Fanfic: DEZESSEIS | Tema: adolescente romance paixão juventude música

Jennifer abriu os olhos pela manhã bem antes do seu despertador tocar e lançou seu corpo para fora da cama com o mesmo entusiasmo de sempre, porém, aquele dia era especial para ela. Abriu a janela do seu quarto com rapidez e ao jogar seu rosto para frente, respirou bem fundo enchendo seus pulmões do ar puro da fazenda, sentiu ainda deslizar por sobre seu rosto o frescor da brisa daquela manhã especial. O perfume das flores e o cheiro do mato eram inconfundíveis em suas narinas e ela adorava morar naquele local. O campo, o ambiente do interior, ela se sentia muito bem naquele lugar, mesmo sem nunca ter pisado em uma cidade grande durante toda sua vida, ela sabia que não sentia falta de nada, estava satisfeita com a vida que levava, apesar dos sonhos que seu pai havia colocado em seu coração. E sentia em seu âmago que aquele dia seria muito bom e que nada poderia dar errado, afinal, era o dia do seu aniversário, onde ela completaria dezesseis anos, o que não significava muito, porém, estava cada vez mais perto de sua maior idade, quando finalmente completaria dezoito anos e seria responsável por sua vida, pensava ela. Depois do banho, com uma água gelada que caía do chuveiro, Jennifer vestiu bem depressa sua roupa da escola e desceu as escadas com a agilidade e vigor que os jovens costumam esbanjar. Nem bem saiu do seu quarto e já ouviu uma voz peculiar cantar uma canção que vinha do rádio da cozinha, isso significava que seu pai já estava acordado e estava preparando seu café. Na cozinha ela pôde ver seu pai cantarolar meio tímido tentando acompanhar a voz do Roberto Carlos em um dos seus maiores sucessos enquanto preparava o desjejum preferido dela.

- Você sabia que ouvir Roberto Carlos pela manhã são uns dos sintomas da velhice, pai?

- Ah, bom dia filha! E eu já te disse que não é a idade, e sim, a quilometragem!

Seu pai sempre respondia com esta frase costumeira dele quando queria se referir aos seus anos de vida. Sua filha admirava sua beleza apesar das rugas salientes e do cabelo grisalho cobrir toda sua cabeça e barba. Contudo, o porte físico atlético e os músculos ainda salientes lhe davam um certo charme que ainda chamava a atenção das mulheres maduras da cidade. Jennifer ficava observando seu pai despejar o café dentro da garrafa térmica tentando imaginar que aquele coroa charmoso já foi um famoso peão de rodeio no passado e ele foi um dia o centro das atenções de todas as mulheres da região. Suas tias costumam lhe contar histórias sobre o passado do seu pai e das loucuras que muitas mulheres faziam para ter sua atenção. No entanto, foi em uma apresentação fora do país, mais precisamente no Texas, nos Estados Unidos, que uma mulher finalmente fisgou seu coração, sua beleza era tão estonteante que o vaqueiro matuto do interior ficou completamente apaixonado no exato momento em que seus olhares se cruzaram depois do show. Ela não se cansa de ouvir as histórias de como seus pais se conheceram, de como este amor foi avassalador e que essa união mudaria para sempre a vida do jovem casal. A menina não conheceu sua mãe, pois ela morreu no parto, mas todos dizem que Jennifer se parece demais com ela, seus cabelos longos, loiros e lisos, olhos acentuadamente azuis e um rosto perfeitamente afilado. Seu pai dizia que ao olhar a filha, ele, inevitavelmente, via a mãe diante dele. Ele contava que sua mãe, Cloe, era muito parecida com uma atriz americana que estava fazendo sucesso em um seriado na época, Jennifer Aniston era o nome da atriz, então, ele decidiu batizar sua única filha com o nome da artista do cinema estadunidense. Era o que o casal tinha combinado durante toda a gravidez.

Naquela manhã feliz, Jennifer imaginava que seu pai iria preparar alguma festa surpresa para ela, já que ele não tocou no assunto durante toda a conversa que eles tiveram na mesa. Ele sempre gostava de criar aquele ar misterioso que ela curtia demais desde quando era menina e ele decidiu criá-la, superando a perda de sua mãe. Conversaram sobre coisas aleatórias, contudo, as palavras do seu pai terminavam sempre no seu recado paternal:

-Lembre-se sempre minha filha! Você é uma princesa! E deve exigir ser tratada como tal. Você deve buscar conquistar os seus sonhos, construir seu reino, terminar seus estudos e obter uma profissão. Ser uma mulher de sucesso! Você deve lutar pela sua felicidade e não deixe nenhum desses garotos sem futuro destruir seu castelo. Estes meninos não querem nada com a vida e vão querer acabar com a sua. Entre príncipes e plebeus, você, algum dia, vai encontrar alguém que te trate como uma princesa e seja merecedor do seu coração. Mas até lá, você terá que ser independente e autossuficiente.

Aquelas palavras ainda latejavam na mente de Jennifer, era um sermão tão corriqueiro que ela já sabia de cor cada palavra que seu pai iria dizer. Ela até chegava a repeti-las junto a seu pai quando ela estava chateada com alguma coisa, seja por ele ter lhe dado um castigo ou ter lhe feito alguma restrição. Ela sempre repetia que não tinha nenhum namorado e não deixava que nenhum dos meninos da cidade se aproximassem dela. Ela só tinha os olhos voltados para as aulas e o sonho de ter uma vida melhor, sonhava em ser uma mulher de sucesso, porém um sucesso sólido, e não um sucesso como o do seu pai que se esvaiu das mãos dele e que o jogou numa sarjeta. Agora ele vive das glórias do passado e de alguns serviços braçais aqui e acolá. A conversa estava boa até seu pai ouvir os primeiros acordes da canção “Outra vez” de Roberto Carlos começar a tocar no rádio. Jennifer sabia que a letra daquela música mexia demais com seu pai.

Essa música o faz lembrar dela!

“Você foi o maior dos meus casos

De todos os abraços

O que eu nunca esqueci

Você foi, dos amores que eu tive

O mais complicado e o mais simples pra mim.

Você foi o melhor dos meus erros

A mais estranha história

Que alguém já escreveu...”

E quando a primeira estrofe foi cantada pelo artista, Jennifer pode ver os olhos do seu pai ficarem profundamente molhados, mesmo ele tentando conter as lágrimas. Ela sabia que a partir daquele momento ele queria ficar sozinho, então, sem demora, ela o abraçou bem forte e com um beijo na testa, se despediu. Lá fora, ela pegou sua bicicleta e se pôs a percorrer todo o caminho em direção ao colégio. O trajeto era um pouco longo, mas não se tornava tedioso, já que, não muito distante dali sua amiga inseparável, Isabel, iria lhe fazer companhia. E chegando no ponto exato, Isabel surgiu pedalando sua bicicleta e tendo seus grandes cacheados cabelos negros esvoaçados pelo vento, sua pele negra e bela compunha formosamente a beleza daquela jovem mulata. Portanto, cumprimentando sua amiga, as duas seguiram pelo caminho em direção ao último dia de aula daquela semana. Por conta disso, Isabel sugeriu a amiga que as duas deveriam ir a festa da cidade na sede campestre que ficava nos limites da comunidade, onde, todo ano, aquela festa reunia quase todo o povoado daquela região. Afinal, era as festividades mais importante da cidade durante todo o ano, sendo assim, muita gente faria de tudo para não perder esta festança. No entanto, Jennifer recusou o convite, por imaginar que seu pai poderia ter feito alguma festa surpresa para ela, porém, sua amiga sentenciou:

-Desencana amiga! Seu pai, com certeza, não fará nada hoje, apenas vai ficar jogado no sofá bebendo aquele uísque que ele nunca terminar com cara de defunto como ele sempre faz nesta data.

-Quem sabe este ano não seja diferente, amiga! -questionou Jennifer se sentindo cabisbaixa.

-Você esqueceu que o mesmo dia de seu aniversário é a data de morte da sua mãe?

As últimas palavras de Isabel foram duras demais para que sua querida amiga permanecesse confiante em um dia feliz e cheio de comemorações. Realmente, após ter pensado no que disse sua amiga, ao mesmo tempo que ela tinha todos os motivos para festejar, seu pai tinha para lamentar, já que no dia de hoje, completa dezesseis anos que ele perdeu sua amada.

-Oh, amiga, por favor me desculpe! Eu não queria ser tão dura com você!

-Tudo bem, amiga! Deixa pra lá! Vamos esquecer tudo isso!

-Mas a gente ainda pode comemorar indo à festa da cidade!

-Vou pensar nisso, prometo! -concluiu Jennifer continuando a pedalar.