Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)
A noite estava escura e não havia quase nenhuma nuvem no céu. Bill e Kath caminhavam em silêncio. Ela não se sentia totalmente à vontade para desabafar suas angústias para seu ex-noivo. Encostaram-se numa das paredes de madeira que circundavam o estábulo.
– Desde que papai morreu nunca mais vim aqui – confidenciou Kath
– E como você se sente... agora?
– Acho que... estou começando a superar.
– Está, Kath. Assim como vai superar essa história do Brian.
O rosto da moça se crispou de dor.
– Kath, me desculpa, eu não devia...
– Por que ele fez isso, Bill? – externou toda sua angústia sem se importar de se expor para Bill – Por que ele tinha que ser o assassino de todos esses crimes? Por que ele matou o meu pai... o meu irmão?
– Sei lá – deu de ombros cínico – Talvez... vingança. Pelo seu pai ter interferido no namoro de vocês e do seu irmão ter humilhado ele várias vezes.
– Mas isso não justifica... Ele deveria saber que isso ia me machucar, ia me ferir. Se ele me amasse de verdade, ele... – fez uma pausa. Engoliu em seco. – A verdade é que ele nunca me amou, é isso. Ele deve ter fingido me amar esse tempo todo.
– Pode ser até que ele estivesse querendo se casar com você só pelo seu dinheiro. Não se esqueça de que ele e a família são todos uns arruinados que só vivem da renda daquele hotel. Mas acho que não é suficiente pra as ambições dele.
– É. Acho que sim.
– Vem cá, Kath.
Bill se aproveitou da fragilidade da moça e abraçou-a. Aspirou o perfume delicado de sua pele e o dos cabelos. Kath sentiu o abraço apertado de Bill comprimi-la contra o peito, mas não se importou. Estava muito confusa e carente. Tanto que não percebeu a manobra do rapaz quando este abaixou o rosto pra beijá-la. Era o primeiro beijo que trocavam. No começo, ela até correspondeu, contudo, lembrou-se de que não era Brian que estava beijando.
– Não posso , Bill. – ela se afastou dele – Me desculpe
– Tudo bem, Kath. Não se preocupe – ele tentou tocá-la, mas ela o repeliu.
– É melhor você ir embora. Eu quero entrar, preciso dormir.
– Kath, olha...
– Ei, cara! Fique longe dela! – o grito de advertência de Dean se fez ouvir pelos jovens
– Vocês! – Bill fez uma expressão de indignação ao ver os Winchesters se aproximando – O que vocês fazem aqui a essa hora?
– Bill, que modos são esses? – censurou Kath – Eles são os produtores do filme. São boa gente – virou-se com simpatia para eles - Me desculpem, posso ajudá-los em alguma coisa?
– Pode. É melhor você ficar longe desse sujeito e entrar! – tornou Dean
– O quê?
– Er... desculpe, senhorita – interveio Sam - É que precisamos falar com o William. É um assunto de máxima urgência. E não seria bom que a senhorita estivesse presente.
– Que assunto vocês teriam comigo? – indagou o moço indignado. Estava com um mau pressentimento – Seja o que for, podem falar na frente da Kath.
Os caçadores se entreolharam.
– OK, chapa. Não diga que a gente não avisou – falou Dean com ar de superioridade – Onde está a cabeça?
– O quê?
– É isso mesmo. Onde está a cabeça?
– Do que... eles estão falando? – perguntou Kath confusa.
– Eu... não faço a menor ideia – Bill ficou nervoso
– Ah, faz sim, cara. E muito. Sabemos de tudo: dos diários do Alan, da cabeça dele, do feitiço, de tudo.
– Alan? Estão falando... de Alan Schmidt?
– Não dê ideia a eles, Kath. Esses sujeitos estão pirados. Saiam dessa casa agora ou vou chamar a polícia.
– Opa, opa! Que eu saiba essa casa não é sua, é da mocinha aí. E a mãe dela falou no celular com o segurança pra nos deixar passar e vir aqui até falar com você.
– Eu não sei do que vocês estão falando e não tenho nada a lhes dizer.
– Olha aqui, seu idiota... – Dean bufou e começou a perder a paciência
– Bill, você tem que nos entregar a cabeça. – interveio Sam – Temos que destruí-la... caso contrário, você será a próxima vítima do cavaleiro. Você... o invocou hoje ou não?
Sam teve sua resposta ao ver a expressão de pavor no rosto do moço.
– O cavaleiro... Mas... como assim? – Kath estava cada vez mais confusa – O Brian... ele estava se passando pelo cavaleiro... pra matar meus parentes. Ele...
– Foi armação do seu... pretendente – Dean apontou Bill - O cavaleiro existe sim e é ninguém menos do que o fantasma do Alan Schmidt. Só que estava sendo controlado por um feitiço... um feitiço realizado por ele.
Kath estava boquiaberta. Nada daquilo fazia sentido. É verdade que começou a acreditar na lenda após aqueles assassinatos, porém, com a prisão de seu namorado, ela já havia se convencido que tudo não passava de um embuste. E agora aqueles homens iam até ali dizer que tudo era verdade... e que Brian era inocente?
– Kath, não escute esses sujeitos - Bill recobrou sua calma - Eles são loucos, estão atrás de alguma sensação pro filme deles e devem ter inventado isso pra nos usar de cobaias.
– OK, Sam. A gente tentou. Deixe esse imbecil ser morto pelo cavaleiro – praguejou Dean
Sam suspirou e ia repreender o irmão:
– Dean... – um denso nevoeiro o interrompeu
– Ah, não me diga que é o que estou pensando que é!
– Não – Bill estremeceu ao olhar ao redor – Ele não pode... ele é controlado por mim.
Um relincho os assustou. Depois de alguns segundos, vislumbraram naquela neblina a figura do cavaleiro sem cabeça.
– Deus do céu! Ele existe mesmo! – Kath colocou a mão na boca.
Súbito, Bill disparou a correr.
– Não! Ele não vai me pegar!
– Espere, William! – Sam correu atrás do rapaz tentando distinguir alguma coisa naquele nevoeiro.
O cavaleiro disparou a montaria passando perto de Dean e de Kath. O caçador se postou na frente da jovem como que para protegê-la. O fantasma nem se importou com eles indo na mesma direção que Bill.
– Merda! – praguejou Dean. Voltou-se para Kath – Escute, volte para a mansão e fique lá. Não se preocupe que o cavaleiro não irá atrás de você.
Como a moça permanecesse parada, ele teve que gritar.
– Vai!
Ela correu como nunca fez na vida.
Bill estava desesperado. Não era possível que depois de todo o seu plano bem arquitetado, bem planejado, ele fosse acabar daquele jeito. De repente, o cavaleiro apareceu em sua frente pronto a desferir o golpe, mas foi detido por um disparo de sal do revólver de Sam e desapareceu.
Bill ficou parado, mal acreditando que estava a salvo. Sam chegou perto dele.
– Você está bem? – perguntou
O jovem assentiu ainda abalado. Dean conseguiu localizá-los usando uma lanterna que havia amarrado num barbante no cinto da calça.
– Ele... ele se foi? – indagou o moço
– Por enquanto – respondeu Sam – Vamos, nos dê a cabeça dele.
– Eu... eu não posso.
– Cara, você é retardado ou o quê? – Dean impaciente pegou o rapaz pela gola e o sacudiu – Como assim não pode?
– Não está comigo... não está comigo!
– Espera aí, Dean! – Sam se meteu no meio deles e fez com que o irmão soltasse Bill – Não está com você... Então onde está?
– Eu... joguei no rio.
– Queeê?! – berrou Dean – Mas que otário! Por que fez isso, cara?
Bill ia abrir a boca para se explicar, contudo, o cavaleiro tornou a aparecer e quase desfere um golpe no rapaz. Por sorte, os Winchesters sentiram sua presença e caíram no chão derrubando o rapaz.
– Rápido, Sam! Leve ele pro carro! – gritou Dean enquanto pegava o revólver e atirava no fantasma. O espírito desapareceu mais uma vez.
Dean aproveitou e entrou correndo no Impala no banco do volante. Sam já estava no banco de passageiro e Bill atrás. O Winchester deu partida no carro e acelerou direto pra saída.
– Tome – pegou uma espingarda de cano duplo perto do chão do pedal e entregou-a para o irmão – A espingarda tem um alcance maior. Eu dirijo e você atira.
– Pra onde estamos indo? – perguntou Bill com uma nota aguda de pânico na voz.
– Pro rio. Temos que pegar a cabeça do fantasma e queimar. É o único jeito de mandá-lo embora de uma vez por todas.
– Você sabe mais ou menos onde atirou a cabeça? – indagou Sam
– Sei, foi... – o barulho do machado na traseira do carro fez Bill se calar. Era o cavaleiro outra vez.
– Filho da mãe! – gritou Dean – Na minha querida não! Manda chumbo, Sam!
Foi o que o Winchester fez. Pôs metade do corpo para fora da janela do veículo e atirou. Por mais um tempo ficaram livres do cavaleiro.
– Vamos, cara! Onde foi que você jogou a cabeça? – tornou Dean com impaciência.
– Foi mais ou menos perto da ponte.
– Reze pra que a correnteza não a tenha levado embora ou você tá ferrado! – tornou Dean sem a menor cerimônia, o que fez o moço tremer – Aliás, pra quê você foi jogar a cabeça fora?
– Porque eu não ia mais precisar dela... já que o Brian está preso – falou num tom frio e sem um pingo de remorso.
Dean ficou calado assim como Sam, porém, se não estivesse dirigindo era bem capaz de meter o soco no rosto do Schmidt tamanha a frieza dele.
O caminho até o Rio Pocantico era consideravelmente longo e, por diversas vezes, o fantasma apareceu dando golpes no carro e ameaçando rompê-lo para tentar atingir William. Felizmente, Sam dominava a situação com os disparos de sal grosso.
Em dado momento, o celular de Dean tocou. Era Victoria querendo saber onde estavam para se juntar a eles.
– Estamos indo ao Rio Pocantico. Bill jogou a cabeça do Alan lá perto da ponte e vamos tentar... – outro golpe do cavaleiro no teto interrompeu a conversa. O loiro se abaixou – Droga! Nada... nada, é só o cavaleiro atrás da gente, doido pra matar o Bill. Não se preocupe, Sam o está parando de vez em quando com sal grosso. A gente se encontra lá.
Desligou. Avistou a ponte e estacionou. Os Winchesters saíram do carro, mas Bill se recusava a colocar o pé para fora.
– Vamos! Nós temos que ir – insistia Sam – Você tem que nos ajudar a procurar a cabeça.
– Não! Ele pode parecer... e me matar! – dizia trêmulo
– Pensasse nisso antes de mexer com coisas que não eram da sua conta, otário! – vociferou Dean – Anda logo! Você não pode ficar aí pra sempre.
– Mas...
– Saia daí! – Dean perdeu a paciência e puxou o rapaz com brusquidão quase o derrubando no chão. Segurou-o pela gola e apontou o dedo no rosto dele – Antes você do que meu carro!
O nevoeiro apareceu e começou a circundá-los.
– Vamos nessa! – gritou Sam e acendeu outra lanterna para se guiarem pelo caminho.
O barulho dos cascos do cavalo indicavam a aproximação da entidade. Sam tentou atirar nele, contudo, o fantasma acertou a espingarda com um golpe do machado e partiu-a ao meio. Ele ia para o lado de Dean que estava com Bill e ergueu o machado disposto a rachar o Winchester no meio se preciso fosse só para acertar Bill. Felizmente, o caçador pegou seu revólver com sal a tempo e atirou.
– Estão bem? – indagou Sam ao se aproximar deles. Dean assentiu. – Vamos, Bill, nos mostre o local.
O nevoeiro se dissipou e eles aproveitaram para descer um morro que os levava até a ponte guiados por Bill.
– Cadê ela? – indagou Dean – Onde você jogou mais ou menos?
– Foi... por ali – indicou um ponto próximo das vigas de sustentação da ponte.
Correram para lá e mais uma vez foram interceptados por Alan. Dispararam os revólveres e ele sumiu.
– Rápido! Temos que chegar logo lá! – gritou Sam – A minha munição acabou com esse último ataque.
– Porcaria! A minha também! – esbravejou Dean
– Mas o quê...? – Bill entrou em pânico
– Anda logo, moleza!
Conseguiram chegar debaixo da ponte. Bill tentou localizar onde estava o crânio enquanto Sam iluminava o caminho.
– Essa não... – Dean os alertou – É melhor se apressarem.
Os dois pararam e olharam na mesma direção que o Winchester. O espírito estava parado a uns cem metros deles. Bill quis correr, mas Sam o segurou.
– Espere... Não saia de perto da ponte.
– Co... como? – perguntou o rapaz tremendo
– Por quê, Sam? – Dean também estranhou.
– Vejam.
– O quê?
– Ele não consegue se aproximar.
De fato, o cavaleiro os olhava a distância impedido por algum tipo de força, como se houvesse uma barreira que não o deixava transpor a distância entre eles.
– E por que ele não pode chegar até aqui? – inquiriu Dean
– Pelo que eu li nas pesquisas sobre a lenda... logo ali depois da ponte, fica a Igreja da Vila, o que o impede de chegar mais adiante. Essa ponte foi construída na mesma época que a Igreja e benzida pelos padres – voltou-se pra Bill – Fique aqui que ele não poderá chegar até você. Só me diga exatamente onde você jogou o crânio.
– Perto daquelas pedras. – apontou um entulho do outro lado da ponte, na direção contrária em que estava o cavaleiro, a uns duzentos metros.
– Eu vou até lá.
– Sam... – advertiu Dean
– Não se preocupe, não é a mim que ele quer. Não vai... me ferir.
– Espero que tenha razão.
Entretanto, por precaução, Sam arrancou uma pequena viga de ferro da ponte que estava frouxa, caso o cavaleiro resolvesse ir até ele e o pegasse no lugar do Schmidt.
Foi até as pedras e usou a luz da lanterna para tentar achar o crânio, mas havia muitas pedras brancas que o confundiam, pois lembravam vagamente uma caveira.
– Conseguiu achar? – gritou Dean depois de algum tempo de busca
– Ainda não – gritou Sam em resposta
– Ele sumiu – Bill chamou a atenção dos Winchesters.
De fato, o cavaleiro não estava mais no último ponto em que o avistaram.
– Droga? Pra onde o filho da mãe foi? – esbravejou Dean – Sam, saia logo daí!
– Só um momentinho! Acho que... acho que encontrei – andou com cuidado entre umas pedras. Viu a caveira de Alan incrustada prestes a ser arrastada pela correnteza. – Achei! Eu vou pegar!
Súbito, o fantasma apareceu com o machado erguido para degolar o Winchester. Ia levá-lo no lugar de Bill.
– Sam! – Dean gritou desesperado
Bem na hora, Vic apareceu do alto do morro e atirou sal grosso com sua espingarda. O espírito desapareceu. Com o susto, Sam quase caiu no rio, porém, equilibrou-se a tempo. O pedaço de ferro que levara não teve a mesma sorte.
– Sam! Sam! – gritou Vic preocupada – Você está bem?
O Winchester fez sinal com o braço. Dean respirou aliviado. Teve vontade de correr até a caçadora e agarrá-la de beijos. Bom, na verdade tinha essa vontade a toda hora.
– Cuidado, Victória! – gritou ele - Vá para perto da ponte antes que ele apareça.
Assim a caçadora o fez.
Quanto a Sam, por fim, conseguiu pegar o crânio e correu até debaixo da ponte.
– Rápido, o isqueiro, a gasolina e o sal – disse
– OK! – Dean tateou os bolsos, encontrou apenas um vidro pequeno contendo gasolina – Mas que porra! Devo ter deixado o isqueiro no porta-luvas do carro. O seu não está aí não?
– Está, mas... não tenho sal.
– Nem eu. Temos que ir até o carro.
– Tudo bem aí? – Vic gritou de cima da ponte
– Tudo. Só um momento. – respondeu Sam – Eu vou, mas você fica aí tomando conta dele... pra que não fuja – avisou.
Bill não gostou nem um pouco daquela recomendação, mas nada disse.
–OK. Só se ele for louco de querer sair daqui. Victoria, pode dar cobertura ao Sam? – gritou
– Por quê? Vocês não queimaram o crânio ainda?
– Não... não temos o que é preciso aqui – detestava admitir sua falha, ainda mas conhecendo o gênio da Indomável - Pode ou não dar cobertura a ele até o carro?
– Esperem aí! Eu já vou descer.
Ficaram aguardando temerosos. E nada do fantasma aparecer. Com certeza, estava tramando algo para pegá-los de tocaia. Depois de um bom tempo, Vic apareceu no campo de visão deles empunhando uma espingarda. Aproximava-se destemida quando o espírito de Alan se postou em seu caminho a fazendo cair e largar a arma.
– Victoria! – os dois gritaram desesperados saindo da ponte e correndo até ela.
O fantasma acertou o machado na altura da cabeça de Vic, entretanto, ela se desviou e rolou de lado, e o golpe pegou no chão. Rapidamente, pegou o fuzil e disparou sal no fantasma que sumiu. Ficou um pouco atordoada e ralou um pouco os joelhos, mas estava bem.
– Victoria! – Sam foi o primeiro a se aproximar e ajudou-a a se levantar com uma das mãos – Você está bem?
– Estou.
Dean se aproximou também bastante preocupado.
– Você não se machucou? – quis se aproximar
– Não. Estou bem, obrigada – disse com rispidez e fez um gesto para que o Winchester se mantivesse à distância - Me deixem adivinhar: vocês se esqueceram de trazer sal e isqueiro para queimar o crânio. Estou certa?
– Er...não é bem assim... – começou Dean coçando a cabeça
– Eu trouxe o isqueiro, mas sal, a gente... – Sam também tentou se explicar
– OK, já entendi. Vamos! Rápido, o crânio!
Sam o colocou no chão. Victoria jogou gasolina e sal e acendeu seu isqueiro. Em pouco tempo, a última parte dos restos mortais de Alan era consumida pelas chamas.
– Eu nunca saio de casa ou do meu carro sem sal, gasolina e isqueiro – disse pra eles – Achei que fossem mais prevenidos.
Os dois nada disseram envergonhados. Sentiram como se fossem dois aprendizes e não caçadores experientes, diante do tom repressivo de Collins.
– É, acho que... com isso é o fim – comentou Dean depois que as chamas se apagaram.
O fantasma não retornou após uma espera de dez minutos.
– Pode sair, Bill! – gritou Sam – Acabou!
– O fantasma... se foi? – gritou em resposta.
– Eles sempre se vão depois que queimamos os ossos – avisou Dean - E faz um bom tempo que ele não reapareceu.
Ao invés do moço se aproximar dos caçadores, correu na direção contrária subindo o morro.
– Ele está fugindo – Vic correu atrás dele
– Ei! Volte aqui! – chamou Dean.
Contudo, o moço não obedeceu. Subiu correndo o morro. Fugiria. Apesar de duvidar que o FBI fosse dar crédito àquela história do fantasma, não ficaria ali e pagar para ver. Avistou o carro dos Winchesters. Era provável que a chave não estivesse no veículo, mas sabia juntar os fios e dar a partida. Fazia isso quando pequeno e não tinha carteira de habilitação. Dirigia escondido dos pais.
Antes que desse mais um passo até o veículo, Tessa surgiu na sua frente com uma arma apontada para ele.
O moço parou surpreso.
– Senhora... Tassel.
– Fique parado aí mesmo, seu desgraçado!
– Senhora Tassel, eu não sei o que andaram dizendo pra senhora, mas...
– Cale a boca, seu cretino! – a mulher deu um disparo no chão como sinal de advertência. O rapaz se assustou e levantou os braços – Seu assassino! Monstro! Você... você matou meu filho, o Jim! Ele era seu amigo. Como pôde?
Nesse momento, os três caçadores chegaram próximos à cena que se desenrolava.
– Senhora Tassel? O que faz aqui? – estranhou Vic, afinal, tinha deixado Tessa na casa dos Schmidt.
– Eu pedi pro meu motorista me buscar e me trazer até aqui. – respondeu sem tirar os olhos de Bill e nem abaixar a arma – Vim aqui pra acabar com esse maldito assassino!
– Senhora Tassel, por favor. Abaixe essa arma – disse Sam com cautela – Nós já demos um jeito no cavaleiro. Ninguém mais vai morrer.
– Ninguém se aproxime! – gritou a mulher – Eu quero que esse maldito conte exatamente como fez tudo isso. E como conjurou a alma de Alan Schmidt.
– Senhora Tessa... – Bill tentou argumentar
– Anda, maldito, fale!
– Tá, tá... – disse apavorado – Está bem. Eu confesso tudo. Vou contar como aconteceu.
– 0 –
Bill estava na casa dos Tassel como de costume para visitar sua prometida. Passeava na propriedade da família ao lado de Kath e insistiu para que fossem ao cinema naquele dia. Eram quase seis horas da tarde. A moça aceitou, mas pediu que ele o aguardasse porque pretendia se arrumar.
Como Kath demorasse, resolveu subir até o quarto dela... e espiá-la. Subiu sem que ninguém o notasse e estava para se aproximar do aposento da moça quando escutou a porta do quarto da senhora Tassel se destrancar.
Rapidamente, escondeu-se na biblioteca da casa. Por sorte, a porta estava destrancada. Ouviu atrás desta os passos da mulher passando pelo corredor. Aguardou mais alguns instantes antes de sair. Abriu a porta e estava a ponto de se esgueirar dali quando ouviu a campainha tocar. Esperou. Percebeu que Tessa regressava e voltou a se esconder na biblioteca.
Ouviu os passos dela se deterem em frente à porta do local. Bill entrou em pânico e ocultou-se na lateral de uma das estantes, mas não escondia seu corpo por inteiro. A porta se abriu e Tessa entrou. Já imaginava a vergonha que passaria por aquela invasão, entretanto, a senhora nem percebeu sua presença tal o estado de inquietação em que ela se encontrava.
Tessa fechou a porta e seus passos se afastaram. Bill saiu do esconderijo, aproximou-se da mesa e viu que eram cadernos bem antigos com uma capa dura, onze volumes grossos.
Abriu um e descobriu que eram os diários de Alan Schmidt. Ficou eufórico! Ele sempre quis ter acesso aos cadernos no Arquivo Público, só que eram restritos. Saiu do escritório, mas não pelo mesmo caminho, pois temia topar com Tessa ou mesmo Kath, se ela houvesse terminado de se arrumar.
Aproximou-se da janela da biblioteca que não era muito alta para alguém atlético como ele e pulou, após jogar os diários no chão que dava para os fundos da casa. Logo recolheu os exemplares caídos; algumas folhas haviam se soltado, mas apanhou todas.
Correu até seu carro, destrancou o porta-malas e colocou os diários dentro. Poucos instantes depois, Katharina vinha ao seu encontro e foram juntos ao cinema.
Em casa, trancou-se em seu quarto com os diários cuidadosamente guardados em uma mochila que estava no banco traseiro do carro. Leu tudo durante três dias, quase sem sair do aposento. Lá estava muitas oportunidades que tinha para destruir aquele que considerava seu maior inimigo: Brian Thompson. Mesmo que Katharina fosse sua prometida, sabia que ela amava o maldito gerente.
Podia usar um dos feitiços contidos nos diários para matá-lo e ninguém suspeitaria dele. Mas não bastava acabar com a vida do gerente; deveria destruir sua imagem para Katharina nem sequer amá-lo depois de morto. Decidiu repetir a mesma história de duzentos anos atrás: fazer com que Brian se transformasse em assassino aos olhos de todos, inclusive o de Kath.
Além do mais, estaria se livrando de alguns obstáculos para sua ambição de poder e dinheiro: Richard Van Tassel, o que detinha o controle do poder e do dinheiro em North Tarrytown até mais do que Rudolf Schmidt; e seu herdeiro, James. Assim, ele poderia reconquistar a posição que antes pertencia aos Schmidt naquela Vila até umas décadas atrás. E também eliminaria alguns parentes que desgostava, primos e tios que feriram seu orgulho de alguma forma.
Decidiu ressuscitar o fantasma de Alan Schmidt, o cavaleiro sem cabeça. Entretanto, para invocá-lo, precisava de sua cabeça. Sabia que no túmulo do cemitério da cidade não estava.
Encontrou a solução em um feitiço de invocação. À noite, ao pronunciar algumas das palavras, seu quarto tremeu, as luzes começaram a piscar e logo apareceu uma alma do outro mundo, um espírito errante da Vila, que lhe deu todas as indicações.
A cabeça de Alan estava encerrada numa masmorra subterrânea do porão, lugar considerado amaldiçoado e proibido de entrar desde a época da morte de seu tataravô Charlie. Bill tinha que usar um medalhão com o símbolo de duas cobras – uma mordendo o rabo da outra – para abrir uma grande rocha que fechava o local que guardava a cabeça. O medalhão estava no pescoço de um irmão de Charlie e Alan: George Schmidt.
Após essas informações, o espírito se foi. Bill agiu conforme as instruções no dia seguinte. Não teve dificuldade em ter acesso à tumba desse ancestral indireto. Com posse do amuleto, foi até o porão, encontrou uma pedra enorme que cobria um buraco que levava até as masmorras. Quebrou-a com uma picareta e depois de um bom tempo, viu o alçapão de madeira, desceu as masmorras, encontrou a rocha que fechava a entrada, usou o medalhão no encaixe e abriu-a.
Havia um túnel largo e vários crânios espalhados. Provavelmente as antigas vítimas do cavaleiro. Bill entrou e não demorou em encontrar num canto uma caixa de madeira – dentro dela estava o crânio de Alan. Satisfeito com seu achado, William podia realizar o seu plano, entretanto, tinha que pensar numa forma de incriminar Bill pelos crimes que pretendia realizar.
Lembrou-se de que uma vez na discoteca da Vila viu o irmão do gerente, Mark Thompson. Pensou em se aproximar e provocá-lo, mas escutou uma conversa do rapaz com um amigo em que desabafava que odiava o próprio irmão e faria qualquer coisa para destruí-lo; até matar se fosse preciso. Bill achou aquilo estranho e desistiu de provocar o rapaz, porém, aquela informação poderia lhe ser útil algum dia.
E agora sabia o que fazer. Na primeira oportunidade que teve, foi falar com o rapaz quando este foi a um supermercado e convidou-o para um café. Confessou o que escutou na discoteca e disse que tinham uma coisa em comum: odiavam Brian. Propôs que se juntassem para acabar com a reputação do moço e contou-lhe seu plano. Mark não hesitou nem por um instante. E lhe contou a rotina do irmão, que este costumava dormir lá pelas dez horas da noite. Também lhe revelou sobre a passagem secreta que havia no hotel e até se dispôs a mostrá-la.
Após esses pormenores, Bill iniciou o feitiço de invocação ao cavaleiro. Claro que não o fez em seu quarto. Decidiu que a masmorra seria o lugar perfeito para concretizar seu intento; e também esconderia os diários lá; não seria conveniente que a empregada encontrasse aqueles cadernos em seu quarto, por mais que ele tivesse o cuidado de escondê-los.
Para o ritual, tinha que derramar gotas de seu sangue sobre o crânio de Alan, erguê-lo e dizer algumas palavras de invocação três vezes.
O feitiço foi realizado, entretanto, não viu sinal do cavaleiro. A princípio, achou que não tinha dado certo, mas quando deu meia-volta, tomou um susto ao ver um cavalo negro a apenas um metro dele e montado no animal, um corpo vestido com um sobretudo da época do século XIX. Sem a cabeça.
Ficou amedrontado e, ao mesmo tempo, eufórico. O cavaleiro estava com seu machado de aço como se aguardasse alguma ordem. Bill leu as instruções e viu que só precisava erguer o crânio e proferir o nome da pessoa que queria morta. Eram mais ou menos onze horas da noite. Naquele horário, deveria invocar o cavaleiro para que continuasse sua matança.
Bill proferiu o nome de sua primeira vítima: Erik Schmidt, um tio, irmão de seu pai. Bill o detestava, pois era um falso que adulava seu pai somente para ter uma parte da herança quando este morresse.
A partir dali, começou a série de assassinatos. O cavaleiro só atacava a noite – hora preferida dos entes malignos e sobrenaturais - num horário definido pelo moço em sua invocação. Este já aparecia no local que mataria a pessoa indicada por Bill e, após sua ação, logo estava ali no túnel com a cabeça da vítima. Em seguida, sumia e reaparecia ao ser invocado para novo ataque. Desse modo, não havia o risco de o fantasma ser visto na propriedade dos Schmidt. Mesmo assim, Bill tinha que invocá-lo sempre à noite, não precisava ser exatamente às onze, mas não podia passar da meia-noite. Contudo, podia fazê-lo de qualquer lugar; bastava levar a caveira, tocá-la e pronunciar o nome da vítima e a hora de seu ataque.
O sangue do corpo das vítimas era drenado pelo fantasma, como se fosse uma espécie de alimento, algo que o ligava ao mundo dos vivos. O único sangue que restava era o das cabeças as quais levava para o túnel da masmorra.
Após o assassinato de Mark, Bill achou que já era o suficiente para incriminar Brian. Por isso, lá pelas dez horas da manhã – horas depois da morte do ruivo – desceu às masmorras e localizou a cabeça do Thompson deixada pelo fantasma no túnel. O Schmidt a pegou, colocou-a num saco com as outras quatorze cabeças que juntou e caminhou até o final daquele túnel. Dava numa das bifurcações do esgoto da Vila, que ficava abaixo do cemitério, a poucos metros de distância onde ficava a entrada do labirinto escondido na casa dos Thompson.
Bill saiu pela tampa do esgoto com o saco. Era bem pesado, mas graças ao seu físico conseguiu tirá-lo de lá. Ao sair pelo cemitério, avistou se havia alguém a vista, talvez um dos coveiros, mas não tinha ninguém. Carregou o saco até a grade que ficava perto do túmulo do ancestral Thompson e por ela desceu até o labirinto. Após um tempo de caminhada, não teve dificuldade em achar a saída localizada perto da porta lacrada do quarto de Brian – lá já estavam os galões de gasolina deixados anteriormente pelo próprio Mark, pouco antes de ser morto. E foi lá que também deixou o saco.
Saiu do lugar e apenas teve que dar a falsa chamada na delegacia para incriminar Brian.
Após a prisão do Thompson, decidiu jogar o crânio nas águas do Rio Pocantico. Levava aquela cabeça com ele a todo lugar dentro de sua mochila. Mas sempre sentia uma vibração ruim, uma sensação de morte e de dor com aquela coisa. Por isso, resolveu se livrar logo daquilo assim que passou perto da ponte, pois achava que não mais precisaria da caveira. Quanto aos diários, deixá-los-ia lá mesmo no túnel das masmorras. Não pretendia mais retornar aquele lugar.
– 0 –
Bill contou cada passo de seu plano. Ele falava como se fosse uma grande proeza; os olhos até brilhavam ao se lembrar de cada detalhe de sua trama. Tanto os caçadores quanto Tessa estavam abismados com tamanha frieza e maldade do rapaz que não mediu esforços em tirar vidas apenas para a satisfação de seu orgulho e ambição.
– Maldito! Como... como pôde ter coragem? – esbravejou Tessa sem conter as lágrimas. De dor. E de ódio.
– Então aquela vez em que o cavaleiro apareceu para você e para o seu primo na discoteca, sempre foi o Harry a vítima? – indagou Collins
– É claro... eu já tinha notado que a senhora Tassel estava meio desconfiada de mim porque me olhava de uma forma estranha, se bem que... ela nunca tinha gostado mesmo de mim – estreitou os olhos - Eu precisava desviar as suspeitas dela de alguma forma. E depois, foi a oportunidade que eu vi de começar a jogar as suspeitas em cima do Brian. Imagina! Ele tinha discutido comigo naquele dia e até desejado que o cavaleiro me pegasse.
– E foi capaz de usar seu primo pra isso?
– Ele era um chato e puxa-saco mesmo. Não me fez a menor falta.
Os três permaneceram calados. Estavam enojados com aquele rapaz.
– E o Mark? Seu cúmplice? – indagou Sam – Por que o matou?
– Outro imbecil que não servia pra mais nada. Só sabia falar o quanto se sentia deixado pra trás por causa do irmão, o quanto a mãe só sabia elogiar Brian, o quanto Brian sempre foi considerado o melhor pelos colegas da escola e pelas garotas e blá-blá-blá. Era outro chato... e cabeça oca também – fez uma pausa – E depois era um Thompson, tinha que morrer. Ele tinha discutido com o irmão e me telefonou no dia várias vezes querendo conversar. O idiota queria me pressionar pra já incriminar Brian. Não sabe como fiquei contente em saber da discussão que teve na frente de várias pessoas, inclusive vocês – apontou pra os caçadores – Eu só tive que marcar um encontro urgente com ele ontem num lugar deserto e o idiota foi todo confiante. Ah, sim, e só pra constar foi ele que incendiou o estábulo na casa dos Tassel. Ele se fez passar por um dos garçons contratados na festa do noivado com a minha ajuda. Era tão insignificante que ninguém notou a presença dele lá. Não foi difícil pra ele ter acesso à estrebaria e aproveitar um momento de distração dos empregados pra incendiar o local e atrair a atenção do senhor Tassel. Eu não queria que o cavaleiro invadisse a festa e, por algum descuido, machucasse a Kath ou meus pais – alegou como que para atenuar seu ato.
– Já chega, miserável! Já chega de ouvir tanta perversidade! Você vai confessar tudo isso que fez para o xerife e para o FBI!
– Nunca! - desafiou à Tessa – A senhora pode atirar se quiser, mas não vou falar nada. Prefiro morrer a ir preso e deixar o Brian livre pra ficar com a Kath. Se a Kath não pode ser minha, não será de mais ninguém. E depois, na maioria dessas mortes, eu tinha um álibi perfeito. Não tem como me incriminarem com provas tão frágeis. E quem vai acreditar numa história louca dessa de cavaleiro sem cabeça?
– Eu vou. Depois de tudo o que vi e ouvi aqui, eu vou acreditar – pronunciou uma voz alta no meio da escuridão.
Era o agente Davis. Estava escondido entre uns arbustos e ouviu toda a história.
– Agente Davis! – exclamou Collins – O que faz aqui?
– Eu o chamei logo depois que você me deixou na casa de Lorna. Disse que vocês estavam com o verdadeiro assassino das mortes – respondeu Tessa – Eu imaginei que talvez precisassem de toda ajuda possível.
– Vi o cavaleiro perseguindo vocês em seu carro numa estrada que cortava o caminho que dava para o rio - falou com os Winchesters - Infelizmente, meu carro falhou na hora e não pude segui-los. Tive que pedir carona. Eu só cheguei a tempo de ver o cavaleiro quase matar a senhorita Ryan, mas felizmente ela soube se salvar – sorriu para Collins – E vi quando ele desapareceu quando a senhorita atirou nele. Não acreditei no que meus olhos viam. A senhora Tessa chegou e me encontrou aqui e me explicou mais ou menos o que aconteceu. E depois vi vocês queimarem algo e o senhor Bill aqui escapulir de suas vistas. A senhora Tassel me pediu uma arma e falou pra que eu me escondesse, pois pretendia arrancar uma confissão do senhor Schmidt.
– E você teve coragem de entregar a arma para ela? – Vic ficou chocada
– Ela sabe ser convincente – justificou-se com um sorriso nervoso – E depois queria tirar a história a limpo – virou-se para o moço com desprezo – É, meu rapaz, você está encrencado.
– Nunca! – Bill avançou e tomou o revólver de Tessa aproveitando um momento de distração da mulher. Empurrou-a para o lado. Todos ficaram surpresos com a manobra do moço - Todo mundo pra trás ou eu atiro!
– Calma, rapaz! Calma! – Russell tentava controlar a situação – Isso não vai te levar a nada.
– Cale a boca! – balançava o revólver para todos os lados disposto a atirar no primeiro que desse um passo em falso. Apontou a arma para Dean – Me dá a chave do seu carro!
– O... o quê? – o loiro piscou várias vezes pensando ter escutado mal.
– Agora!
– Anda, Dean! Entrega as chaves para ele! – ordenou Sam
O loiro não podia acreditar. Não podia conceber que aquele louco quisesse roubar "sua querida".
De repente, antes que Dean pudesse fazer qualquer movimento, eis que o chão se abre debaixo de Bill e surge o cavaleiro montado no corcel. A criatura ergueu o moço no alto pela cabeça com uma das mãos. O cavaleiro e sua montaria estavam em brasa, a ponto de explodir, mas levariam definitivamente com eles a sua última vítima.
– Nãaaaaoo! Me ajudeeeeem! – gritou o rapaz com desespero e dor pela maneira como era segurado.
Não deu tempo para nenhuma ação dos caçadores. De um só golpe, o fantasma degolou William e o corpo deste caiu no chão. O fantasma se desmanchou junto com o cavalo e a cabeça de seu invocador.
Era o fim definitivo de Alan Schmidt. E também o de William Schmidt.
Os caçadores, Tessa e Russell estavam assombrados e boquiabertos com o acontecido.
– Er... não era para ele ter desaparecido de vez assim que queimamos seus restos? – perguntou Dean em voz quase inaudível
– Parece que toda regra tem uma exceção – replicou Sam
– Tem certas coisas que não vou poder colocar em meu relatório – comentou Russell incapaz de acreditar no que acabava de presenciar.
– 0 –
Brian estava livre e inocente da acusação contra ele. Mal cabia em si de felicidade.
– Obrigada por tudo, xerife. Por ter tomado conta do meu filho – agradeceu Marta.
– Que isso, Marta. Foi um prazer. Nunca acreditei na culpa do Brian – declarou Cunningham
Mãe e filho estavam saindo abraçados da delegacia.
– Brian... – uma voz sussurrada chamou o moço.
Era Kath. Estava a alguns metros de frente para a porta junto com sua mãe. A expressão de seu rosto era de remorso e tristeza por ter duvidado do namorado.
Houve uma longa pausa de silêncio. Brian olhou Kath. Havia uma grande mágoa pelas coisas que ela lhe disse e por não ter confiado nele.
Nem Marta e nem Tessa falavam nada. Apenas se encaravam. Aquilo era problema de seus filhos e apoiá-los iam na decisão que tomassem.
– Brian... – Kath se aproximou hesitante – Me... me perdoa.
O jovem olhou para a moça. Era visível o sofrimento dela tanto quanto o dele. Será que permitiria que um mal entendido, um momento de fraqueza dela rompesse uma relação tão linda e sincera como a deles?
A escolha era dele. Se deixasse o orgulho falar mais alto, sabia que se arrependeria pelo resto da vida. E Bill venceria mesmo depois de morto.
Não teve mais dúvidas. Correu até ela e abraçou-a com muita paixão. Ambos choraram pela dor da separação. E também de felicidade. Nunca mais ninguém os separaria.
De lados opostos, estavam suas mães. E ambas sorriram uma para a outra. Era o fim da rixa entre as famílias.
– 0 –
O caso foi encerrado pelo FBI. Óbvio que o agente Russell teve que inventar uma história bem plausível para explicar todos os pormenores, corroborada pelos testemunhos de Tessa Van Tassell, Marta Thompson e Lorna Schmidt.
Na versão oficial do relatório de investigação, constava que Wiliam Schmidt era o autor dos assassinatos de North Tarrytown tendo como cúmplice e executor dos crimes, Mark Thompson, assassinado por ele. Bill tinha o álibi de que estava na mansão à hora da morte do Thompson, em seu quarto, entretanto, foi negado por Lorna Schmidt em seu depoimento. Rudolf não estava presente na mansão, por isso, não pôde confirmar ou negar nada.
A morte de Bill foi declarada como acidental. Ele marcou um encontro com Tessa alegando caso de vida ou morte. No local, o moço tentou matá-la com a mesma arma dos outros crimes, no entanto, a mulher conseguiu escapar e, justo nessa hora, Russell apareceu e mandou o jovem se entregar. Ele tentou escapar, mas escorregou junto com o machado e caiu com o pescoço em cima da lâmina que o degolou. Tal era o depoimento de Tessa confirmado pelo agente.
Davis teve que improvisar outro machado de aço como a arma oficial dos crimes, já que o verdadeiro sumiu junto com o fantasma.
Os diários de Alan foram queimados por Collins e os Winchesters com a aquiescência de Tessa. Assim, evitariam problemas futuros. E os caçadores sequer foram mencionados no caso.
– 0 –
– O que mais me surpreendeu nesse caso foi que tanto Charles Schmidt quanto Mark Thompson foram capazes de matar ou trair o próprio irmão – comentou Sam sentado no sofá do quarto.
– Acho que não é uma coisa que devia te surpreender – retrucou Dean um pouco amargo. Ao ver a expressão magoada do irmão, fez uma careta e corrigiu-se – Desculpe. Esqueça o que eu disse.
– Tudo bem. Vou fingir que tive um surto temporário de surdez – Sam deu um sorriso forçado.
– Ótimo. E sabe do que mais? Eu acho que o Tim Burton deve ter lido esses diários do Alan. Tem uma ou outra coisa do filme que se parece um pouco com esse caso... er... tipo, a maneira pela qual chamavam o cavaleiro com a cabeça.
– Ou o mais provável é que a arquivista deve ter feito um relatório completo do que sabia.
– É... tipo isso – o loiro fez uma careta.
– Vamos? – disse Collins ao sair do banheiro.
A bagagem dos três estava pronta para pegarem a estrada.
Desceram até a recepção para fechar a conta.
– Vocês tem que ir mesmo? – indagou Marta
– Temos. Ou muita gente da Vila vai começar a nos cobrar o filme – piscou Dean
– Vai ser uma decepção quando virem que não saiu filme algum – concordou a mulher pesarosa – Mas realmente vocês têm que ir? Não sabe como vou sentir a falta de vocês. Fizeram por mim e por meu Brian muito mais do que possam imaginar.
– Precisamos ir. Tem mais gente que precisamos ajudar – respondeu Vic – E como está ele?
– Está melhor... deve estar com a namorada agora. Estão até falando em casamento... quando todas essas tragédias tiveram sido um pouco esquecidas. – a mulher sentiu um aperto no coração ao se lembrar de seu caçula morto.
– E a senhora está bem? Pode lidar com essa versão do FBI de que seu filho Mark foi um dos responsáveis por esses crimes?
– Eu tinha que escolher entre preservar a imagem do meu filho morto... ou a liberdade do que me resta. Não havia como não fazer tal escolha. E de qualquer jeito não deixa de ser verdade o fato de Mark ter colaborado para esses crimes... mas eu nunca deixarei de amá-lo por isso.
Vic assentiu.
– Tem uma coisa que eu não entendo – continuou a caçadora – Como a senhora tem um medalhão com o mesmo símbolo que o daquela rocha nas masmorras?
– Bem, esse medalhão pertenceu à minha antepassada Elizabeth. Ela era a irmã caçula dos três irmãos Schmidt e fugiu pra se casar com um Thompson. Ela foi renegada pela família. Mas tanto ela como George aprenderam alguma coisa sobre feitiço de proteção com Alan. Ele os ensinou mais por brincadeira, nunca achou que fossem levar a sério. Ele mesmo não chegou a colocar em prática os feitiços mais poderosos e macabros que estudava. Creio que só pensou nisso na ocasião em que pretendia destruir Edward, mas seu irmão Charlie chegou primeiro, como sabem. Mas ao contrário desses dois, os irmãos caçulas pesquisaram mais a fundo somente feitiços de proteção para defenderem a família de algum mal, se precisassem.
– Entendo.
– Então, senhora Thompson ... Quanto ficou a conta total da nossa estadia? – indagou Sam
– Não se preocupem com isso. Já está acertada.
– Ahn? Como assim? – inquiriu Dean
– Vocês não têm que pagar nada. A conta já foi paga e está fechada.
– É por conta da casa?
– Não – a mulher sorriu – Eu até queria fazer isso. Era o mínimo por tudo que fizeram por mim e meu filho, mas... outra pessoa se adiantou. Um tal de Bobby Singer. Disse que se quiserem maiores explicações, é só falar com ele.
– OK – Dean fez uma cara de estranheza, mas deu um sorriso bem aberto.
Sam também fez uma expressão intrigada, mas nada comentou. Quanto a Collins, seu rosto estava impassível.
Os três levavam suas bagagens até o estacionamento quando um carro se aproximou e estacionou perto de seus Impalas. Era o agente Russell.
– Que bom que ainda não foram! – disse aliviado – Eu precisava me despedir... de vocês.
– Não seja por isso. Tchau! – disse Dean curto e seco.
– Tchau! – respondeu Davis no mesmo tom – Me dão licença pra falar com a senhorita Ryan?
O loiro ia protestar, entretanto, Sam o interrompeu.
–Claro, enquanto isso, nós vamos guardar nossas bagagens – disse Sam um tanto incomodado, mas resolveu dar espaço ao agente, afinal, ele foi eficiente e leal em não colocar a verdadeira natureza daquele caso no relatório oficial do FBI.
– Você também está de partida, agente Davis? – perguntou Vic assim que os Winchesters se afastaram
– Por favor, senhorita Ryan, sem formalidades. Isso já deveria ter acabado entre a gente.
– OK... Russell. Nesse caso, pode me chamar de... Lana.
– Bem, Lana...sim, estou de partida, mas precisava me despedir de você.
Vic nada disse. Apenas sorriu um pouco constrangida.
– Imagino que seu verdadeiro nome não seja Lana, não é? – continuou ele
Ela ia contestar, mas ele a interrompeu.
– E suponho que o seu verdadeiro trabalho seja o de cuidar desse tipo de coisa que enfrentamos aqui. Você... e seus colegas.
– É, sem ficção nenhuma – admitiu
– Vou sentir sua falta – confessou e aproximou-se.
– Davis, olha...
– Não se preocupe, Lana, não tem que me dizer nada. Eu sei. Os únicos homens que interessam a você estão ali encostados naquele Impala preto com uma vontade enorme de me esganar por ficar aqui conversando com você – apontou os Winchesters.
– N... não! Que isso? Somos só colegas – ela negou veemente.
– Pode até ser, mas acho que por pouco tempo. Uma hora vai acabar acontecendo alguma coisa entre vocês. Bom, com algum dos dois. Não ouso apostar em quem, se o Peter Paul ou o Sasha. Você parece ter uma ligação muito forte com os dois.
Collins não soube o que dizer.
– Seja qual dos dois for, vai ser um cara de muita sorte. – pegou na mão da caçadora e beijou-a - Faça uma boa viagem, Lana. Até mais.
– Até mais... Russell. E obrigada por tudo.
Davis se afastou de costas fitando a caçadora intensamente. Depois, virou-se e retomou o caminho até seu carro.
– Tomem bem conta de sua parceira, meus caros. Ela é muito valiosa! Qualquer um adoraria levá-la. – não pôde deixar de provocá-los.
– Há-há-há – foi a resposta de Dean.
Sam não disse nada, todavia, estreitou os olhos para o agente.
– E boa viagem! – gritou após abrir a porta do carro e entrar
– Boa viagem pra você também! – gritou Dean em resposta. E assim que o federal e o veículo se afastaram, acrescentou– E que vá para o quinto dos infernos!
– Que isso, Dean? – Sam o repreendeu levemente – O cara até que se mostrou bem legal no final das contas.
– Mas não deixa de ser irritante da mesma forma. E cá entre a gente, maninho, você desejou a mesma coisa que eu.
– Há... não desejei nada.
– Desejou sim.
– Pé na estrada, pessoal! – Vic interrompeu a pequena discussão que começava. Foi até seu carro.
– Ei, Collins! – gritou Dean enquanto a caçadora guardava a bagagem
– Sim?
– E aí? O que achou da atuação da gente nesse caso? – ele não resistiu em perguntar – Comprovou a grande lenda que somos nós, os Winchesters?
Vic se voltou para ele com um sorriso irônico. Sam já imaginava uma resposta que não lhe agradaria escutar.
– Sinceramente... essa lenda deixou a desejar.
– Ahn... O que você quer dizer? – o loiro esticou o pescoço como se não estivesse escutado direito
– Pra começar, você esqueceu seu isqueiro no carro e vocês dois não pegaram o sal para queimar o crânio do Alan, o que atrasou e poderia comprometer o caso.
– Mas...
– E você, Sam Winchester, se descuidou e quase foi morto pelo cavaleiro. A primeira regra de um caçador é: cuide-se.
– Tudo bem, Victoria. Vou me lembrar disso – Sam deu um sorriso amarelo.
– E pra completar, os dois deixaram o Bill escapar. Se não fosse Tessa Van Tassel ou o agente Davis, nós nunca conseguiríamos provar a inocência do Brian Thompson antes do Bill ter sido morto.
Nenhum dos dois replicou.
– Respondida a sua pergunta, Winchester?
– Sim. – o loiro falou. Fez um bico de insatisfação.
– Então vamos. Não podemos perder mais tempo. Ah! Eu vou na frente.
Não esperou resposta. Terminou de colocar sua bagagem no porta-malas, entrou no carro e deu partida. Sam e Dean ainda estavam lá observando todos os seus movimentos.
Esboçou um sorriso. Estava orgulhosa do desempenho de seus homens, embora dissesse o contrário. Eles eram realmente os grandes e famosos Winchesters.
Eram os seus heróis.
Autor(a): jord73
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Este capítulo contém spoilers do episódio 6, As crianças são o futuro. Abaixo algus esclarecimentos. Boa leitura! - 0 - Anteriormente: – Escolheu um demônio ao invés de seu irmão. E olha no que deu – disse Dean sem ocultar sua decepção. – Fui eu. Iniciei o Apocalipse e lib ...
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