Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)
Anteriormente:
– Papai! – chamou o pequeno Dean assustado
– Leve seu irmão lá pra fora e não olhe para trás – ordenou John entregando o bebê nas mãos do menino – Corra, Dean!
(...)
– Saia do caminho! – ordenou John e atirou na Shtriga que escapou pela janela. Correu até a cama onde Sam estava deitado – Sammy! Sammy! Você está bem?
– Pai, o que está acontecendo? – perguntou o menino bastante confuso
– Você está bem? – nisso, o homem deu pela presença de Dean e o inquiriu – O que aconteceu?
– Apenas dei uma saída – respondeu sem graça
– O quê?
– Foi... foi apenas por um minuto. Desculpe-me.
–Eu te disse para não sair desse quarto. Eu te disse para não deixar ele fora de vista.
(...)
– Sam! Sam!
Dean gritou desesperado pelo irmão. Viu-o na cama olhando para o teto onde Jessica era consumida pelo fogo. Agarrou Sam e o tirou de lá à força
– Jess! Jess! – berrou Sam enquanto olhava para cima, mas foi puxado pelo irmão – Não!
(...)
– Você estava certo – admitiu Sam
– Sobre o quê?
– Sobre mim e o papai. Sinto muito que desperdicei a última vez que o vi com briga. Desculpe por ter passado a maioria da minha vida com raiva. Até onde eu sei, ele morreu pensando que eu o odeio. Então você estava certo. O que estou passando agora é muito pouco... tarde demais. Sinto falta dele. E me sinto culpado pacas! E eu não estou bem. Não mesmo. Nem você está. Disso eu sei. Vou deixá-lo voltar ao trabalho.
Assim que se viu sozinho no ferro-velho de Bobby, Dean ficou calado por alguns momentos. Deu meia-volta e, de repente, quebrou os vidros do Impala e amassou o porta-malas com o pedaço de ferro que segurava.
(...)
– Sam? – esperou que o irmão se virasse – Eu sinto muito.
– Não, você está certo. Eu atirarei nela.
– Sam, deixa comigo, eu faço.
– Ela me pediu...
– Você não precisa.
– Sim, eu preciso.
(...)
– Não pode escapar de mim, Dean – gritou o seu Eu obscuro com os olhos pretos como os dos demônios – Você vai morrer. E é nisto que você vai se transformar.
(...)
– Onde está Lilith? – perguntou Sam com Ruby ao lado
– Vá se ferrar! – replicou o demônio na cadeira preso pela armadilha de ferro no teto
– Ficaria de olho em mim se fosse você.
– Por quê? Porque você é Sam Winchester, Senhor Grande Herói? – desdenhou – E aqui está você. Se vendendo barato para uma demônio. Que herói!
– Cale a sua boca.
– Diga-me sobre esses meses sem o seu irmão tudo o que você e essa demônio vagabunda estão fazendo no escuro.
(...)
– Eu fiz por puro prazer – confessou Dean
– O quê?
– Eu gostei, Sam – fez uma pausa – Eles me libertaram, e eu torturei almas e gostei.
(...)
Victoria parou no meio do cruzamento do caminho. Olhou para os dois lados: à direita, vinha o Loirão, e à esquerda, o Gigante. Ainda estavam longe, porém, ambos a viram também. Collins olhava ora para um, ora para outro com um crescente terror. Estava abismada! Aquilo era inadmissível! Os dois juntos! Não poderiam aparecer ali! Eles nunca apareciam juntos em seus sonhos. Por que desta vez? Olhou para a muralha à sua frente, pois não tinha mais coragem de encará-los, embora o fizesse de soslaio. Um medo tomou conta da moça, uma sensação por algo que havia ocorrido antes e que não queria que acontecesse de novo.
Quanto aos dois homens, a princípio, não se deram conta da presença um do outro por estarem à distância; apenas olhavam para Victoria sem prestar atenção a mais nada. No entanto, quando chegaram próximos a ela de lados opostos, ambos se perceberam e encararam-se. Os homens estavam espantados pela presença um do outro como se nenhum deles devesse estar ali, como se o outro fosse um intruso e..., estranho, como se já se conhecessem.
Capítulo 4
A mulher sem pecado
Pela estrada, corria o Impala 67 de cor preta. Os irmãos Winchesters viajavam em silêncio no veículo cada qual perdido em seus pensamentos. Faltavam apenas algumas horas para chegarem à casa de Bobby.
Desde o momento em que ficou sozinho por um tempo no quarto de motel até retomar viagem com o irmão, Sam meditava sobre os últimos acontecimentos. Uma das coisas que mais lhe atormentavam era aceitar que fora o escolhido de Lúcifer para ser seu receptáculo.
Droga! Por mais que quisesse, não conseguia ser "alguém normal". Nunca conseguiria se livrar daquele status de aberração. No fim das contas, o caçador Gordon Walker tinha razão em querer eliminá-lo para evitar a derrocada do mundo. Devia tê-lo deixado cumprir seu intento.
Todavia, o que mais lhe incomodava era encarar Dean. Já não era tanto por sentir que ainda havia algo mal resolvido entre eles, apesar de o irmão ter se mostrado disposto a passar por cima do fato de ele ter acreditado em Ruby e provocado toda aquela confusão. Não, o problema era ter visto Dean em seus sonhos, seu mundo com "ela".
Desde criança, Sam sonhava com uma linda mulher que sempre lhe aparecia nos momentos mais difíceis. Via-a desde quando era um bebê e ela, uma menininha um pouco mais velha.
No começo, chegou a acreditar que fosse um ser sobrenatural, mais precisamente uma fada, porém, com o tempo se convenceu de que era produto de sua imaginação, talvez uma forma de fugir da vida tão atribulada que possuía desde quando nasceu. Afinal, nunca viu aquela pessoa na vida fora de seus sonhos. Então como ela podia ser real?
Ainda que julgasse sua Fada como parte de seu inconsciente, ela era um alento para seguir em frente, um alívio para suas angústias.
Por mais que eu pense
Que eu sinta, que eu fale
Sua primeira lembrança com ela foi quando era apenas um bebê. Não sabia explicar como sendo apenas um neném de seis meses, pudesse se lembrar de qualquer coisa, já que diziam que as primeiras recordações de uma pessoa, normalmente, eram a partir dos quatro anos para cima. No entanto, ele se via dentro de um berço sendo envolvido por uma luz forte no alto. Chorava muito e recordava até o motivo: fazia dias que não sentia o calor de sua mãe o acalentando. Claro que não podia sentir: àquela altura ela estava morta por Azazel, o demônio de olhos amarelos.
Ele chorava sem parar e ninguém vinha; até que aparecia uma linda garota. Não distinguia ainda muito bem as feições da menina por ainda se acostumar com o que seus pequeninos olhos viam, mas uma grande sensação de segurança tomou conta de seu ser quando a sentiu por perto.
Tem sempre alguma coisa por dizer
Depois disso, tornou a encontrá-la quando havia completado três anos de idade. Estava magoado com Dean porque este se aborreceu por não poder brincar na casa de um amigo e ter que tomar conta dele. Sam tentava agradar o irmão e insistiu muito em brincarem juntos com um jogo de montar. No entanto, o mais velho o chamou de "pirralho chato" e mandou-o dormir.
Nessa noite, sonhou que estava num campo rodeado de flores e que se encontrava brincando com seu jogo num gramado. Nisso, a menina aparecera novamente. Reconheceu-a de imediato ainda que a houvesse encontrado apenas uma vez e não conseguisse distinguir seu rosto na ocasião. Entretanto, já mais crescido, os traços dela lhe eram mais visíveis: a pele de um tom escuro; os cabelos pretos e encaracolados na altura dos ombros; os olhos verdes e calorosos; o que mais chamava a atenção nela era o seu lindo sorriso. Usava um vestido branco até os joelhos e calçava sandálias cor-de-rosa. Era a menina mais linda que já havia visto! Só podia ser uma fada!
A garota era mais alta do que Sam, mas isso não o incomodava; dava uma sensação de proteção para ele. Brincaram juntos com seu jogo de montar.
Por mais que o mundo dê voltas
Em torno
Depois disso, tornou a encontrá-la após um incidente com a Shtriga, uma bruxa sugadora de energia vital das crianças. Quando era apenas um menino, teve contato com a criatura, embora não se lembrasse direito desse episódio. Apenas se lembrava de que seu pai saiu mais uma vez e Dean ficou tomando conta dele como sempre. Foi dormir e, pouco depois, sentiu uma coisa nojenta e fria sobre si aspirando sua força. Uma coisa feia e encapuzada. O que aconteceu depois foi meio confuso: ouviu tiros e sentiu os braços de seu pai o envolver.
Sam não teve coragem de perguntar nem para seu pai, tampouco para Dean, o que havia acontecido, com medo de ter seus receios confirmados; porém, começou a suspeitar que existiam monstros. Levou quase uma semana para voltar a dormir; fingia só para não aborrecer Dean, mas ficava sempre com os olhos atentos para não ser pego de surpresa e só adormecia quando o dia começava a clarear.
Numa noite, quando não se aguentava de tanto sono, tornou a sonhar com o campo e a Fada. Mesmo num lugar conhecido, ainda assim tinha medo daquela coisa ou de qualquer monstro aparecer naquele lugar e pegá-lo. Contudo, não demorou em avistar a menina. Ele correu até ela e abraçou-a forte. Seu corpo tremia, porém, não tinha vergonha de demonstrar seu medo. Entretanto, logo se sentiu seguro como há muito não acontecia.
Esqueceu-se da Shtriga e voltou a dormir tranquilo sem se preocupar com fantasmas e monstros.
Do sol, vem a lua me
Enlouquecer
Estava com oito anos e meio quando viu sua Fada chorar pela primeira vez. Encontrou-a sentada num banco em que costumava esperá-la. Estranhou que ela pudesse derramar lágrimas; não sabia que seres mágicos também choravam.
Aproximou-se e sentou-se ao lado dela. Olhou bem em seus olhos lacrimejantes e a única coisa que pôde entender era que ela havia perdido pessoas importantes e iria embora para longe. Ele se entristeceu e chorou junto com ela, pois não queria que se distanciasse.
A noite passada
Você veio me ver
Era um adolescente e estava crescendo; tomara que sua Fada visse o quanto. De novo, encontrou-a no banco. E de novo, viu-a chorando. Seu coração se apertava sempre que a via assim. Queria tanto protegê-la. Ah! Era para ter graça: ela quem lhe acudia e ele quem iria protegê-la?
Sentou-se ao seu lado. A garota ainda era maior do que ele e estava mais linda do que nunca. Quis enxugar suas lágrimas, contudo, ela o deteve. Captou algo no olhar dela que o atingiu como uma pontada de dor no coração: estava dizendo adeus. Não! Ela não podia deixa-lo! Não depois de tudo, de todo o apoio que sempre recebeu dela. O que mais lhe entristecia era sentir que aquela despedida tinha alguém por trás, outro garoto que lhe roubava a proteção e o carinho da Fada. Bem, se ela queria assim...
Levantou-se e foi embora sem se virar. Estava magoado e não permitiria que ela o visse o quanto.
A noite passada
Eu sonhei com você
Estava de volta ao campo depois de sete anos e meio; nunca pensou que um dia voltaria ali; deixou de acreditar em fadas. Não existia lugar para fantasia, felicidade, esperança ou amor, pelo menos não para ele: Jess estava morta e a culpa era toda dele. Ela estava morta assim como todos os sonhos e planos de uma vida feliz e confortável que fizeram juntos.
Súbito, sentiu uma presença atrás de si. Sabia de quem se tratava, porém, não queria vê-la. Não desejava encontrá-la depois de tanto tempo, depois de ela o ter deixado por alguém. Besteira! Era tudo produto de sua imaginação. Não existiam fadas e aquela menina não passava de uma imagem criada pelo seu inconsciente para fugir dos seus problemas e inquietações de quando era uma criança e um garoto no início da adolescência.
Por isso, resolveu se virar e encarar aquele "velho mito" do seu passado. Estava preparado para rever aquela fantasia infantil, entretanto, não estava preparado para encarar a mulher linda parada diante dele. A Fada não usava mais aquele vestido branco e sandálias cor-de-rosa, mas roupas adultas: calça jeans, botas pretas de salto alto e uma blusa branca sem alças.
A Fada se assemelhava mais a uma mulher de carne e osso do que um ser encantado: o corpo com as formas bem definidas, os olhos verdes cheios de paixão, a boca pequena e carnuda que era convidativa para um beijo e os cabelos, antes encaracolados, estavam lisos e mais compridos. Naquele momento, sua Fada não inspirava nenhum tipo de pensamento puro e inocente. E tinha que admitir que fosse mais linda do que Jess.
O Winchester se arrependeu rápido de tal pensamento. Sua noiva foi um ser real, alguém que nunca lhe abandonaria; aquela o deixou e não era, não podia ser real. Contudo, não conseguiu resistir à aproximação daquela mulher que o abraçou. Não resistiu àquele conforto e não se importou em derramar suas lágrimas nos ombros dela.
Ó lua de cosmo
No céu estampada
Estava arrasado. Não bastava a perda recente do pai, agora lidava com outra perda: Madison. Outra mulher que amava e perdia. Pior: teve que matá-la para ela escapar da sina de ser um lobisomem. Será que todas as mulheres com que se envolvesse terminariam mortas? Ainda bem que sua Fada, que estava lhe consolando mais uma vez, não era real. Nesse ponto, achava bom que ela não existisse. Assim, não teria o mesmo destino das outras.
Permita que eu possa adormecer
Dean, Dean, Dean! Agora perderia seu irmão mais velho. Ele iria para o inferno por causa dele! Era uma dor insuportável! Como viveria sem Dean? A mulher à sua frente o encarava. Ela sempre seria sua Fada, entretanto, naquele momento não a enxergava como tal, não quando o que mais desejava era provar daqueles lábios e senti-la como uma mulher real. Precisava, mesmo que depois constatasse mais uma vez que ela não passava de um sonho que nunca teria na realidade; tentou demonstrar isso em seu olhar. Achou que ela fosse se recusar, no entanto, mostrou-se receptiva. Ele tomou seus lábios levemente e, mesmo sem aprofundar o beijo, foi o suficiente para sentir algo mágico, uma união espiritual com ela.
Quem sabe, de novo nessa madrugada
Havia destruído o banco de madeira. Estava cansado daqueles sonhos que nada tinham a lhe acrescentar na vida. Dean estava morto! Estava no inferno! E pra quê ele queria sonhar com aquela mulher? Ela nem existia! Estava revoltado por isso. Se ao menos ela fosse real e estivesse ao seu lado...
Vendo o olhar confuso de sua Fada, arrependeu-se na hora de sua fúria; desculpou-se ao olhá-la. Pediu-lhe perdão também porque estava se rebaixando a um nível grotesco de seu ser. Dormia com um demônio, a Ruby, e sugava o sangue dela para ter poderes suficientes e matar Lilith.
A Fada queria lhe dizer alguma coisa, porém, calou-a com um beijo suave que o confortou de toda a dor.
Ela resolva aparecer
Todos esses sonhos se passaram em segundos na mente de Sam. Contudo, o último da noite anterior o estava intrigando: por que Dean esteve presente?
Aquele mundo onírico era algo que só pertencia a ele. Era o seu segredo mais precioso que jamais compartilhava com ninguém, nem mesmo com seu irmão mais velho. Era como se falar da sua Fada fosse quebrar um segredo, algo íntimo. É claro que também havia o fato de seu irmão debochar e chamá-lo de maluco por amar uma fantasia.
Tentava entender o significado do último sonho, a presença do irmão. Como ele invadiu aquele seu mundo? Sam nem pôde falar com a Fada; ela ficou estática olhando para frente, incomodada com alguma coisa.
Quem sabe era um aviso? Era a única explicação. Talvez a moça quisesse lhe mostrar que teria provas duras pela frente ao lado do irmão na batalha do Apocalipse e que deveria ficar sempre ao lado dele. Era isso: um aviso com certeza; algo diferente nos seus sonhos com ela, mas a explicação mais razoável. Dean jamais poderia ter estado naquele seu recanto com a Fada.
Ao pensar dessa maneira, ficou mais aliviado. Uma coisa lá no fundo procurava lhe dizer o contrário daquela linha de raciocínio, todavia, ele a ignorou. Livre daquele incômodo, arriscou até uma olhada para o Winchester mais velho.
Sentindo o olhar de seu irmão mais novo, Dean também o encarou.
– O que foi? – perguntou
– Nada – respondeu Sam – Apenas... estou feliz por a gente voltar às caçadas.
– É... é... eu também – respondeu o outro sem jeito com um meio sorriso e voltou a olhar o trajeto que percorria.
Seus pensamentos eram idênticos aos do irmão; pensava numa mulher. Mas não qualquer mulher: uma que via em seus sonhos. Não parava de pensar nela, além de sua viagem futurista e da tal Victoria Collins.
A noite passada
Você veio me ver
Sua mãe nunca mais voltaria para casa. Nunca mais lhe contaria histórias ou lhe cantaria "Hey Jude" antes de dormir. O calor e o perfume materno não mais o envolveriam.
Dean chorava por saber que tudo mudou em sua vida. A morte era algo que sua mente infantil ainda não compreendia, porém, sentia que era a pior coisa do mundo. Roubava as pessoas umas das outras como roubou sua mãe.
Estava de cabeça baixa abraçado às próprias pernas. Havia chegado naquele campo de flores e pensou que talvez encontrasse Mary ali. Chamou-a e ela não apareceu. Sentou-se e começou a chorar.
Tomou um susto quando alguém passou a mão em sua cabeça! Levantou-se rápido e surpreendeu-se ao ver uma linda garotinha de vestido branco e sandálias cor-de-rosa.
A princípio, ficou com raiva daquela criança intrometida – quase um bebê – que interrompia um momento seu, entretanto, ela deu um sorriso tão franco e puro e estendeu a mão com tanta confiança que enterneceu o coração dele.
Ela devia ser um anjo! Sua mãe costumava lhe falar sobre os seres celestiais que tomavam conta dos humanos. Só que imaginava que esses seres fossem garotinhos de cabelos loiros, olhos azuis, a pele bem clara e gorduchinhos, tal como um anjo de porcelana que havia em seu quarto. A aparência daquela criança não correspondia a tal descrição: além de ser uma menina, era magra, negra, os olhos verdes e os cabelos pretos e encaracolados.
Não importava; algo dentro dele lhe fez acreditar que a garotinha lhe daria todo o amparo de que necessitava. Certamente, sua mãe não podia mais visitá-lo e, portanto, mandava aquele anjo em seu lugar.
Então, o garotinho pegou a mão da menininha, enxugou as lágrimas e sorriu. Sentiu um indizível bem-estar quando ela o abraçou. Em seguida, chamou-a para brincarem no quadrado de areia em que estavam.
A noite passada
Eu sonhei com você
Aborreceu-se porque seu pai não lhe deixou brincar na casa de um amiguinho da escola, aliás, ele nunca podia fazer nada pelo fato de ser mais velho e ter que tomar conta do "pequeno Sammy". Estava cansado daquilo! Queria ser como as outras crianças da sua idade e brincar nem que fosse um pouquinho. Para piorar, havia chamado seu irmão de "pirralho chato" e estava arrependido.
Encontrava-se sentado num balanço. Seu Anjo não tardou em aparecer. Estava maior e um pouco mudada, porém, ele a reconheceu de imediato ainda que a houvesse visto uma vez há pouco mais de dois anos.
Correram um para o outro e abraçaram-se. Quanta falta aquele pequeno ser lhe fez! Dean se esqueceu de seu aborrecimento e foram brincar no balanço.
Ó lua de cosmo
No céu estampada
Ele não passava de um inútil! Não era capaz de obedecer a uma simples ordem do pai e tomar conta de Sammy. O irmão quase foi morto pela Shtriga e se não fosse por John chegar a tempo, era o fim de Sam. E seria por culpa dele.
O pai lhe repreendeu por seu descuido e não tornou mais a falar naquilo, no entanto, passados alguns dias, ainda via a decepção no olhar de seu velho. Aquilo o fazia se sentir um verdadeiro fracasso.
O Anjo veio, entretanto, não se animou a recebê-la com o entusiasmo da outra vez. A menina se sentou ao seu lado num banco e olhou-o. Pareceu compreender a dor do amigo e encostou a cabeça no ombro dele. O loirinho se sentiu mais animado e enlaçou a cintura da pequena.
Permita que eu possa adormecer
Ele quem era consolado pelo Anjo; agora a consolava. Há muito tempo que chegou à conclusão de que não existiam esses seres celestiais, muito menos Deus. Mesmo assim, aquela garota fazia parte dele. Podia ser uma trama de sua mente ou uma fuga; de qualquer forma, lhe fazia bem sonhar com aquela menina.
Ficou consternado ao vê-la chorando pela primeira vez. Porém, antes que tivesse tempo de consolá-la, sentiu que estava aborrecida com ele. Depois de uns instantes de reflexão, compreendeu o olhar de avareza da menina sobre si, o sentimento de querer ser a única. Não segurou o riso: seu Anjo sentia ciúmes dele! Ainda estava no começo da adolescência e cheio de espinhas, mesmo assim já fazia sucesso com as garotas e até beijou muitas.
No entanto, a garota lhe deu as costas por zombar de sua dor; ele se arrependeu na hora. Como era idiota às vezes! Levantou o rostinho dela e com o olhar lhe pediu desculpas. Logo estava envolvido por seus braços e apertava-a querendo lhe passar compreensão daquela dor que ela sentia. A dor da perda de alguém. A mesma que a sua por não ter mãe.
Quem sabe, de novo nessa madrugada
Havia se passado oito anos desde a última vez que a encontrou. Que teria acontecido para nunca mais aparecer? Mesmo que a garota fosse uma viagem da sua cabeça, ainda assim era a única coisa em que acreditava, que lhe dava coragem e confiança na sua vida de caçador, fora seu pai e seu irmão.
Tão logo chegou ao campo, a primeira coisa que viu foi o Anjo caído no chão chorando compulsiva. Correu até ela e levantou-a. Fê-la se aconchegar em seus braços. Em seguida, levantou o rosto para contemplá-la. Tomou um susto! Seu Anjo não era mais uma menina. Era uma mulher! Uma mulher linda e gostosa. Sentiu o desejo invadi-lo, porém, tratou de dispersar o pensamento. Ela era pura demais para ele sequer conceber alguma fantasia carnal. De qualquer jeito, analisava as transformações do rosto e do corpo dela e o modo como estava vestida.
Havia ainda aquela inocência em seu olhar e uma paixão. Uma tristeza profunda por alguém, um homem. O mesmo que a tornou mulher.
Quem seria o infeliz que ousou tocar no seu Anjo? Queria matá-lo! Contudo, vendo a tristeza da moça, adivinhou que o sujeito estava morto.
Ele a apertou nos braços sentindo a maciez e o cheiro natural de sua pele.
Ela resolva aparecer
Outra vez, Dean consolava seu Anjo. E outra vez sabia que ela chorava por causa de outro homem que morreu.
Às vezes se perguntava como podia chegar em tais conclusões. Ela não existia na verdade e, no entanto, sentia que era mais real do que imaginava e de que, como ele, tinha uma vida fora daquele cenário onírico.
A noite passada
Você veio me ver
Dessa vez, o Winchester quem estava arrasado por uma perda: John vendeu a alma para o Demônio de Olhos Amarelos para salvar sua vida. Não tinha certeza ainda, mas seus instintos não negavam a possibilidade. O loiro não se conformava; um homem como seu pai não merecia ter aquele fim. E ele, Dean, não merecia estar ali com a cabeça deitada no colo de seu Anjo vivendo um momento tranquilo enquanto John talvez padecesse horrores por causa dele.
A noite passada
Eu sonhei com você
Os dois choravam juntos. Aquela seria a última vez que se encontrariam. Ele iria para o inferno e, certamente, nunca mais sonharia com seu Anjo. Faltava apenas uma semana para sua dívida ser cobrada em troca da vida de Sam. Queria tanto um primeiro e último beijo daquela mulher. Se ao menos ela... Não precisou nem pedir; ela o beijou suave nos lábios tentando transmitir o amor que sentia. Ele se sentiu revigorado. Não importava se seu Anjo fosse apenas uma doce ilusão: era a mulher que ele escolheria para sua vida. Às vezes ria de si por ter esse sentimento por um ser imaginário. Reconhecia que não passava de um narcisista cuja mente inventava uma mulher que nada mais era do que um desdobramento de si próprio. Uma forma de justificar um amor exagerado por si, como às vezes Sam costumava jogar em sua cara.
Não importava; aquela moça era necessária para ele, mesmo sendo imaginária. Era a única que o compreendia apenas com um olhar e que nunca o magoaria, nem mesmo o julgaria.
A noite passada
Você veio me ver
Era bom demais para ser verdade! Mas o fato é que estava de volta à vida e de volta aos braços de seu Anjo. O maior sofrimento do loiro, além de estar longe de Sam, foi não poder contemplar o lindo rosto daquela mulher durante os quarenta anos que sofreu no inferno, embora evocasse seu rosto na mente para suportar os horrores a que foi submetido. Não queria nem se lembrar, porém, as imagens ainda o perseguiam mesmo naquele seu recôndito particular. As torturas que sofreu e, principalmente, das que impôs em muitas almas para se ver livre das dores. Como pôde ser tão fraco? Ele não queria macular a moça com sua alma imunda e vil. Virou o rosto para não a encarar, contudo, ela voltou o rosto dele com as mãos para fitá-lo. No olhar transbordante dela, não havia nenhuma recriminação por qualquer ato indigno que ele houvesse cometido. Dean se esqueceu de tudo e beijou-a com ternura e saudades.
A noite passada
Eu sonhei com você
Voltou os pensamentos para o momento presente. Estava dirigindo o velho Impala ao lado do irmão mais novo. Naquele momento, a presença de Sam o incomodava e não por suas ações em ter acreditado naquele maldito demônio da Ruby e o traído. Não, isso ele estava começando a trabalhar para esquecer. Era por Sammy ter invadido o seu mundo particular com o Anjo e ter atrapalhado seu encontro com ela; sequer pôde contemplá-la.
Como aquilo aconteceu? Como o irmão podia ter estado lá? Tinha vontade de lhe perguntar se realmente esteve naquele campo de flores, todavia, algo o impedia. Não queria compartilhar esse segredo tão íntimo com Sam. Não o compartilhou nem com seu próprio Eu futuro quando este ordenou que provasse que ele era seu passado. Claro, ela foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça, entretanto, mudou de ideia e falou sobre Rhonda Hurley e o caso da calcinha.
Então se não teve coragem nem de falar sobre a mulher de seus sonhos para ele mesmo, não o faria com o irmão.
Houve uma ocasião em que ao salvarem Bobby de um pesadelo no qual estava preso, Dean acabou vítima da mesma armadilha e, teve que deixar Sam entrar na sua mente para salvá-lo. Temeu que ele pudesse descobrir seus mais íntimos segredos, entretanto, temia mais ainda que o irmão tivesse um vislumbre daqueles seus sonhos com o Anjo. Felizmente, apenas a imagem de Lisa e uma fantasia com ela foi o que apareceu. Constrangeu-o, mas menos mal. Antes ela do que a mulher de seus sonhos.
Dean pensava sim em Lisa, às vezes, por ser o que de mais próximo buscava em uma mulher, numa vida normal. E havia Ben, a quem gostava quase como de um filho. Porém, se seu Anjo fosse real, claro que seria a primeira opção de mulher que queria ter em sua vida.
De repente, uma ideia lhe ocorreu: talvez fosse sua própria mente que houvesse feito aparecer a imagem de Sam nos sonhos. Aquela coisa toda do irmão se tornar recipiente de Lúcifer o deixou muito perturbado e, provavelmente, mesclou-se com seus sonhos com o Anjo. Não era isso que costumavam falar sobre sonhos? Que são confusos e, às vezes misturam fatos cotidianos ou pensamentos muito perturbadores? Pois é. Então era isso. Nunca ocorreu antes, entretanto, sempre havia uma primeira vez.
Imagine se falasse da moça dos seus sonhos para Sam! Na certa, o irmão zombaria dele ou diria que tinha sérios problemas mentais por amar um ser imaginário.
A esse pensamento, não conseguiu segurar o riso.
– O que foi? – perguntou Sam
– Nada – respondeu – É só... uma piada de que me lembrei – olhou para o irmão com mais confiança – Que tal se a gente parar uma última vez na próxima lanchonete? Estou doido por um cheeseburguer com bacon!
Autor(a): jord73
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