Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)
Anteriormente:
— Nossa, tio, mas graças a Deus você está bem! – disse aliviada. Estava sentada no sofá da sala diante dele depois de ouvi-lo por um bom tempo.
— Bem? – perguntou ele com escárnio
— Sim, senhor. Bem. O senhor está vivo.
— Vivo pela metade, você quer dizer.
— Que seja! Mas ainda bem que eu não perdi você também.
(...)
Victoria parou no meio do cruzamento do caminho. Olhou para os dois lados: à direita, vinha o Loirão, e à esquerda, o Gigante. Ainda estavam longe, porém, ambos a viram também. Collins olhava ora para um, ora para outro com um crescente terror. Estava abismada! Aquilo era inadmissível! Os dois juntos! Não poderiam aparecer ali! Eles nunca apareciam juntos em seus sonhos. Por que desta vez? Olhou para a muralha à sua frente, pois não tinha mais coragem de encará-los, embora o fizesse de soslaio. Um medo tomou conta da moça, uma sensação por algo que havia ocorrido antes e que não queria que acontecesse de novo.
Quanto aos dois homens, a princípio, não se deram conta da presença um do outro por estarem à distância; apenas olhavam para Victoria sem prestar atenção a mais nada. No entanto, quando chegaram próximos a ela de lados opostos, ambos se perceberam e encararam-se. Os homens estavam espantados pela presença um do outro como se nenhum deles devesse estar ali, como se o outro fosse um intruso e..., estranho, como se já se conhecessem.
(...)
– Eu não estava por perto quando vocês se conheceram, mas pelo que soube, vocês sentiram uma conexão desde o primeiro momento em que se viram. É o que nos "romances baratos" chamam de amor à primeira vista. – o Winchester se mexeu no banco um tanto desconfortável – É claro que vocês dois tentaram negar tal sentimento – Cass deu uma risadinha – Cara, vocês no começo discutiam por qualquer coisinha feito cão e gato. Mas era palpável pra qualquer um que os visse juntos a ligação forte entre vocês. Eram muito parecidos. Tinham os mesmos gostos pra várias coisas, o gênio dela era igual ao seu em muitos aspectos.
– Espera aí! – interrompeu Dean - Como a gente se conhece?
– Não vem ao caso – desconversou – Basta saber que as circunstâncias do Apocalipse acabaram unindo vocês pra trabalharem juntos.
Capítulo 5
Quem é essa garota?
Bobby estava na sala de sua casa e olhava pela janela. Victoria havia saído para fazer algumas compras a pedido dele, pois calculava que Dean e Sam deveriam chegar no máximo à noite.
O velho caçador meditava sobre a ideia que teve de reunir sua sobrinha e os Winchesters naquela batalha contra o fim do mundo. Dean havia telefonado na tarde do dia anterior.
– 0 –
– Bobby? – chamou o loiro
– Diga – respondeu
– Como estão as coisas?
– O de sempre. Continuo na minha cadeira de rodas.
– Er... certo... Estou só te ligando pra informar que... Sam e eu... a gente resolveu voltar a caçar juntos.
– É mesmo? Folgo em saber. Até que enfim uma boa notícia! – exclamou com satisfação – E como vocês dois... estão?
– A gente tá levando.
– Entendo.
– É isso, vou desligar. Se você souber de alguma novidade que tenha a ver com o Apocalipse, pode nos ligar. A gente também vai ficar atento e ir atrás de qualquer coisa que nos leve ao diabo.
– Pode deixar, garoto, que eu... – súbito, Bobby se calou.
– Bobby... Alô, Bobby – Dean chamou preocupado do outro lado da linha – Bobby, tá me ouvindo?
– Ah, er... sim. Dean, acabo de me lembrar de uma coisa muito importante!
– O que é?
– É meio complicado de explicar por telefone. Antes de vocês começarem a caçar, podem dar um pulinho aqui?
– Ahn, OK. Mas um pulinho vai ser meio difícil porque a gente está em Illinois. – zombou – A gente ia por uma cidadezinha aqui perto investigar uma pista da Colt, só que acho que não vai dar em nada. Então a gente vai aí sim. Mas acho que só chegamos de noite.
– Não se preocupe. Não vou a lugar nenhum. Espero sentado.
– Certo – riu – Então... até logo.
– Até.
– 0 –
O pensamento lhe havia ocorrido de repente; mataria dois coelhos numa só cajadada.
Bobby se preocupava muito com Victoria. A moça era como uma filha para ele, o único consolo que lhe restou depois da morte de sua meia-irmã.
Samantha Anderson era fruto do segundo casamento da mãe de Bobby. Ele tinha doze anos quando a mãe contraiu novas núpcias.
No começo, Singer não gostou nem um pouco da ideia. Sua experiência com um pai alcoólatra e violento não lhe deixou uma boa impressão sobre a figura paterna.
Todavia, Jefrey Anderson, seu padrasto, mostrou-se um homem completamente diferente de seu pai: detestava bebida alcoólica, era avesso à infidelidade e todos os domingos frequentava o culto dominical numa igreja evangélica. Também era bastante trabalhador e competente no que fazia: era dono de uma oficina de carros onde trabalhavam diversos mecânicos, além de administrar um ferro-velho
Foi com ele que Bobby havia aprendido tudo sobre automóveis e também sobre o negócio com ferro-velho.
Jefrey, a princípio, insistia para que o enteado se dedicasse aos estudos e progredisse numa carreira mais promissora, porém, o adolescente não tinha a menor paciência para ficar atrás de uma carteira ouvindo explanações teóricas ou fazendo contas embora fosse bastante inteligente. Encontrou seu caminho e nele trilharia.
Anderson entendeu e apoiou o jovem. Podia ser um homem exigente consigo mesmo na conduta, entretanto, jamais agia com severidade para com o enteado ou mesmo com qualquer um de seus empregados.
Singer, por sua vez, respeitava e admirava muito seu padrasto não só por tratá-lo bem como à esposa. A mãe de Bobby sempre foi uma mulher dependente e sem iniciativa e tal comportamento piorou depois do casamento com o pai dele. Por esse motivo, também tinha uma total dependência financeira e sentimental pelo segundo marido. Este a tratava com muito amor e carinho, às vezes de uma forma exagerada, mais parecendo um pai do que um marido.
Três anos depois desse enlace, nascia a meia-irmã de Bobby, Samantha Anderson, uma criança linda: tinha os cabelos da mãe e os olhos como os do pai.
Ah! Samantha! Samantha!
Como sentia sua falta! Foi ele que, na verdade, criou a irmã.
Jefrey morreu cinco anos depois do nascimento da menina, vítima de um atropelamento causado por um motorista bêbado e irresponsável. A mãe de Bobby ficou arrasada com a tragédia e passou a sofrer de depressão. Não mais se interessava pelos afazeres domésticos e nem em cuidar de sua filha ainda pequena. Era Bobby quem tomava conta da criança, quem lhe alimentava. Muitas vezes, levava-a para o ferro-velho que herdou do padrasto e deixava-a num canto com seus brinquedos; ele teve que se desfazer da oficina porque não tinha tempo, nem condições de administrar dois negócios, já que sendo ainda muito jovem tinha que tomar conta de sua mãe e irmã.
Mesmo depois que entrou para a escola, Samantha sempre corria para o ferro-velho e lá ficava com o irmão. Aos dez anos, enfrentou sua primeira prova de fogo ao lidar com o suicídio da mãe; foi no irmão mais velho que buscou amparo.
Felizmente, ao contrário da mãe, Samantha havia adquirido um caráter forte e independente. Em vez de se entregar à própria dor e lamentar-se, passou a ser quem consolava o irmão da perda que compartilhavam e sempre o incentivava com seus projetos. Ela, inclusive, o apoiou em se casar com uma linda e simpática moça chamada Karen. Passou a viver com o casal até se tornar maior de idade.
A esposa de Singer foi como uma verdadeira mãe para Samantha: com ela, aprendeu sobre as transformações de seu corpo quando chegou à adolescência e ficou menstruada e também tudo sobre sexo e o universo masculino. Eram assuntos que a garota não podia tratar com o irmão, por mais companheiros que fossem. Além disso, Karen era quem acalmava o marido quando este tinha que lidar com os pretendentes da irmã. Samantha era cortejada por muitos rapazes da região em que morava e Bobby espantava a todos com seu caráter genioso e feroz: sua "pequena" era preciosa demais para qualquer um chegar e achar que podia namorá-la.
Depois de algum tempo, Samantha embora fosse muito apegada ao irmão mais velho, não admitia mais suas interferências. Assim, logo que completou seus dezoito anos, contra a vontade de Bobby, teimou em se casar com um sujeito chamado Jack Collins, um homem bem mais velho do que ela, pouco mais do que Singer.
Parecia um homem decente e trabalhador que lidava com o ramo imobiliário, porém, havia qualquer coisa nele que fazia Bobby ficar com a pulga atrás da orelha. Mesmo assim, acabou concordando com a união. Sabia que se impedisse, Samantha era capaz de fugir com o indivíduo. É claro que também sua mulher o convenceu.
Somente anos mais tarde, depois que enviuvou e se tornou caçador, Bobby descobriu que Jack Collins também era do ramo de caçadas e que, inclusive, Samantha já o sabia. A princípio, não gostou nem um pouco disso. Não queria esse tipo de vida para a irmã, porém, o cunhado deixou aquele estilo de vida desde que se havia se casado. Por outro lado, Singer desfez sua primeira impressão de Jack e passou a gostar dele, um indivíduo de caráter firme e bastante amoroso com a esposa e o primeiro filho do casal.
Muitas coisas aconteceram depois: a vinda da pequena Victoria para a família, a mudança dos Collins... e, finalmente, a morte de sua querida Samantha. De todas as perdas que sofreu, aquela foi a mais dolorosa, era como perder uma filha.
Bobby suspirou. Eram raras as vezes em que se entregava a esses momentos nostálgicos que só lhe serviam para abrir velhas feridas da alma.
Ainda bem que lhe restava Victoria. Se havia um Deus com um mínimo de piedade, Ele o teve pelo bode velho. Ainda que seu contato com Vic houvesse se aprofundado mais no final da adolescência dela, tinham uma relação muito forte e cúmplice que se estabeleceu durante o tempo em que Collins morou com ele.
Victoria era muito parecida no caráter com Samantha, embora também se assemelhasse em outros aspectos com Jack. Era forte, independente, responsável, corajosa e muito inteligente. E também, generosa, justa, doce, terna e amorosa. Porém, estas últimas qualidades poucos tinham oportunidade de conhecer, e, felizmente, ele era uma dessas pessoas.
Ah! Pobre garota! Gostaria que ela não tivesse passado pelas coisas que passou, aliás, ninguém merecia algo assim. Ele mesmo se tornou caçador para salvar as pessoas de dores como aquelas, como a sua própria pela qual ainda se culpava: ter matado Karen por desconhecer o fenômeno da possessão.
A vida era tão injusta! Pessoas como sua sobrinha mereciam ser amadas, felizes e viverem na ignorância da existência de todos os males e monstros.
Assim como sempre foi muito protetor com a mãe dela, também o era com a moça. Por isso, não passava um só dia em que não telefonasse para ela querendo saber notícias e, muitas vezes, insistindo para que voltasse a morar com ele.
Não duvidava da força e capacidade de Collins. Não era à toa que tinha a alcunha de Indomável. Muitos comparavam sua eficiência com a do pai, afirmando ser tão boa quanto ele. Outros até admitiam que ela superasse a lenda Jack Collins. Seja como for, por mais que Singer soubesse da competência da sobrinha, no final das contas, era como um pai para ela. E como todo pai, quando se trata da filha-mulher, é todo cuidado e proteção. Ninguém poderia culpá-lo depois de tantas perdas.
O Apocalipse estava à solta e o mundo se tornaria mais perigoso a partir dali. Por isso, aumentavam suas preocupações com Victoria. Na verdade, haviam aumentado desde o ano anterior, com a quebra dos selos por Lilith. Especialmente com o selo das testemunhas em que vários caçadores foram mortos por pessoas que não conseguiram salvar em suas caçadas. Ele ligou com o coração na boca para saber se ela estava bem. Por sorte, Victoria escapou porque não tinha nenhuma vítima de alguma caçada, a quem não houvesse conseguido salvar.
Mesmo assim, ele cogitou na possibilidade de chamá-la para trabalhar com ele, ficar um bom tempo em sua casa enquanto toda aquela confusão dos selos não passasse. Infelizmente, não passou e resultou no que agora começavam a presenciar: a ascensão de Lúcifer. Por isso, decidiu reuni-la com os irmãos Winchesters.
Ficou contente em saber que os dois trabalhariam juntos de novo. Contudo, sabia que ainda havia um muro na relação entre eles que precisava ser derrubado. Conhecia o caráter do mais velho: não que fosse do tipo que não perdoasse, entretanto, demorava a esquecer. E, nesse meio tempo, poderia trocar algumas farpas mal resolvidas com o irmão. Uma terceira pessoa seria essencial para equilibrar as coisas entre aqueles idiotas. Ele próprio se prontificaria se não estivesse naquele estado deprimente.
Victoria era a pessoa certa para colocar aqueles dois na linha e, ao mesmo tempo, estaria protegida ao lado deles, melhor do que ficar sozinha com se sabe lá o quê. Talvez a sorte não a protegesse mais.
É claro que ele tinha ressalvas em deixá-la com aqueles dois, principalmente, Dean. O Winchester ficaria de queixo caído ao vê-la e não seria capaz de perder uma oportunidade de ter uma linda e desejável caçadora em sua cama.
Por outro lado, conhecendo a sobrinha, ela colocaria o Winchester em seu devido lugar. A esse pensamento, Bobby riu.
De qualquer forma, quando os dois chegassem e conversassem, deixaria bem claro para ambos que Victoria não estava à disposição de nenhum. Apesar de não ter um comportamento como Dean, não colocaria Sam de fora dessa recomendação; afinal, o mais novo não deixava de ser homem e não seria indiferente aos encantos de Collins.
Isso se eles topassem mais uma pessoa na equipe. Bem, convencê-los não seria problema; ele sabia como dobrá-los. O mais difícil fora convencer Victoria e ele se felicitava pela proeza.
Da janela, avistou a sobrinha chegando com as compras. Então retornou às suas pesquisas sobre eventos relacionados ao Apocalipse.
– 0 –
Victoria foi se banhar no pequeno banheiro do quarto de hóspedes em que dormia. Estava com os olhos fechados e procurava sentir a água escorrendo por seu cabelo e corpo. Não queria pensar em mais nada, somente naquele ritual diário em que desfrutava o prazer de se lavar. Porém, os pensamentos que tentava abandonar teimavam em se fixar em sua mente.
Estava assim desde o sonho que tivera com o Loirão e o Gigante. Por que apareceram juntos? Não encontrava resposta para a sua dúvida. Besteira! Provavelmente estava fazendo uma tempestade num copo d`água. Ora, desde quando sonhos têm alguma explicação? É verdade que nunca ocorreu antes, entretanto, por que haveria algum motivo para seus amigos imaginários não aparecerem juntos em algum deles?
Repetia esse mesmo argumento umas quinhentas vezes para si, contudo, ainda não estava convencida; para piorar, aqueles Winchesters estavam vindo. Não estava nem um pouco ansiosa em conhecê-los, pelo contrário, preferia nunca ter que cruzar o caminho deles. Tremia de pensar em vê-los, era um medo sem explicação.
Novamente, estava sendo uma boba. Que mal havia em dois meros caçadores? Bem, não poderia dizer que eram meros caçadores: escutou histórias sobre eles, algumas inventadas e outras verossímeis. Uma ou outra tão fantasiosa que se não fosse seu tio confirmar, jamais acreditaria. Por exemplo, o fato de o mais velho ter morrido e voltado dos mortos; pior, do próprio inferno após quatro meses. Se bem que no mundo anormal e cheio de monstros em que vivia, semelhantes coisas não deveriam lhe impressionar.
O fato é que Victoria não queria ter que trabalhar ao lado de ninguém. Além de Bobby, não havia nenhum outro caçador ou caçadora que lhe inspirasse confiança. Certo, não era uma questão de confiança; era mais uma questão de envolvimento fosse por amizade ou algo mais. E ela não queria ter que se importar com mais ninguém; não queria ter que lidar com mais perdas.
Ainda se perguntava como deixou Bobby convencê-la do contrário, ela que tinha um caráter obstinado. Lembrou-se da conversa na noite do dia anterior:
– Vic, estive pensando numa coisa e gostaria que você me ouvisse – Bobby começou a falar com certa cautela.
Estava na cozinha com a sobrinha preparando uma salada enquanto ela fazia um strogonoff de frango para o jantar.
– Ih, lá vem bomba – respondeu a moça levantando os olhos para o alto.
– O que foi? O que eu disse de errado?
– Quando você começa falar com esse jeitinho de menino que aprontou alguma que sabe que eu não vou gostar, pode saber que é mesmo algo que eu não vou gostar.
– Poxa, que mau juízo você faz de seu tio, hein!
– Humpf. Quem não te conhece que te compre – sorriu – Mas tudo bem, tio, pode falar que estou ouvindo.
– Er... você nunca pensou na possibilidade de caçar com mais alguém?
Victoria largou os ingredientes na mesa e colocou os braços na cintura. Voltou-se com desagrado para Singer:
– Muito bem, com quem você andou combinando coisas nas minhas costas?
– Com ninguém! Eu só estou perguntando.
– Tio...
– Não se pode nem fazer uma simples pergunta?
– Tio... – elevou o tom de voz
– Nossa, Victoria! Você também cisma com tudo.
– Tio! – gritou
– Tá bom, tá bom. Me processe se quiser, mas… tomei a liberdade de pedir para... uns caçadores virem aqui amanhã. Pensei em perguntar a eles se não poderiam aceitar alguém na equipe.
– Ótimo! E pensou em mim como uma possível candidata. Só que se esqueceu de me perguntar se eu estaria disponível. O senhor sabe muito bem a resposta: não. Não quero trabalhar com ninguém. Pode inventar alguma outra desculpa pra justificar aos seus amigos por que os chamou aqui.
– Você nem me escutou direito e já está com essa atitude teimosa e precipitada! Não sabe os motivos que me levaram a ter essa ideia e nem quem são os caçadores.
– Olha, tio, quanto aos seus motivos, eu sei muito bem. O senhor se esquece de que sou uma caçadora com bastante experiência e ainda me trata como se eu fosse uma garota incapaz de se defender. Não quer mais que eu more aqui com você porque cismou que vai ser um peso na minha vida, mas quer dar outro jeito de "me proteger" – balançou os dedos indicadores para enfatizar as últimas palavras – Que coisa!
– Olha como fala, mocinha! – elevou o tom de voz – E não é bem assim como você tá dizendo.
– Ah, tá bom! Como seu eu não soubesse.
– Tem visto o noticiário dos últimos dias? Lido os jornais?
– Tenho. E daí?
– Notou alguma coisa?
Depois de pensar por alguns segundos, Collins respondeu:
– Agora que você falou, tenho notado uma sucessão de catástrofes naturais e eventos muito estranhos. Mais do que nós estamos acostumados a lidar.
– Pois é. Adivinhe o que é.
– Um tipo de deus do tempo? Algum demônio muito poderoso?
– Passou longe. Última tentativa.
– Ah, sei lá. Pra mim parece coisa de fim do mundo – fez piada, mas como Bobby permanecesse calado, Victoria o olhou espantada – Está brincando, não é? É o Apocalipse?
– Por que se espanta? Lembra dos selos da Lilith?
– Mas eu achei que tudo estava sobre o controle... Você não me falou mais nada depois. Falou que os seus queridos Winchesters tinham resolvido tudo – Bobby permaneceu calado. Victoria o fitou intrigada – O quão grave é a situação? Você disse que... Lúcifer poderia até vir – ela arregalou os olhos diante do silêncio de Bobby – Ele... está à solta?
– Sim, mas...
- Meu Deus! – ela colocou a mão no coração e até precisou se sentar – O Diabo! Minha nossa! É muito até mesmo pra mim.
- Calma, por enquanto não há nada a temer.
- Como não há nada a temer? E como você pode estar tão calmo assim? Tio, é o Diabo!
– Eu sei. Também fiquei atônito, mas as coisas podem ser arrumadas. Dean e Sam sabem mais da situação e vão te explicar melhor quando chegarem.
– Como? – ela pensou ter escutado mal – São os Winchesters que estão vindo pra cá?
– É. Ok? Sei que você não gosta deles... e até hoje não entendo. Mas peço que espere e os ouça. Quero explicar o que está acontecendo somente na presença deles.
Victoria perdeu a fala, no entanto, não demonstrou a Bobby. Não queria deixá-lo perceber como se sentia inquieta sempre que ouvia qualquer coisa referente aqueles rapazes. Ficou alguns minutos em silêncio tentando processar a vinda deles, bem como aquela revelação do Diabo à solta. A menção dos selos no ano anterior haviam lhe perturbado com essa possibilidade, mas ficou tranquila quando Bobby disse que estavam se resolvendo. Pelo visto, ele havia lhe escondido talvez para não assustá-la. Por fim, disse mais refeita:
– Você não pode me adiantar nada do que eles estão para contar?
– Preciso saber se você vai aceitar trabalhar com eles e também tenho que perguntar a eles se te aceitam.
– E por que não me aceitariam? Eu sou Victoria Collins, filha de uma verdadeira lenda e a melhor caçadora de que já ouviram falar.
– E a mais modesta também – Bobby deu uma risadinha – Então você está considerando a possibilidade?
– Não! De jeito nenhum! Tanto faz que sejam "os seus garotos". Não vou trabalhar com eles, especialmente com eles!
– Victoria...
– Tio, eu sei que você gosta muito deles, sei que são grandes caçadores e isso eu ouço de muitos outros, mas... eles são encrenca. – desabafou sua opinião – Basta olhar o que aconteceu com você por causa deles.
– Que isso? Está insinuando que é culpa deles eu estar nesta cadeira de rodas?
– E não é?
– Claro que não! Fui eu que me esfaqueei pra um demônio sair do meu corpo.
– Um demônio que queria matar esse tal de Dean e que usou o senhor pra isso. E esse Sam nem estava por perto para evitar.
– Victoria Collins! Estou pasmo com a senhorita! Você sempre procurou ser justa e imparcial nas situações com que se depara quaisquer que sejam. Pode ser teimosa, mas nunca injusta. Então, como pode pensar uma coisa dessas daqueles garotos? E falar algo contra eles que nem estão aqui pra se defender? Eles são uns idiotas, mas ainda assim são bons garotos.
– Tá, tio, tá. Retiro o que eu disse – não queria discutir – Mas, voltando ao início da conversa, não estou com o menor interesse em trabalhar com os Winchesters ou qualquer outro caçador.
– É sua última palavra?
– É.
– Então nesse caso, vai ter que ser eu mesmo – disse com ar de derrota.
– O que você quer dizer com isso?
– Eu preciso lutar com esses dois pra vencer o Apocalipse. Eles precisam da minha ajuda.
– Olha, tio, ignorando a parte de o porquê dos Winchesters serem tão importantes nessa questão do Apocalipse, que história é essa de lutar ao lado deles? O senhor perdeu o juízo!
– Por quê? Sou um caçador.
– Ah, isso eu já sei. Só que não tem a menor condição de você lutar nesse estado!
– Está querendo insinuar que sou um imprestável?
– Não coloque palavras na minha boca que eu não disse.
– Pois quer saber? Agora é que estou decidido a eu mesmo lutar com os meus garotos.
– Há, tá! Só passando por cima do meu cadáver que eu vou deixar você lutar ao lado daqueles dois malucos! Você tá caducando, tio?
– Olha, menina, você pode ser Victoria Collins, a Indomável, maior e vacinada, mas ainda me deve respeito.
– Então aja como um adulto! Tio, você não é nenhum imprestável, já disse. Só que querendo ou não, tem coisas que não pode mais fazer – seu tom mudou para súplica - Por favor, estou te implorando! Tire essa ideia da cabeça.
– Os meninos precisam de mais uma pessoa com eles, mesmo que não queiram admitir. E já que você não quer, então serei eu.
– Arre! Está bem, tio! Eu aceito! Não sei no que vai adiantar eu me unir com esses caras contra o fim do mundo, mas eu aceito se você diz que é tão importante. Mas, ó, nem pense em sair desta casa para qualquer tipo de caçada! Nem mesmo se for pra espantar algum fantasma do porão do vizinho.
– Bem, se você realmente está disposta a fazer esse favor no meu lugar, então... acho que posso ficar mais sossegado quanto aqueles dois.
– Uf! Aleluia! – ergueu os dois braços para o alto – Então encerramos a questão. Amanhã eles chegam aqui, eu converso com eles... e se me aceitarem, luto ao lado deles.
– OK.
– Mas , olha, senhor Bobby, é só até impedirmos esse negócio do fim do mundo. Não invente mais nada depois disso!
– Acho justo.
Vic estava aborrecida, no entanto, não queria saber de mais discussão e voltou a preparar seu strogonoff. Singer também voltou ao preparo da salada, todavia, esboçou um discreto sorriso de vitória.
Aquela raposa velha!
Foi só depois que Victoria percebeu que caiu na lábia do tio. Nunca pensou que ele se utilizaria de chantagem emocional para convencê-la. Ele sabia exatamente o seu ponto fraco e usou-o ao seu favor. Que malandro!
No entanto, era tarde demais para voltar atrás: era uma mulher que costumava cumprir com suas palavras. E se tinha uma coisa que detestava era desapontar Bobby.
- 0 -
Eram oito horas da noite quando os Winchesters bateram na porta da casa de Bobby. Passou-se um bom tempo até que ele fosse atender.
– Já não era sem tempo – disse e deu passagem para os irmãos
– E aí, Bobby, como você está? – perguntou Sam entrando junto com Dean
– Do jeito que você vê – replicou Singer com certa amargura – Fizeram boa viagem?
– Ahn, alguns solavancos aqui, umas espremidas aqui, sem tempo pra pegar uma mulher, mas... foi legal – respondeu Dean
– Então vamos direto ao assunto que me fez chamá-los até aqui. Sentem-se – Bobby indicou o sofá – Estou contente que vocês tenham decidido voltar a caçarem juntos, mas... eu conheço vocês dois muito bem. Sei que em algum momento vão jogar um na cara do outro coisas mal resolvidas e não vai dar coisa boa.
– Olha, Bobby... – o mais velho tentou protestar
– Shhh! Não terminei, Dean! Pareço que terminei? – interrompeu o homem, esperando que o Winchester se calasse – E de qualquer jeito, esse negócio do Apocalipse é algo grande com que estamos lidando. Não bastam só vocês dois pra combater tudo o que vamos enfrentar daqui em diante. Toda ajuda é bem-vinda.
– O que você está querendo dizer?
– Acho que ele pretende caçar junto com a gente – concluiu Sam
– Errado. No estado em que estou não sou de muita ajuda pra vocês no momento. Mas... pensei numa outra pessoa.
– Peraí, Bobby! Você está querendo que a gente trabalhe com mais alguém? Uma terceira pessoa? Sem chance! – protestou Dean – Somos lobos solitários e não quero nenhum estranho se metendo nos nossos assuntos.
– É, Bobby. Nisso, eu concordo com Dean. Ia ser... meio complicado ter mais uma pessoa com a gente.
– Vocês dois realmente são uns verdadeiros idiotas – falou num tom jocoso – Eu nem falei de quem se trata e vocês já estão se recusando.
– E quem seria? O Rufus, a Jo, a Ellen? – continuou Dean – Já trabalhamos com eles em algum caso, mas é diferente. Não dá pra ficar o tempo todo com eles na nossa cola.
Bobby suspirou tentando manter a paciência.
– Posso falar quem é ou tá difícil?
– Claro, Bobby, diga – tornou Sam com mais solicitude – Acho que dependendo da pessoa, podemos considerar.
– Tenho uma ideia melhor. Vou chamá-la até aqui.
– Quê? Quer dizer que você já tratou com a pessoa antes de nos consultar? – Dean ficou boquiaberto – Claro, era de se esperar! Você não queria falar por telefone porque já estava de caso pensado e não queria uma recusa logo de cara. Por isso, nos fez viajar quilômetros até aqui. – bateu palmas com ar irônico – Grande, Bobby!
– Dean, chega – cortou Sam – Tudo bem, Bobby. Pode chamar a pessoa. Nós esperamos.
– Não vão esperar muito. Ela já está aqui em casa – antes que um dos dois replicasse, chamou – Vic! Vic! Está pronta?
Logo uma voz feminina respondeu em voz alta de um dos aposentos da casa:
– Só um momento, tio! Já estou indo!
Sam ficou intrigado e perguntou a Bobby:
– Tio? Como assim?
– É a minha sobrinha Vic. É uma caçadora, uma grande caçadora.
– Eu não sabia que você tinha uma sobrinha.
– Há muitas coisas que vocês não sabem de mim.
Dean estava em estado de alerta desde o instante em Singer gritou o apelido da moça. Algo dentro dele começou a tremer. Seria possível?
– Espera aí. Você tem uma sobrinha que é caçadora? – indagou com cautela
– É o que eu acabei de dizer – respondeu Singer
– E você... você a chamou de Vic?
– Dean, está tendo problemas de raciocínio?
– Me responda, Bobby!
– É!
– E Vic...é apelido de Victoria... não é? – temia a próxima resposta
– Sim. Minha sobrinha se chama Victoria. – o homem estava intrigado com as perguntas – É a Victoria Collins. Acho que vocês devem ter ouvido falar.
O Winchester caiu de costas no recosto do sofá em que estava sentado e colocou a mão na testa enquanto fechava os olhos.
– Dean! Dean! O que você tem? – perguntou Sam assustado
Antes que o caçador pudesse dar qualquer resposta, ouviram uma voz de mulher se anunciar na sala:
– Sim, tio?
- 0 –
Victoria havia terminado de tomar banho, enxugava-se e estava se vestindo quando a campainha tocou. Parou de se vestir. Sentiu uma apreensão no peito; eram os Winchesters. Não sabia como, mas estava segura.
Deus, o que faria? Seu coração acelerou. Por que estava sentindo aquilo? Não entendia suas reações sempre que ouvia falar de Dean ou Sam Winchester. Se ao menos o Gigante e o Loirão fossem reais e estivessem ali para lhe dar segurança!
Victoria passava a imagem de uma mulher segura, destemida e independente para os outros, entretanto, era a própria insegurança quando se deparava com uma situação nova. E aquela era uma situação muito além do que estava acostumada a lidar. Finalmente, conheceria os Winchesters. Começou até a suar.
Respirou fundo e tratou de se acalmar. Voltou a se vestir: colocou uma calça marrom, cinto marrom, uma blusa de alcinhas bege quadriculada e meias e tênis pretos. Terminou de secar seu cabelo com a toalha e penteou-os rápido com um pente. Era vaidosa, entretanto, não pretendia se produzir toda só para conhecer os homens.
Borrifou um pouco de sua colônia e ouviu a voz de Bobby:
– Vic! Vic! Está pronta?
– Só um momento, tio! Já estou indo!
Deu uma última olhada no espelho e respirou fundo mais uma vez. Saiu. A inquietação dentro dela não diminuiu. Caminhava pelo corredor.
Ela chegou à porta do corredor que se comunicava com a sala onde estavam seu tio e os "famosos" irmãos Winchester. Não tinha coragem de adentrar o recinto; respirou fundo uma última vez. Bobby estava na porta de costas para a moça; Victoria se dirigiu primeiro a ele.
– Sim, tio? – perguntou
– Ah, Vic! – ele virou parcialmente a cabeça para ela e movimentou a cadeira de rodas para o lado a fim de dar passagem – Quero que conheça Dean e Sam. Meninos, esta é minha sobrinha Victoria Collins.
Mal havia acabado de falar quando Victoria entrou na sala; por fim, olhou para os Winchesters. Congelou: ali estavam os dois homens com quem havia sonhado durante toda a vida. Os irmãos a encaravam tão perplexos quanto ela.
Autor(a): jord73
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Anteriormente: – Nunca mais em tempo algum se atreva a falar qualquer coisa contra a Victoria. – falava baixo, mas continha uma fúria reprimida. Seu corpo até tremia. – Vá em frente – desafiou Dean – Assim vai nos poupar de dores futuras. O Dean futuro o soltou e guardou a arma. Ainda estava sob forte emoçã ...
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