Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)
Anteriormente:
– Você pretende incluí-los também no programa?
– Sim, eu até queria ter feito isso antes mesmo sem conhecê-los antes, mas... eu achava que não fossem merecedores.
- Bobagem, menina. Como eu disse, eles são ótimos garotos, como filhos para mim, mas jamais tomariam seu lugar – ele balançou a cabeça – Eu sempre te falei da capacidade e integridade deles. Eu só não te sugeri antes que os incluísse no programa porque... você sabe... não gosto de tocar nesse assunto porque você acaba tentando me convencer a aceitar e sabe que não vou.
(...)
– Me explica então por que Mark Thompson foi assassinado pelo Alan? – retrucou Dean – Se é verdade que está sob algum feitiço de proteção perpétuo?
– Não deu pra ler o resto porque eu quase fui pega pela Marta nessa hora, tive que me esconder. Parece que tinha uma advertência, um porém para esse feitiço ser quebrado. Talvez esse seja o motivo do Mark ter sido uma vítima, inclusive... – Vic baixou os olhos como se recordasse de algo.
– Inclusive? – Sam incentivou
– Agora há pouco quando eu estava com a Marta, ela falou coisas como se o filho não pudesse ter morrido, como se ele fosse imune ao cavaleiro. Acho que é certo pensar que a Marta estava protegendo sua família da mesma forma que sua ancestral Elizabeth, mas algo saiu errado e o Mark foi atingido pela maldição.
(...)
– Brian Thompson, você está preso pelo assassinato de quinze pessoas, incluindo seu irmão Mark e de ter provocado o incêndio na casa de Richard Van Tassel – anunciou Davis
– O quê? Que absurdo é esse? – Marta gritou descontrolada. Collins a segurava
– As provas estão aqui – continuou o agente – Esses são os galões de gasolina e neste saco estão quinze cabeças... a do seu filho Mark também está aí.
Capítulo 11
A lenda do cavaleiro sem cabeça - (5ª parte)
Eram quase dez horas da noite. Estava desde o horário da manhã naquela cela da delegacia.
Estava cansado. Tivera um interrogatório estafante com o agente Davis. Sabia que tinha o direito de permanecer calado e só falar na presença de um advogado, entretanto, não se conteve ao ser acusado pelo federal num tom nada amigável.
Alegou inocência e que aquelas evidências encontradas foram postas lá para incriminá-lo. O federal refutou com a declaração de Marta de que somente ela e os filhos tinham conhecimento da existência do labirinto.
Além disso, o rapaz não tinha álibi em nenhuma das ocasiões das mortes. Deitava sempre cedo, antes da mãe, depois de umas dez horas, contudo, nem mesmo Marta poderia garantir que ele permanecia no quarto. E na noite anterior do assassinato do irmão, Brian se encontrava com dois amigos na discoteca, porém, foi embora cedo, perto de umas onze e meia. Entretanto, não havia quem pudesse confirmar seu álibi depois dessa hora, pois ficou perambulando pelas ruas até chegar à ponte da Vila onde queria pensar em sua vida.
Chegou ao hotel por volta das três e meia da madrugada quando o porteiro lhe informou sobre a morte de Mark.
Sabia da existência da passagem secreta, mas esteve lá duas ou três vezes quando criança e, mesmo assim, nunca adentrou totalmente o local porque lhe dava arrepios.
Tais foram suas alegações para Russell, que desdenhou a todas e aconselhou o rapaz a admitir a culpa sobre aqueles crimes.
Felizmente, o xerife veio em seu auxílio e não permitiu que fosse submetido a mais pressão do federal e a mais perguntas sem um defensor que o protegesse.
Dali a três dias, seria solicitada sua transferência para a cidade de Nova Iorque. Aqueles crimes eram hediondos demais para serem julgados como algo comum numa pequena Vila como North Tarrytown.
Não bastasse toda aquela pressão, houve manifestação na porta da delegacia. As pessoas da Vila queriam linchá-lo por todos aqueles assassinatos. Foi um custo o xerife e seus auxiliares acalmarem a multidão. Todavia, da cela, podia ouvir os insultos que gritavam do lado de fora.
E ainda havia sua mãe; visitou-o naquela mesma tarde. Estava muito abalada e, se não estivesse acompanhada dos três produtores de filmes, teria sucumbido a outro desmaio. Jurou inocência a ela e, Marta não hesitou em nenhum momento em acreditar. Parecia ser a única pessoa.
Ele sorriu amargo. Kath. Ela também foi até lá, no princípio da noite, pouco depois que sua mãe saiu.
Pensou que fosse para lhe dar seu apoio, dizer que o amava e acreditava nele, contudo, decepcionou-se. Ela teve coragem de lhe perguntar se fez tudo aquilo. Estava pálida, com olheiras profundas – sinal de que havia chorado muito. Ela o indagava, mas pôde perceber em seus olhos que havia tirado suas próprias conclusões: ele era o culpado, o assassino.
Aquilo o chocou de tal forma, magoou-o tanto, que não conseguiu responder. Por fim, como ela insistisse na maldita pergunta, ele admitiu a culpa apenas para feri-la, para magoá-la como ela fez com ele. Em seguida, mandou-a embora.
Como ela pôde duvidar dele depois de tudo o que passaram?
Brian encostou nas grades da cela e foi escorregando até chegar ao chão.
Nada mais importava.
- 0 -
Dean, Sam e Vic investigavam a imensa galeria oculta sob o hotel. Não foi difícil para eles terem acesso à entrada: ainda que um federal ficasse de vigia, pois aquela parte do local ainda estava sob investigação, aproveitaram um momento em que o agente foi ao banheiro e entraram.
O guarda-roupa estava aberto e as lascas da porta destruída ainda estavam no chão. Adentraram o túnel e acenderam as lanternas.
Procuravam evidências que inocentassem Brian. Não acreditavam muito em sua culpa, ainda mais porque Sam declarou que não sentiu aquele cheiro fétido quando mais cedo foi revistar o quarto do moço. Além disso, ao acompanharem Marta na visita ao filho, puderam perceber nos olhos do moço a inocência estampada. Só se ele fosse um excelente ator para mostrar um olhar tão limpo.
O lugar era um breu total e apenas com a luz das lanternas era possível enxergar qualquer coisa. Fedia a mofo e aquele cheiro podre das cabeças em decomposição ainda estava impregnado.
Localizaram a parte em que as cabeças e os galões de gasolina foram encontrados. O rastro de sangue ainda estava lá. Também havia várias pegadas que se destacavam no pó do chão do local. E eram recentes. Algumas deviam ser dos federais e do xerife na hora em que recolheram as evidências; e outras, adentravam a passagem afora. Detiveram-se sobre essas últimas.
– Não parecem ser do Brian – comentou Vic ao se abaixar e analisá-las mais de perto.
– Como você pode saber disso? – perguntou Dean
– Reparei nos pés dele. Não são grandes e essas pegadas parecem de alguém com pés bem grandes.
– Do Sam talvez – zombou o loiro
– Há-há-há – replicou Sam com falsa graça – É sério, Dean. Vamos ver pra onde elas nos levam.
E seguiram por aquela galeria, era bastante comprida. E de arrepiar: aranhas e suas teias por toda parte, ratos e baratas. Em dado momento, Victoria sentiu uma barata passar em cima de seu pé.
– Ahhhhhhhhhhhh! – gritou. Tinha horror aquele bicho.
Percebeu que se agarrou ao primeiro que estava perto. Era Dean. Os braços da moça estavam em volta do pescoço do homem que adorou aquela aproximação e não escondia um sorriso de malícia.
Collins se soltou na hora dele. Um calor a envolveu.
– Desculpe.
– Tudo bem. Mas.. sério? A gente caça monstros, fantasmas, demônios e todo o tipo de criatura... e você se borra por baratas?
- Ninguém é um poço de coragem, Winchester – ela desconversou
- OK – ele segurou o riso – Mas se precisar de novo se agarrar quando uma barata cruzar seu caminho, vou estar aqui.
Ele deu uma piscada. Vic teve vontade de lhe xingar, porém, preferiu ignorá-lo e seguiu em frente.
Sam olhou feio para Dean que ostentava um sorriso mesclando zombaria com satisfação por ter segurado Victoria mesmo que por um instante. .E ambos ficaram surpresos em descobrir aquele medo da Indomável. Era apenas com baratas; ratos, aranhas e insetos não a assustavam.
Depois de um bom tempo percorrendo aquele labirinto, chegaram ao fim da linha. Havia uma escada alta de ferro que dava num bueiro com uma tampa de grades. Os rapazes subiram primeiro e, Sam, que estava na frente de Collins, gentilmente deu a mão à mulher e ajudou-a a subir. Sentiram aquela eletricidade mais uma vez percorrerem seus corpos naquele simples contato.
Vic soltou sua mão da dele, mas o encarou profundamente tal como ele o fazia.
– Ei, parece que voltamos ao cemitério – comentou Dean sem perceber o clima. Estava de costas para eles.
Os dois quebraram o contato visual e observaram o local onde haviam chegado. De fato, era o cemitério da Vila. Estavam perto de uma sepultura pertencente a um ancestral dos Thompson.
– E nem sinal de mais rastros – observou Sam tentando vasculhar algum indício.
– Não tem importância – disse Vic – De qualquer jeito, estou convencida que o Brian não tem nada a ver com essas mortes. Não tem lógica ele ter colocado aquele saco num lugar bem próximo do quarto onde qualquer um poderia ter notado aquele cheiro se chegasse perto do guarda-roupa, como a mãe dele, por exemplo – olhou para Sam – E você mesmo disse que não sentiu cheiro algum quando esteve lá mais cedo.
– O que significa que alguém colocou as cabeças lá há pouco tempo para incriminar o Brian – continuou Sam – E deve ser a mesma pessoa que fez a denúncia. Se não... como poderia saber que elas estavam lá?
– Nossa! Esse Davis é um tapado! – assobiou Dean – Nem parou pra pensar nisso.
– Talvez pressa em encerrar um caso longo – sugeriu Sam
– Esse caso está cada vez mais complicado –admitiu Collins – Só nos resta mais uma alternativa.
– Qual?
– Interrogar a Marta.
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Marta estava terminando de limpar as mesas do restaurante do hotel. Havia empregados específicos para isso, mas queria fazer aquele serviço ela mesma ou enlouqueceria.
O que fez para merecer tanta dor? Primeiro, o marido morria num trágico acidente de carro, deixando dois filhos ainda pequenos para ela criar; depois, vivia com as constantes humilhações que alguns membros daquelas malditas famílias Tassel e Schmidt faziam questão de lhe impingir sempre que tinham oportunidade; e agora, tinha um filho assassinado brutalmente e outro, preso e acusado de ser o autor da morte do próprio irmão e de mais quatorze pessoas. Era muito para sua cabeça!
No final da tarde, fora visitar Brian na prisão e não pudera dizer quase nada em sua presença tamanho o choque em vê-lo ali confinado. Ainda bem que aqueles produtores, hóspedes maravilhosos, tiveram a gentileza de lhe acompanhar ou ela teria desabado.
– Precisamos conversar... Marta.
A mulher se virou. Ficou pasma; diante dela estava Tessa Van Tassel, a mulher que mais odiava no mundo. Trajava um longo vestido preto e um chapéu com um véu espesso de mesma cor, calçava sapatos de salto. Ainda estava de luto pelas mortes do filho James e o marido, bem como de outros parentes. O rosto ostentava uma máscara de frieza e impassibilidade.
– Como ousa entrar aqui? Quem lhe deu permissão? – esbravejou a Thompson – Edmund!
– Não perca seu tempo chamado pelo porteiro. Ele foi passear. Ele sabe que não se deve se meter com um Tassel. – a mulher esboçou um sorriso frio e cínico
– E o que você quer aqui? Por acaso veio me jogar na cara que é bem feito o meu filho estar preso? Que finalmente o assassino de seu marido e de seu filho vai pagar pelas mortes deles?
– Tenho certeza de que seu filho é inocente – cortou Tessa sem responder a nenhuma das perguntas
Por essa, Marta não esperava! A princípio, ficou sem palavras, mas logo esbravejou:
– A quem você quer enganar? Que história é essa?
– Acalme-se e me deixe explicar.
– Calma? Como eu posso ter calma? Você sempre me odiou! – abaixou o tom de voz e imprimiu uma nota de desdém – Você nunca suportou o fato de eu ter me casado com o Gerald, não é mesmo?
– Cale a boca – Tessa falou baixo, mas sua voz assumiu um tom raivoso.
– Nunca se conformou de sua família ter separado vocês dois e dele ter se casado comigo, não é?
– Eu disse pra se calar – a outra aumentou o tom de voz
– Mas a culpa foi sua! Você é quem desistiu dele, o deixou sem chão quando concordou em se casar com aquele miserável do Richard Van Tassel!
– Cale-se, maldita! – Tessa não conteve o seu grito de raiva, uma raiva reprimida há muito tempo.
Marta esboçou um sorriso satisfeito ao conseguir tocar na ferida de sua rival.
Nesse momento, Collins e os Winchesters chegaram perto da porta do refeitório. Ouviram o grito de Tessa. Os três pararam num dos lados do umbral da porta; estavam surpresos em ver a Tassel por ali e resolveram ouvir a conversa.
– Não se atreva a falar da minha relação com o Gerald – continuou Tessa deixando transparecer a mágoa que sempre procurou ocultar – Ele pode ter sido seu marido... mas eu continuei o amando a vida toda... mesmo depois da morte dele – fez uma pausa - E sei que... ele também continuou me amando.
– Infelizmente sim – Marta não negou – Ele foi um ótimo marido e um ótimo pai pra nossos filhos... mas nunca vi no olhar dele o brilho que ele tinha quando estava com você. É por isso que eu sempre te odiei. A mim não importava essa rixa idiota de família, mas o fato de você sempre ter estado entre a gente.
– Poxa!
Sussurrou Dean com uma careta de espanto. Collins virou para trás e o cutucou para que se calasse.
– E agora você vem aqui tripudiar sobre a minha desgraça dizendo esse absurdo de que acredita na inocência do meu filho? - tornou Marta
– Não estou tripudiando. Sei que é verdade... sei porque de certa forma... eu sou responsável por todas essas mortes que tem ocorrido, de ter trazido o cavaleiro de volta pra nossas vidas.
– O quê? – mais uma vez Dean sussurrava com outra careta. Sam, dessa vez, foi quem o cutucou.
– O que quer dizer? – espantou-se Marta – Você... você sabe do cavaleiro, o Alan Schmidt?
– Todos os membros principais dos Tassel e dos Schmidt sabem dessa história. Até mesmo minha filha, mas poucos sabem os detalhes mais importantes... E sei sobre o feitiço também.
– Sua louca! Então você está dizendo que fez o feitiço que o trouxe de volta... e fez com que ele matasse todas essas pessoas, seu próprio filho, seu marido? E o meu... o meu filho?
Marta quase avançou na mulher, mas ela logo se explicou:
– É claro que não! Que tipo de monstro você acha que eu sou? Me deixe ser mais clara. Eu não trouxe o cavaleiro de volta... mas eu mandei roubar os diários do Alan. Eu descobri sobre os feitiços, eu os queria para mim.
– Pra quê?
– Eu pretendia sim trazer o cavaleiro de volta... mas pra matar o meu marido.
– Como? – Marta estava abismada.
– Eu o odiava! Sempre o odiei por todos esses anos de casada. Ele se casou comigo só pelo dinheiro e minha posição. E fez da minha vida um inferno – a mulher não mais olhava Marta. Parecia visualizar as cenas de maus tratos do esposo – Me batia por qualquer motivo sem que eu merecesse... me traía com todas as vagabundas da Vila... e como se não bastasse, eu descobri que foi ele quem provocou o acidente do Gerald.
– O queeê?! – Marta quase teve um ataque cardíaco.
– Não me pergunte como eu descobri isso, mas sim, não foi acidente o que matou seu marido. Foi assassinato encomendado pelo Richard.
– E por que... Por que ele fez isso? – a mulher colocou a mão na boca incapaz de acreditar
– Por vaidade. Por saber que eu ainda amava o Gerald.
– Meu Deus! Esse homem... era um demônio!
– E ele queria condenar minha filha ao mesmo destino – continuou Tessa. – Queria obrigá-la a se casar com um homem que ela não amava e que ia fazer de sua vida um inferno. A única diferença do Wiliam pra meu marido é que parece que ele sente algo pela Kath, mas... creio que não seja amor, é mais como... uma obsessão, um desejo de posse, que da mesma forma pode destruir a vida dela como foi... com a minha. Eu não podia permitir isso, que minha filha passasse pelas mesmas coisas que eu passei.
– Então você invocou o cavaleiro.
– Não... eu nem cheguei a ler sobre a fórmula de como trazê-lo, eram vários os diários, uns dez ou onze, pelo que me lembro. E... no fim das contas, não teria coragem de realizá-lo, não sou assassina – fez uma pausa – Só que... alguém roubou os diários de mim e invocou a alma do Alan.
Justo nessa hora, Dean soltou um espirro barulhento que não deixou de ser escutado pelas duas mulheres. Olharam assustadas em direção à porta.
– Quem está aí? – perguntou Marta.
Vic e Sam olharam feio para Dean que esboçou um sorriso desconcertado. Saíram de onde estavam e apresentaram-se diante das duas mulheres.
– Vocês? – espantou-se Marta – Há quanto tempo... estão aí?
– Por favor, senhora Thompson, nos deixe explicar... – começou Collins
– Humpf. Era de se esperar de um bando de produtores de Hollywood – interrompeu Tessa olhando Vic mais uma vez com desprezo – A necessidade de vocês em produzir filmes é tão forte a ponto de meterem os narizes em assuntos que não lhes dizem respeito?
– Não somos produtores de Hollywood – interviu Sam.
– Como? – Marta pensou ter escutado mal.
– Isso mesmo que vocês ouviram – confirmou Victoria – Não somos produtores de filmes... isso é apenas um disfarce.
– Disfarce? Então... quem são vocês?
– Somos caçadores de seres malignos como fantasmas, demônios, monstros e coisas desse tipo.
– Estão de brincadeira, não? – dessa vez, era Tessa que imprimia um tom de incredulidade à voz.
– Não. Infelizmente, não. E foi pra isso que viemos a North Tarrytown, por causa das notícias do cavaleiro sem cabeça. Nós fizemos algumas investigações e já sabemos sobre a identidade dele, sobre Edward Thompson, Catriena Van Tassel, a maldição que perseguiu os Thompson, enfim...
– Nós podemos ajudar a acabar com o fantasma – continuou Sam – Mas precisamos que nos informem mais coisas sobre o feitiço que o trouxe de volta e como pará-lo.
– Queremos mesmo ajudar. É o nosso trabalho, mas... precisam confiar em nós – concluiu Vic
As duas mulheres perceberam que os caçadores diziam a verdade e trocaram olhares entre si. Tessa assentiu.
– O quanto vocês ouviram? – inquiriu Marta.
– Desde o amor declarado da senhora Tassel por seu marido – Dean falou sem cerimônias
Ambas as senhoras ficaram constrangidas, porém, Tessa tomou a palavra.
– Então devem ter ouvido quando eu disse que mandei roubar os diários no Arquivo Público para trazer o cavaleiro de volta, mas que nem cheguei a tomar conhecimento do feitiço e que alguém roubou os diários de mim...
Os caçadores assentiram.
– A senhora não tem a menor ideia de quem pode ter feito isso? – indagou Collins.
– Eu não sei... não consigo imaginar. Eu tinha decidido devolver os diários... na verdade, decidi até queimá-los para que não caíssem em mãos erradas. Eu os escondi do meu marido, é claro. Deixava entre as roupas numa das gavetas do meu guarda-roupa. Nunca permiti que nenhuma empregada guardasse minhas roupas, eu mesma gostava de fazer isso. Então, teve um dia que desci até a sala de minha casa com os diários em mãos, disposta a queimá-los nos fundos sem que ninguém me visse... mas ouvi a campainha da porta tocar e uma empregada foi atender. Era uma amiga minha de longa data. Pedi que ela mandasse essa amiga esperar e fui correndo escondê-los. Deixei em cima da mesa do escritório da biblioteca do meu marido. Como ninguém além dele tinha permissão de entrar lá e ele não se encontrava, achei que não teria problema em deixar por alguns momentos os diários enquanto recebia minha amiga. Não queria ter o trabalho de ter que guardá-los de novo. Eu desci e ela ficou quase duas horas conversando comigo. Depois da visita, eu subi até a biblioteca louca pra me livrar dos diários, mas... quando voltei, não estavam lá.
A mulher os olhou pesarosa. Mostrava em seu semblante um grande sentimento de culpa.
– A senhora não tem nenhum suspeito? – inquiriu Sam
– Pensei nos empregados da casa, mas... não podia perguntar diretamente a eles sobre o que eu procurava e também nenhum deles ia me confessar. E quando essas mortes começaram a acontecer, tive certeza de que só podia ser alguém que odiava a todos os Tassel e os Schmidt.
Marta a olhou enviesada como se achasse que ela fosse acusar seu filho Brian. Como se lesse seus pensamentos, Tessa continuou:
– É claro que eu sabia que não podia ser um Thompson. Nenhum deles pisava a velha casa que foi de Catriena Van Tassel há mais de duzentos anos.
– Além da senhora, da sua amiga e de seus empregados alguém mais estava na casa? – tornou Victoria.
– Estava minha filha Katharina.
Os caçadores se entreolharam, mas não tinham coragem de falar o que lhes passou na cabeça.
– Sim, eu também pensei nessa possibilidade – a Tassel sorriu exprimindo em voz alta o pensamento que eles não ousavam formular – Mas... minha filha teria que ser um monstro pra querer matar o próprio irmão e o próprio pai.
– Acredite, senhora, já vimos de tudo – Dean admitiu – Au!
Collins lhe deu uma pisada no pé sem se virar para ele e, com semblante tranquilo, perguntou:
– Mais alguém?
– Nesse dia, William Schmidt foi visitar minha filha. Mas ele estava lá fora o tempo todo em que minha amiga e eu ficamos na sala. Só Kath... que subiu por uns momentos. Cheguei mesmo a suspeitar um pouco dele... mas por que ele faria isso com alguns de seus parentes mais próximos? E depois, como ele foi quase morto pelo cavaleiro, afastei minhas suspeitas de vez.
Dessa vez, a troca de olhares entre os caçadores foi mais demorada.
– Isso dele ter sido quase morto foi o que ele disse – tornou Vic.
– Espere...Vocês estão achando que ele...
– É melhor a gente ir até a casa dele.
– 0 –
Katharina não estava com a menor disposição de receber ninguém, principalmente William. Tinha certeza de que o moço fora lá pra tripudiar sobre sua dor e de tê-lo trocado por “um assassino”. Todavia, as regras de etiqueta mais uma vez impunham seu peso sobre as ações da jovem.
– Bill.
– Kath.
Ela desceu as escadarias sem a menor pressa ou entusiasmo. E mesmo assim, o rapaz parecia tranquilo, sem ansiedade para que ela fosse até ele.
– O que deseja?
– Queria saber como você está... depois de toda essa descoberta.
– Pra quê? Pra jogar na minha cara que mereço o que estou passando? Que deixei você por um monstro, uma pessoa de duas caras? Fique à vontade se isso te faz tão bem – Kath não teve vergonha em demonstrar o quanto estava destruída por dentro.
– Não, Kath, de maneira nenhuma. Eu jamais faria isso... Te disse que você ia se arrepender da sua escolha na última vez que estive aqui, mas... foi da boca pra fora. Não queria que você estivesse passando por algo assim, por essa decepção.
– Não diga que lamenta.
– Pelo Thompson, não, mas por você, sim.
Kath mirou por alguns instantes os olhos do jovem. Pareciam sinceros, ele parecia se solidarizar com sua dor, mas ela também acreditou na sinceridade dos sentimentos de Brian, viu transparência em seus olhos... e deu no deu.
Vendo o ar confuso da moça, Bill continuou:
– Kath, vamos dar uma volta. Você precisa de um pouco de ar.
– Bill, são onze e meia da noite e eu estava me preparando pra dormir.
–Ora, vamos... Kath, só pra se distrair um pouco. Não se preocupe... eu não vou confundir as coisas... posso aceitar o fato de não sermos mais noivos, mas... estou preocupado com você, Kath. Por favor, só um pouco... – estendeu a mão para ela. – Por favor
Alguma coisa dentro de Kath a alertou para que recusasse aquela oferta. Entretanto, estava tão confusa, tão carente, que precisava desabafar. Nunca teve amigas verdadeiras, todas tinham interesse por ela por causa de sua riqueza e posição social. Quanto à mãe, nunca houve um diálogo entre elas. Tessa parecia querer se esconder num mundo próprio, ignorando a existência da filha. Com o pai e o irmão, ela muito menos teve alguma intimidade. Foi em Brian que ela buscou todo o amor, carinho, proteção e amizade que ela não encontrava em sua família. E agora... ela constatava que essa pessoa nunca existiu, foi somente uma ilusão tola e romântica. Enlaçou a mão que lhe era oferecida.
– Está... bem.
– 0 –
Os dois Impalas 67 percorriam o breve caminho até à mansão dos Schmidt. No branco, estavam três mulheres: Victoria no volante, Marta no banco de passageiro e Tessa no banco de trás.
Havia um silêncio tenso entre elas. Embora Tessa aparentasse uma expressão impassível, o mesmo não se podia dizer de suas mãos que se apertavam com nervosismo. Quanto a Marta, era visível sua aflição. Vic resolveu quebrar o silêncio indagando a esta sobre algo que estava martelando sua cabeça. No entanto, era melhor abordá-la de uma forma mais indireta.
– Senhora Thompson, posso lhe fazer uma pergunta?
– Ah... sim... claro.
– A senhora é uma bruxa, não?
A mulher não pareceu muito surpresa com a pergunta. Em vez de responder, fez outra pergunta:
– Você esteve no meu quarto investigando? – o tom não era acusativo, apenas queria uma confirmação
– Sim – admitiu a caçadora desviando o olhar.
A mulher sorriu. Não estava zangada.
– Então você deve ter visto meu baú e o manual de minha ancestral Elizabeth Thompson. O de feitiços de proteção à família.
– Não deu pra ler muita coisa.
– Qual a pergunta que você queria realmente fazer? – tornou a mulher. Vic não lhe fez uma pergunta para cuja resposta já sabia; ela só estava querendo ganhar terreno.
– Eu li algumas páginas sobre... o feitiço de proteção que ela conferiu à sua família contra a maldição do cavaleiro. Por que... então... seu filho Mark foi atingido?
Mais cedo ou mais tarde, Marta teria que encarar a dura realidade que não queria traduzir em pensamento. Por mais que seu filho houvesse sido vítima da maldição, ele também era o culpado.
– Se um descendente dos Thompson invocar o cavaleiro ou mesmo só ajudar quem o invoca, fica vulnerável à maldição.
– Então...
– Então... Mark deve ter sido cúmplice da pessoa que trouxe Alan à vida. Quando ele morreu, achei que fosse o autor dos crimes e que ao parar com a matança, o feitiço se voltou contra ele.
– Não entendo. Como assim?
– A pessoa que invoca o cavaleiro não pode parar com a maldição – Tessa interveio na conversa – Caso contrário, é a próxima e última vítima do cavaleiro antes dele voltar à sua tumba. Foi o que aconteceu com... Charlie Schmidt.
– Charlie Schmidt? Foi ele que matou o Alan... matou o próprio irmão? – Vic ficou abismada.
– Não eram só feitiços que continham no diário do Alan, havia também confissões de sua vida íntima. Ele tinha obsessão por Catriena e queria seu amor de qualquer jeito. Na última anotação, escreveu que não importava se não ganhasse a aposta que fez com Edward, pretendia experimentar um daqueles feitiços para tirar o rival de seu caminho – fez uma pausa – Ele também escreveu por diversas vezes que sabia que seu irmão o invejava e o odiava porque ele herdaria maior parte da fortuna dos Schmidt. E também Charlie parecia sofrer da mesma obsessão por Catriena. Ele também foi encontrado degolado depois que a maldição parou contra os Thompson – fez uma pausa – Sei de tudo isso porque li nos diários de George Schmidt, irmão mais novo de Charlie e Alan. Estão guardados na biblioteca da mansão. Richard nunca acreditou muito nessa história da maldição do cavaleiro. Era um cético, mas preservava alguns documentos da família por tradição.
– Minha ancestral Elizabeth fez o feitiço de proteção que parou com a ameaça do fantasma – continuou Marta - E o preço era que se voltaria contra a pessoa que o invocou. Então... fosse por vontade própria ou não, a maldição não poderia parar sem fazer sua última vítima na figura de quem a iniciou.
– A morte de Charlie foi registrada como suicídio – tornou Tessa – Os Tassel e os Schmidt descobriram que somente ele poderia ter sido o responsável pela morte de Alan e de tantos Thompson. É claro que nunca admitiram a verdade suja que esconderam por séculos – proferiu num tom que indicava o reconhecimento de uma injustiça.
– Isso significa que se o Bill realmente for o autor dessas mortes... – Vic concluiu
– Se nós pararmos com a maldição, o cavaleiro virá até ele. Isso se ele já não fez isso antes, se deixou de invocá-lo hoje na mesma hora. Acredito que seu propósito foi alcançado ao incriminar meu filho.
Collins não disse mais nada. Bastava queimar os restos mortais de alguém para destruir seu espírito de uma vez por todas. Mas será que mesmo assim não traria consequências trágicas para o jovem Bill?
Por mais que o rapaz merecesse sofrer do mesmo mal que impôs às suas vítimas, Vic era contra tal pensamento. Não se achava no direito de julgar as ações das pessoas. Não era Deus para isso. Ela estava ali para salvar pessoas, não para condená-las por mais que merecessem.
Sua linha de pensamento foi interrompida ao chegarem no portão grande da mansão dos Schmidt. Suas passageiras e ela desceram do veículo e juntaram-se aos Winchesters. Tessa tocou o interfone. A voz do guarda se pronunciou pedindo que se identificassem.
– É Tessa Van Tassel – disse a senhora – Precisamos falar com urgência com... William Schmidt... ou com os pais dele.
O guarda se apresentou. Era um sujeito alto, claro e de cabelos pretos e curtos.
– Boa noite, senhora Tassel. – cumprimentou e olhou com estranheza para as outras pessoas que estavam com ela.
– Boa noite, Perry.
– Olha, o Sr. Bill não se encontra e nem o senhor Rudolf. Só a senhora Lorna.
– Ótimo. Preciso falar com ela. Sei que está muito tarde e que estive aqui antes, mas voltei porque...é caso de vida ou morte. Diga isso para ela.
O guarda assentiu e falou pelo interfone com sua patroa. Minutos depois, abria o portão para eles. Logo adentravam o interior da mansão.
– Tessa... o que está acontecendo? – olhou confusa para a amiga e com certo desagrado para Marta e os três caçadores.
– Lorna, não temos tempo a perder! – Tessa dispensou a cerimônia – Onde está Bill?
– Ora... ele disse que ia até sua casa ver a Kath.
A mulher arregalou os olhos.
– Tem certeza disso?
– Afinal, o que está acontecendo? Perry disse que você falou se tratar de caso de vida ou morte – pôs a mão no coração – Tem alguma coisa a ver com o Bill?
– Não... quer dizer, tem... olha, daqui a pouco te explico, preciso só falar uns minutos com...meus amigos – virou-se para os caçadores com tom disfarçado de pânico na voz – O Bill está lá em casa com minha filha! O que... eu faço? Se ele for mesmo o autor por trás disso...
– Calma, senhora Tassel, pode deixar que vamos dar um jeito. – Vic se dirigiu aos seus colegas – Vocês dois podem ir até lá?
– Podemos, mas... e você? O que vai fazer? – perguntou Sam
– Vou tentar encontrar os diários e a cabeça de Alan e queimar se encontrar. Só que não sei se vai resolver no caso do Bill...
– Como assim?
Em breves palavras lhes relatou o que as duas mulheres lhes contaram sobre a maldição.
– Você acha que o cavaleiro pode voltar e matar o Bill mesmo se queimarmos de vez os restos dele?
– Eu não sei... mas é um risco que vamos ter que correr. Não podemos deixar que um louco continue incitando o cavaleiro contra inocentes.
– OK. Dean e eu iremos até lá tentar avisá-lo e ajudá-lo. Você fica aqui e faz o que for preciso.
Tomem cuidado, pensou Vic assim que eles deram as costas.
– 0 –
Estavam no porão da residência, o lugar mais provável em que deveria estar escondido as evidências que procuravam do envolvimento de Bill com o cavaleiro.
Depois que Dean e Sam saíram, Vic indagou à Lorna onde ficava o quarto de Bil. A mulher, muito confusa, contou que ficava no terceiro andar de cima. Ficou mais confusa quando a caçadora subiu sem cerimônias para o aposento.
Lorna se indignou com aquela invasão, pediu à Tessa uma explicação e ameaçou chamar a polícia. As três mulheres não tiveram remédio senão revelar toda a verdade.
A princípio, Lorna não quis acreditar em história tão absurda, entretanto, várias coisas que observou e estranhou no comportamento de seu filho nos últimos tempos se encaixavam. Por fim, ela mesma concordou em ajudar nas buscas rezando para que fosse um engano, para que seu filho não tivesse nada a ver com algo tão maligno.
Buscaram no quarto do moço, mas nada. Interrogada por Collins sobre algum outro local em que poderiam estar os diários, Lorna se lembrou do porão, lugar que ninguém da casa entrava, nem mesmo os empregados, pois se dizia que bem debaixo de suas estruturas havia uma antiga masmorra subterrânea que serviu para prender soldados britânicos na época da Guerra entre Estados Unidos e Inglaterra. Porém, teve a impressão de ver Bill indo naquela direção por duas vezes.
Vic desceu até o local acompanhada pelas três senhoras. O lugar era imenso e muito escuro. Acenderam um interruptor antigo que iluminava parcialmente o lugar.
Chegaram até o meio do porão, onde havia vários pedaços de pedra, como se houvessem sido quebradas. Escondido sob aquele pedregulho, havia uma espécie de alçapão de madeira. Era bem pesado, mas Vic conseguiu abrir a portinhola.
– É melhor que eu desça sozinha – sugeriu – Não quero colocá-las em uma situação de risco.
As mulheres concordaram. Victoria desceu um grande lance de escada. A lanterna era tudo o que iluminava seu caminho. Havia um cheiro estranho e fétido por lá também. Collins reconheceu o estranho cheiro. E ficava cada vez mais forte. Por fim, ela avistou o que, de fato, era uma masmorra subterrânea. O lugar estava cheio de ratos e teias de aranha. Dava arrepios somente de olhar.
Vic prosseguiu em direção ao cheiro e deparou-se com uma grande rocha. Era algum tipo de grande porta e lacrava uma entrada. Tentou abrir, mas nada. A rocha tinha uma marca no meio: duas serpentes enroscadas, uma mordendo a cauda da outra. Onde ela tinha visto tal símbolo? Veio um estalo. Subiu rapidamente a escadaria:
– Senhora Thompson! Senhora Thompson!
– Sim? – a mulher respondeu. Ficou surpresa com a volta repentina da moça.
– A senhora tem um medalhão, não é? Com um símbolo de duas serpentes. Pode me emprestar?
Marta estranhou o pedido, porém, nada respondeu e cedeu-lhe o objeto.
Vic desceu novamente até a grande rocha e colocou o emblema no buraco. Encaixou. Na mesma hora, a porta deu um estalo e abriu-se. Era acionada por um tipo de manivela rudimentar que se abria apenas com aquele emblema, uma espécie de chave.
O cheiro se acentuou. Dentro da gruta, havia vários crânios e o local dava passagem a um largo túnel. Vic notou um rastro de sangue que se dirigia mais a fundo e que começava num canto daquele local. Ela tinha certeza de que lá esteve o saco com as quinze cabeças encontradas pelos federais. E em outro canto, vários cadernos grossos e uma caixa. Uma caixa de madeira com capacidade para conter uma cabeça.
– 0 –
– Alô! – Sam atendeu – Vic? Encontrou os diários de Alan? Sei.
Dean olhou intrigado para o irmão.
– OK. A gente está quase chegando lá - desligou
– E então? – perguntou o loiro ansioso – A cabeça e os diários do Alan estavam mesmo na mansão com o Wiliam?
– Os diários sim, mas a cabeça... não.
– Mas que merda! – esbravejou - E onde está?
– Deve estar com o Bill.
Autor(a): jord73
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