Fanfics Brasil - A lenda do cavaleiro sem cabeça (1ª parte) Almas Trigêmeas

Fanfic: Almas Trigêmeas | Tema: Supernatural (Irmãos Winchester)


Capítulo: A lenda do cavaleiro sem cabeça (1ª parte)

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Olá, pessoal! Esta primeira aventura dos três será inédita. Não tem na Quinta Temporada. Embora eu vá aproveitar os episódios da série, não serão todos, apenas os centrais pra trama do Apocalipse. Enfim, divirtam-se!

 



********



Anteriormente:


– Ah... Er... Desculpem... Meu nome é Victoria Collins. Prazer – aproximou-se deles e estendeu a mão sem direcioná-la a um dos dois em especial.


– O prazer... é meu – respondeu Sam – Me chamo... Sam Winchester.


Não queria largar a mão de Vic, porém, o fez com relutância ao sentir que ela forçava a soltura. A moça sorriu sem graça e desviou os olhos do olhar abrasador do mais novo dos irmãos. Dirigiu sua atenção para o mais velho que ainda se encontrava em estado de choque.


– Então... você deve ser o Dean.


– Você fala – respondeu aéreo.


– Ahn? Como?


– Ah... quer dizer... desculpa, não entendi sua pergunta


– Não foi bem uma pergunta, eu disse que você deve ser o Dean... já que ele é o Sam.


– Isso. Então você que é... a Victoria Collins.


(...)


– Olha, como o próprio nome do filme diz, a vila que tinha o cavaleiro sem cabeça se chamava Sleepy Hollow. Isso pode ser apenas coisa de algum serial killer que curte arrancar umas cabeças.


– Na verdade, Dean, é a mesma vila do conto. Desde 97, Sleepy Hollow passou a se chamar North Tarrytown – esclareceu Sam – Mas concordo com Dean. Essa história do cavaleiro é apenas uma lenda inspirada num mito de tradição germânica e algum maluco pode ter se inspirado pra fazer sua marca. E o fato de ter uma família no mesmo local que se chama Van Tassel talvez seja mera coincidência.


– Brilhantes deduções, meus caros Watsons, mas tem um pequeno detalhe que é mencionado na notícia: o sangue dos corpos decapitados foi completamente drenado sem restar uma única gota nem mesmo no corte dos corpos. Acho que é alguma coisa a se considerar. Eu voto para que comecemos por aí.


Capítulo 7


A lenda do cavaleiro sem cabeça (1ª parte)


Uma semana antes


North Tarrytown, Nova Iorque


A jovem contemplava a noite sem lua da janela do salão onde acontecia a pequena comemoração de seu noivado. Seu noivado. Dava-lhe náuseas só de recordar do fato. Deveriam estar de luto pelas mortes recentes de sete pessoas, entre eles, duas primas e seu irmão mais velho. Todavia, seu pai, Richard Van Tassel foi taxativo: aquele compromisso não poderia ser mais adiado. Era necessário casar sua única filha com o jovem William, um primo de terceiro grau da moça e único herdeiro da família principal dos Schmidt.


Katharina Van Tassel não conseguia compreender como seu pai podia ser tão frio assim! Eram sete pessoas das famílias aparentadas e mortos em uma única semana! E um deles era seu próprio filho! Todos decapitados.


Os demais parentes das duas famílias estavam apavorados. Tinham medo de sair e serem as próximas vítimas, se bem que sabiam não haver obstáculos para aquele mal: nem na segurança de seus lares parecia haver escapatória como se comprovou com três daquelas mortes. Acreditavam que Ele retornava e trazia sua maldição até eles. Ele que, um dia, foi aliado daquelas famílias, saía novamente de sua tumba e voltava-se contra todos.


No entanto, o pai de Katharina ignorava tais acontecimentos e só pensava em seus próprios interesses. Em seus malditos negócios e de como aumentar mais ainda seu capital. E ela era o meio que ele utilizava para isso.


Kath sentia vontade de chorar, mas dominou-se. Desde criança, fora treinada para não demonstrar emoções. Era uma jovem loira de olhos azuis, corpo esbelto e curvas generosas. Seu cabelo estava emoldurado por um penteado de cachos, feito no principal salão de beleza da vila. Usava um longo vestido cinza e brilhante sem mangas que deixava à mostra seus belos braços. Aos dezenove anos, era considerada a maior beldade de North Tarrytown e era, com a morte do irmão, a única herdeira dos Tassel e a jovem mais rica da região. Contudo, pouco se importava com sua beleza e riqueza.



Lia o bilhete que havia sido entregue pouco antes da festa por uma criada de sua confiança:


 


Não se preocupe, meu amor. Aguente firme! Queria estar com você e lhe dar forças. Mas já que não posso, fique com esse bilhete e o leia durante a festa sempre que se sentir desanimada.


Com amor.


O seu...


 


– Kath – a voz enfadonha de William a despertou de sua décima leitura do recado.


– Sim, Bill – respondeu após guardar com cuidado o papel no decote do vestido e virar-se com um sorriso forçado.


O moço parado diante dela faria qualquer mulher suspirar: alto, ombros largos, braços fortes, peito musculoso, cabelos pretos e curtos num estilo surfista, olhos azuis, boca sensual e um corpo másculo vestido em calças azul de linho e uma camisa social cor bege. No entanto, William Schmidt era a própria arrogância em pessoa.



– Que está fazendo aí sozinha? Meus amigos de Nova Iorque acabaram de chegar e quero que eles vejam a noiva linda que tenho.


Sempre querendo se exibir. E sempre querendo exibir a ela como se fosse uma bonequinha de luxo, sua propriedade particular. Bem, ele que fosse aproveitando enquanto podia. Não demoraria muito para acabar com “sua festa”.


– Então vamos. Não podemos deixá-los esperando – ela disse com uma falsa aquiescência na voz


Deu o braço ao seu noivo e foram até um grupo de rapazes no meio do salão.


Do lugar onde estava, Richard Van Tassel, contemplava sua filha de braços dados com o jovem Schmidt. Era um homem de pouco mais de quarenta anos, conservado, robusto, cabelos loiros e olhos azuis. Trajava um elegante terno preto com uma gravata cinza listrada. Não era de demonstrar sentimentos, porém, não pôde esconder o sorriso de satisfação. Katharina se casaria com um homem de bem e do mesmo nível. Cumpriria com a velha tradição de se juntar os principais membros das duas famílias numa só.


Ainda bem que acabou com o romance dela e do maldito bastardo que quase arruinava seu futuro. Ela não queria se casar com William e, no mundo de hoje, era inadmissível se forçar alguém a casar, mas ele e sua família não eram como a gente vulgar que dava vazão a tolos sentimentos e acabam, na maioria das vezes, fazendo um mau casamento. A garota um dia lhe agradeceria a interferência na vida sentimental.


É claro que ainda estava abalado pela morte recente de seu primogênito, inclusive providências haviam sido tomadas: o FBI foi chamado. Desagradava-lhe um escândalo, entretanto, não podia deixar o assassino de seu filho impune. Não acreditava que fosse nenhum fantasma. Com certeza era algum louco querendo desafiar o poder dos Tassel e dos Schmidt. Tinha até algumas suspeitas, porém, teriam que ser comprovadas.


Contudo, a vida não podia parar, muito menos suas aspirações. Por isso, não suspendeu aquele noivado mesmo com poucos dias de enterro de James Van Tassel e os outros familiares. Inclusive, um teria sido realizado naquela manhã se não fosse necessário deixar o corpo ainda sob autópsia e investigação policial. Dispensou os familiares da vítima daquela festa, mas não permitiu que os outros membros não comparecessem. A palavra de Richard não admitia contrariedades.


Consultou o relógio Rolex de ouro em seu pulso. Era exatamente meia-noite.


Seu sorriso murchou quando viu sua esposa Tessa descer as escadas da mansão. Era uma mulher que, um dia, havia sido bonita com seus cabelos pretos e os olhos verdes. Entretanto, ao contrário do marido, parecia desgastada em seus quarenta anos. Usava um sóbrio vestido preto de mangas compridas e os cabelos presos num coque no alto da cabeça.


Haviam discutido sobre o noivado da filha; Tessa era contra, não apenas pelas circunstâncias, mas por não aprovar o jovem William.


- Agora não há mais tempo para falarmos a respeito.– ele lhe disse porque ela havia deixado claro sua opinião no meio dos preparativos da festa – Depois, conversamos.


Tessa estremeceu de pavor. Sabia como acabavam "aquelas conversas." Ainda tinha marcas pelo corpo muito bem escondidas pelo vestido da última conversa sobre outro assunto há dois dias.


Agora ele a observava, atento a seus gestos, como se temesse que ela acabasse com a festa. Richard distribuiu sorrisos para os convidados até chegar em sua mulher e, sem que os outros percebessem, pegou no braço dela com força e puxou-a a um canto.


- Não faça nada tolo – sussurrou-lhe


Antes que a esposa retrucasse, um dos empregados da mansão abriu com estrondo a porta do salão e gritou a plenos pulmões:


– Fogo! Fogo, patrão! O estábulo está pegando fogo!


O pânico foi geral. Todos no recinto começaram a gritar desesperados com medo de o incêndio chegar até ali e correram apressados para a porta onde entrou o empregado. Este teve a presença de espírito de fechá-la de imediato. Richard se encaminhou até lá e procurou controlar a situação:


– Calma, meus amigos! Calma! Não saiam daqui sem antes eu verificar como está o incêndio. Como os senhores ouviram, parece que o fogo está no meu estábulo. Por favor, eu sei que todos estão apavorados, mas tenho que me certificar de que saiam com segurança. Peço que me aguardem, por favor. Prometo não me demorar - antes de sair, chegou ao ouvido da esposa para lhe falar em tom de ameaça - Eu vou, mas já volto. Não se atreva a fazer nada tolo.


Rick abriu a porta e foi junto com o empregado para confirmar por si próprio o incêndio. Merda! Era só o que lhe faltava acontecer!


– Sr. Tassel! Sr. Tassel! Espere que vamos com o senhor! – era William com seu pai, Rudolf Schmidt, e mais alguns homens da festa que alcançaram Richard a fim de ajudá-lo.


Logo chegaram à estrebaria onde vários homens tentavam tirar o restante de cavalos. Os bichos relinchavam assustados. As chamas eram imensas e crepitantes, porém, alguns empregados já começavam a apagar com baldes d`água e uma mangueira.


– Como começou o incêndio? – perguntou Tassel ao capataz


– Não sei, senhor. De repente, de uma hora para a outra tudo começou queimar – respondeu


– É o fantasma do cavaleiro sem cabeça – disse um dos empregados com a voz trêmula – É a maldição dele!


– Ora, cale-se, imbecil! Não me venha com essas tolices! – vociferou Tassel


– Não, senhor. Ele está certo. Olhe!


O capataz apontou o dedo em direção a um morro da fazenda. No alto, estava um cavalo de cor negra e aspecto sombrio e, montado nele, um homem trajado à moda norte-americana do século XVIII. Segurava um machado de aço pontiagudo e afiado. E a estranha aparição não tinha cabeça!


Richard sentiu o sangue gelar assim como os demais homens que estavam com ele.


De repente, o cavaleiro disparou a montaria em direção ao estábulo. Os homens se desesperaram e começaram a correr de um lado para outro. Àquela altura, o incêndio havia sido deixado de lado. Um deles seria a próxima vítima daquele cavaleiro que havia feito sete mortos, um em cada noite, dentre eles o filho mais velho de Richard.


Correram em direção à casa grande, entretanto, um estranho nevoeiro surgiu de repente e ninguém conseguia ver nada. Gritos e mais gritos de pavor ecoavam enquanto o barulho de cascos e do relincho do cavalo se intensificava. O cavaleiro estava se aproximando.


De súbito, um barulho de corte no ar e um grito de morte ecoaram pela noite.


Na festa, as pessoas aguardavam ansiosas para saber se era mais seguro ir embora ou ficar na mansão devido ao incêndio. Havia passado um bom tempo desde que Richard saiu. A inquietação tomava conta deles, pois haviam escutado de longe a gritaria dos homens na estrebaria e o trotar de um cavalo. No meio daquela gente, Katharina segurava a mão de sua mãe. Estava muito preocupada com o que ocorria lá fora e com seu pai. Sua futura sogra, Lorna Schmidt, também estava aflita pelo marido e filho.


– Meu Deus, cadê eles? Já era para terem voltado – desabafou Lorna


O mesmo empregado que avisara sobre o incêndio voltou. Todos o cercaram ansiosos por notícias; ele pediu passagem até chegar a Tessa:


– Senhora, venha... é horrível.


– O que aconteceu? Alguém morreu no incêndio?


– No incêndio não, mas...


– Mas o quê, criatura? – ela se impacientou – Fala logo!


– O Sr. Tassel... Ele...


– Papai! – gritou Katharina e saiu correndo sem esperar resposta.


– Kath, espere! – chamou Tessa sem sucesso


Algumas pessoas foram atrás dela.  Um pressentimento ruim penetrava em seu íntimo. No caminho, encontrou com William que tentou dissuadi-la de prosseguir; o rosto dele expressava pesar. A jovem o ignorou e continuou na correria. O moço não teve opção a não ser segui-la.


Katharina correu sem se importar com o vento que desmanchava seu penteado e atrapalhava seu vestido. Ao se aproximar da cavalariça, viu um grupo de homens cercando algo. Ela abriu passagem entre eles até ver um corpo inerte no chão. Sem cabeça. O Rolex estava em seu braço esquerdo.


O grito estridente da moça preencheu o lugar. Foi o último som que emitiu antes de cair desfalecida nos braços de seu noivo, que chegou a tempo de ampará-la, embora não conseguisse impedi-la de ver o corpo decapitado de Richard Van Tassel.


– 0 –


Agora


– Então Hollywood resolveu fazer uma nova versão de Sleepy Hollow? Uau! – exclamou o rapaz da recepção do necrotério que era novato no emprego.


Diante dele, estavam Victoria Collins e os irmãos Winchesters. A caçadora usava um conjunto rosa de blazer e saia e sapatos de salto alto. Seus cabelos estavam presos num coque atrás da cabeça. Quanto aos rapazes vestiam elegantes ternos sem gravata: Dean num terno bege e Sam em um de cor cinza. Passavam-se por produtores de Hollywood.


– Sim – respondeu Victoria – E por coincidência, justo com essa onda de assassinatos que ocorreram nessas duas semanas. Estamos pensando em criar algum paralelo com a história original.


– Legal! Isso seria ótimo! Pra ser sincero, eu não gostei muito desse filme que fizeram com o Johnny Depp. Ele é um bom ator, mas sei lá... me pareceu meio exagerado aqueles desmaios que toda hora o personagem dele tinha. – riu – Coisa de boiola


– É, cara, nisso eu concordo com você – Dean acompanhou o moço nas risadas.


Ambos ficaram sem graça com a expressão séria que Collins manteve. Sam revirou os olhos.


– Pois então nós resolvemos passar por aqui pra ver se vocês têm algum daqueles corpos decapitados – continuou a mulher – Sabe, queremos dar um toque bastante realista aos bonecos que vamos colocar como cadáveres.


– Poxa, infelizmente, eu não posso, senhorita – o rapaz coçou a cabeça – Sabe como é. Se não for pra polícia e pro FBI, Só com autorização do chefe. São as normas.


– Ah, mas você... – Vic olhou para o crachá do funcionário com o nome dele: Joe Thompson – ... Joe, não pode abrir uma exceção para nós?


– Olha...


– Podemos colocar você numa ponta do filme. Você não gostaria de ter uma chance dessas?


– Nossa! Seria o máximo! – os olhos do rapaz brilhavam, ele parecia se visualizar como o próximo astro de Hollywood. Dean e Sam trocaram olhares de zombaria – Não! Não devo. Se descobrirem, estou no olho da rua. Me desculpem... mas não. Precisam de autorização.


Victoria não se deu por vencida. Num movimento natural como se fosse arrumar os cabelos, soltou o coque e deixou que o cabelo se desmanchasse por seu pescoço. Ao mesmo tempo, inclinou o corpo apoiando as duas mãos sobre a mesa do rapaz de modo que ele pudesse vislumbrar o decote que havia na blusa branca que ela vestia por debaixo do blazer aberto. Os Winchesters prenderam a respiração com a manobra da moça e por ter uma bela visão de sua bunda abaixada; contudo, enquanto Sam por respeito desviou os olhos, Dean continuou viajando naquele pedaço de carne. Seu irmão mais novo teve que cutucá-lo para que prestasse atenção ao que acontecia.


– Tem certeza, Joe, que não pode abrir uma exceção? – tornou Victoria com voz sensual – Seria uma olhadinha rápida.


– Eu... eu... - Joe arfava ao ver uma parte dos seios de Collins.


– Por favor – tocou o rosto do moço com a mão


– Cla... claro, senho...senhorita! – engoliu em seco – Às suas ordens! Mas... só uma olhadinha rápida.


Levantou-se sem tirar os olhos de Collins e conduziu os três até o necrotério. Chegaram a uma ampla sala onde havia diversas macas. Aproximaram-se de uma onde estava um corpo coberto por um lençol.


– Olha, eu... devo avisá-los que o que vão ver é chocante. E se algum de vocês desmaiarem... ou passar mal, eu não vou poder chamar ninguém pra acudir.


– Pode deixar, rapaz. Ninguém aqui vai bancar o Johnny Depp – replicou Dean com uma piscadela cúmplice


– OK – levantou o lençol. Era um corpo decapitado e parecia bastante jovem. Não havia uma gota de sangue no local onde deveria estar sua cabeça – Este veio parar aqui hoje pela manhã. É o décimo terceiro que chega e é de um membro da família Schmidt, um sobrinho do patriarca pra ser mais exato. O nome do rapaz é Kevin Schmidt.


– Treze mortes? – indagou Dean surpreso – Na notícia que lemos haviam informado dez mortes.


– É, mas continuaram. Além dele, foram assassinados mais dois membros da família Van Tassel. E o caso ganhou uma repercussão tão grande que aqui não para de chegar repórteres e agentes do FBI.


– E quem o FBI acha que seja o responsável por esses assassinatos? – perguntou Sam


– Acham que é coisa de algum serial killer e por isso estão espalhados pela vila desde semana passada tentando armar uma emboscada, mas... nunca conseguem estar onde um assassinato ocorre. Claro que não vão conseguir nada.


– Por que diz isso?


– Tenho pra mim que isso é coisa do cavaleiro sem cabeça. Ele veio pra lançar sua maldição sobre os Van Tassel e também para os Schmidt.


– E por que só eles? - Dean perguntou


– Não sei... Vai saber. Pode ser algum tipo de vingança tardia, afinal... – interrompeu-se e olhou para a porta como se temesse ser ouvido


– Afinal... – incentivou o loiro


– Os Van Tassel e os Schmidt têm dominado a vila por três séculos e dizem que fizeram muita coisa errada no passado, só que nunca ninguém descobriu – proferiu com um leve tom de amargura – Devem ter feito algo pra esse fantasma e ele deve ter se cansado e resolvido fazer justiça.


– Pelo que lemos, o sangue dos corpos foi todo drenado. – tornou Collins – É verdade?


– Sim. Gostariam de ver? Prometem que não vai desmaiar? – indagou em tom de gozação


– Não – respondeu Dean seco – Acredite, já vimos coisa pior.


O rapaz cortou o corpo com um bisturi do pescoço até a barriga e abriu. Dentro, havia os órgãos intactos, porém, sem nenhuma gota de sangue os cobrindo.


– Veem? Parece até que foi lavado por dentro.


Victoria examinou bem o corpo, e depois permitiu que os Winchesters o observassem bem. Nada. Nenhuma marca ou outro corte fora o do pescoço. Nada que indicasse por onde todo aquele sangue poderia ter se esvaído.


– Os outros corpos também estão no mesmo estado? - Sam indagou


– Sim.


– E não encontraram nenhuma das cabeças?


– Até agora não. Parece que o fantasma levou, talvez como troféus.


– Bom, Joe, não vamos tomar mais seu tempo. – tornou Victoria – Você já se arriscou bastante por nós


– Que isso... foi um prazer – os olhos estavam vidrados nela


– Então acho melhor a gente ir pra não criar problemas pra você – interrompeu Dean com certo incômodo por ver o rapaz babando por Collins.


O moço os levou de volta até a recepção. Antes, anotou alguma coisa num pedaço de papel e entregou-o para Vic.


– Aqui – disse ele – Vão mesmo me chamar pra fazer uma ponta no filme?


– Claro – respondeu Victoria sem titubear – Até mais... e obrigada


Iam se virar, mas ele tornou a falar:


– Olha... senhorita. Pode me chamar nesse telefone pra qualquer outra coisa... sem ser o filme.


Deu uma piscada. Victoria lhe deu um sorriso sedutor. Dean e Sam se entreolharam e reviraram os olhos.


Quando se afastaram, Joe lhes gritou:


– Ah, se não tiverem nenhum lugar pra ficarem, podem se hospedar lá no Sleepy Hollow Hotel! Meus primos trabalham lá! É só daqui umas poucas quadras!


– Obrigado, Joe – acenou Victoria.


– Você é cruel – disse Dean depois de se afastarem e seguirem para onde seus carros estavam estacionados


– Por quê? – indagou Victoria


– Oferece algo para o rapaz que ele nunca vai poder ter.


– Ele já teve o suficiente. Dei a ele uma boa oportunidade de olhar meus seios – tornou com voz fria – E a vocês... de olhar pra minha bunda.


Entrou no seu Impala branco e deixou os dois homens com expressão de tolos sem chance de replicar.


– 0 –


Pararam em frente ao local indicado por Joe. O lugar parecia mais uma mansão antiga e decadente do século XVIII do que um hotel. Um velho porteiro abriu o portão enferrujado e deu sinal para os carros passarem.


Os veículos foram estacionados na frente da casa onde havia um estacionamento. Victoria desceu do carro com a bagagem e juntou-se aos Winchesters.


– O que foi? – perguntou a Dean que estava com expressão azeda


– Dean não está gostando de se passar por produtor de filmes – respondeu Sam pelo irmão enquanto tirava a bagagem do porta-malas.


– E posso saber por quê?


– A maior parte dos produtores são gays – respondeu o loiro


– E de onde você tirou essa ideia?


– Ah, qualé? Todo mundo sabe que esse pessoal de Hollywood, atores, diretores e produtores são gays.


Vic quase riu daquele absurdo, mas permaneceu séria e disse como se falasse a uma criança:


– Olha, você é um idiota por pensar e falar isso – Dean ia abrir a boca, mas ela ergueu a mão – Mesmo que fosse verdade... e daí? Isso não torna um homem menos homem. E se quer saber, não estou nem um pouco preocupada com o que vão pensar da sua masculinidade. Apenas não estrague nosso disfarce e faça uma cara séria. Pode ser, macho man?


– Claro... senhorita –reprimiu a irritação entredentes imitando o recepcionista do necrotério – Às suas ordens.


– Ótimo. Sigam-me – falou num tom que não admitia ser contrariada.


Os homens a seguiram cada qual levando seus pertences. A ideia de se passar por produtores de filmes de Hollywood era de Collins. Como suspeitava, o local estava cheio de agentes do FBI e de repórteres. Se eles se disfarçassem de agentes, alguém poderia questionar a divisão e eles teriam que recorrer a Bobby; este poderia se passar por um chefe do FBI, porém, havia o risco de por coincidência ser do mesmo local de algum dos federais. E quanto a se disfarçarem de repórteres, também havia o risco de seres desmascarados.


Entraram no hotel e foram até a recepção. O jardim do local era imenso e bem cuidado. Ainda assim, tinha um aspecto meio sombrio e fantasmagórico. Quanto ao interior da mansão, fazia um belo contraste com o exterior: o hall de entrada era todo modernizado, com cores vivas e a recepção tinha um balcão de aparência nova com dois computadores de última geração. Havia dois rapazes no atendimento: um ruivo com sardas e outro, de cabelos castanhos claros; ambos de olhos azuis e vestiam ternos pretos. O ruivo digitava alguns dados nas máquinas enquanto o outro analisava alguns papéis.



Vic, Dean e Sam se aproximaram deles. A moça tomou a palavra:


–Bom dia! Eu...


– Bom dia! Em que posso servi-los? – o ruivo interrompeu com muito entusiasmo. Olhava com fascinação para Collins


– Bem, eu gostaria de dois quartos: um de solteiro e outro de casal.


– Ah, sim. Me deixe verificar. Ahn... o de casal seria para a senhorita e... qual dos dois cavalheiros? – alternava o olhar entre Dean e Sam tentando adivinhar quem seria o suposto namorado da moça.


– Na verdade, o quarto de solteiro seria pra mim... e o de casal para meus amigos.


– Ah, entendo! –o rapaz esboçou um sorriso irônico – Quem diria, hein?


– Opa! O que você quer dizer? – Dean não gostou da leve insinuação na voz do recepcionista


– O que Mark quer dizer é que vamos imediatamente localizar os quartos para os senhores.


Interviu o jovem de cabelos castanhos com sorriso apaziguador. Em seu crachá, lia-se o nome dele e sua função: Brian Thompson, gerente.



Em seguida, dirigiu um olhar de reprovação ao recepcionista que começou a fazer a busca no computador.


– Poxa, infelizmente, só tem um e é de casal – respondeu o ruivo com certo pesar


– Tudo bem. Qual outro hotel mais próximo? – indagou Vic


– Olha, hotel bom além desse só tem mais dois na vila. O resto é tudo pensão barata. Mas acho meio difícil conseguirem algum lugar pra ficar por causa dessa onda de assassinatos que tem acontecido por aqui. Nunca North Tarrytown esteve tão movimentada, cheia de agentes do FBI e de repórteres... e até a propriedade dos Van Tassel...


– Mark, creio que nossos hóspedes não estão interessados em ouvir um noticiário da nossa parte – mais uma vez, o outro rapaz intervia


– Não, pelo contrário, estamos muito interessados – replicou Victoria – Somos de Hollywood e viemos aqui justamente...


– Ei, ei, então são vocês! – Mark exclamou – Poxa, nosso primo Joe do necrotério telefonou e nos contou que vocês tinham ido lá pra fazer uma pesquisa e que ele indicou nosso hotel e que talvez vocês aparecessem aqui. Que maravilha! Vocês vão mesmo rodar uma nova versão de Sleepy Hollow?


– Sim – respondeu Collins num tom paciente


– Poxa, que massa! – bateu palmas como uma criança que acabou de ganhar um grande presente – Já sei! Já sei! Pela altura, você deve ser quem vai fazer o valentão Abraham Brom Bones – apontou para Sam – E você... deve ser o que vai fazer o Ichabod Crane. Mas... bem... você não tem muita cara de professor – apontou para Dean que arqueou as sobrancelhas – Ah, só que vocês atores sabem como convencer. E você, bem – olhou para Collins e corou embaraçado pela beleza dela – Você vai ser Katrina Van Tassel, não é? Eles escolheram muito bem.


Victoria achou graça nos modos do rapaz e deu uma risada. Dean e Sam esboçaram um leve sorriso sem graça. O gerente congelou um sorriso amarelo. Estava envergonhado pela falta de discrição de Mark.


– Na verdade, nós somos produtores de filmes. Só estamos aqui para verificar o local e realizar algumas pesquisas.


– Ah, tá. Ele se esqueceu de falar isso – ficou um pouco desapontado por ter errado em sua constatação, mas não menos entusiasmado pela possibilidade da vila ser um cenário para filmes – Mas que pena! Vocês fariam um belo triângulo amoroso.


Dessa vez, os três pareceram desconfortáveis com aquela observação do jovem impertinente.


– Chega, Mark! Você já tomou tempo demais dos nossos clientes. – Brian decidiu assumir o controle da situação – Vá verificar se a cozinha está bem abastecida


– Mas esta não é minha função.


– Vá agora – ordenou sem elevar o tom de voz


O ruivo saiu aborrecido resmungando algo ininteligível. O jovem de cabelos castanhos voltou seu olhar para Collins e os Winchesters.


– Desculpem meu irmão... ele é muito deslumbrado com as coisas. Mas como ele disse, só temos mesmo esse quarto de casal e não sei se vocês vão ter melhor sorte em algum outro lugar. Tem muitos federais e repórteres por aqui na cidade. Esse quarto inclusive foi desocupado há meia hora. Mas se quiserem arriscar e dar uma olhada posso deixar uma reserva até as cinco da tarde no máximo... por precaução.


– Não haverá necessidade – decidiu-se Victoria.– A gente vai ficar por aqui mesmo. Ou vocês têm algo contra? – dirigiu-se aos Winchesters num tom neutro


– Não, nada – respondeu Sam tentando parecer natural


– É... por mim tudo bem – tornou Dean com certa satisfação na voz


– Pode ser então – Vic se voltou para o gerente


O moço pediu as identificações dos três. Victoria era Lana Ryan, Sam era Peter Paul Fox e Dean era Sasha Lee. Ele odiou o nome fictício que lhe dava mais ainda a possibilidade de ser visto como "gay", já que também era um nome que servia para mulher.


Após fazer o registro dos supostos produtores, Brian chamou um rapaz que conduziu parte da bagagem e os hóspedes para o quarto. Subiram uma ampla escadaria que os levava ao quarto e último andar. Enquanto seguiam o empregado, notaram que havia, de fato, algumas pessoas vestidas como federais que entravam e saíam dos quartos prontos para o serviço.


Chegaram ao andar. Só havia um único quarto, pois este havia sido um antigo sótão da mansão transformado e reformado para ser uma ampla suíte. O rapaz os deixou instalados no aposento e foi buscar o resto da bagagem.


Os três contemplaram o local. O teto tinha uma elevação triangular, própria de sótãos, só que a cor era de um tom pastel claro – como no resto do cômodo – e havia um imenso lustre cheio de lantejoulas brilhantes no alto. Havia um grande tapete no meio do lugar, um guarda-roupa duplex, uma cômoda, uma televisão com DVD e canais pagos, um sofá de dois lugares e uma cama de casal no fundo do quarto.


Como se fosse uma combinação, os olhos dos três convergiram ao mesmo tempo para a cama e trocaram olhares entre si.


– Bem, você pode ficar com a cama – disse Sam ao encontrar seu olhar com o de Victoria – Eu posso dormir no sofá e Dean no chão.


– Ei, por que eu que tenho que dormir no chão? – protestou o loiro


– Porque me sinto desconfortável numa superfície dura. Então fico no sofá.


– Não, senhor! Vamos ser justos. Eu dormi no sofá da sala do Bobby enquanto você ficou no quarto. Agora é a minha vez de ficar num lugar mais confortável.


– Você disse bem! Você ficou num sofá. Agora sou eu que vou ficar em um.


– Papel, tesoura e pedra! – exclamou Dean – Vamos decidir de novo na sorte.


– Chega vocês dois! – vociferou Collins – Parecem dois garotos. Podem deixar, eu durmo no sofá e vocês ficam na cama de casal.


– Não! – protestaram juntos


– Que isso, Victoria. Não é certo... – continuou Sam


– Está resolvido! - Collins encerrou o assunto e esticou o corpo no sofá – Qualquer lugar pra mim está bom, eu só quero um pouco de paz. Agora fiquem calados enquanto eu relaxo uns minutos.


– 0 –


Depois de guardarem as coisas e descansarem um pouco, desceram para almoçar. Foram muito bem recebidos pela dona do hotel que os saudou e conduziu-os a mesa do refeitório que já estava apinhado de pessoas. Era a mãe dos dois rapazes da recepção e a dona do hotel. Chamava-se Marta Thompson. OS cabelos eram curtos e repicados nas pontas num tom loiro e seus olhos eram de um verde vivo. Vestia saia preta, camisa branca de mangas compridas e um colete preto. No pescoço havia uma corrente de ferro, mas o pingente estava encoberto pelas roupas. Ela já estava inteirada da profissão dos novos hóspedes e culminou a eles de atenções.


– Sim! - dizia com entusiasmo – Vai ser uma grande honra tê-los por aqui! Esse filme trará uma grande repercussão na cidade... e afastar essa publicidade negativa por conta desses assassinatos.


– Por falar nisso, senhora Thompson, a senhora sabe alguma coisa a respeito desses assassinatos? – indagou Victoria


– Por que eu saberia algo a respeito? – Marta se inflamou


– Er... desculpe, eu só perguntei... por curiosidade, afinal, a senhora parece ser o tipo de pessoa que possui bastante conhecimento da região, não é? - tornou Collins com sorriso simpático


– Ah, sim, claro – ela pareceu relaxar – O que exatamente você gostaria de saber?


– Os nomes das pessoas que foram mortas até agora, por exemplo.


– Deixa eu ver... Hum...começou com a morte de Erik Schmidt, tio do jovem Bill, depois...


Enquanto a mulher puxava da memória os nomes, Sam rápida e disfarçadamente anotava os nomes num pequeno bloco de anotações conforme um sinal discreto que Vic fez com a cabeça.


– Mas desses, as mortes que mais chocaram foi de James e de Richard Van Tassel, pai e filho. Primeiro, foi o filho logo depois da morte de Erik. E depois, o patriarca da família Tassel.


– Por que só membros da família Van Tassel ou Schmidt? - perguntou Sam


– É a maldição do cavaleiro sem cabeça – Marta replicou com convicção feroz


– A senhora acredita que exista tal fantasma? É um só um personagem de conto - tornou Dean por sua vez


– É claro que existe! Nas mortes anteriores a de Richard Van Tassel, ninguém tinha visto o fantasma. Mas muitos puderam ver com os próprios olhos na noite em que morreu o grande patriarca Tassel.


– A senhora falou de uma maldição. - tornou Vic – Como assim?


– Bem, os Van Tassel e os Schmidt são os poderosos daqui há muito tempo. Mas com certeza tem algo de podre no modo como conquistaram seu poder – falou num acentuado tom de amargura – Caso contrário, o fantasma não sairia de sua tumba para matá-los um por um.


Ao notar que os três a observavam em silêncio de uma forma inquiridora, a mulher se desfez em sorrisos.


– Bem, vou deixá-los sossegados. O almoço logo estará pronto.


E saiu. Os caçadores se debruçaram sobre a mesa e trocaram impressões.


– Ela sabe de muito mais coisas – concluiu Victoria


– Concordo. Notou como ficou nervosa quando você perguntou se ela sabia algo a respeito dos assassinatos? - inquiriu Sam


– Isso sem contar que ela falou dos Van Tassel e dos Schmidt como quem não gosta de nenhum deles.


– E parece que não é a única – falou Dean – Se lembram do cara do necrotério? Ele também falou quase da mesma forma. Parece que os Van Tassel e os Schmidt não são muito apreciados por aqui.


– Não, parece que os Thompson é que não gostam muito deles. – deduziu Vic – O rapaz do necrotério é primo dos moços do hotel.


– Bem, e o tal de cavaleiro sem cabeça? Você acredita que seja ele mesmo que esteja por trás dessas mortes?


– E você não?


– Que há algo de sobrenatural no caso, já me convenci. Bastou olhar aqueles corpos drenados sem explicação. Mas se é o mesmo cavaleiro do conto, aí tenho minhas dúvidas já que é só uma história.


– Dizem que o autor do conto Washington Irving baseou seus personagens em pessoas que moravam na vila na época em que escreveu – tornou Sam – Pode ser que ele tenha se baseado em alguém que foi decapitado em circunstâncias misteriosas e que talvez esse seja o fantasma sem cabeça que quer vingança.


Victoria não pôde deixar de admirar o raciocínio de Sam e fixou o olhar nele com um sorriso. Ele notou e correspondeu com outro olhar e sorriso.


Dean percebeu o clima e fechou a cara. Deu um pigarro para acordá-los daquela muda contemplação; Victoria se deu conta e continuou:


– Bem, é uma boa teoria, mas não explicaria o porquê de estar acontecendo agora a tal vingança. Você anotou os nomes que aquela senhora citou?


– Sim – Sam mostrou o bloco


– Vamos então pra a delegacia do local confirmar e também saber onde morreu cada vítima. Quem sabe achamos algo revelador num dos locais em que cada um foi morto.


– 0 –


Katharina caminhava de mãos dadas com William no mercado central da Vila. Era a primeira vez que saía da propriedade desde que o pai morreu. A princípio, não queria ir a nenhum lugar, mas com a insistência do noivo, acabou por ceder.


O mercado funcionava na área mais popular da Vila a céu aberto e era um dos lugares onde se era possível haver um pleno intercâmbio entre os ricos e os pobres de North Tarrytown. Lá havia muitas barracas onde se vendiam desde produtos baratos até artigos de luxo.


Kath estava justamente observando sem muito entusiasmo um xale que a vendedora garantia ser importado da Índia quando ela o viu: o gerente do Sleepy Hollow Hotel. Encarava-a a alguns metros dali, perto de outra barraca, uma de bijuterias, do outro lado da rua. A moça virou o rosto para o lado e olhou seu noivo, preocupada que ele percebesse, entretanto, Bill folheava alguns livros numa outra barraca. Então a garota voltou seu olhar para Brian. Este fez um sinal de que precisava falar com ela, contudo, a jovem negou com a cabeça.


– Mas a senhorita realmente não está interessada? – indagou a vendedora achando que Kath havia balançado a cabeça para ela – O lenço é da Índia, eu lhe garanto. Agora, se preferir, tem este...


– Sim! Sim! Pode embrulhar os dois, eu levo – disse sem se ater às palavras da mulher. Queria prestar atenção em seu diálogo silencioso com o gerente do hotel.


Enquanto a vendedora tagarelava sobre Kath ter feito um ótimo negócio, a garota concluiu sua conversa de sinais com o moço articulando a boca sem emitir som de forma que ele entendesse a palavra HOTEL. Em seguida, fez sinal com os dedos de uma mão que apareceria por lá depois; indicou com a mesma que iria às cinco horas. O jovem compreendeu e deu um sinal positivo com o polegar.


Assustou-se com a aproximação repentina de Bill, mas ele parecia não ter notado sua interação com Brian. Kath pagou a vendedora após esta entregar o embrulho e seguiram para ver outras tendas.


– 0 –


O xerife Mitchell Cunningham os recebeu na pequena delegacia. Após ver as identificações dos supostos produtores, prontificou-se em auxiliá-los.


– Isso aqui está movimentado como nunca esteve antes – confessou – Toda hora vem um federal ou um repórter nos procurar. North Tarrytown sempre foi um lugar pacífico pra se viver. Quase nenhum crime de grande importância há mais de trinta anos, pelo menos não desse tamanho. Ninguém imaginava que algo assim pudesse acontecer.


– Algumas pessoas acreditam que seja mesmo o cavaleiro sem cabeça – comentou Dean


– Se não fosse só um conto de um livro publicado, eu era até capaz de acreditar. Mas, por outro lado, que há algo de misterioso nas mortes, isso há. Vejam aqui – mostrou as fotos de vários corpos decapitados em diversos lugares da Vila e apontou para um em particular – Este é de Erik Schmidt, que foi o primeiro a ser degolado. Morreu perto dos limites da Vila. Estava voltando de carro da casa do filho mais velho quando foi morto. Reparem como ficou o carro – mostrou fotos de um automóvel destruído – O teto foi todo amassado como se alguém o batesse com uma força duas vezes maior do que a de um homem comum. E olha como a porta foi arrancada sem nenhum esforço. Parece que o pobre homem tentou escapar correndo, mas não adiantou. O corpo dele foi achado a três metros do veículo... sem a cabeça.


Collins e os Winchesters analisavam as fotos com atenção para algum detalhe.


O próximo foi James Van Tassel – continuou o xerife e indicou fotos de outro corpo – Foi logo na noite seguinte. Estava acompanhado de um amigo e resolveram voltar a pé pra casa já que estavam os dois bêbados e não tinham condições de dirigir. Seria uma sábia decisão se não fosse pelo que aconteceu, se bem que... pelo estrago no carro do Schmidt, acho que também não teria adiantado muito se voltassem de automóvel. Segundo o amigo de James, foi o cavaleiro sem cabeça que os atacou, mas ele visava apenas Jim. É claro que muita gente não acreditou porque o rapaz confessou que tinha bebido. Mas que ficaram apavorados com a possibilidade de um louco homicida que em menos de vinte e quatro horas, fizera duas mortes, ah, isso ficaram.


À medida que falava, mostrava mais fotos dos outros corpos.


– O próximo, ou melhor, a próxima foi Alexandra Van Tassel, morta em casa. Uma solteirona que vivia só com os empregados. Nesse dia, os dispensou. Olha, o estado da casa – mostrou uma foto de uma casa destruída – Foi aí que o pessoal começou mesmo a crer que poderia ser o fantasma sem cabeça. Depois, foi a vez da viúva Melanie Van Tassel, também morta em casa. E logo morreram mais três da família Shmidt. E, por fim, o grande patriarca da família Van Tassel e um dos mandachuvas da cidade, o senhor Richard. Na noite de sua morte, estava sendo festejado o noivado da filha quando aconteceu um incêndio nos estábulos. Ele foi verificar e daí apareceu o cavaleiro que o matou. Vários empregados e alguns dos convidados que tentaram ajudar a apagar o fogo, afirmam terem visto o cavaleiro.


– Espere um momento. Quer dizer que houve um incêndio nesse dia e que isso fez com que ele saísse de casa? – indagou Sam


– Sim. Por quê?


– Não, nada. Só uma ideia que me ocorreu.


– Uma ideia para o filme?


– Filme? - por um momento ficou confuso, mas logo se refez – Ah, sim, para o filme.


– Bem, alguns até acreditam que foi o fantasma que fez o incêndio surgir. Quem sabe? Não foi descoberto nenhum indício de incêndio provocado no local. Tanto eu e os meus rapazes quanto os agentes não achamos nada – mostrou mais fotos – Esses foram os outros assassinatos que ocorreram depois de Richard até agora: Sue Van Tassel, Meg Schmidt, Leon e Brucen Van Tassel e, por último, Kevin Schmidt na noite passada, morto também em sua residência. E se esses federais não conseguirem pegar o filho da mãe, pode ser que hoje teremos nossa próxima vítima – falou num tom e expressão sérios.


– Tem câmeras de vídeo espalhadas pela cidade? Alguma registrou um dos assassinatos?


– Tem sim, algumas, inclusive na mansão de Richard. Só que tanto as da propriedade como as que tinham em dois desses locais do crime não registraram nada. Simplesmente saíam do ar mais ou menos nas horas das mortes e que eram confirmadas pelos legistas.


– Qual a sua opinião a respeito de tudo isso, xerife? – perguntou Victoria – O senhor deu a entender que não acredita que seja o fantasma, mas ao mesmo tempo acha que é algo misterioso.


– Olha, senhorita Ryan, como deve ter percebido, seja lá o que for só está matando gente dos Van Tassel e dos Schmidt. Coisa de outro mundo ou não, dá o que pensar.


– Como assim?


– Essas duas famílias não são muito amadas pelo povo daqui, apesar de darem as cartas sobre o que tem que ser feito ou não. Mas a família Thompson parece ser os que mais os odeiam.


– Isso deu pra notar – disse Dean – A gente está hospedado no hotel deles e comentaram algo do tipo.


– Ah, é? Bem, há uma rixa antiga entre essas três famílias, só que os Thompson há muito que não tem a influência que tinham três séculos atrás.


– E que rixa seria essa? – tornou Collins.


– Eu não sei. Parece um segredo que todos eles guardam a sete chaves, mas sabe? Tenho pra mim que o conto revela alguma coisa. Dizem que o autor se baseou em pessoas que existiam na época. Há algo por trás da história que revela muito mais do que aparenta.


Sam trocou olhares com Victoria. Era quase a mesma coisa que ele afirmou.


– Bom, são só suposições da minha parte. Gostariam de olhar os lugares onde aconteceram os assassinatos? Talvez possa lhes servir de material para suas locações do filme.


– Sim, adoraríamos – concordou Vic


– Vamos começar então pela propriedade dos Van Tassel que é aqui por perto. Vou com vocês porque eles... são um pouco fechados. Na verdade, é mais a senhora da mansão mesmo com a morte do marido. Foi um custo convencê-la a dar autorização de livre e espontânea vontade para os federais e repórteres transitarem por lá.


– Não vai atrapalhar o senhor em nada?


– Não, não tenho nada pra fazer mesmo já que o FBI assumiu o caso. E de qualquer jeito, meus subalternos podem tomar conta – guardou os arquivos e fotos dentro da gaveta e chamou o escrivão – Sheldon, Sheldon!


– Sim, se... senhor – falou o homenzinho magricela de óculos que estava ainda apalermado por ter visto Victoria.


– Vou dar uma saída e não demoro. Ouviu, bem?


– Cla... claro – ele não desgrudava os olhos da moça – Ah, senhor, quer que eu vá junto?


– Não, pode deixar que eu mesmo posso resolver.


– Sim... senhor – parecia desapontado


O xerife riu. Havia percebido o fascínio do escrivão por Collins. Esta também percebeu e disfarçou o riso. Quanto aos Winchesters, aquilo para eles estava se tornando um incômodo; não estavam gostando de tantos homens observarem a caçadora. Ainda bem que o xerife parecia exceção. Uma aliança na mão esquerda mostrava seu estado civil.


Os três saíram rumo à mansão dos Tassel: os irmãos em seu Impala e Collins com Mitchell no outro.


Chegaram ao local e lá avistaram um ou outro federal analisando a localidade mais uma vez, sobretudo, o estábulo onde ocorreu o incêndio.


– Foi mais ou menos por aqui que o senhor Richard Van Tassel foi encontrado morto – mostrou um gramado baixo a uns trezentos metros de distância da cavalariça – Parece que correu do "fantasma" que veio atrás dele montado


num cavalo. Disseram até que surgiu um nevoeiro do nada cobrindo toda a área que viam.



Caminharam mais um pouco até chegarem à estrebaria. Havia algumas manchas escuras em alguns pontos e madeira queimada do local, resquícios do incêndio. Um federal ainda estava por ali.


 


– Xerife, o senhor por aqui? – indagou e olhou com curiosidade para as pessoas que o acompanhavam. Seu olhar se deteve sobre Collins. Esboçou um sorriso de aprovação o qual não passou despercebido para os Winchesters. Imediatamente, antipatizaram com o agente – Pode deixar que o trabalho está sendo feito por profissionais.


– É mesmo? Se é assim, por que até agora não conseguiram pegar o misterioso assassino? – Dean não resistiu em provocar o sujeito.


– Porque é um cara de muita sorte – tornou o outro com arrogância.


– Ou vocês que não são muito espertos.


– Ah, o que meu... colega quer dizer é que talvez o assassino seja um profissional muito esperto – Sam interrompeu o irmão e lançou um olhar de advertência. Victoria também olhou feio para Dean.


– E posso saber quem são vocês? – olhou para os rapazes de cima a baixo, o que os deixou com mais antipatia.


– Eles são produtores de Hollywood e vieram aqui para rodar um filme sobre a lenda do cavaleiro sem cabeça, uma nova versão do conto – tornou o xerife e indicou cada um com a mão enquanto falava seus nomes – Lana Ryan, Peter Paul Fox e Sasha Lee. – apontou o federal – E este é o agente Russell Davis, o responsável pela operação do FBI.


– Sasha? Interessante seu nome – o agente se dirigiu com ironia para Dean em tom de provocação – Serve tanto para homem como para mulher.


O Winchester se segurou para não dar uma resposta malcriada. Ao invés disso, esboçou um sorriso forçado.


– É um prazer conhecer a senhorita – voltou-se para Collins e beijou-lhe a mão – Interessante e que coincidência, não? Com essa onda de crimes que está havendo por aqui, vocês quererem rodar um filme sobre o "fantasma – a expressão zombeteira era visível em seu tom de voz


– Suponho que o senhor não acredita no que estão falando a respeito desse cavaleiro – replicou Collins


– Por favor, senhorita Ryan, sou um profissional que trabalha com fatos. Não um produtor em busca de uma mera fantasia como material de um filme de ficção – olhou com desdém tanto para Dean quanto para Sam – Sem ofensas, é claro – voltou seu olhar para Vic.


– Claro.


– Agente Davis, será que posso mostrar o local para os produtores? - indagou Mitchell


– Receio que não, xerife. Nem repórteres estamos deixando chegar perto da cena do crime. E pra quê eles se interessariam por algo assim? Se vão fazer só um filme de fantasmas?


– Agente Davis, só por curiosidade – interrompeu Collins – Onde dizem que viram o suposto cavaleiro?


– Disseram que foi ali – apontou para o morro


– E já investigaram?


– Certamente.


– Pode me mostrar exatamente o local?– insinuou-se Collins pegando no braço do federal – Estou curiosa


– Claro – Russell parecia lisonjeado por ter a atenção daquela beldade


– O senhor também pode ir conosco, xerife? Me dá calafrios saber que pode estar um maluco à solta por aí e quero estar protegida.


– Pois não, senhorita.


O homem mais velho havia percebido o jogo de Collins, contudo, fingiu-se de desentendido. Quanto à caçadora, dirigiu um olhar disfarçado para os Winchesters investigarem o local.


Enquanto ela se distanciava com os dois homens da lei, os irmãos foram verificar o estábulo. Sam teve que puxar a gola da jaqueta de Dean que ficou observando a caçadora coladinha ao agente. Em seguida, pegaram em seus medidores de ondas que ocultavam nos bolsos de seus paletós


– Vamos logo que Victoria vai voltar a qualquer momento com aquele federal. Se houve um incêndio e foi mesmo provocado pelo fantasma, tem que ter algo incomum aqui que o ligue a ele – avisou Sam enquanto ligava o aparelho. Estranhou o irmão continuar estático com o dele na mão – Dean, por que você ainda está parado?


– Você viu? Toda dengosa, toda mansa com o agente do FBI, toda sorrisos e pra a gente só patada – desabafou indignado


– Bem, a atitude de Indomável é só com os caçadores, o que nos inclui. Não pega bem pra ela ser arisca com as pessoas com que fingimos. Ela só está fazendo uso de suas armas.


– Que armas?


– Sedução feminina, Dean – falou num tom impaciente – Veja o que ela já conseguiu com isso.


– É, todos babam por ela: o cara do necrotério, o recepcionista do hotel, aquele cara da delegacia e agora esse federal. Mas só que esse sujeito é muito...


– Irritante – completou Sam. Também não gostara nada de ver Collins se insinuando para Davis mesmo com intenção de distraí-lo – Concordo. Olhou pra nós como se fôssemos dois vermes, mas pra Victoria... só faltou despi-la com o olhar.


– Pois é.


Os olhares dos dois se encontraram e deram-se conta de que estavam revelando demais sobre seus sentimentos por Victoria.


– Er...vamos logo com isso! Já perdemos tempo – Sam foi para um lado do estábulo


– Tá legal – Dean foi verificar o outro lado


Procuraram bastante durante um bom tempo. Os cavalos não estavam no local devido às investigações.


–Encontrou algo, Dean? - perguntou Sam


–Fora bosta de cavalo? Não.


Examinaram o máximo que puderam da cavalariça, mas nada encontraram. Ouviram as vozes de Russell, Vic e Mitchell se aproximando.


– Eles estão voltando. – avisou Sam – Vamos!


Os dois se postaram fora do estábulo no exato momento em que Victoria acabava de chegar ainda de braços dados com o agente Davis, seguidos pelo xerife.


– E aí? Foi bom o passeio? – Dean tentava disfarçar ao mesmo tempo em que queria provocar Russell


– Parece que vocês dois ficaram para trás. Aproveitaram para dar uma olhada no estábulo enquanto sua colega me distraía? - observou Russell sem responder a pergunta de Dean e evidenciando que havia notado a manobra dos três.


– Ah, bem... o senhor sabe. Curiosidade de quem lida o tempo todo com a indústria de entretenimento – manifestou-se Sam


– Pois é - tornou Dean


– Pois é – repetiu Collins com um sorriso sem graça


Os três estavam com cara de quem aprontaram uma grande travessura da qual haviam sido descobertos. Por sua parte, Mitchell continha o riso.


– E descobriram alguma coisa por acaso? - tornou o agente.


– Claro que não. Se os profissionais da lei não descobriram nada, quem seríamos nós pra isso? - replicou Sam


– E depois, quem seria idiota bastante pra deixar alguma evidência pra trás se o incêndio fosse criminoso? - questionou Dean


– Meus caros companheiros, já ouviram dizer que não existe crime perfeito? Pois aqui está – afirmou com segurança e mostrou um palito de fósforo


As quatro pessoas olharam incrédulas, sobretudo os caçadores.


– Um palito de fósforo? - o xerife estava confuso – Mas como isso não foi achado antes?


– É porque estavam procurando nos lugares errados. Notem como o fósforo está molhado. Encontrei dentro do bebedouro dos cavalos. Por sorte, nenhum dos animais engoliu. Quem imaginaria encontrar um fósforo num local com água?


– Isso significa que... - começou Victoria


– Que o incêndio foi provocado – interrompeu o federal – E que alguém pretendia atrair Richard Van Tassel pra fora para ser morto. Provavelmente o nosso suposto fantasma que o decapitou.


– E outras evidências como gasolina ou qualquer outro material de combustão? - indagou o xerife


– Bem, o nosso fantasma deve ter tido o cuidado de levar com ele, mas por algum motivo jogou fora o fósforo no primeiro lugar que achou que não seria notado. Talvez achou que não seria notado... ou no calor do momento se desesperou.


– E só com isso, você está convencido de que não há fantasma algum? – concluiu Sam


– Como eu disse, lido com fatos não com lendas e contos. Era só achar uma ponta solta para confirmar a veracidade do que eu digo.


Sam ia contestar algo, entretanto, calou-se quando viu uma senhora se aproximar. Era Tessa Van Tassel.


– Xerife, boa tarde – ela o cumprimentou


– Boa tarde, senhora Van Tassel.


– Boa tarde, agente Davis.


– Boa tarde, senhora.


Tessa olhou com curiosidade para as outras três pessoas. Seu olhar se deteve particularmente sobre Victoria com ar de desprezo. A caçadora notou, mas fingiu que não percebeu. Estava acostumada com aquele tipo de olhar de algumas pessoas com que se deparava e que, felizmente, eram minoria.


– Meus caros, esta é a senhora Tessa, viúva de Richard Van Tassel.


– Prazer, senhora. Me chamo Peter Paul Fox, aliás, meus pêsames pela morte de seu marido... e de seu filho também – adiantou-se Sam com a mão estendida, porém, Tessa apenas fez um leve aceno de cabeça. O moço recolheu a mão sem graça.


– E estes são Lana Ryan e Sasha Lee – continuou apresentando seus companheiros – Somos de Hollywood e estamos aqui pra fazer um filme...


– Sobre o conto The Legend of Sleepy Hollow. Sim, eu já sei. As notícias voam por aqui, especialmente se estão hospedados no hotel dos Thompson – havia uma leve insinuação de desprezo em seu tom de voz ao pronunciar o sobrenome da família – Então... vocês que farão o triângulo amoroso da história?


– Na verdade, não somos os atores. Somos os produtores do filme – respondeu Victoria – Estamos apenas visitando a vila pra verificar alguns lugares para locação.


– Ah, é claro. Seria realmente estranho ter uma Katrina...de pele mais escura – tornou a senhora olhando com ar de superioridade para Vic sem disfarçar o preconceito que tinha.


O comentário deixou os homens desconfortáveis, porém, Victoria não se abalou e sustentou um olhar confiante diante daquela senhora.


– Mas é aí que está, senhora. A gente está pensando em colocar uma Katrina negra – interveio Dean em favor de Vic e postou-se ao lado da moça – E talvez também a gente coloque o Abraham Brom Bones como um índio. Sabe, colocar a história num cenário mais atual em que temos hoje em dia um presidente negro e vários atores negros ganhando o Oscar – riu de modo sarcástico e olhou com petulância para Tessa – Está na hora de fazer valer a frase: América para os americanos. Não importa se forem negros, brancos, índios e judeus. Os tempos mudam e quem não acompanhar as mudanças, está ultrapassado, não é?


O comentário deixou o clima mais tenso. Ninguém esboçou nenhuma palavra. Tessa permanecia impassível.


– É claro – disse por fim com um fingido sorriso e voltou seu olhar para o xerife e o federal – Os senhores já olharam tudo o que queriam?


– Sim, já vi tudo de que precisava e parece que já temos algo que nos apontou alguma direção – respondeu Davis


– É mesmo? E o que seria?


– Digamos que o tal fantasma do cavaleiro sem cabeça não parece tão fantasma assim.


A mulher fez uma expressão de espanto – que não passou despercebida pelos caçadores –, entretanto, nada comentou.


– Bom, com a sua licença, senhora, nós já vamos – encerrou o xerife fazendo um sinal para os caçadores o seguirem.


– Eu os acompanharei até o portão.


– Não precisa, senhora. Não queremos incomodá-la.


– Incômodo algum. Eu estava mesmo saindo para ir ao mercado central me distrair. Minha filha está lá com o noivo.


– Então vamos.


No meio do caminho, encontraram Katharina e William subindo o pequeno morro.


– Filha, Bill, já voltaram? – indagou Tessa


– É que Kath não quis ficar mais por lá – respondeu Bill com um sorriso – Eu até tentei fazê-la mudar de ideia, mas sabe como é sua filha.


– Sim, eu sei – a mulher olhou para William com desaprovação


O rapaz se sentiu constrangido. Um clima tenso se formou novamente. No entanto, logo Tessa tratou de dissipá-lo ao fazer as apresentações:


– Minha filha Katharina e o noivo dela, William Schmidt.


– William? Seu nome é William? – perguntou Victoria parecendo comovida


– Sim. Por quê?


– Ah, nada. É só que... gosto desse nome. William. – sorriu mais para si mesma. Dean e Sam ficaram intrigados.


Feitas de novo as apresentações dos três como produtores de filmes, Bill não pôde deixar de comentar:


– Que ótimo que vão fazer um novo filme sobre Sleepy Hollow! Mas pra ser sincero gostei da versão do ano de 1999. O certo era o Ichabod Crane terminar com a Katrina e não aquele tolo valentão Brom Bones.


– Mas o Ichabod que o Johnny Depp interpretou era um banana que desmaiava toda hora – comentou Dean


– Ele era um homem inteligente – defendeu Bill parecendo ofendido com o comentário


– Só que quem fica com a Katrina é o Brom Bones – replicou Collins


– No conto sim – interferiu Katharina – Mas... na verdade, infelizmente quem ficou com ela mesmo...


– Kath! – Tessa interrompeu a filha como se reprovasse algo proibido que ela diria


Os caçadores olharam curiosos para a moça na expectativa de a ouvirem terminar seu comentário, entretanto, a jovem se retirou dirigindo um olhar constrangido para mãe.


– Com licença – disse ao sair


William fez menção de acompanhá-la, contudo, ela o dispensou com cortesia.


– Perdoem minha filha – tornou Tessa – Ela ainda está com os nervos abalados por causa da morte do pai.


– Sim, claro – comentou Sam – É melhor a gente ir então.


Antes de entrar em seu carro, Victoria se acercou de Dean que já abria a porta do Impala e parou com a aproximação de Collins. O caçador achou que ela fosse lhe dar alguma reprimenda por algo que disse, entretanto, surpreendeu-se quando ela lhe falou:


– Obrigada.


– Pelo quê? - estranhou


– Pelo que você disse àquela mulher.


– Er... Alguém tinha que colocá-la no lugar dela, não é? – esboçou um sorriso sedutor


Olharam-se por uns instantes até ela se dar conta da intensidade do olhar do moço.


– Aham... não precisava, mas mesmo assim, obrigada – saiu.


Na verdade, ela não pretendia dizer nada a Dean, porém, não resistiu ao impulso de lhe agradecer por tê-la defendido. A vontade que tinha era de lhe agradecer com um abraço, mas se refreou e apenas demonstrou sua gratidão por meio de palavras.


O Winchester entrou no carro com um sorriso de orelha a orelha. Sam que já estava dentro do carro e observava a cena, foi quem, dessa vez, fechou o rosto.


– 0 –


Voltaram para o hotel depois que deixaram o xerife na delegacia após checarem os outros locais das mortes de outras vítimas. O agente Russell havia ido com eles e não pareceu se incomodar com a presença dos supostos produtores. Pelo menos não com a presença de Victoria: fez de tudo para impressionar a caçadora com seu "profissionalismo”, o que irritou mais ainda os Winchesters. Haviam passado também na biblioteca local para algumas pesquisas, contudo, o lugar estava fechado, pois encerrava suas atividades às cinco horas.


Após estacionarem os carros, passaram por um grupo de agentes, mais especificamente cinco mulheres do FBI. Todas lançaram olhares lascivos tanto para Sam quanto para Dean. Collins sentiu uma raiva muito grande. Quem aquela mulherada pensava que era para pôr os olhos em seus homens?


Observou a reação de ambos: Sam pareceu lisonjeado, mas ficou meio constrangido e não deu muita atenção. Bom menino. Quanto a Dean, não poupou piscadelas e olhares fatais. Safado! Conhecia de longe a fama daquele Winchester como a de um pegador de mulheres. Escutou comentários de algumas caçadoras que haviam tido o privilégio de cair nos braços daquele homem.


De qualquer forma, não estava satisfeita em notar que seus Winchesters eram alvo da atenção feminina. Passou marchando ao lado deles sem nem se dignar a lhes olhar. Não era uma atitude fora do comum para eles; já estavam se acostumando com a indiferença de Collins, embora ainda os incomodasse.


Estavam quase chegando ao saguão do hotel, quando ouviram os gritos de Katharina:


– Pára, Bill! Solta ele! Socorro!


Os três trocaram olhares e sem precisar dizer palavras, correram para acudir.


********


Lembrando que a história se passa em 2009, por isso, faço menção do ex-presidente Obama, embora não o nomeie na fala do Dean.



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Autor(a): jord73

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Esqueci de falar: este caso do cavaleiro será dividido em seis partes, será o mais longo da fanfic. Divirtam-se! Anteriormente: O capataz apontou o dedo em direção a um morro da fazenda. No alto, estava um cavalo de cor negra de aspecto sombrio e, montado nele, um homem trajado à moda norte-americana do século XVIII. Segura ...


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