, sentiu o fio de couro açoitar suas costas. Seu grito escapou mais pela surpresa que pela dor. O estalar do chicote fustigou sua pele clara, e apesar de tentar sufocar a humilhação, a agonia insistia em sair por sua boca. Os gritos insurgentes, os músculos se retraindo involuntariamente, os olhos vermelhos tentando não ceder ao pranto e a cabeça baixa; tudo isso preencheu a mulher serpente de deleite e satisfação atrozes.


— Chore, pequeno rei! Uma só lágrima e cessarei seu tormento.


Edmundo a encarou com fúria, e apesar dos olhos marejados, as lágrimas secavam antes que caíssem. Depois de ser fustigado por várias vezes, tossiu sangue e quase perdeu a consciência, isso fez com que o carrasco se detivesse.


— Já é o bastante — disse o ciclope usando um capuz marrom. — Se continuar, a vida dele deixará o corpo. Comece o ritual de uma vez!


Mesmo a contragosto, Styr aquiesceu e iniciou o ritual, recitando as palavras que fariam surgir entre o espaço do portal, a barreira fria e translúcida de gelo dimensional. A parede se cristalizou em pleno ar, preenchendo o espaço dos limites de pedra, e dali de dentro, um vulto se formou, com cabelos longos e esvoaçantes, pele como marfim e olhos negros como a noite sem luar. A mão da entidade forçou sua passagem pelo fino véu cristalino, se aproximando das costas ensanguentadas do garoto.


Edmundo sentiu quando os dedos dela tocaram suas feridas. O sangue permeou a pele dela, e uma matiz rosada foi se espalhando pelo braço, pelo corpo, e logo, uma mulher nua se arrastou para fora do gelo vítreo. A Feiticeira Branca estava ali, viva, sólida, olhando o corpo maltratado do prisioneiro à sua frente. Engatinhou sobre a cauda de bronze e se aninhou atrás dele. Ouviu-o murmurar o nome de Aslam.



— Não, meu querido, sou eu quem está do seu lado. — Ela segurou o queixo dele e girou o rosto para que ele a visse. Ao ver o sorriso vitorioso dela, Edmundo sentiu suas forças se esvaindo. Uma lágrima finalmente escorreu em seu rosto, e teve a certeza de seu fim, sozinho e abandonado naquele terrível lugar. — O destino finalmente permitiu que nos reuníssemos de novo, meu doce e indefeso Rei de Nárnia.


Ela passou os dedos embebidos do sangue dele em sua boca, e depois passou nos lábios dele. Edmundo desviou o rosto tentando se afastar.


— Vai, me mata de uma vez! — gritou ele.


— Ainda não. — Jadis fez um gesto e Edmundo caiu em um torpor profundo, desmaiando logo em seguida. — Soltem-no! — ordenou ela.


Assim que as pernas e braços foram liberados, Edmundo foi amparado pelos braços manchados de sangue da feiticeira. Ele estava exausto e dormia serenamente. Jadis comtemplou o rosto dele, movendo o cabelo grudado pelo suor. Viu como havia crescido e se tornado um homem jovem e forte.


— Senhora! — Styr estava ao seu lado, com o olhar malévolo e ansioso. — Agora que retornou para nós, permita-me que eu vingue a morte de meu filho. Entregue-o a mim!


— Entregá-lo a você? — Jadis encarou a mulher com desprezo e desdém. — E por que eu faria isso? — Ela ergueu o tom de voz e bradou ameaçadoramente para que todos ouvissem. — Ele é meu! Entenderam? E aquele que ousar tocar num fio de cabelo do rei narniano, terá a cabeça espetada numa lança de gelo! Fui clara?


Todos assentiram temerosos; até mesmo Styr, que baixou a cabeça com os olhos faiscando uma fúria silenciosa.


 Fim do Capítulo 3



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Autor(a): callyzah

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Alguns dias haviam se passado. Edmundo ainda estava vivo, deitado de bruços sobre uma espessa e escura pele de urso, coberto por uma grossa manta de lã. Sua cabeça repousava sobre uma almofada de cetim, e percebeu estar em um quarto feito de gelo. Seus ferimentos haviam sido tratados, pois sentia as bandagens enroladas no corpo. Na boca, um gosto agrid ...


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