Fanfic: Perigosas Lembranças | Tema: Amnésia
Ricardo e Letícia voltaram à mansão. Ela conseguiu estacionar a BMW na garagem e recebeu um elogio do marido que a deixou muito satisfeita.
Letícia não se trocou, aguardou pela mãe com a roupa que vestia – jeans, camiseta sem mangas e uma sandália baixa de tiras – na sala de estar em companhia do marido. Ele lhe entregou um cartão de crédito e débito e sua senha pessoal para que ela o usasse à vontade até resolver o problema de senha. Letícia se recusou, a princípio, porém, Ricardo insistiu:
- O que é meu é seu, Letícia. De que vale toda minha fortuna se não posso compartilhar com você?
- Não quero abusar... e nem gastar mais do que deveria.
- Nem mesmo se você comprasse uma loja toda ou até um shopping, conseguiria gastar mais do que deveria – quase riu pelo comentário dela – E pode abusar à vontade que não me importo... ao contrário, me deixa feliz que você gaste meu dinheiro... ou melhor, nosso dinheiro.
- Tudo bem, mas vou gastar só o que for necessário.
- Você sempre parcimoniosa – balançou a cabeça divertido – Você puxou mais a seu pai do que sua mãe.
- Começo a pensar que sim. O jeito da mamãe... não é que eu não goste, mas não tem muito a ver comigo... pelo menos não agora como me sinto.
- Sempre foi assim mesmo antes da sua amnésia. Você sempre foi mais ligada ao Marcos.
- É, me sinto assim em relação a ele.
- Tanto você como seu irmão. – Ricardo a fitou de modo enigmático – Mas Luciana sempre foi mais protetora... assim como o Sérgio.
- E como você, não é? – encarou-o incisiva
- Sim, mas sempre fui pior do que eles dois juntos – os olhos dele se escureceram – E mais ainda depois que nos casamos... tanto que contratei seguranças para você.
- Ah, sobre isso... – ela se lembrou do segurança que havia dispensado de acompanhá-la no hospital no dia anterior – Não sei se o Raul te falou, mas...
- Ele me contou. – cortou-a com expressão repreensiva – Ontem... quando cheguei antes de você me receber.
- Você... não brigou com ele, não é? – olhou-o atenta. Ainda se lembrava da repreensão que havia dirigido à Larissa – Fui eu quem o dispensei... disse que ia conversar com você.
- Para falar a verdade, dei uma bronca nele, sim.
- Ricardo...
- Eu dei uma ordem clara, Letícia. Ele tinha que a cumprir – cortou-a – Tudo bem que ele também lhe deve obediência por você ser a patroa, mas você está sem memória, fica mais vulnerável e suscetível de ser abordada por pessoas mal-intencionadas – tomou as mãos dela entre as suas – Eu também ando com um segurança, não o tempo todo, mas quando vou ao trabalho. Sou um homem bastante conhecido e rico. Seria um grande peixe nas mãos de sequestradores. E você como minha esposa... corre também esse perigo. Só quero proteger você. Entende?
- Eu... não tinha pensado por esse ângulo. – veio-lhe à mente a abordagem indireta de Daniel Ribeiro, mas não pretendia compartilhar tal informação com o marido. Ainda assim, não gostava da ideia de ter alguém a vigiando como se fosse uma criança – Mas hoje ele vai ter que me acompanhar?
- Não, se não quiser. Você não precisa andar com seguranças quando estiver na minha companhia ou na de seus pais. Apenas não quero que ande sozinha.
- Tudo bem, Ricardo – assentiu resignada
- Então... não vai se aborrecer se o Raul ou o outro segurança que reveza com ele, o Igor, te acompanharem em todos os lugares? – sorriu
- Vou... Mas não vou reclamar e nem os dispensar – suspirou –Se te deixa mais tranquilo...
- Sim, deixa – encostou a mão na face de Letícia que se arrepiou e sustou o ar por um momento – Obrigado, querida.
O sussurro rouco e sensual da voz de Ricardo a chamar novamente por “querida” a arrepiaram mais, assim como aquela mesma intensidade em seus olhos, que a hipnotizava. Seu coração batia a mil. Se ele fizesse o mesmo movimento de se aproximar para a beijar tal como na praça, não o impediria.
A campainha tocou, fazendo com que o clima desaparecesse outra vez.
- Deve ser... minha mãe – ela desviou o rosto.
- Sim. – ele não escondeu a contrariedade pela interrupção.
A mão que encostava na face de Letícia desceu. Ela quase bufou de frustração.
Larissa foi quem atendeu a porta. De fato, era a mãe de Letícia; o casal se levantou do sofá. Luciana esboçou um sorriso ao vê-los juntos.
- Bom dia, Ricardo! – cumprimentou o genro com um aceno de mão
- Bom dia, Luciana – acenou com a cabeça e sorriu o mínimo
- Bom dia, minha princesinha – aproximou-se da filha e beijou-a no rosto.
- Bom dia, mãe... Como vai?
- Muito bem – suspirou e analisou-a dos pés à cabeça para ver sua aparência. Torceu o nariz. Pelo visto, camiseta e jeans não eram roupas que Luciana aprovava, nem seu calçado – Vai assim?
- Ah, mãe, por favor – revirou os olhos. Notou por sua visão periférica que Ricardo segurava o riso
- Está bem, vamos! Não podemos perder tempo. – puxou a filha pelo braço, o que estava livre sem a bolsa – Até mais, Ricardo!
- Até... Cuidem-se.
Letícia foi praticamente arrastada pela mãe. Dirigiu um olhar de súplica ao marido antes de sair, mas este se limitou a soltar um curto riso.
Tratante! Divertindo-se às suas custas!
- 0 –
Entraram em mais de cinco ou seis boutiques – Letícia não saberia dizer – de um mega shopping, mas não encontraram nada que agradasse ao gosto exigente de Luciana. Eram acompanhadas por Antônio, o motorista encarregado de levar as compras que fizessem.
- Não sei porque insisto em comprar em outras lojas que não sejam da categoria da Fashion’s Style – reclamou a mãe – Ah, filha, você não sabe que roupas vendem lá! Mas eu gosto de variar, dar uma chance para outras lojas. Se não encontrarmos nada digno por aqui, iremos para lá.
- E fica onde?
- Hum... logo ali na Quinta Avenida, do outro lado da cidade.
Letícia olhou exasperada para Antônio. Este abriu um sorriso conformado e divertido. Deu de ombros como se mostrasse que estava acostumado.
Por fim, encontram uma boutique que parecia satisfazer o apurado gosto da senhora. Luciana demorou a se decidir entre uma dezena de vestidos, até optar por um de cor salmão de longas mangas.
Quanto a Letícia, encantou-se de imediato por um vestido longo cor-de-rosa, sem mangas. Realçava suas curvas, mas era um modelo mais comportado do que a maioria que possuía em seu guarda-roupa. A mãe aprovou seu gosto.
Em seguida, foram para uma loja de calçados.
- Mas, mãe... eu já tenho centenas de sapatos. – reclamou a moça
- E nenhum deles combina com seu vestido. Já vi e sei de cor todos os que você tem. Vamos! – fez um gesto para silenciar a filha que abriu a boca para protestar – Também preciso de um.
Letícia balançou a cabeça com ar de derrota.
Depois de experimentaram dezenas de modelos – inclusive Letícia, já que, dessa vez, sua mãe interferiu em sua escolha – e adquirirem bolsas de mão que combinassem, Luciana anunciou que almoçariam. A moça suspirou aliviada, estava faminta. Passava das treze horas.
Felizmente, a mãe não as fez entrar em vários lugares tal como nas lojas para escolher o restaurante ideal. Havia um de sua preferência ali mesmo.
Enquanto as duas almoçavam – Antônio foi dispensado por Luciana para guardar as compras no carro e também almoçar num lugar mais acessível a seus ganhos – conversavam para passar o tempo. Na verdade, era mais sua mãe quem dominava os assuntos, Letícia apenas a escutava sem muito interesse: trivialidades sobre moda, pessoas da sociedade e coisas do tipo. Sua mãe combinava bastante com sua amiga Cláudia. A diferença é que Luciana era menos fútil, respirava mais para falar e era mais divertida, tinha que admitir.
Mesmo assim, gostaria de conversar sobre assuntos mais produtivos, seu passado, por exemplo. Queria lhe fazer mais perguntas, escutar mais histórias sobre a própria vida. Verificar se suas suposições de algum estupro ou abuso sexual na infância ou adolescência eram certas, já que seus pais evitavam falar de seu passado amoroso.
Largou os talheres no prato, havia terminado a refeição. Estava prestes a interromper Luciana, quando reparou sentado num canto a uma boa distância, um homem alto, jovem e loiro que não parava de olhá-la.
No mesmo instante, sentiu uma estranha perturbação. Sentiu que... não era a primeira vez que via o estranho. Será que o conhecia?
Desviou os olhos. Mesmo com tal sensação, não era decente uma mulher casada olhar para outro homem durante muito tempo.
Porém, como se uma força a atraísse, olhou de novo para o homem e ele continuava a encará-la. Mas não era um simples olhar de luxúria e apreciação como o de diversos homens que encontrou pelo shopping – praticamente a secaram, alguns sem a menor discrição. O olhar do sujeito era... um olhar de amor. Saudade. Desespero. Perturbação.
Ela balançou a cabeça e desviou os olhos. Tolice. Era apenas imaginação de sua cabeça. Não queria olhar mais para o moço.
- Letícia! – sua mãe a chamou
- Sim? – voltou a prestar atenção em Luciana – O que foi?
- Eu é quem pergunto... O que foi? – sua mãe a encarava com estranheza e zanga – Você se dispersou... Aposto que nem estava mais escutando o que eu estava falando.
- Não... eu... er... desculpe, mãe, não estava mesmo – admitiu. Pensou numa boa desculpa – Só estou um pouco cansada com essa nossa andança de hoje. Não sei... devo estar desacostumada.
- Ah, sim, minha linda, com certeza! – Luciana esboçou um sorriso compreensivo, em seguida, fechou o rosto numa expressão séria – Esse tempo todo que você esteve no hospital deve ter consumido sua energia física... e mental. Ainda bem que... a única sequela foi apenas sua perda de memória.
Letícia se surpreendeu por escutar a mãe falando sobre seu acidente num tom mais dramático. Luciana era o tipo de pessoa que parecia encarar a vida de uma forma mais otimista e não se levar tão a sério.
- Não sabe como foi difícil para todos nós vê-la à beira da morte – tornou Luciana com um bolor na garganta – Seu pai se sentiu tão culpado... e o Ricardo... – interrompeu-se e largou os talheres. Letícia a fitou intrigada – Se você também tivesse partido como seu irmão, eu... – contorceu o rosto como se quisesse chorar. Letícia se comoveu e apertou sua mão.
- Mãe, calma... estou aqui agora com você. Já passou.
- É, tem razão, passou. Que bobagem minha lamentar por um acontecimento que graças a Deus nem aconteceu – riu como se fosse de uma piada. Letícia emulou um sorriso sem graça – E nem te perguntei... Como você e o Ricardo estão?
- Bem... ele... – incomodava-se um pouco em responder – ... ele tem me tratado com muita atenção e gentileza.
- E só? – o sorriso da mãe era malicioso.
- É, mãe... Eu... ainda estou tentando me lembrar dele... o conhecer novamente – estava pouco à vontade em tratar sobre sua intimidade com o marido mesmo com Luciana – Estamos dormindo em quarto separados.
- Ah. – a fisionomia de Luciana não escondia sua decepção. Dirigiu um olhar cauteloso à filha – E você... vai esperar até recuperar sua memória para... voltarem a ser um casal?
- No início... até pensei que sim – resolveu abrir o jogo – Mas agora... mãe – suspirou – Ele me atrai, não posso negar. Resolvi que... vou deixar acontecer.
- Hum... isso é bom
- Mas... não de uma vez. Vou... aos poucos.
- Como queira, minha filha, mas... dê essa chance para ele de um recomeço... e para você mesma.
Luciana lhe dirigia um olhar enigmático que Letícia desejou saber o que pensava. Apenas assentiu.
- Quer saber? Perdemos muito tempo... – tornou a senhora – Ainda temos que ir à clínica de estética.
- Mãe, você nem terminou de comer.
- O que me alimenta é comprar, minha princesinha. Sou uma consumista assumida – Letícia sorriu e balançou a cabeça – Vamos.
Levantaram-se. Quando Letícia tornou a olhar para o canto do restaurante em que se sentava o homem loiro, notou que ele havia sumido.
- 0 –
Seu pai se sentiu tão culpado... e o Ricardo...
O que sua mãe quis dizer?
A questão martelava na sua cabeça. Por que tanto seu pai e seu marido se sentiriam culpados pelo seu acidente?
Mas o que mais preenchia sua mente era o rosto daquele homem que viu no restaurante do shopping. Não era por ser belo. Sim, porque não podia negar que era um homem muito bonito, apesar do pouco que lhe vislumbrou as feições.
Era a estranha sensação de o conhecer. E a impressão de que ele também a conhecia pelo modo como a fitava. Da mesma forma que Ricardo.
Sentiu um aperto. Deus, será que se conheciam de fato? Não, se fosse assim ele teria se aproximado e a cumprimentado normalmente.
Sim, era impressão sua. Talvez apenas o homem lhe lembrasse algum conhecido do qual sua mente ainda não se recordava. E ele apenas a admirava, talvez com mais fascínio que os demais homens no shopping antes dele. Sua mente estava lhe pregando peças, era isso.
Não se encucaria por um desconhecido. Nenhum homem a olharia com tanto amor como seu marido.
O simples pensamento em Ricardo a fez estremecer.
Nunca imaginei que algum dia eu me apaixonaria por você.
Ele praticamente se declarou... e os seus olhos não hesitaram em nenhum momento ao dizê-lo. Aliás, desde antes, quando o viu pela primeira vez no hospital, cada gesto, olhar ou fala do marido declaravam seu amor por ela.
As mãos fortes do profissional que massageava suas costas numa pequena sala da clínica de estética a trouxeram de volta para o presente. Decidiu relaxar e abandonar todos os pensamentos, mesmo os agradáveis com seu marido.
Uma máscara facial e rodelas de pepino nos olhos cobriam o rosto de Letícia. A mãe estava em outra sala provavelmente submetida ao mesmo processo.
Ela se sentiu meio estranha no início, com o corpo nu apenas enrolado por uma toalha e com as mãos de outro homem que não eram de seu marido sobre ela; depois, tranquilizou-se. Em nenhum momento, o massagista a fitou de modo interessado e desrespeitoso ou a tocou de forma abusiva.
Ainda assim, estava cheia de pudores. Como poderia se entregar a Ricardo algum dia dessa forma?
Mais de três horas depois, estavam de volta à mansão. Seu marido estava na sala quando entraram. Nem chegou a lhes falar porque Luciana se adiantou:
- Ricardo, querido... Já chegou o Charles e sua equipe?
- Sim, estão no quarto de Letícia, conforme suas instruções. – respondeu, mas seu olhar se dirigia à esposa – Chegaram há dez minutos e aguardam por vocês.
- Ótimo, vamos, filhinha.
E outra vez, Letícia era arrastada por sua mãe, dirigia um olhar suplicante ao marido e este se limitava a sorrir. Ela torceu a boca; para alguém que se dizia bastante protetor, não estava cumprindo seu papel.
As duas subiram a escadaria e logo chegaram ao quarto. Estava repleto de apetrechos básicos para atende-las. Charles, um cabeleireiro de meia-idade, recebeu-as com efusivos cumprimentos, junto com uma parte de sua equipe – duas moças e um rapaz.
- Luciana, querida, recusei todos os pedidos de minhas clientes desta tarde só para atender exclusivamente a você e a sua linda filha – ele pegou nas mãos de Letícia – Fico muito feliz que tenha se recuperado do seu acidente, menina.
- Er... obrigada
Antes da equipe de Charles agir, Letícia se trancou no banheiro para tomar banho, enquanto Luciana conversava com o cabeleireiro. Após se enrolhar num roupão, ela entrou no quarto e recebeu vários cuidados no cabelo, devido aos dois meses de hospitalização em que ficou sem trata-los. Por sugestão de sua mãe e do próprio Charles, fez um ligeiro corte nas pontas e aplicou um tratamento para cachear os fios, dando mais volume ao cabelo. Depois, foi a vez das unhas, sobrancelhas e a maquiagem.
Quando terminaram, Letícia se espantou com a própria imagem. Não imaginou que pudesse ficar mais bonita. Charles e sua equipe se despediram, após incontáveis agradecimentos de Luciana.
- Bem, minha filha, eu vou deixa-la para se vestir e voltar para casa para eu me banhar, me vestir e me embelezar em casa mesmo. – olhou para o relógio de pulso – É melhor ir logo porque já são seis e meia e seu pai detesta se atrasar. – riu – Se bem que eu não posso evitar.
- Tudo bem, mãe. Valeu por essa tarde. – agradeceu-a sinceramente. No fim, achou que valeu a pena todas aquelas horas de embelezamento ao ver o resultado
- Disponha, querida – apertou as mãos da filha. – Não te beijo porque senão vai estragar sua maquiagem – Letícia riu – Até mais.
- Até.
Assim que sua mãe saiu, ela tirou o longo vestido do embrulho e, com o devido cuidado para não atrapalhar o cabelo, trocou-se. Colocou os sapatos e foi se mirar diante do espelho de corpo inteiro no banheiro.
Achou-se linda, mas lhe deu um frio na espinha. Será que Ricardo pensaria o mesmo?
Colocou uma pulseira, brincos e algumas gotas do perfume Joy by Jean Patou, apanhou a bolsa de mão e deu alguns passos pelo quarto; conseguia se equilibrar sobre os finos saltos.
Aguardaria pelo marido na sala do primeiro andar. Porém, ao sair, viu Ricardo caminhando pelo corredor em sua direção, mas com a atenção focada num relógio que terminava de colocar no pulso; no mesmo braço em que ele mexia, carregava algum objeto, uma caixa ao que parecia.
Assim que Ricardo levantou a vista, deteve os passos ao enxerga-la. Letícia emulou um sorriso, mas tremia por dentro preocupada com sua reação. Ao mesmo tempo, sentia calor e fascínio ao contemplá-lo: o corpo másculo, lindo de smoking, assim como ficava de terno. O cabelo estava mais arrumado, baixo e lustroso, provavelmente por efeito de algum gel.
- Er... oi... – disse para quebrar o incômodo silêncio. Seu marido a contemplava com expressão indefinível – Estou bem?
- Bem? Você... está maravilhosa. – sussurrou sem conter a emoção na voz. Os olhos se escureceram com um brilho de fascinação e luxúria, Ricardo a contemplava da cabeça aos pés. Ela estremeceu, mas foi inundada por uma imensa alegria – Você é maravilhosa, Letícia.
- Ah, obrigada – abaixou um pouco a cabeça, corando de prazer.
- Não se sinta encabulada – ele se aproximou e ergueu seu queixo com uma das mãos. Ela se arrepiou com o toque e ao vislumbrar a paixão nos olhos dele – Se digo é porque é verdade.
- Obrigada. – repetiu ela, mas, dessa vez, com mais segurança – Você também está... lindo.
- Não tanto quanto minha esposa – Letícia engoliu em seco. Ricardo pegou em sua mão e fê-la girar – Deixe-me ver... – ela parou e contemplou o brilho ainda presente no olhar dele. – Nossa! Com certeza, vou ser o homem mais invejado da festa.
Letícia riu. Seu marido era exagerado, em sua opinião, pelo menos em se tratando dela.
- Agora só precisa de um toque final – ele estendeu a caixa que levava. – Parece que você adivinhou... vai combinar com a cor do seu vestido
- O que é?
- Abra. – esboçou um sorriso enigmático
Letícia tremeu. Era uma caixa preta, própria para guardar uma joia. Levantou a tampa e ficou abismada com o que tinha. Um lindo colar que alternava brilhantes transparentes com alguns em tom de rosa.
- Ricardo! –exclamou, os olhos arregalados – É... é... lindo!
- Que bom que gostou. É um Leviev Fancy... Encomendei para você um dia antes do seu acidente – engoliu em seco e esboçou um meio sorriso que não lhe alcançava os olhos – Esperava que você fosse aceitar.
- E por que não aceitaria? É um presente seu. – Ricardo não lhe respondeu. Sua expressão era indefinível – Quanto custou? Er... não tem problema perguntar, não é?
- Não – ele riu. – Me custou apenas uma bagatela de dois milhões.
- Dois milhões de reais!? – ela abriu a boca
- De dólares.
- Dólares!? Piorou! – balançou a cabeça – Ricardo, como que você me compra um presente tão caro?
- Para mim não é nada, Letícia. Você vale muito mais. – olhou-a sério e intenso. Ela se calou – Posso colocar em você?
- C... c... claro – assentiu atordoada tanto pelo valor da joia quanto pela declaração dele
Ela se virou e sentiu sua aproximação às costas, bem como seu perfume, aquela fragrância marcante que a deixava tonta e mais embevecida. Levantou parte do cabelo e os dedos dele roçaram a pele de seu pescoço; arrepiou-se. Fechou os olhos e mordeu os lábios. As mãos dele repousaram sobre o local em que prenderia o colar. Escutou um leve ruído de seu nariz como se tragasse algo no ar.
- Você está usando o Joy, não é? – ele sussurrou, a respiração ofegante em seu pescoço fê-la estremecer. Ela assentiu – Você costuma usar mais o Channel. Mas eu gosto mais desse em você. É o meu perfume favorito.
Letícia apenas prendeu a respiração por alguns segundos até se lembrar de soltá-la. Por fim, Ricardo prendeu o fecho do colar e afastou as mãos.
- Pronto. Vamos ver como ficou. – ela largou o cabelo e se virou. Reparou que com os saltos, ficava da mesma altura que o marido – Agora sim... você está mais bela.
Tomou-lhe a mão novamente e beijou-a com um olhar penetrante e ferino.
- Bela – ele ainda segurava sua mão – Muito bela.
Ela se arrepiou.
- Letícia.
Ela conversava algum assunto com sua amiga Laura e virou-se para a pessoa que a chamava. Sua expressão foi de surpresa ao se deparar com Ricardo Fontes Guerra, aquele que foi seu amigo e, de certa forma, protetor na infância. Trajava smoking como a maioria dos homens.
- Como vai? – ele se aproximou e estendeu a mão
- Bem. – respondeu fria após a inicial surpresa
Enlaçou a mão a dele por pura educação, mas o empresário não se contentou em apertá-la. Levou-a aos lábios para beijá-la. O olhar que lhe dirigiu era de fascinação... e luxúria. Não se sentiu bem com a maneira como a olhava. Retirou delicadamente a mão antes de ele soltá-la, pois se demorava mais do que deveria. Notou que ficou incomodado pelo gesto dela ainda que sutil, mas não se importou.
- Você está bela...– olhou-a embevecido de cima a baixo – Muito bela.
- Obrigada – respondeu incomodada e desviou os olhos para sua amiga. Esta esboçou um imperceptível sorriso de malícia.
- Há quanto tempo... –ele emulou um sorriso
- Sim. Muito tempo – mostrou Laura ao seu lado – Está é minha amiga, Laura Machado... e minha sócia na ONG.
- Prazer – disse Laura.
- O prazer é todo meu – Ricardo se virou para ela e também lhe beijou a mão, mas sem a demora que dedicou na vez de Letícia. E o evidente interesse. Voltou-se para Letícia – Você... cresceu muito. – ele não escondia o fascínio no tom de voz – Nem parece aquela menina que carreguei nos braços.
- Com certeza não sou mais. – retrucou num tom ácido, mas emulou um leve sorriso
- Você sempre foi uma menina linda... eu sabia que se tornaria uma bela mulher. – ele não pareceu se incomodar com o tom de seu comentário – Só não imaginava o quanto – Letícia fechou o rosto, incomodada pelo elogio repetitivo. Ele olhou ao redor do local onde se encontravam – E nem o quanto você chegaria longe – voltou-se para ela – Meus parabéns pelo magnífico trabalho que você consolidou em pouco tempo – também olhou para Laura – Você e sua amiga.
- Obrigada – repetiu mecanicamente como se não quisesse prosseguir a conversa.
- Obrigada – Laura também agradeceu. Tocou em seu ombro – Letícia... acabo de ver o Maurício. Eu vou lá... – Letícia lhe fez sinal com os olhos para não a deixar sozinha, mas sua amiga a ignorou. Voltou-se para Ricardo – Com licença.
- Toda – assentiu Ricardo.
Ficaram alguns segundos sem trocarem palavras. Letícia visivelmente incomodada, ainda mais por notar uma inquietação nele, um leve tremor e um olhar vidrado. Um olhar que ela via em muitos homens que a desejavam. Não lhe agradou vê-lo em Ricardo.
- Eu... – pretendia lhe dar alguma desculpa para se retirar, mas foi interrompida.
- Não sabe quanta saudades eu senti esses anos todos – disse ele com a voz rouca – Nunca deixei de pensar em você... e também no Sérgio... um só minuto da minha vida. – engoliu em seco – Vocês me fizeram muita falta.
- Não tanta já que você nem se deu ao trabalho de comparecer ao enterro de meu irmão... e só se limitou a um mero obrigado quando te telefonei para avisar – ela cruzou os braços. A expressão dele se fechou, denotando pesar – Você estava muito ocupado, não se lembra? Creio que não só pelo trabalho, mas por outras distrações. Tenho certeza que você conseguiu suportar muito bem a nossa falta – ele ia abrir a boca para responder, mas nem chegou a escutá-lo, pois viu Marcos e Luciana se aproximando – Meus pais chegaram. Com licença.
E se afastou repentinamente.
- Letícia! Letícia!
- Aham? – meneou a cabeça atordoada. Ricardo a mirava com preocupação e balançava-a levemente pelos ombros – O que aconteceu?
- Eu é que pergunto... Você ficou pálida de repente... e imóvel. Parecia alheia, como se estivesse sonhando acordada.
- Ricardo! Acho que tive uma recordação! – juntou a mãos com alegria – Me lembrei de algum evento em que você e eu estávamos!
- É? – não parecia muito contente, apesar de um meio sorriso. – Qual?
- Eu... não tenho certeza – fitou-o intrigada e um pouco desapontada por sua reação. Mas não devia surpreendê-la – Não está contente por eu me lembrar, não é?
- Claro que estou! Que ideia! – alargou o sorriso desdenhando seu comentário, mas Letícia não se enganou – Me descreva a cena, talvez eu consiga lhe dizer o que e quando aconteceu.
- Eu... estava com... a Laura. Sim, pelas fotos que vi era ela mesma. – ele fechou o rosto – Nós duas estávamos... acho que... numa festa... e aí você chegou, me chamou e... pareci surpresa por vê-lo. Nos cumprimentamos... e eu te apresentei a Laura como minha amiga e sócia da ONG – a fisionomia de Ricardo se abriu como se compreendesse – E aí...
- Foi numa festa de aniversário de sua ONG, na sede – completou mais relaxado – Me lembro bem porque foi neste dia que você e eu nos reencontramos depois de anos – esboçou um sorriso
- Então... aconteceu mesmo? – ele assentiu. Ela sorriu, em seguida, fechou o rosto – Eu... eu tive a impressão... que estava incomodada com sua presença. Acho que fui rude com você, não é? – encarou-o meio constrangida, ele alargou o sorriso – Parece que eu disse algo sobre você não ter comparecido no enterro do meu irmão.
- Exatamente... E você não fez questão nenhuma de esconder seu desagrado por nosso reencontro.
- Eu... eu sinto muito.
- Não, já passou... e depois você estava certa em me tratar de tal forma. – suspirou – Anos antes, você me ligou numa tarde de quinta-feira, dia do acidente do Sérgio. – a fisionomia dele se anuviou – Você se deu ao trabalho de procurar por meu contato, mesmo depois de anos sem nos falarmos, só para me avisar da morte dele e do enterro que seria na manhã do dia seguinte... e eu a tratei friamente e disse que estava ocupado demais para comparecer.
- Ah... – ela ficou sem palavras
- Mas eu compareci – apressou-se em esclarecer – Só que sem que você soubesse. – emulou um sorriso triste – Fiquei à distância escondido observando a todos... especialmente você.
- E como voltamos a nos falar? Se me casei com você, significa que em algum momento...
- Consegui te convencer a marcar um almoço para eu poder me explicar – completou ele entendendo sua linha de raciocínio. – A princípio, você se mostrou resistente. Mas não durou muito. Você me escutou e entendeu as razões do meu afastamento. – sorriu – Não poderia ser de outra forma, você sempre teve um coração grande, capaz de perdoar.
- E por que você se afastou de nós? Por que ficou sem nos contatar? – não havia recriminação nas perguntas, apenas necessidade de saber
- Numa outra ocasião, podemos falar a respeito – havia uma sombra de dor em seu rosto que fez com que Letícia não quisesse insistir. – Agora precisamos ir... não quero que nos atrasemos muito. – estendeu o braço e sorriu de modo galante – Posso levá-la comigo, bela dama?
Letícia riu.
- Claro, belo cavalheiro.
Enlaçou o braço dele; o mesmo calor a percorreu pelo simples toque de seu marido e teve a impressão que com ele se passava o mesmo. Caminharam em silêncio pelo restante do corredor e desceram a escadaria.
- Do que mais você se lembrou nessa sua recordação? – indagou ele após alguns instantes
- Foi só isso... terminou com a chegada dos meus pais e eu te deixando para recebê-los.
- Ah. – pareceu aliviado
- Por quê? Alguma outra coisa importante para eu me lembrar desse dia?
- Não, nada mais. – virou-se para ela – Foi... sua primeira recordação?
- Foi – respondeu depressa demais. Ele estreitou os olhos, talvez não muito convencido. Ela se sentiu um pouco culpada por lhe mentir, mas não queria lhe contar sobre a lembrança do sexo no banho, pelo menos não naquele momento. – A doutora Marcela disse que... vai ser assim mesmo... deve aparecer fragmentos, alguns talvez sem nexo, mas com o tempo minha mente vai conseguir processar.
- Ah. – havia pouco ou nenhum entusiasmo em sua voz
- Acha que vai ser rápido? Questão de dias?
- Não sei – ele deu de ombros – Talvez.
Aquele desânimo em sua postura e voz frustravam Letícia, mas resolveu ignorar pela noite que teriam. Pedro os aguardava na sala para conduzi-los na limusine; o carro se encontrava diante da entrada da mansão.
Letícia admirou o interior do veículo e exprimiu com grande entusiasmo para Ricardo. Foram conversando sobre diversos assuntos, incluindo sobre o empresário com quem seu marido fazia negócios, um tal de Mauro Nogueira.
Chegaram à tal empresa, cuja decoração levava as cores do logotipo do local. Foram recebidos pelo dono, Mauro, um senhor de meia-idade e sua esposa. Apesar da timidez, Letícia conseguiu se entrosar perfeitamente com o casal.
Em seguida, cumprimentaram diversos conhecidos tanto de Ricardo quanto dela. Não precisou de explicarem sobre sua amnésia, todos pareciam inteirados de sua condição, provavelmente através dos seus pais ou da própria Cláudia. E lhe desejavam sinceros votos de recuperação.
Em nenhum momento, Ricardo saía do lado de Letícia, a pedido dela mesma. Tinha impressão de que, de qualquer jeito, ele nem se atreveria a lhe deixar. O modo como segurava sua mão, olhava para ela, conduzia-a com cuidado pela multidão de convidados, demonstrava seu grande senso de proteção.
Procuravam uma mesa quando foram abordados por um garçom que levava uma bandeja com taças:
- Senhor Ricardo Fontes e Dona Letícia?
- Sim. – respondeu o empresário
- Aquelas pessoas solicitam que se juntem a eles. – apontou um casal numa das mesas ao centro.
Eram justamente sua amiga Cláudia e um homem ao lado dela, talvez o marido. Acenaram para eles.
- Obrigada – disse Letícia. O garçom assentiu e se foi. Ela se voltou para Ricardo – Vamos para lá?
- Claro.
Apesar de conseguir se desembaraçar melhor do que esperava entre um monte de pessoas desconhecidas da alta sociedade, era um alívio para a moça ver algum rosto conhecido, mesmo que fosse o de sua falante e fútil amiga.
- Oi, amiga – a mulher se levantou e cumprimentou-a com sua exagerada alegria – Bom te ver aqui.
- Olá, Cláudia – respondeu com um genuíno sorriso
- Ah, deixe te apresentar de novo... – mostrou o homem a seu lado – Este é meu marido, Hernani Lombardi
- Er... prazer de novo – Letícia lhe estendeu a mão, um pouco sem graça por não se lembrar dele. Ele a apertou – Desculpe por essa situação.
- Não precisa se desculpar por nada, Letícia. São coisas que acontecem. O importante é que você está viva e com boa saúde – o sujeito, um moreno claro, alto e muito bonito lhe sorriu. Parecia muito simpático. Apertou em seguida a mão de Ricardo – Como vai, Ricardo?
- Bem... Hernani. Um prazer encontrá-los aqui.
Os quatro se sentaram
- Letícia... esse é um Leviev Fancy? – Cláudia contemplava boquiaberta seu colar
- É... um presente de Ricardo – virou-se para ele que lhe sorriu – Um exagero.
- Exagero? – voltou-se para o marido com olhar de censura – Há meses estou pedindo um desses para o Hernani.
- Você já tem dois colares bem promissores, querida – Hernani emulou um sorriso forçado
- Mas não um da categoria de um Leviev Fancy.
E continuou a falar num tom mais baixo e particular sobre o tema e outras frivolidades com Letícia, que se resignou a escutá-la. Os dois homens, por sua vez, conversavam sobre negócios, cotações e ações. Letícia fingia escutar sua amiga, mas sua atenção estava fixa nos assuntos tratados por seu marido. Ela admirava a inteligência, o conhecimento, a segurança e capacidade de comunicação dele.
Não se passou meia hora, os pais de Letícia chegaram e juntaram-se a eles. Apesar da tensão entre Ricardo e Marcos, não houve qualquer comentário hostil entre ambos e até conversaram cordiais entre eles e Hernani. Quanto a Luciana, após também admirar e elogiar o colar da filha, juntou-se numa conversação com Cláudia, deixando Letícia livre de lhes dar atenção.
Em um certo espaço da empresa, reservado para danças, vinha sons de canções românticas. Letícia se distraiu apreciando cada música até escutar alguém lhe dirigir a palavra:
- Gostaria de dançar?
Virou-se e deparou-se com um estranho alto, moreno, de olhos claros e com um sorriso safado que a olhava com malícia. Incomodou-se pela maneira como ele a secava com descaro. Antes que abrisse a boca para se recusar, ouviu Ricardo se adiantar:
- Agradeço a gentileza, mas minha esposa já me tem como seu acompanhante – ele se levantou e postou-se ao lado da cadeira de Letícia
- Mas pelo que eu vi você estava de papo – retrucou o homem com tom arrogante e postura de desafio – E de qualquer jeito, ela é quem tem que responder.
- É como disse meu marido – Letícia se pôs de pé e enlaçou o braço de Ricardo. Ele sorriu satisfeito. A expressão do homem foi de contrariedade – Agradeço sua gentileza, mas ele é que meu acompanhante.
- Bem... – o sujeito levantou as mãos em sinal de trégua e foi se afastando de costas – Me desculpem pelo incômodo.
E se foi.
- Que sujeito mais impertinente! – comentou Cláudia com expressão de desprezo. Tanto Letícia como Ricardo se viraram para ela e os outros. Notou suas expressões meio desconfortáveis, menos a de Marcos com um sorriso divertido, como se houvesse apreciado a cena – Conheço esse tipo. É um playboy que até hoje vive às custas do dinheiro do pai. Seu nome é Armando Duarte, filho de Tomás Duarte.
- Já ouvi falar – emendou Luciana – E o que escutei sobre ele não é nada bom.
- Ao menos ele serviu para um incentivo. – respondeu Ricardo – Minha esposa e eu vamos dançar um pouco – Letícia o fitou intrigada e trêmula. Achou que ele estivesse apenas blefando para afastar o indivíduo. Ricardo fez um aceno para os demais – Se nos dão licença.
- Claro – Luciana esboçou um sorriso largo. Marcos, entretanto, fechou o rosto – Divirtam-se!
- Daqui a pouco, Hernani e eu nos juntamos a vocês – Cláudia se voltou para o marido -Não é, amor?
Hernani assentiu, mas sua expressão não era muito animadora.
Ricardo e Letícia se afastaram em silêncio. Ela notou certo aborrecimento no semblante do marido, talvez ainda por causa do tal Armando. Ciúmes? Era provável. Esboçou um imperceptível sorriso.
Adentraram um espaço pequeno e resplandecente por luzes em tons de rosa e branco que giravam pelo local; um DJ ao centro controlava uma máquina e um laptop; a um canto uma poltrona vazia. Não havia muitas pessoas, apenas quatro ou cinco casais que dançavam juntinhos uma balada romântica que se findava. Outra começou a tocar imediatamente. Era Slave Love, de Brian Ferry.
Ricardo conduziu Letícia a um canto e postou-a de frente para ele. Seus olhos se escureceram e um brilho cintilou em suas órbitas. Um calor a inundou ao contemplar a intensidade deles.
Com ambas as mãos, Ricardo agarrou seus braços e colocou-os sobre o pescoço dele. Ela estremeceu por dentro pelo contato, mas procurou não o demonstrar.
Em seguida, ele a puxou de encontro a seu corpo másculo e desceu ambas as mãos para sua cintura. Letícia tremeu e soltou um suspiro involuntário de surpresa e excitação pelo movimento e o contato entre seus corpos. Foi o suficiente para arrancar um sorriso descarado e malicioso de Ricardo. Ela corou e desviou o olhar. Ele sabia o quanto a estava afetando.
Começaram a dançar ao som da música. Ela ficou rígida a princípio. Mesmo não fitando seu marido diretamente, sentia seus olhos que a contemplavam; as mãos dele sobre sua cintura lhe causavam sensações que ela não conseguia controlar.
- Relaxe – sussurrou ele numa voz rouca e insinuante – Eu não mordo – aproximou o rosto de seu ouvido – Não a todo momento.
Ela afastou o rosto e o encarou com os olhos arregalados. Ele a fitava com expressão tranquila e confiante, ostentava o sorriso malicioso. Letícia engoliu em seco, sem saber o que dizer ou fazer.
- Estou brincando. Desculpe se a deixei sem graça – ele se apressou em esclarecer, mas seu sorriso e olhar descarados desmentiam o pesar e o comentário – Foi para descontrair.
Ela apenas assentiu e desviou o rosto.
Ricardo a puxou mais para si e envolveu-os num abraço, a cabeça dele na curvatura de seu pescoço e o rosto dela no pescoço dele. Letícia ficou mais rígida.
- Relaxe, Letícia – repetiu ele – Sinta a música.
Com muito esforço, ela se soltou aos poucos. Desviou o foco de sua atenção na canção; reconheceu não apenas a melodia, mas a letra inteligível. Ela conseguia entender inglês. Afastou o rosto do pescoço do marido e ergueu a cabeça para escutar melhor e se certificar do que havia descoberto.
- O que foi? – ele também levantou a cabeça.
- Eu... acho que sei inglês – disse ao fita-lo.
- Sabe – esboçou um sorriso – Você fala inglês, espanhol, francês e italiano fluentemente. E arranha em alemão.
- Nossa! – ficou boquiaberta, ele riu de leve – E você? Sabe quantas línguas?
- Não muitas... além de inglês, apenas mais sete e estou aprendendo árabe para comercializar com alguns países do Oriente Médio
- Apenas? – ela o encarou incrédula – E você fala como se fosse nada?
Ele deu de ombros e voltou a envolve-la em seus braços. Dessa vez, ela relaxou com mais facilidade. O calor de Ricardo, o perfume, a respiração, o contato, eram envolventes e, ao mesmo tempo, o modo como a estreitava em seus braços lhe dava uma sensação de proteção, uma vontade de nunca mais sair. Ele começou a cantar baixinho a letra em seu ouvido. Ela sorriu.
Em dado momento, as mãos do marido começaram a alisar suas costas. O tremor e o calor do corpo dela aumentaram. Ela também podia sentir que ele tremia, menos do que ela, quase imperceptível, mas tremia.
Tornaram a afastar os rostos apenas para se encararem. Letícia leu o desejo nos olhos dele. Mais que isso. Amor.
Seu coração se acelerou. Em nenhum momento, desviou o olhar, nem mesmo quando os olhos dele focaram sua boca. Ela também olhou para a boca dele. Os olhos voltaram a se encontrar e mesmo sem lhe dizer em palavras, ela lhe comunicou em pensamento.
Me beija.
O rosto do marido se aproximou, a respiração quente e o hálito gostoso eram palpáveis. Letícia fechou os olhos. Os lábios de Ricardo estavam bem próximos, sentiu um mínimo toque com eles, nas beiradas. Arfou.
E esperou o beijo.
Autor(a): jord73
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- Ricardo! – uma voz feminina próxima a eles os interrompeu Letícia abriu os olhos, afastou o rosto e encarou o marido com ar exasperado. Ele esboçava um sorriso frustrado, também nada feliz com a intromissão. Viraram os rostos ao mesmo tempo na direção da pessoa inoportuna. Ou melhor, mulher. - Perdão, eu atr ...
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