Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance
DISSIDENTES
UM ANO DEPOIS dos últimos acontecimentos descritos...
O jornalista Carlos Itatuoca foi encontrado morto em sua casa de praia, situada no farol, ilha de Mosqueiro, distrito de Belém. O motivo plausível no inquérito policial foi de afogamento, devido ao corpo estar boiando na piscina envolta em latinhas de cerveja, e havia também uma garrafa de champanhe quase cheia, ladeada por duas taças no mármore da borda da piscina. Alguns vizinhos disseram tê-lo visto entrar na casa tarde da noite, o carro com o som no último volume, e empolgado com a presença de uma bela loira de vestido vermelho. Horas depois, a linda mulher partiu apressadamente em um táxi, como dizia um vigilante local.
O experiente jornalista, que outrora havia caído no ostracismo, retornou à fama após visitar o Suriname, onde afirmou ter tido um encontro que iria abalar as eleições para governador neste ano. Durante este encontro, adquiriu informações sigilosas sobre uma suposta fraude envolvendo o presidente do Tribunal Eleitoral. Carlos insistiu em fazer mistério sobre as provas que tinha em mãos e não quis compartilhar com ninguém, inclusive, nem sequer foi para sua residência oficial temendo por sua vida, preferindo ir direto para a ilha praiana comemorar sua informação exclusiva junto a uma louraça que acabara de conhecer no avião de regresso à Belém. Dizia a todos que seu furo jornalístico colocaria seu nome de volta às manchetes dos jornais como no passado. Realmente ele estava certo de que seu nome estaria na manchete de todos os jornais, só que foi para relatar sua trágica morte. E o seu furo jornalístico que geraria um escândalo sem precedentes na história da política paraense se suprimiu a uma pequena nota nada polêmica na página policial.
Este fato não conseguiu levantar uma poeira mínima que fosse capaz de abalar as eleições para o cargo mais alto do Estado. E o intocável e imperioso senador Lucas Muller, aclamado entre os confrades por ter uma mente brilhante, adiante de seu tempo e aberta a mudanças, foi eleito com vantagem de votos. Derrubou, assim, o veterano e carismático senador João Nunes Filgueiras, que era muito querido pelo povo por seu caráter humilde, adquirido em sua origem simples de pescador. O senador Filgueiras ficou em segundo lugar nas disputas do segundo turno com 38% dos votos.
NO PRIMEIRO ANO de mandato, o recém-eleito governador Lucas Muller cumpriu uma promessa de governo, em que afirmou elevar Belém do Pará a um progresso das grandes metrópoles internacionais. Em um projeto audacioso, mandou construir uma pista elevada de mão dupla, que se estendia por toda a Avenida Almirante Barroso, tendo seu início no bairro de São Brás após o cruzamento com a Av. Ceará, e terminando na Av. Tavares Bastos, na qual se construiu um viaduto semelhante ao Carlos Marighela da Av. Dr. Freitas. E este, por sua vez, é o causador do único declive da via elevada onde somente é permitido o tráfego de veículos leves com intenção de seguir direto para o entroncamento e vice e versa.
No complexo viário do entroncamento foi estreitado os canteiros para se alargarem as pistas, construindo um viaduto que conduz os veículos da Av. Almirante Barroso para a rodovia Augusto Montenegro. Semelhante à Av. Almirante Barroso, foi também construído na rodovia Augusto Montenegro desde o entroncamento até o distrito de Icoaraci, dois viadutos nos cruzamentos da Av. Independência e na entrada do bairro do Tapanã com o Satélite. Tudo isso foi feito após um discurso inflamado sobre a triste realidade do trânsito belenense:
— Caos é a única palavra que serve para definir a cena que se desenrola todos os dias no trânsito da cidade da grande Belém. É, também, irônica a abordagem que “se desenrola”, pois o drama realmente parece tentar se desenvolver lentamente entre pneus, buzinas e palavrões. Um pequeno acidente qualquer em uma das únicas quatro vias principais desta cidade, que nem sequer desperta para o progresso, pode significar horas de engarrafamento e transtorno para os motoristas e passageiros que circulam por aí. Belém está atrasada cinquenta anos quando o assunto é trânsito de automóveis, pois as derradeiras obras públicas no setor não deram uma resposta significativa para a situação daqueles que necessitam seguir em direção aos seus destinos diariamente. E se surpreendam! Há quem diga que os mesmos engenheiros realizadores do bairro da cidade velha, há quase quatrocentos anos, continuam trabalhando até hoje em seus respectivos cargos. É só observar o espaço que se têm para abrir uma larga avenida, e no final o que se vê é uma passagem para carroça, como foram idealizadas as ruas do bairro citado na época. E não pode nem se regozijar com alguns projetos, diga-se de passagem, ousados e inovadores para região, porém obsoleto para outras mais adiantadas do país, porque estes tais projetos já deveriam ter sido realizados há décadas, simplesmente devido ao fato de que no mesmo ano em que são concretizados, a frota de automóveis da cidade cresce consideravelmente. Assim, deixa novamente escancarada a mesma lacuna de outrora. Prometo, senhores, que este será somente o início para a solução desse problema no trânsito de nossa cidade.
Seu outro grande projeto foi dar início à reforma agrária, que começou meio tímida com alguns avanços. Mas levantou uma polêmica quando decidiu dar terras do Pará somente para os paraenses, e mandou que os naturais de outras regiões procurassem seus estados e seus respectivos governantes. Isso gerou revolta entre os grupos interessados, contudo o governador conseguiu o apoio do congresso nacional, que convocou todos os líderes das outras regiões para solucionar o problema.
O governador Muller realizou, em tempo recorde, muitos projetos, que em outras mãos não sairiam nem do papel. Seu nome cresceu rapidamente e ele nomeou o deputado Joaquim Silvério Moreira a Secretário de Segurança Pública, que logo indicou o nome do delegado Otávio Braga para ser delegado-geral da Polícia Civil, e o coronel Travassos para comandante-geral da Polícia Militar.
O Dr. Manoel Corrêa Silvestre, braço direito do governador, se tornou Secretário de Meio Ambiente, onde pôde dar carta branca para sua ONG “Viva a Amazônia Verde” de atuar na floresta com livre acesso e pôr fim ao descontrolado desmatamento, pois o órgão fiscalizador, que seria a Polícia Federal, continuava sob a gestão de Júlio Campelo, agora enraizado no cargo.
DENTRO DE UM dos laboratórios da organização que explora de forma escusa a floresta amazônica, dois homens conversam baixinho dentro do banheiro às duas da madrugada:
— Doutor, quando o senhor irá?
— Antes do amanhecer, Antonio!
— Tem certeza de que é uma boa ideia levar todos esses documentos?
— Certeza não tenho, mas pense bem. Ao fugir assim, levando ou não levando nada, eles me caçarão até a morte do mesmo jeito. Pelo menos tenho algum motivo pra eles me temerem.
— Tem razão, doutor!
— E tem mais! Não quero mais fazer parte desse absurdo. Eles passaram dos limites. Essa história de... Oh, my God! Parece que ouvi algo! Ah, não é nada!... É inconcebível todo este plano. Vou pra bem longe e, quando estiver seguro, denunciarei toda esta loucura.
— E pra onde o senhor vai?
— Não posso dizer nem pra você, meu amigo, para não correr o risco de ser rastreado.
— Eu pretendo ir pra Salvador. Tenho uns parentes por lá e...
— Drugs! Preciso voltar logo pro meu quarto. Nos vemos mais tarde. Ok!
O segurança de nome Antonio Medeiros observou o doutor Douglas Stone desaparecer no corredor, então decide retornar ao seu quarto, onde já se encontra tudo arrumado para a fuga. Dentro da mala jogou um CD contendo filmagens de segurança, e guardou o dinheiro economizado durante um quinquênio de serviços prestados como chefe de setor, cargo que lhe permitiu que lograsse certas vantagens sobre seus subordinados, desviando uma porcentagem de seus salários para sua conta corrente. Agora usará o dinheiro para comprar um terreno em sua cidade natal, já que sua naturalidade é soteropolitana, e construir uma singela casinha, a fim de acomodar sua jovem esposa, que o aguarda no quarto alugado no bairro do Umarizal, em Belém.
Deitado na cama, espera ansioso pela hora que marcou com o doutor para se encontrarem. Depois de uma hora e meia sem cerrar as pálpebras, o chefe da segurança se entrega ao sono. De repente se espanta ao pensar ter ouvido algumas batidas na porta, mas, ao observar o relógio, acredita se tratar de um sonho, então volta a dormir, pois ainda não era a hora. Novamente as batidas na porta espantam seu leve sono, porém desta vez decide levantar-se e, diante da porta, ele devolve as batidas, que logo são respondidas por arranhões de unhas na madeira, essa era a senha. Ao abrir a porta, se depara com o doutor, seu coração palpitou acelerado.
— Dr. Douglas, o que houve? A saída não é às cinco?
— Mudanças de plano! Recebi um recado de que serei esperado às seis horas para os últimos testes do VT-1771, no laboratório central. O que quer dizer que baterão em minha porta uma hora antes para os preparativos.
— Minha nossa! Bem no momento da fuga.
— Teremos que partir agora, ou então estará tudo acabado. Sem mim eles não conseguirão dar início ao último estágio do VT-1771.
— Isso é verdade! Precisamos partir agora. Vamos agora!
— Sim! Yes! Now, go, go!
— Me espera lá fora. Preciso pegar alguns utensílios. É que temos uma longa caminhada no meio da mata antes de chegar ao rio.
— Verificou o caminho. Tem certeza de que não seremos vistos?
— Claro que não! Afinal, fui eu mesmo quem desenhou este esquema de segurança. Sei o modo de burlá-lo.
— Vamos pegar as trilhas das pontes de madeiras?
— Não! As pontes são monitoradas por câmeras de vídeo e guardas vigiam o trajeto.
— E por onde vamos, afinal?
— Calce sua bota, porque o caminho será pelo mangal entre as raízes das árvores.
— O quê? Não tem outro jeito, não é?
— Não!
— Yes, no problem!
O Dr. Douglas Stone segue pelo corredor deserto e escuro até encontrar a saída, onde se choca com o vento frio da madrugada. Sente seus ossos quase congelarem, e, prevendo isso, usou as suas roupas de inverno compradas em Nova Jersey, EUA.
Ele se senta por trás de uma coluna longe das luzes da segurança à espera de seu guia e companheiro de fuga. Neste intervalo, lembra-se da sua proposta de fama e poder ofertadas a ele depois de seu discurso em um fórum Pan-americano em Boston. Na descida do palco, ele recebe o recado de que alguém o esperava dentro de sua sala. Ao abrir a porta, se depara com um homem de cicatriz no rosto, o que lhe dava uma aparência assustadora. Temeu por um instante a sua presença, mas se acalmou quando viu o homem abrir uma maleta cheia de dinheiro dizendo que seria seu, caso aceitasse sua proposta. No mesmo instante, várias imagens passaram por sua mente: a chance de sua vida acabou de aparecer, sua família teria o conforto que merecia, e ainda poderia custear suas pesquisas sobre epidemias e o sistema imunológico dos seres humanos. Agora todo aquele dinheiro estaria em suas mãos e era só aceitar a proposta que ele nem perguntaria do que se tratava, se não fosse sua discrição.
O homem então disse que ele somente precisava fazer uma longa viagem, sofrer um pouco de desconforto no meio de uma floresta e prestar seus serviços dentro de sua própria área. “Não há melhor lugar para estudar doenças epidêmicas do que a Amazônia brasileira, não é? É claro! Eu aceito!” Agora todo aquele sonho estava sendo lançado no ralo. O plano é levar sua família para um lugar seguro, distante de qualquer ameaça.
Não demorou muito para seu guia surgir na escuridão e mostrar o caminho que deveriam percorrer com toda a cautela. O caminho se perdia em meio às árvores e à penumbra da noite, mas isso não amedrontou os dois fugitivos que se embrenharam na mata procurando se desviar dos pontos de vigia. Depois de alguns minutos de caminhada, já ouviam o barulho das águas que se revolviam no extenso rio de cor barrenta. Se apressaram para chegar à margem onde estava ancorada a lancha que seu próprio Antonio deixou amarrada às raízes das árvores. Ao avistar a embarcação, o doutor logo se apressou, porém o chefe da segurança pediu que aguardasse atrás de um arbusto, afirmando que iria até a lancha verificar se estava tudo bem. Se ele fosse visto naquele lugar e naquela hora poderia dar uma desculpa qualquer, o que não poderia acontecer o mesmo com o doutor.
— Espere aqui um momento! Se houver uma tocaia, seremos mortos sem dúvida nenhuma.
— What?
— Fique aqui quieto que eu irei até lá sozinho. Se estiver tudo limpo, darei um sinal, pois sou o único aqui cuja presença pode ser justificada.
A trilha que seguiram poucos a conhecem e um deles é Antonio Medeiros, que se desloca até a lancha aportada na margem do rio. O Dr. Douglas permanece inerte em seu esconderijo com medo de ser descoberto. Ouve um estalido e se espanta. Ao procurar a origem do barulho, riu consigo mesmo. Forçando bem a vista para enxergar na escuridão, pôde perceber o andar calmo de um caranguejo sarará que exibia sua poderosa pata para intimidar o estranho vulto. Só de pensar que seria morto se o encontrassem ali, isso lhe causava arrepios por todo o corpo. Enquanto isso, seu Antonio desceu cautelosamente o leito do rio, passando pelo meio das raízes altas das árvores ribeirinhas, sempre verificando se não havia nada de errado pelo caminho enlameado. Tudo estava correndo muito bem, e seu Antonio fez piscar sua lanterna somente uma vez, logo pôde ver a sombra de um homem se erguer e correr em sua direção, abraçando uma mochila com tanta força como se sua vida estivesse dentro dela.
O doutor sobe no barco às pressas desamarrando dos pés os pedaços de tábuas que serviram para que não afundasse na lama e diminuísse suas pegadas, dizendo repetidas vezes em inglês a palavra “vai”. O chefe de segurança não ligou o motor da lancha para não fazer barulho, preferiu remar até certa distância longe dos ouvidos dos vigias. Quando acreditou haver chegado num ponto seguro para ligar o motor, o fez usando baixa velocidade, visto que na calada da noite o som do motor poderia ser ouvido de longe, entretanto, daquela distância, poderia ser confundido com um barco de ribeirinhos. Seu Antonio Medeiros respirou aliviado quando viu a ilha se distanciar no horizonte escuro do rio. Neste momento, viu o doutor se virar para trás e dar um grito.
— Vão se danar seus miseráveis! Fuck!
CONTINUA...
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Autor(a): Mauro Celso
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Comentários da Fanfic 1
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Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53
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