Fanfics Brasil - Senhora dos Afogados (2ª parte) - Final Almas Trigêmeas

Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)


Capítulo: Senhora dos Afogados (2ª parte) - Final

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– Então, quem é você? – perguntou Sam amarrado na cadeira


– Eis uma dica – o homem se sentou defronte ele – Eu estava na Alemanha, depois na Alemanha, depois no Oriente Médio... Estava em Darfur quando meu Pager apitou. E vou sair com os meus irmãos. Eu tenho três – enumerou nos dedos – Vamos nos divertir muito.


(...)


– Minha filha Katharina e o noivo dela, William Schmidt.


– William? Seu nome é William? – perguntou Victoria parecendo comovida


– Sim. Por quê?


– Ah, nada. É só que... gosto desse nome. William. – sorriu mais para si mesma. Dean e Sam ficaram intrigados.


(...)


– Bem, eu não sei se tem algo a ver – Nathalie mordeu os lábios com a cabeça baixa – Mas... ela estava muito perturbada há algumas semanas. 


– Perturbada como? – inquiriu Sam 


– Primeiro, começou com um sentimento de culpa inexplicável. E depois... ela teve visões. 


– Visões de que tipo? 


– De uma criança em vários momentos do dia. Dizia que era um menino e que olhava para ela com muito ódio. E outras vezes com tristeza. 


– Por acaso era algum filho morto dela? 


– Não. Ela nunca teve filhos.


(...)


– Ela está com um problema grave – comentou Sam


– É... a gente devia arrombar essa porta, pegar ela, amarrar na cadeira e obrigá-la a falar – replicou Dean 


– Estou falando sério, Dean.


– Eu também. Tá na cara que essa maluca tá com um baita problemão a ponto dela se distrair, quebrar coisas e até tremer nas bases. E ela não vai dizer o que é por livre e espontânea vontade. Então vai ter que ser na pressão. 


– Não podemos simplesmente obrigá-la a contar o que está passando. Ainda mais sendo ela do jeito que é. 


– Sam, essa não é a Indomável que a gente conhece e que tem nos irritado, pelo menos ela não está agindo como tal. O caso é grave e insisto que a gente a coloque contra a parede. 


(...)


– E o que você viu que tem a ver com o caso?


– Eu vi vários Tormentos. Uns demônios responsáveis por punições mais específicas pra cada tipo de pessoa que estava lá. Um desses Tormentos se chamava o Vingador dos Anjinhos.


– Vingador dos Anjinhos?


– É... Ele torturava as mulheres que tinham praticado abortos.


Capítulo 16


Senhora dos Afogados (2ª parte) - Final 


Era quase meio-dia.


Estavam com pilhas de papéis sobre a mesinha da sala com todos os dados das mulheres em que constava um aborto realizado no histórico médico. Foi muito fácil terem acesso àquelas informações graças ao disfarce e as identidades como Controladores de Doenças.


As únicas folhas que estavam marcadas e separadas eram as das duas vítimas do caso: Emma Miller e Meredith Simpson. Faltava apenas estabelecer um padrão que lhes permitisse detectar a próxima vítima do Vingador no meio de vinte e tantas mil fichas. Era como procurar uma agulha no palheiro.


– Antes de tudo, vamos ver pelas fichas da Emma e da Meredith o que elas tinham em comum pra compararmos com as outras fichas – anunciou Sam


– Como assim? – Dean arregalou os olhos perplexo – Você está sugerindo que a gente procure ficha por ficha?


– Pra quê você acha que nós imprimimos esses dados? comentou – Vic com impaciência. – Pra enfeitar a casa?


Ótimo. O sarcasmo habitual de Victoria. Ela não mais os ignorava e parecia um pouco mais concentrada no trabalho, apesar do semblante abatido.


– Vocês enlouqueceram? – retrucou Dean – A gente só vai sair daqui no dia da batalha do Lúcifer com o Miguel. Se bobear, Sam e eu vamos estar tão cansados que a gente nem vai se dar conta se eles nos perguntarem “Sim” pra nos possuir.


– Você tem uma ideia melhor? – indagou Sam. Diante do silêncio do irmão, sentou no sofá e voltou a analisar as duas fichas.– Foi o que eu pensei. Então... me deixe ver – Vic e Dean também se sentaram. – Bom... Emma nasceu na capital, mas pelo que a irmã dela disse e segundo consta na ficha... ela fez o aborto foi numa clínica em Miami. Já a Meredith não é daqui, é de Nova Jersey e está em Washington há oito anos. O aborto que ela fez foi nesse mesmo hospital que fomos pesquisar...


– Espere – interrompeu Dean – Pelo o que você disse aí, a Emma não abortou aqui.


– É.


– Mas... só pelo fato dela ter voltado pra cá, parece que isso a tornou vítima do Vingador, o que significa que o ponto de atuação dele é na capital.


– Isso não é nenhuma novidade, Dean.


– Não, você não tá entendendo. E se tiver outras mulheres que abortaram e que não moram aqui? Alguma turista ou alguém num trabalho temporário... sei lá... qualquer uma que esteja só de passagem e que pode ser uma suposta vítima do Vingador. Não tem como a gente saber.


Nesse momento, Vic se levantou de repente.


– O que foi? – perguntou Sam


–N... Na... nada... Eu... só preciso ir ao banheiro. Com licença.


Saiu com nervosismo mal disfarçado e contido ante os olhares intrigados de seus companheiros. Foi ao banheiro do andar inferior, lavou o rosto, enxugou-o na toalha e olhou-se no espelho. E se com o comentário do Dean, eles descobrissem o que estava acontecendo com ela? Tentava esconder seu problema a todo custo para que não se preocupassem, pois não queria a pena deles.


Precisavam se concentrar em ajudar outras pessoas que tinham entes queridos., não nela. Não tinha ninguém, exceto Bobby, mas este poderia superar se algo lhe acontecesse.


E talvez merecesse morrer. Não que alimentava pensamentos suicidas, porém, merecia aquela punição. Não apenas por sua criança morta, mas também pelas pessoas que morreram por sua causa. Era uma amaldiçoada.


Talvez se o Vingador a matasse, mais ninguém morreria. Nem Bobby... e nem seus Winchesters.


Quando voltou à sala, os dois cochichavam alguma coisa. Eles disfarçaram assim que se aproximou. Vic teve a ligeira impressão que falavam dela, porém, fingiu não perceber.


– Onde estávamos? – perguntou


– A gente... a gente estava falando sobre as possíveis vítimas do Vingador – respondeu Dean – Sobre existir outras mulheres em Washington que podem ter abortado e só estejam aqui de passagem.


– Certo – ela mascarou suas emoções – Nesse caso, a abrangência da nossa atuação fica maior.


– E nesse caso talvez a nossa procura nessas fichas seja inútil.


– Mesmo assim, vamos analisar pra ver se achamos alguma coisa – replicou Sam – Eu observei que a Emma fez o aborto dela há uns dois anos e a Meredith há uns seis. Talvez o padrão pelo qual o Vingador escolha suas vítimas seja pelo tempo de aborto de cada uma.


– É, pode ser um começo – tornou Vic e sentou-se – Vamos verificar isso.


Dean fez uma cara de muxoxo, porém, não reclamou mais. Ficaram horas naquele trabalho separando as fichas de acordo com o critério sugerido por Sam, pelas datas de aborto. Detiveram-se somente para se alimentar no almoço e lanche da tarde. Todavia, apenas os rapazes comeram; Vic quase não tocou em comida, o que não deixou de ser notado por eles. Apesar de manter a boa forma, Collins comia bastante.


Eram sete horas quando deram outra pausa para o jantar. Àquela altura, Dean não aguentava mais olhar para nenhum tipo de papel e até amaldiçoava em pensamento o inventor de tal matéria.


– Eu... vou fazer o jantar – anunciou Vic.


– Não precisa, Victoria. Vamos encomendar por telefone como temos feito – sugeriu Sam.


– É que... eu preciso manter minha mente ocupada em alguma coisa


– Por mim está bem – Dean gostou da ideia.


Ele se lembrava do delicioso jantar e do café da manhã que Vic havia preparado na casa de Bobby quando a conheceram. Ela cozinhava como nenhum chef do melhor restaurante do mundo poderia fazer, na opinião do Winchester.


– Você quer ajuda? – indagou Sam


– Eu posso cortar alguns legumes – Dean também se ofereceu


– Não, prefiro eu mesma fazer tudo.


Foi à cozinha e procurou tanto no armário como na geladeira alguns ingredientes que pudesse utilizar para uma refeição leve e saudável como uma salada e um peixe ensopado. Sabia que Dean não era adepto desse tipo de alimentação, porém, era o que tinha. De sobremesa, faria uma salada de frutas. Colocou os peixes no fogo.


Em dado momento, ao pegar uma tigela de vidro para a salada de legumes na porta de cima do armário, virou-se e deu de cara com o menino loiro. Ela não conseguiu segurar um grito e deixou o recipiente cair no chão, que se estilhaçou.


O olhar do menino dessa vez era de profunda tristeza e mágoa. Victoria tapou o rosto com as mãos e implorava enquanto chorava:


– Vá embora, por favor. Vá embora.


– Victoria – a voz de Sam a despertou de seu estado de pânico.


Ela tirou as mãos do rosto e viu que o menino havia desaparecido. À sua frente, estavam Sam e Dean bem próximos e olhavam-na cheios de preocupação. Ouviram o grito dela e o som da tigela se espatifar e correram até a cozinha, prontos a acudi-la.


– Victoria, o que aconteceu? – indagou Sam


– Nada – tratou de secar as lágrimas com as costas das mãos e virou-se para o armário com a intenção de não encarar os rapazes.


– É óbvio que aconteceu qualquer coisa, menos nada – o tom de Dean era sarcástico, mas continha uma afirmação séria e incisiva.


– Podem deixar que eu estou bem – ela foi ríspida – Voltem para a sala que eu preciso terminar de preparar a comida.


– Escute, Victoria. Nós temos observado você. Sabemos que você não está nada bem desde que chegamos aqui e que também tem algo relacionado a esse caso que está te afetando – suspirou – Por favor, não esconda nada da gente. Pode contar pra nós o que quer que seja.


– Não tem nada me afetando! NÃO ... TEM...NADA – epronunciou cada palavra devagar para marcar sua insistência – Será que vou ter que desenhar pra vocês?


– Mas que porra, mulher! – Dean bateu a mão na mesa com impaciência – Você acha que a gente nasceu ontem? Se não quer falar por bem, vai falar por mal.


Sam olhou com reprovação para Dean, mas este ignorou. Estava furioso com a teimosia daquela mulher.


Victoria não aguentou aquela pressão. Resolveu voltar para o quarto, porém, foi impedida por Dean que se postou em seu caminho.


– Quer me dar licença, Winchester?


– Onde você pensa que vai?


– Vou voltar pro meu quarto. Perdi a fome e a vontade de cozinhar. Vocês se quiserem, façam algo pra vocês ou peçam por telefone.


Dean riu.


– Você não entendeu, garota. Você não vai sair daqui até nos dizer qual é seu problema.


– Vou ter que te bater pra você sair do meu caminho?


– Tente – ele a desafiou – Mas se você conseguir e se trancar no quarto, não muda nada. Eu e o Sam vamos arrombar a porta e ficar colados em você que nem duas sombras até você nos dizer o que está pegando.


Vic olhou para Sam. Este assentiu com a cabeça como se concordasse com a resolução de Dean, apesar da maneira brusca que este impunha as coisas.


– Eu vou morrer! É isso! – ela se afastou um pouco deles com raiva e exasperação – Estão satisfeitos?


– Como? – Dean piscou os olhos pausadamente – O que você disse?


– O que vocês acabaram de ouvir!  – tremia de raiva e de angústia. Seu autocontrole havia ido para o espaço e não se importava mais em demonstrar suas emoções. – Eu vou morrer!


– Se acalme, Victoria. Explique o que está acontecendo. – Sam procurou tranquilizá-la


– Eu estou vendo uma criança! – gritou desesperada - É isso que está acontecendo! Eu vejo um menino! A todo o momento! Tem vezes que ele me olha com tristeza e... outras vezes com raiva.


– Então quer dizer... – começou Dean


– Eu estou marcada pelo Vingador! – interrompeu Vic - Eu sou a próxima que ele vai matar! Porque... porque...


– Porque você abortou – concluiu Sam com um olhar de pesar.


– S...sim – respondeu ela com a voz quase sumida.


E sem poder mais se conter, Vic cobriu o rosto com as duas mãos e chorou.


Os dois rapazes não resistiram e sem atinar se ela aceitaria ou não, abriram os braços para confortá-la, porém, Sam que chegou primeiro até ela e abraçou-a.


Vic aceitou aquele amparo, aqueles braços fortes que a circundavam pela cintura. Ela se agarrou a Sam e enlaçou-o pelo pescoço, escondendo o rosto em seu ombro. Uma mão do Winchester foi até sua cabeça e acariciou-a ali.


Ao ver o irmão abraçado à Victoria, Dean se sentiu muito mal. E também sentiu algo ferver dentro de si. Era ele que devia confortá-la. Sam não tinha aquele direito de lhe roubar o seu lugar junto a ela.


– Pegue um copo de água para ela – Sam ordenou.


Dean ficou parado.


– Dean!– tornou Sam


Por fim, o loiro assentiu e foi providenciar a água.


Dois sentimentos se alternavam em Sam enquanto abraçava Victoria. O primeiro era a fragilidade revelada pela moça que o comovia; desejava fazer algo por ela, tirar toda sua dor. O segundo era que ele se sentia pleno com aquele abraço. Não que quisesse se aproveitar da situação, mas não dava para evitar seu sentimento.


– Aqui!– o tom rude de Dean o tirou de seu devaneio.


Estendia o copo para ele. Sam o pegou.


– Victoria. – ele a chamou baixinho e afastou um pouco seu corpo do dela com relutância – Tome essa água.


– Não... eu não quero – seu choro foi se abrandando


– Tome um pouco, vai lhe fazer bem


Ela concordou e bebeu o líquido.


Dean ainda observava a cena com um sentimento de raiva e de posse. Entretanto, desviou a mente daqueles pensamentos. Victoria estava num momento de fragilidade e precisava de todo o seu apoio... e de Sam.


– É melhor você se sentar – continuou Sam assim que ela devolveu o copo. Ele puxou uma cadeira da mesa.


Sentou-se com ele ao seu lado. Dean não perdeu tempo e também se sentou do outro lado da mesa, bem próximo à Victoria. Observou que o irmão ainda mantinha o contato físico com Vic ao segurar a mão dela.


– Está mais calma? – indagou Sam


Ela assentiu. As lágrimas haviam secado.


– Por que você não contou pra gente o que tava acontecendo? – perguntou Dean sem rodeios num tom mais leve, mas com censura.


– Eu... não queria preocupar vocês – ela disse cabisbaixa.


Dean soltou um leve riso de escárnio.


– Mas você conseguiu justamente o contrário. Tava escrito na sua cara o tempo todo a palavra “grave problema”.


– É verdade, Victoria – Sam foi obrigado a concordar com o irmão – Dean e eu notamos o quanto você estava tensa e distraída nesses dias. Só não falamos antes porque não queríamos te pressionar, esperávamos que você chegasse e nos contasse seu problema.


– A gente só não esperava que você também fosse outra possível vítima do Vingador. Você devia ter contado isso pra gente, Victoria! – Dean alterou um pouco o tom de voz


– É por isso que eu não queria que vocês soubessem! – replicou ela – Eu não queria que se preocupassem comigo. É nessas mulheres que devíamos nos concentrar, não eu mim. Eu não sou importante, eu...


– Ora, por favor, para com isso! Preste atenção no que você tá dizendo, garota! Você não é importante? É claro que é! Você é muito mais importante pra gente do que toda essa mulherada!


– Tá bom! – ela sorriu com ironia


– É sim! – insistiu Dean com mais inflexão na voz – Você é importante! Porque você... – súbito, ele parou. Tanto Sam quanto Vic o olhavam surpresos com o tom emocionado das palavras que proferia –... porque você é nossa colega. Você faz parte da equipe.


Retomou o controle. Não queria dizer tudo aquilo e nem o que diria depois movido pela emoção, porém, era verdade. Collins era importante para ele de uma maneira que o assustava. Não queria refletir como e quanto, mas era um fato.


– Mais uma vez estou de acordo com o Dean – Sam se virou pra ela – Não é que nós não vamos fazer nada a respeito pra ajudar essas mulheres, mas como ele disse... somos da mesma equipe, tomamos conta uns dos outros – suspirou – E se um de nós morrer, como poderemos salvar mais vidas?


Sam procurava falar com tranquilidade, mas em seu íntimo havia um grande desespero pela possibilidade de Victoria ser a próxima vítima do Vingador.


– E de qualquer jeito, já que o seu problema é o mesmo dessas mulheres, se descobrirmos como te tirar dessa, a gente consegue ajudar as outras. Estamos entendidos? – Dean a olhava com uma severidade que escondia sua grande preocupação.


– OK. – Vic concordou.


– Vamos botar as cabeças pra funcionar então – ele se levantou com nova disposição e começou a andar de um lado para outro. – Pelo que a gente já sabe, o Vingador está matando todas as mulheres que fizeram um aborto, mas a gente ainda...


– Só um momento – interrompeu Victoria – Eu não disse que fiz um aborto, eu disse que abortei.


– Er... Peraí – ele pareceu confuso – Me desculpe... eu nunca fui bom em gramática na escola, mas isso não... como é mesmo a palavra? – ele estalou os dedos – Er... sinônimos? Não é a mesma coisa?


– Nem sempre – Sam se intrometeu – Quando se diz que uma mulher abortou, não quer dizer que foi voluntário.


– Espere, quer dizer que você não...


– Não, eu não fui a um açougueiro pedir pra tirar meu filho de dentro de mim. Eu queria o meu bebê! – ela tornou com impaciência – Só que... eu fui a culpada por meu filho ter morrido. Foi como... se eu tivesse tirado sua vida.


– Explique aí porque agora eu não estou entendendo nada. – Dean voltou a se sentar.


– É meio complicado.


– Você não tem que nos contar nada da sua vida se não quiser – ressaltou Sam com delicadeza, embora quisesse saber.


– Eu sei, mas... eu quero. Ainda mais se for pra ajudar no caso – ela fez uma pausa. Sua mente se concentrou em lembranças de uma época distante – Eu era bem novinha, tinha quase dezessete anos quando eu engravidei do meu namorado, Luke. Ele era caçador como eu e da mesma idade. Éramos jovens, mas fazíamos planos de se casar – sorriu ao visualizar a imagem de um moço loiro de olhos azuis. Os Winchesters a fitaram intrigados porque quase não sorria e também por ser difícil imaginá-la se relacionar com alguém pela maneira como costumava agir – Nossos... pais tinham morrido juntos numa caçada e só restamos ele e eu. Morávamos com uns parentes meus, os únicos que eu tinha. Esses meus parentes eram uma família de caçadores... e dos bons. E tinham exorcizado vários demônios. Não era muito comum ter um monte de demônios possuindo pessoas como hoje por aqui, mas esse lugar em que vivíamos parecia uma espécie de energia que facilitava a manifestação de muitos. Um dia, por vingança, alguns deles raptaram uma prima minha que só tinha uns treze anos. Eles queriam atrair meus tios e os outros primos pra uma emboscada. Nesse dia, eu tinha acabado de descobrir por um exame minha gravidez e ia contar pro Luke. Foi quando ele me deu a notícia. Ele disse que ia ajudar meus parentes. Eu fiquei desesperada! Ele e eu nunca tínhamos enfrentado demônios pelo que aconteceu com... nossos pais. Pedi pra ele não ir, mas ele teimou porque pra ele era uma forma de pagar tudo o que minha família tinha feito pela gente, nos acolhido. E me disse também que mais cedo ou mais tarde, não poderíamos fugir daquela raça que tinha destruído as nossas vidas. E aí... – ela parou um pouco para suspirar.


– Aí você também foi – adivinhou Sam.


– É... fui, sem contar nada da minha gravidez pro Luke. Arrisquei a vida do meu filho porque tinha medo de perdê-lo. E essa minha imprudência, esse meu erro... custou a vida do meu amor. Muitos demônios estavam no local em que a gente encontrou minha prima. Muito mais do que esperávamos encontrar. Acho que todos eles se cansaram de serem expulsos por minha família durante muitos anos e resolveram se juntar pra varrer todos da face da terra. Mataram um a um meus parentes. Não pouparam nem minha prima. Eu fui tentar salvá-la, mas tive uma tontura e um demônio foi me atingir... e aí o Luke... ele se pôs na minha frente e... ele...


– Foi atingido – dessa vez foi Dean quem completou.


– Sim... o demônio torceu o pescoço do meu namorado... E foi em vão a tentativa de Luke de me proteger o maldito. Depois que ele... ele acabou com o Luke... começou a me chutar na barriga. Deve ter descoberto que eu estava grávida por ter lido meu pensamento e feito de propósito. Não disse nada, mas dava gargalhadas. Até que... eu desmaiei... e acordei num hospital. Um tio meu foi o único que tinha sobrevivido além de mim e me tirou de lá. Conseguiu exorcizar o restante dos demônios e o que me atacava. E  no hospital... foi lá... que o médico falou que eu tinha abortado.


– Sinto muito – Sam falou e apertou a mão dela.


– Eu também – Dean pegou a outra mão livre dela com sincero pesar pelo seu sofrimento, sem outra intenção. Sam não gostou do gesto do irmão, porém, decidiu ignorar.


– Entendem como eu me sinto? – soltou as mãos de ambos e apoiou o rosto nos braços – Eu matei meu filho. Posso não ter procurado nenhum especialista pra isso ou bebido remédio, mas... eu sacrifiquei a vida do meu bebê por nada! Meu Luke e meu filho morreram por minha causa.


– Victoria, você não teve culpa. Você só estava tentando proteger alguém com quem se importava – argumentou Sam


– Isso não justifica! E de qualquer jeito... parece que o Vingador não está levando isso em consideração. Para ele, eu sou a culpada, eu abortei... e mereço morrer por isso.


– É isso! – de repente, Dean se ergueu da cadeira como se tivesse descoberto algo valioso – Acho que essa deve ser a chave pra esse caso!


– Como assim, Dean? – perguntou Sam intrigado.


– A Victoria não teve intenção de abortar, mas teve um aborto do mesmo jeito... e ela se sente culpada pelo que aconteceu. E esse Vingador, esse demônio se alimenta disso. Ele se alimenta da culpa das mulheres que tiveram um aborto, não importa se foi intencional ou não. Aliás, todos os Tormentos que eu vi no inferno, o que dava força a eles eram os sentimentos ruins mais profundos que extraíam de suas vítimas.


– Isso faz sentido – Sam assentiu – Mas... como isso pode nos ajudar a resolver o problema da Victoria e das outras mulheres?


– Talvez ela tenha que enfrentar o Tormento, deve mostrar a ele que não se sente mais culpada.


– Supondo que eu consiga... como vamos encontrar esse demônio?


O Winchester pensou por alguns segundos tentando recordar o pouco que viu no inferno sobre tal entidade.


– Olha... pode ser que nem todas as mulheres que abortaram possam estar ameaçadas. Talvez só aquelas que tiveram um contato direto com ele. Então, galera: o que a Emma, a Meredith e você têm em comum além de uma criança abortada?


– Bem...elas tiveram visões de crianças, dos filhos abortados.


– Certo, mas deve ter alguma outra coisa. Alguém que elas conversaram.


– Mas é claro... esperem aí! - Sam se pronunciou – Segundo a Nathalie, a Emma começou a ter essas visões depois que passou a ir na Basílica e que costumava se confessar com o Padre Bernard. E depois, quando ela me ligou pra contar que tinha descoberto sobre o aborto da irmã, ela comentou que conhecia a Meredith de lá. Victoria, você chegou a ir nessa igreja falar com o Padre Bernard depois que fomos investigar?


– Sim, fui ontem à noite. E desabafei pra ele o que contei pra vocês – ela alternou o olhar de Sam para Dean diante da expressão de entendimento deles – Vocês não estão achando que o padre...?


– Não acho, tenho certeza – retrucou Dean


– Mas... o Padre Bernard? Ele parece um anjo de pessoa!


- Exato. Ele também me deu essa impressão quando fomos lá.


- A mim também – admitiu Sam


- E que disfarce mais perfeito do que a de um padre? Sam e eu topamos com um também que havia sido possuído e que quase nos matou. O demônio conseguiu nos enganar direitinho.


- E o que aconteceu? - vendo as expressões de ambos deduziu o óbvio – Sei, sei, sei – suspirou e ergueu-se decidida – Então, vamos. Quero encarar esse demônio de vez. Ninguém me manipula e nem aos meus sentimentos e fica livre! Vou mandar esse tal Vingador de volta para o buraco de onde saiu.


Dean e Sam nada disseram, mas trocaram um olhar satisfeito. Aquela era a Victoria Collins que conheciam.


- 0 -


Victoria foi com os Winchesters no carro deles. Insistiu que poderia ir sozinha em seu próprio automóvel, entretanto, eles a convenceram de que talvez fosse perigoso: ela poderia ter outra visão do garoto que a distraísse do trânsito e a té poderia lhe provocar um acidente.


Estava no banco de trás e, embora sua postura externasse uma aparente calma, por dentro, estava muito inquieta. Mesmo assim, a presença dos Winchesters e o fato de ter compartilhado seu problema com eles a aliviavam um pouco daquela agonia.


Dean dirigia o carro com cuidado, mas a toda hora olhava pelo retrovisor se Vic estava bem; com Sam se passava o mesmo. Ele também dava uma rápida espiada para trás para conferir o estado da moça.


Depararam-se com uma aglomeração no meio do caminho e estacionaram.


– O que será que tá havendo ali? – indagou Dean


Um policial se aproximou deles.


– Por favor, vão por ali – indicou um desvio para seguirem.


– Por quê? O que está acontecendo?


– Houve mais um daqueles misteriosos casos. Outra mulher começou a vomitar vários litros do próprio sangue até inundar a casa. Aliás, não foi só aqui. Parece que aconteceu o mesmo com mais quatro mulheres em outros pontos da capital quase na mesma hora.


Dean e Sam se entreolharam.


– O pessoal está em pânico – continuou o oficial – Já sabem que é um surto de uma estranha doença. Parece que uns caras do governo do Controle de Doenças estão por aqui. Vão tentar localizá-los.


– Ah... Er... Obrigado pelo aviso.


O policial assentiu e liberou-os.


– Não atenda a nenhuma ligação


– Pode deixar que está desligado – retrucou Sam – Parece que o Vingador está agindo rápido demais – olhou mais uma vez para Victoria que se angustiou mais devido àquela informação. – É, temos que encontrá-lo rápido.


– Ou eu já era – completou Vic com sorriso amargo.


– Que isso, garota! Vai... ficar tudo bem – Dean procurou tranquilizá-la.


– Dean! – Vic deu um grito e apontou para algo na frente deles.


O Winchester tomou um susto e deu uma freada busca.


– O que... que foi? – o loiro perguntou assustado


– Ali! – ela indicava alguma coisa no meio da rua, porém, seus companheiros não viam nada.


– É o menino? – questionou Sam.


Ela assentiu. A criança a olhava com raiva e seus punhos estavam cerrados


– Ele... ele vai me pegar! Eu sei!


– Victoria, escute... não tenha medo... Enfrente ele... Você é mais forte que isso.


– Nã...não... Eu não posso, eu...


– Você não teve culpa. Você queria que ele nascesse.


– Tive... Tive culpa sim


Fechou os olhos e tornou a abri-los. Parou de tremer e olhou confusa para frente e para os lados procurando a visão.


– O que foi?


– Ele... sumiu.


Súbito, ela deu um pulo no banco que fez os Winchesters se assustarem e pularem também. Ambos deram uma cabeçada no teto.


– Ele está aqui!


– Onde? Onde? – Sam se desesperou


– Aqui do meu lado!


Collins apontava para a esquerda. Via o menino sentado a encarando com muita tristeza. Sam pegou o revólver.


– Ei, cara! Ficou doido!? – Dean segurou a mão do irmão – Vai estragar meu assento!


– Que importa seu assento? A vida da Victoria está em jogo!


–É só uma visão, besta! A gente não pode matá-lo!


Àquela altura, Vic se agarrou no banco em que Sam estava sentado e cobriu o rosto nele.


– Tudo bem – Sam concordou. Estava tão desesperado pela vida da moça que perdeu o raciocínio por instantes. – Victoria... Victoria. Você tem que enfrentá-lo.


Ela não respondeu, apenas alçou um pouco a vista. A visão havia desaparecido.


– É melhor... nós irmos.


– Ele foi embora de novo? – perguntou Dean.


– Sim... Por enquanto.


– Se ele voltar... nos avise – disse Sam


– Mas... por favor, sem sustos. Minha cabeça não vai aguentar mais uma pancada – Dean massageava o local atingido.


E deu partida no carro.


– 0 -


Estavam parados dentro do carro observando o movimento da Basílica. Haviam se informado com um dos vigias do local que o Padre Bernard se encontrava por ali.


Eram dez e meia da noite. Os últimos visitantes do local estavam saindo.


– Sam, está preparado? – sondou Dean


– Sim.


– Então a gente vai te esperar lá naquele galpão e preparar a armadilha.


– Olha, gente, mesmo que esse tal Vingador esteja no padre, não me agrada essa ideia de usar a faca nele – Victoria se sentia desconfortável com a lâmina de demônios da qual os Winchesters haviam lhe comentado. Eles ainda não a haviam usado durante aquele tempo porque não haviam encontrado nenhum outro demônio, fora o de Nebraska que o próprio menino Jesse havia exorcizado – Não se esqueçam que há um ser humano lá que devemos salvar.


- Também não nos agrada, Victoria – admitiu Sam – Mas estamos numa época muito ruim e perigosa. Mesmo com poucas frases, um exorcismo demora um pouco…. E ultimamente temos que agir em frações de segundo pra nos proteger.


- E depois… demônios são espiões de Lúcifer – completou Dean – Podem fofocar entre si até que a notícia dos nossos passos chegue ao Pai deles… e ele vir mais rápido até nós. E é tudo o que a gente menos deseja… pelo menos agora.


- E de qualquer jeito, nem sempre uma pessoa consegue sobreviver a um exorcismo.


- E se sobrevive… muita terapia pelo resto da vida.


- Certo, certo… Já me convenceram – ela suspirou – Mas temos que nos certificar mesmo que seja ele o demônio.


– Não tem como ser outra pessoa. Ele foi o único que teve contato direto com você e com as duas primeiras vítimas. - tornou Dean – E perguntei por aí e fiquei sabendo que esse padre está aqui não tem nem seis meses… e já tem uma legião de fiéis que preferem se confessar com ele.


– OK. Mas o Vingador deve saber quem são vocês e é bem capaz dele não vir pra nossa armadilha.


– Nesse caso o Sam vai ter que usar o plano B.


– Que plano B?


– Vou improvisar algum - Sam abriu a porta do carro.


Dean e Vic também saíram. O loiro arremessou a chave do carro para seu irmão.


– Cuide bem da minha querida. Ouviu?


– 0 –


Dean e Vic caminhavam apressados pelas ruas. O ponto de encontro onde preparariam uma armadilha de demônios ficava num galpão abandonado a algumas quadras da Basílica. Sam aguardaria um sinal deles.


Antes de vigiarem o templo, haviam procurado um local em que pudessem capturar o Vingador e, felizmente, acharam o lugar.


Enquanto caminhavam, um silêncio mórbido se instalou entre os dois. O Winchester até tentou puxar conversa, contudo, a caçadora estava muito inquieta e mais alheia do que antes. Às vezes, respondia algum comentário apenas por monossílabos.


Por fim, chegaram ao galpão. Estava para ser demolido para dar lugar a algum comércio. Enquanto isso, servia como o esconderijo perfeito para abrigar moradores de rua ou tipos de má índole. Ainda bem que naquela noite, estava sem ninguém que pudesse atrapalhar os caçadores em seu intento.


Dean ligou para Sam.


– Já chegamos. Pode trazer a caça que vamos preparar a armadilha.


Desligou e olhou para Collins com um sorriso encorajador.


– Bem... mãos à obra


E começou a pegar na bolsa que trazia tudo de que precisaria para desenhar a chave de Salomão: quatro latas de spray de tinta. Agachou-se para começar o trabalho.


– Eu te ajudo.


– Não, sem problema. Pode deixar que eu termino isso logo. Vá se sentar ali.


Vic não discutiu; estava sem ânimo. Ela se acomodou em cima de um caixote num canto do galpão.


Depois de alguns minutos, Dean terminou de pintar a armadilha. Levantou-se, guardou as latas na bolsa e depois, procurou Collins com os olhos.


Ela ainda estava sentada no mesmo lugar e envolvida pelos próprios braços como se com isso garantisse sua própria proteção. Olhava para algum ponto indefinido.


– Está vendo o menino de novo? - Dean acompanhou a direção do olhar dela.


– Não... eu apenas... estou com medo.


– Não tenha - ele se sentou em outro caixote perto dela e colocou a bolsa no chão. Emulou um sorriso irônico - Afinal... você é a Indomável, a destemida.


– Não tão destemida assim - ela não pôde deixar de corresponder ao sorriso dele - Você deve estar decepcionado por ver quem é a Indomável de verdade... por saber que tenho medo.


– Ei...Todo mundo tem medo de alguma coisa.


– Até mesmo Dean Winchester? - ela relaxou um pouco a ponto de implicar com ele


– É... é, se isso te consola, até eu, admito – revirou um pouco os olhos e apontou o dedo para ela – Mas não conte pro Sam que te falei isso, tá?


– Palavra de escoteiro - ela alargou o sorriso.


Aquele sorriso... Ele faria qualquer coisa para vê-lo no rosto daquela mulher.


Sua mente viajou para a noite anterior, a do desmaio de Collins. Lembrava-se de ter carregado Victoria para o quarto dela. De ter discutido com Sam de que ele velaria o sono da caçadora nas primeiras horas da noite.


Embora estivesse preocupado com a saúde dela, foi um colírio para seus olhos  contemplar da poltrona do quarto a bela face da mulher, seus traços perfeitos. Em certa hora, ele chegou a se levantar e aproximar-se dela, quase tocando em seu rosto, mas se refreou. Não era tão safado a esse ponto, mas delirou ao relembrar a maciez do contato da pele dela ao carregá-la e escutar sua respiração suave.


Foi uma tortura para ele passar a noite com ela sem poder tocá-la como queria! Uma tortura deliciosa, mas não deixava de ser uma tortura.


– Dean... Dean!


– Oi! - ele voltou ao presente


– Se você quiser, não precisa me responder.


– Responder? Você perguntou alguma coisa?


– Sim, mas...


– Pode falar.


– Eu perguntei como é... o inferno.


A princípio, o caçador não respondeu. Victoria achou que ele não queria falar sobre algo tão perturbador, todavia, era a surpresa pela pergunta que o mantinha calado. E também por escolher as palavras com cuidado.


– Não tenho como traduzir o que é. A palavra inferno é insuficiente para dar significado ao que aquele lugar é. Mas... é o próprio desespero. Você sofre torturas físicas e também... mentais... coisas que você não gostaria de ter que enfrentar. Imagine seu pior medo multiplicado por dez mil. Imagine a pior dor do mundo multiplicada por um milhão.


– Você foi forte - Vic olhou-o com sincera admiração - Se fosse qualquer outra pessoa que tivesse escapado de lá, certamente ficaria louca por todas essas coisas que você passou.


– Não sou tão forte - balançou a cabeça em negativa - Eu torturei pessoas por lá pra me ver livre de continuar ser torturado.


– Acho que nenhum ser humano conseguiria resistir por muito tempo.


– O meu pai ficou no inferno durante cem anos e resistiu. – ela o fitou confusa – Lembra que te contamos da morte dele por um demônio chamado Azazel? - ela assentiu – Pois é, foi porque meu pai fez um pacto por mim... É uma longa história, depois eu te conto. Mas quando os portões do inferno foram abertos e mais desses filhos da mãe começaram a se espalhar, o meu pai pôde sair depois de cem anos. O tempo lá embaixo é diferente daqui. Meses na terra são como décadas. – ela assentiu calada, embora o rosto se mostrasse chocado –Meu velho aguentou por cem anos. Eu... fiquei quarenta e só aguentei trinta anos.


– Duvido que outros homens bons teriam aguentado tanto tempo como você.


Dean sorriu. Era estranho estarem ali conversando amigáveis, sem que ela viesse com ironias e cortadas. Era como se ao revelar uma parte de seu passado, ela estivesse mais receptiva.


– Só que... por causa da minha fraqueza, acabei desencadeando todos os outros selos – continuou Dean. - Havia uma profecia de que se um homem íntegro do inferno torturasse almas, ele abriria o primeiro dos selos que trariam o Apocalipse – fez uma pausa – O Sam pode ter aberto o último selo, mas fui eu que liberei o primeiro.


– Nossa... mas... não tinha como você saber.


– Isso não torna minha culpa menor.


– Vocês Winchesters se culpam demais.


– Olha quem fala.


– É diferente – justificou ela – Eu não fui obrigada a acompanhar ninguém. Eu não fui sob tortura numa missão suicida no meu estado.


– Mas foi para salvar a vida da pessoa que você amava.


– O que... fez você aguentar tudo aquilo durante tanto tempo? – ela retomou o assunto do inferno para não ter que falar de seu próprio problema.


Ele refletiu sobre o que diria. Duas coisas o fizeram se manter inabalável diante de tanto suplício. A primeira foi saber que tudo aquilo era preferível a perder seu irmão para a morte – embora de qualquer jeito estivesse afastado dele. A segunda foram as lembranças dos sonhos que tinha com seu Anjo, isto é, com Victoria. Naquele momento, desejou lhe perguntar sobre os sonhos, se ela também os teve. Às vezes, achava que sim.


O Winchester meditava como responderia quando Vic se levantou de súbito.


– Não...


– É ele de novo? – também se levantou.


Victoria não respondeu, apenas ficou parada. A cada vez que via o menino, mais ela tinha certeza da morte que estava próxima.


– Victoria! Victoria – Dean a chamou, porém, ela permaneceu hipnotizada pela visão. Ele foi até ela, colocou as mãos em seus ombros e obrigou-a a encará-lo.


– Victoria, agora me escute! Lute contra isso! Lute contra essa culpa!


– Eu não posso! Eu não... vou conseguir, Dean!


– Vai sim! Você é Victoria Collins! Você é a Indomável.


Como se levasse uma sacudida, Vic recobrou coragem e virou o rosto na direção da criança, que, mais uma vez, havia sumido.


– Ele se foi – voltou a olhar para Dean.


Os olhos dele eram como duas chamas fixas nela. Vic se esqueceu na mesma hora do garoto e deixou-se prender por aqueles olhos ardentes de desejo, de paixão. Queria se afastar, mas ao mesmo tempo, não queria.


Pareceu contemplar todos os sonhos que teve com seu Loirão naquele olhar, todos os anos que passaram. Com Dean acontecia o mesmo.


Não souberam precisar quanto tempo se passou naquela muda contemplação, apenas sentiram uma força magnética os puxar um para o outro. Seus corações batiam no mesmo compasso, suas respirações se aceleravam e suas bocas estavam prestes a se encontrar quando ouviram o barulho da freada de um carro. Era inconfundível o som do Impala preto. Vic se afastou de Dean.


– Deve... deve ser Sam. – desviou os olhos


Ele não respondeu, mas apertou os punhos.


– Rápido, Dean! Temos que ficar nas nossas posições! – ela foi para perto da porta principal do galpão onde estava a armadilha. Sacou seu revólver com munição de sal.


O caçador assentiu, também foi pra lá e sacou a faca especial de matar demônios.


– 0 –


Não foi difícil para Sam atrair Bernard até o galpão.


Assim que recebeu confirmação de Dean de que havia chegado no galpão com Vic, Sam tratou de procurar pelo padre.


– Padre Bernard! Padre Bernard! – localizou-o perto da saída conversando com uma das funcionárias.


– Filho, o que está acontecendo?


– Por favor, Padre Bernard, o senhor tem que vir comigo agora!


– Por quê? O que aconteceu?


– Eu... o senhor deve se lembrar de mim. Estive aqui ontem com meus colegas do Departamento de Controle de Doenças.


– Sim, eu me lembro. Sua colega esteve até aqui depois.


– Pois é sobre ela mesma de que vim falar. Precisa vir comigo e me ajudar! Ela está delirando, diz que vai morrer e implora para que o senhor esteja por perto pra dar a extrema unção.


– Meu Deus! Pobre moça!


– Por favor... venha comigo!


– Sim... está bem, eu vou. Me deixe só avisar o padre Frederick.


Ele entrou por alguns minutos enquanto o Winchester aguardava. Se o jovem padre era mesmo o Vingador, estava representando muito bem. Talvez adivinhasse que tudo não passasse de uma armadilha. Contudo, Dean, Vic e ele estariam preparados para uma eventual surpresa.


Bernard retornou.


– Vamos... Me leve até ela.


– Quer que mande alguém junto, padre? – perguntou a funcionária com quem o padre estava conversando.


– Não, Laura. Não precisa.


– Talvez fosse bom um dos guardas ir junto pra qualquer eventualidade – Laura deixava claro a sua desconfiança sobre as verdadeiras intenções do Winchester.


Sam previu que isto pudesse acontecer. Por isso, disse em tom despreocupado:


– Por mim está tudo bem, padre.


Ele e seus companheiros poderiam render o guarda para que não interferisse no que pretendiam.


– Como eu disse, não tem necessidade. Eu já vi esse moço antes... e confio nele – voltou-se para Sam com um sorriso – Vamos?


– Vamos. – ele forçou outro sorriso em resposta.


Conduziu o padre até o carro e deu a partida.


No caminho, o sacerdote puxou assunto e Sam foi cortês em lhe dar atenção. Contudo, estava atento se o sujeito não o surpreenderia com algum tipo de golpe. Sam achava que ele estava representando muito bem o seu papel, porém, o caçador não ficaria com a guarda abaixada.


Entretanto, por uns instantes, sua mente se deteve em Dean e Vic. Os dois estavam juntos... e sozinhos. Sentiu uma inquietação, certo sentimento de posse. Bobagem! Collins jamais se permitiria qualquer intimidade com o irmão se este desse alguma investida. Ainda mais na situação em que ela se encontrava. Voltou a se concentrar na sua tarefa.


Finalmente, chegaram ao galpão. Tudo estava às escuras.


– É aqui que sua amiga está? – o padre estranhou.


Como se você não soubesse, pensou Sam, mas disse:


– Isso... nós estávamos investigando possíveis contágios por esta região quando ela começou a surtar de repente.


Ele abriu a porta do carro e saiu. Esperou que o padre saísse pela outra porta.


– E... pra onde vamos? – Bernard perguntou


– Por aquela entrada. – indicou Sam – O senhor pode ir na frente.


– Claro – ele sorria.


Andaram alguns metros e estavam a ponto de entrar. Súbito, o padre se virou e desferiu vários golpes de caratê em Sam. O Winchester surpreendido pela manobra, embora estivesse prevenido, caiu no chão.


– Você acha que sou um tolo ou o quê? – ele estava em posição de defesa diante dele – Que espécie de bandido é você?


Foi lhe dar um chute bem nas partes baixas, entretanto, Sam se desviou a tempo.


– Parado aí! – a voz de Dean ecoou. Ele chegou por trás do sujeito e encostou em seu pescoço a faca especial.


Collins apontava seu revólver. Sam também pegou sua arma e água benta.


– Meu Deus! Até você, filha? – encarou Vic com olhar de decepção


– Cale a boca, seu demônio! Chega de fingir! – vociferou Dean – Um movimento em falso e eu corto sua garganta. Sabe que eu posso com essa faca.


– Demônio? Me chamou de demônio?


– Anda, entra pra lá!


– O que vão fazer comigo?


– Entra!


O padre obedeceu com o caçador na sua cola.


– Isso o que estão fazendo é um grande pecado. Deus vê tudo e pode castigá-los, mas... eu perdoo vocês.


– Cale-se! – forçou-o a caminhar até conduzi-lo dentro da Chave de Salomão onde a deixou.


Afastou-se aos poucos com a arma apontada para ela.


– Agora você não pode sair daí! – continuou ele – Pode ser o Vingador dos Anjinhos, mas não passa de um demônio como qualquer outro.


– Por Deus! Do que vocês estão falando? E... o que é isso? – olhou para o pentagrama desenhado no chão como se não entendesse o que representava – Vocês são de algum tipo de seita que assassinam religiosos?


– Deixe de teatro e faça exatamente o que queremos – foi a vez de Sam falar – Liberte a Victoria e as outras mulheres dessa sua maldição.


– Por Deus, eu não sei do que estão falando. Eu não sou demônio algum – ele suplicava – O que posso fazer para provar?


– Tente sair dessa armadilha pra começar– Dean tornou com sarcasmo


Entretanto, para a sua surpresa, o sacerdote saiu da chave.


– Mas... – a expressão dele era de espanto igual a de seus colegas – É impossível!


– Podem me explicar, por favor, o que está acontecendo?


– Pode deixar, meu caro Bernard, que eu explico – uma voz mais rouca se fez ouvir.


E de repente, as armas dos caçadores voaram longe e Dean e Sam foram prensados na parede, um ao lado do outro.


– Droga, de novo não! – reclamou Dean


Uma figura robusta e idosa se apresentou diante de Bernard e de Collins. Era o padre Frederick. Seus olhos estavam pretos. E entrou com cuidado para não cair na armadilha.


Vic o olhava surpreendida.


– Padre Frederick, o que está acontecendo? – indagou Bernard assustado


Frederick não respondeu. Em vez disso, mandou o sacerdote mais moço para a  outra parede, deixando-o com a garganta travada.


– Agora minha querida... somos só você e eu – disse ele para Vic com falsa doçura na voz.


– Não... – Vic estava com medo. Um medo como nunca sentiu antes.


– Fique longe dela, seu filho da mãe, ou eu te mato! – gritou Dean incapaz de se mexer.


– Mata, é? Quero ver você tentar daí. – riu com sarcasmo. Em seguida, chegou perto de Vic - Onde a gente estava mesmo? Ah, sim, eu ia acabar com você.


– Se encostar num fio de cabelo dela... sou eu que vou acabar com você, infeliz! – foi a vez de Sam ameaçar o demônio, mas este nem lhe deu atenção.


– Pra mostrar que não sou tão perverso, vou contar algumas coisas antes de te levar, minha querida –afastou-se um pouco de Vic e aproximou-se dos dois caçadores com interesse – Vocês acham que são espertos? Mas não passam de uns tolos. Desde a primeira vez que pisaram na igreja com sua história ridícula de serem do Controle de Doenças, eu já sabia quem eram. Ah! Mas foi bastante interessante conhecer a grande Victoria Collins. É, as notícias voam. Já não é novidade para os demônios saberem que a Indomável está ajudando os Winchesters.


– Cretino! – Dean vociferou – Era você... o tempo todo?


– Claro. Pensei em possuir o Padre Bernard, mas... eu sabia que era questão de tempo algum caçador vir e chegar à conclusão que era ele quem estava causando as mortes. - aproximou-se do jovem sacerdote que estremeceu – Afinal, ele tinha tão pouco tempo nesta paróquia e mesmo assim era tão procurado, inclusive pelas vítimas.  Então... possuí o padre Fredreick, assim desviaria as suspeitas sobre mim. Mas dava igual. As mulheres se sentiam pressionadas a despejarem todas as suas culpas e eu as incitava a descarregarem para o bondoso Padre Bernard. E eu só tinha que ficar por ali mesmo sugando suas confissões, seus sentimentos de culpa.  Bernard é um tolo – riu na cara do padre que fechou o rosto para o demônio – Ele achava que as visões dessas mulheres era uma forma de purificação de seus erros. Elas nem imaginavam que só estavam se afogando em sua própria culpa – Voltou-se para os caçadores e riu da ironia - É, e se afogaram mesmo.


– Por que está fazendo isso com a Victoria... e essas mulheres? – Sam o questionou.


– Por quê? – soltou uma sinistra gargalhada – Ora, Sam Winchester, porque sou um demônio e demônios adoram isso. Mas meu verdadeiro motivo é que me alimento da culpa das mulheres que abortam.– fez uma pausa – E é claro, estou a serviço de meu mestre.


– Lúcifer?


– Quem dera! Lúcifer é o Mestre dos mestres, é meu rei, meu Deus – disse com grande respeito – Meu mestre é um dos Cavaleiros do Apocalipse. Todo cavaleiro precisa de um escudeiro e por assim dizer, estou meio que abrindo o caminho para meu senhor entrar. E também acabo ganhando os louros da minha função: todas as mulheres que têm um aborto serão minhas. Em breve, Washington não será meu único campo de atuação.


– Qual deles... é o seu Mestre?


– Ah, isso vocês vão descobrir logo, logo. Ah! E adianto que o escudeiro do Guerra não está nada contente em vocês terem acabado com o mestre dele. É um Tormento que vai lhes dar uma boa lição – voltou-se para Sam – Claro, ele... deve pegar leve com você se não quiser enfrentar a ira de Lúcifer.


Nisso, Vic enfiou a faca de matar demônios no peito do Vingador; Dean havia deixado o objeto cair no chão ao ser prensado e ela havia o apanhado se aproveitando da breve a interação do Tormento com o padre Bernard. Os Winchesters haviam percebido seu movimento, mas continuaram agindo normalmente, tentando distrair o demônio. Este, que estava de costas para Collins, sentiu a dor da lâmina em seu corpo. Porém, ao contrário do que eles esperavam, o Vingador dos Anjinhos não foi destruído. Devagar, virou-se para a caçadora, tirou a faca de si e depois a jogou no chão.


– Au! Isso dói! – diante da reação de espanto de Vic, ele riu – Surpresa, minha querida?


E lançou-a de volta ao lugar onde estava. A caçadora se levantou, porém caiu de joelhos ao ver seu filho abortado diante dela. Seus olhos ferviam de ódio e um sorriso maldoso se desenhava nos lábios dele. Dessa vez, Vic sabia que era o fim.


– Acham que não saquei a manobra de vocês, Winchesters? Queriam me distrair enquanto sua amiga tentava me matar com aquela faca ridícula? Não se enganem comigo, meus irmãos Tormentos e eu não somos como os outros demônios – aproximou-se de Collins – Agora, chega de papo! Contemple sua maior culpa, Victoria Collins! Você matou uma criança! Você sacrificou seu filho por causa de um homem!


Vic começou a chorar e a tremer. Seu estômago começou a embrulhar como se estivesse prestes a vomitar.


– Não dê ouvidos a ele, Victoria! Lute contra isso! – Dean a incentivou.


– Você não pode e sabe disso! – continuava o Vingador.


– Você pode sim!


De repente, Collins começou a vomitar sangue.


– Victoria, não!


Ela não conseguia conter os litros de sangue. Sua garganta estava se fechando e ela estava começando a morrer por asfixia.


– Olhe, para seu filho, Vic! – gritou Sam como se uma ideia lhe houvesse ocorrido – Olhe para ele e diga que o ame! Pense nele com amor! Você sempre o quis!


– É isso! – acrescentou Dean – Ele é... o filho do Luke... do cara que você se amarrava!


Algo despertou dentro de Vic. Por um átimo, ela se lembrou da alegria que sentiu quando soube que seria mãe. E esse pensamento fê-la olhar para a criança sem temor e observar os detalhes de seu rosto. Nele, estavam os olhos e o cabelo de Luke.


E para sua própria surpresa e a do Vingador, ela parou de vomitar sangue.


– O quê!? Isso... é impossível – vociferou ele


A caçadora recobrou um pouco do fôlego e dirigiu-se ao menino:


– Filho, eu... me desculpe... Eu queria tanto que você tivesse nascido... que você tivesse sobrevivido a aquele ataque. Você teria sido meu maior consolo da morte de seu pai.


– Acha que vai se livrar assim? – interrompeu o Vingador – Você é culpada pela morte dele!


– Cale essa boca fedorenta, filho de chocadeira! Estou falando com o meu filho! – vociferou Victoria com tanta raiva como uma leoa, que assustou o demônio. Voltou a olhar para o menino – Desculpe a mamãe... você pode não ter nascido, mas... eu te amo mesmo assim, meu pequeno William.


Ela o chamou pelo nome que escolheu para ele logo que soube da gravidez. Teve a intuição de que seria um menino.


Nisso, o olhar da criança se abrandou e, pela primeira vez, sorriu para sua mãe. Depois, sua expressão mudou para um intenso ódio que dirigiu ao Vingador.


– Não, não pode ser... não...


Deu alguns passos para trás como se temesse o garoto, porém, começou a vomitar litros de sangue enquanto o menino o encarava.


Ele se asfixiou com o próprio sangue até que caiu estatelado no chão. O Vingador foi destruído de uma vez por todas e nem no inferno e nem naquele mundo voltaria a atormentar qualquer pessoa.


Dean e Sam caíram das paredes em cima da poça de sangue. Quanto a Vic, estava estupefata.


Não ligava para suas roupas e parte de seu corpo estarem cobertos por aquele sangue; apenas via o menino. Este se virou mais uma vez para ela com um sorriso lindo e um olhar de ternura. Acenou com a mão como se estivesse se despedindo.


– William, não! – gritou e estendeu sua mão, mas a criança já havia desaparecido.


– Victoria... você está bem? – era a voz de Sam. Estava atrás dela e colocou as mãos sobre seus ombros.


– Não sei... acho que sim.


Virou-se para o Winchester e abraçou-o mais uma vez. Sentia-se protegida naqueles braços e não queria saber naquele momento se estava se entregando demais às suas emoções. Surpreso pelo gesto, Sam a envolveu com ternura e carinho. E ambos ficaram alheios a qualquer outra coisa que não fosse aquele abraço. Nem se importavam com o estado de suas roupas.


Dean observou a cena com desgosto. Aquele sentimento de posse começou a corroê-lo por dentro outra vez.


– Ei, pode me ajudar aqui? – gritou Bernard. Havia caído na poça e sentia certa dor nas costas pelo impacto.


– Claro, padre – foi até ele e ajudou-o a se levantar


– Acho que preciso de um bom banho - observou como suas vestes estavam impregnadas por aquele sangue


– Acho que todos nós.


– 0 -


Haviam levado o sacerdote de volta para a casa onde ele vivia. Antes, colocaram-no a par do tipo de trabalho que faziam e da verdadeira natureza dos fatos ocorridos em Washington. 


Bernard se impressionou, mas prometeu guardar segredo. Quanto ao corpo de padre Frederick e as circunstâncias de sua morte, garantiu que poderia tomar as devidas providências com a polícia.


Os caçadores se impressionaram por ele lidar com a situação sem cair no pânico pelos acontecimentos e também por não se desesperar tanto pela morte do colega, apesar de sua evidente tristeza. E foi questionado pelos caçadores onde aprendeu a lutar caratê. 


– Meu pai era do exército e me ensinou todos os golpes – respondeu. – E também a encarar situações difíceis sem perder o controle. 


- Você vai fazer um bom trabalho na Basílica – declarou Collins –  O pessoal vai  precisar muito.


Vic o levou em seu carro e, depois, voltou com seus companheiros para casa onde todos tomaram um bom banho. Estavam tão cansados que não comentaram mais nada e foram dormir. 


Pela manhã, acordou e começou a arrumar sua bagagem para os Winchesters e ela pegarem estrada. 


Entretanto, a primeira coisa que queria fazer era conversar com os rapazes. Felizmente, eles estavam na cozinha sentados à mesa tomando café: 


–Bom dia!


– Bom dia! – responderam os dois ao mesmo tempo com alegria em vê-la bem. 


– Vocês ainda não arrumaram suas coisas?  


–Depois do almoço – respondeu Dean – Queremos aproveitar nossas últimas horas nesta casa. 


– Er... será que eu podia falar com vocês? 


– Claro – respondeu Sam na expectativa. 


Dean largou o pão que comia somente para ouvir o que Collins tinha pra dizer.


– Bem, eu... - estava meio sem jeito, porém, devia quebrar o resto da barreira existente entre eles – Eu queria agradecer por terem salvo minha vida e também... queria pedir desculpas pra vocês...por todas essas semanas.


– Quê? - Dean colocou uma mão numa das orelhas – Acho que fiquei surdo de repente. Pode repetir?


– Eu disse que queria agradecer vocês e pedir desculpas – Victoria ignorou o sarcasmo do loiro – Me desculpem por ter sido grossa e estúpida. Também me desculpem por ter dito que vocês são os culpados pelo Apocalipse e pelo que aconteceu com Bobby – suspirou – É isso.


– Sam, pegue água benta que vou pegar meu canivete de prata. Essa aí não é a Victoria Collins. – apontou para Vic com falsa expressão de desconfiança – Deve ser um demônio ou um metamorfo.


– Dean, cale a boca. – Sam o fitou com desagrado.


– Não, tudo bem. Eu sei que mereço ouvir esse tipo de coisa – tornou Victoria – E se não fosse por vocês, se não fossem por me darem força pra enfrentar o Vingador, eu nunca teria conseguido escapar. 


– Não tem que nos agradecer, Vic . Você é importante pra... nós – disse Sam num tom intenso 


– É... eu assino em baixo. Sem você... não teria graça essa equipe.– declarou Dean no mesmo tom 


Vic sentiu o coração palpitar com aquelas palavras dos dois, mas manteve sua postura inabalável e continuou: 


– E eu quero que entendam que tudo o que eu disse pra vocês nunca foi pessoal. Eu... nunca quis magoá-los ou irritá-los de propósito. Eu apenas... queria evitar que vocês se aproximassem muito de mim. É que... as pessoas sempre se machucam quando estão perto de mim ou só pelo fato de terem algum laço comigo. O que aconteceu com meus pais, com meu Luke, com meus parentes... e também com o Bobby é uma prova disso. 


– Espere aí! Você se culpa pelo que aconteceu com o Bobby? - indagou Dean 


– Sim. Eu quis jogar a culpa pra cima de vocês, mas... no fundo eu sei que sou culpada pelo meu tio estar naquela cadeira de rodas.


– Certo, então você também é culpada pela morte do pessoal no Atentado de onze de Setembro, você é culpada por cada pessoa que é atropelada e também... 


Sam deu um tapa na nuca de Dean para calá-lo.


– Ei! - reclamou o loiro


– Victoria, você não pode se culpar pelo que acontece com as pessoas à sua volta. - disse Sam - A nossa vida de caçador é um risco pra gente e pra os que nos rodeiam... infelizmente. Dean e eu também perdemos pessoas queridas... como você sabe. 


– E você se culpa menos por isso? 


– Se eu dissesse que sim, estaria mentindo, mas... eu tento me perdoar um pouco que seja. Nós temos que seguir em frente – fez uma pausa e olhou-a profundamente – E você não deve se culpar pelo Bobby... e deve se perdoar pelo que aconteceu com seu filho.


Victoria assentiu com um sorriso mais tranquilo pelas palavras de Sam. Estendeu a mão para ele:


– Amigos?


– Amigos.


Ele se levantou e apertou a mão dela com firmeza, mas seu toque transmitia que o que queria dela era muito mais do que uma amizade. Aquela corrente elétrica que os envolvia ao menor contato era uma prova disso.


Vic soltou sua mão rapidamente da mão de Sam e estendeu-a para Dean.


– Amigos?


– Me deixe ver... - coçou a cabeça e depois estendeu a mão com o dorso virado para cima – Venha aqui e beije a minha mão. Aí eu vou pensar.


– Ah, vai sonhando, Winchester! - deu meia-volta e ia sair da cozinha


Sam riu.


– Espere, espere – Dean se levantou rápido e interceptou o caminho dela – Brincadeirinha! – Sorriu. Victoria olhou para ele como quem diz “Sim, eu sei. O Winchester estendeu a mão – Amigos.


Vic apertou a mão de Dean. Este não resistiu e deu um beijo na mão dela. Sam estreitou os olhos, incomodado pelo gesto do irmão.


– É para selar nossa paz – respondeu o loiro ante a face surpresa da moça


– Certo – ela disse meio sem jeito e soltou a mão dele – Eu vou...deixar minhas coisas prontas de uma vez.


– Não vai comer nada? – indagou Sam


– Isso... me basta por agora – pegou uma maça na fruteira – Então... até daqui a pouco.


E saiu apressada da cozinha. Seu coração palpitava. Ela sabia que seria muito mais difícil sua relação com os Winchesters a partir dali. Não mais pelas brigas, cortadas ou desentendimentos, mas justo pela aproximação com eles e pelo efeito que tinham sobre ela, mais do que podiam imaginar. Em seu íntimo, ela tinha certeza que nunca seria amiga deles no sentido restrito da palavra e que, cedo ou tarde, acabaria nos braços de um dos dois.


Contudo, ela lutaria contra tal possibilidade. Afinal, ela era a Indomável. 



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Autor(a): jord73

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Anteriormente: Collins nada disse. Um calor começou a invadi-la. Imagens do sonho que teve com Sam voltaram à sua mente. Ela ergueu os olhos levemente para o Winchester e encarou-o. Arrependeu-se imediatamente do que fez. Ele a fitava com intensidade. Havia no olhar do moço paixão e... luxúria. Será que havia sonhado a mesma cois ...


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