Fanfic: DEZESSEIS | Tema: adolescente romance paixão juventude música

Logo depois da aula, durante o horário do recreio, ao passar por um grupo de meninas próximo a lanchonete, Jennifer percebeu que elas conversavam sobre um assunto com bastante empolgação. Ao fazer seu pedido para a atendente no balcão, ela tentou se concentrar na conversa daquele grupo e descobrir do que elas estavam falando. Ela ficou extremamente curiosa em saber que assunto era aquele que despertava risos e gargalhadas em tantas meninas, afinal, a curiosidade de adolescente lhe impulsionava para isso. Ajustou os ouvidos e tentou imaginar do que se tratava aquela conversa, seria sobre as provas que se avizinhavam? Ou seria sobre o casamento do professor de educação física com a orientadora da escola? Talvez fosse sobre o desaparecimento do líder comunitário com o pagamento de todos os funcionários da fazenda do Seu Mazagão, realmente, este fato causou muito alvoroço em toda a cidade e deixou o velho Mazagão furioso. Ou quem sabe elas estejam comentando sobre a vitória de Beto no rodeio da cidade vizinha, o jovem Roberto era a mais nova promessa de peão de boiadeiro para representar aquela formosa comunidade, a qual não tinha um vaqueiro talentoso como Beto desde os tempos do pai de Jennifer. Os ouvidos da jovem não conseguia captar as palavras direito devido as altas gargalhadas de algumas das moças, e ao ouvir as palavras festa e diversão, deduziu que elas devessem estar empolgadas com as festividades do arraial da comunidade mesmo. Porém, apesar de seus esforços em se concentrar na conversa alheia, foi surpreendida pela presença de uma outra pessoa:

-Sabia que é muito feio ouvir a conversa dos outros?

-Eu não estava ouvindo nada, Isabel! Estou apenas lanchando, você não está vendo?

Ostentou no rosto de sua amiga o copo de suco e o salgado que a atendente da lanchonete havia acabado de entregar a ela, então Jennifer tratou de se afastar dali sendo seguida de sua fiel amiga que, para sua surpresa, resolver acabar com a sua curiosidade:

-Você realmente quer saber do que a Rebeca e suas amigas estavam conversando?

-Quem disse que eu estava interessada? -protestou Jennifer dando de ombros e tentando demonstrar desdém, mas sua bela amiga negra insistiu:

-Você quer, de verdade, convencer a mim que não estava tentando ouvir a conversa delas naquela mesa? Faça-me o favor, Jennifer! Há quanto tempos somos amigas?

-Uns dez anos, mas eu só me lembro dos seis últimos. Vamos! Fala logo tudo o que você sabe!

Isabel contou que o motivo de tanto alvoroço assim por parte das meninas é o aparecimento do mais novo policial da comunidade que foi visto fazendo rondas pelos principais logradouros juntamente com o sargento Epaminondas. Todas ficaram encantadas com a beleza do rapaz, sua pele clara, uma postura levemente atlética distribuída numa estatura de cerca de um metro e oitenta centímetros de altura, com um queixo afilado e um lábio carnudo, o novato era a sensação da juventude naquele instante. Contudo, o soldado Micael era todo ouvidos aos ensinamentos do seu chefe imediato que lhe explicava como o policiamento funcionava naquela pacata comunidade do interior. O velho sargento, entre resmungos e acenos para as pessoas que ele conhecia, falava com nostalgia dos tempos em que ele chegou ali bem novinho exatamente com aquele soldado há décadas atrás. Hoje, o experiente policial ostenta uma barriga protuberante e uma larga cintura onde ele sempre tentar ajustar o seu cinturão que segura sua arma.

-Eu já deveria saber que elas estavam falando de meninos! É sempre meninos, rapazes, namoro etc! -reclamou Jennifer.

-Oh, amiga, não me diz que você nunca se interessou por nenhum rapaz? Meu Deus, será que você é lésbica? -indagou Isabel e Jennifer protestou:

-Claro que não amiga! É que eu sempre vejo as meninas deixarem se envolver muito precocemente com os rapazes, esquecendo de estudar, e daí você já sabe o que vem depois.

-Gravidez! -exclamou Isabel fazendo cara de nojo e se cobrindo com o sinal da cruz.

-Sim, depois, as meninas não conseguem mais estudar e seu futuro acaba sendo noites acordadas, fraldas, afazeres de casa e nada mais. Ficam totalmente largadas e irreconhecíveis. Sempre que vejo isso acontecer, eu me lembro das palavras do meu pai.

-Verdade, seu pai é muito enfático em te alertar sobre os perigos do amor, afinal, ele se apaixonou pela sua mãe e veja o que aconteceu com a carreira dele de vaqueiro profissional!

-Isabel, às vezes eu acho que você não é minha amiga de verdade! -reclamou Jennifer pelo comentário infeliz que sua amiga fez sobre o passado de seus pais, contudo, ela ignorou pelo fato de saber que sua amiga sempre solta essas sutilezas desagradáveis sem perceber.

O que Jennifer se referia era sobre o futuro corriqueiro que tomava conta de todas as meninas daquela comunidade. Estudavam de forma totalmente despretensiosa na escola e quando, prematuramente, apaixonavam-se por algum menino, logo engravidavam e se tornavam horríveis donas de casa, cuidando de crianças, acabando sua juventude na roça e em serviços braçais. Uma boa parte de suas amigas já tinham filhos ou estavam grávidas, e sempre era de algum garoto irresponsável que não consegue trabalho nem para se sustentar. E este não era o futuro que Jennifer queria para ela. Afinal, seu pai sempre lhe dizia que ela era uma princesa e que deveria ser uma mulher de sucesso. Que deveria focar nos seus estudos, desviar-se de qualquer distração e se formar em alguma faculdade, ela ainda não sabia em qual área iria se formar, mas ela tinha plena convicção que nada poderia lhe desviar de seus sonhos. Iria dar orgulho ao seu pai lhe entregando seu diploma e ter a vida que ela merecia, somente depois disso, ela iria voltar seus olhos para algum garoto que tivesse um futuro de verdade e propor formar uma família com ele. Antes disso, sua vida era estudar e cuidar de seu pai. Sua pureza iria ser entregue apenas ao rapaz que verdadeiramente merecesse ser feliz ao lado dela. Tocou a campainha e as duas amigas voltaram para a sala de aula.