Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance
AO DESCER PELA escadaria do prédio da PF, o agente Jota Macoi encontra um companheiro seu que o cumprimenta pelo ato de coragem na última operação. Indaga-o sobre a conversa com o delegado Júlio, porém, antes de dar qualquer resposta a Lucena, ele se dirige ao homem que adentra o salão da recepção com uma pasta nas mãos e deixa seus óculos se desalinharem, ao espantar-se com a interpelação do agente:
— Desculpe, mas o senhor me conhece?
— Não, apenas sei que além de professor, evangélico e músico, é casado e possui um casal de filhos.
— Minha nossa! Por acaso vocês da federal andam monitorando a vida da gente?
— Não é nada disso, amigo! – intromete-se Lucena. – Por favor, Macoi, se explique ao rapaz.
— Bom, meu caro docente. Pela janela vi você chegar com seu carro e no seu para-brisa há um adesivo da Universidade Federal que só o corpo docente usa. Além disso, atrás do carro, dois nomes dobrados: Ruben Mateus e Jessica Vitória. É costumeiro nos dias atuais os pais batizarem seus filhos com nomes assim, por isso sabia que não era o seu e nem da sua esposa. E nem preciso dizer sobre a aliança no seu dedo anelar da mão esquerda.
— Pai-d’égua! Como descobriu que toco violão na igreja?
— Tive mais certeza de que se tratava de um professor quando agora vi seus dedos da mão direita sujos de giz, e ao observar os da mão esquerda, percebi certa deformidade nas falanges, causado pelo uso contínuo de instrumento musical de cordas. E vou lembrá-lo dos panfletos evangélicos que carrega na parte transparente de sua pasta.
— Filho da mãe! Caramba! Vocês são treinados pra ter esse tipo de raciocínio?
— Acalme-se! – diz o agente Lucena. – Não se assuste com o agente Macoi. Quando ele chegou aqui já era assim. Com essa tenebrosa agilidade que às vezes parece mais que é vidente, ou até um macumbeiro. Em que posso ajudá-lo?
O AGENTE MACOI já não ouve o restante da conversa por se encontrar no estacionamento, onde outro colega policial o esperava para lhe oferecer carona, já que Macoi havia perdido seu carro em um acidente um pouco estranho. Entra no carro e cumprimenta o agente Formiga que, no desenvolver da viagem, indaga:
— Me conte novamente aquela história do seu verdadeiro nome e o porquê de te chamarem assim agora.
— Pra começar, Formiga, meu nome é José Machado Coimbra. Jota é um apelido desde criança. Sabe como o brasileiro adora encurtar o que fala.
— Ah, quer dizer que sua mãe, com todo o respeito, ficava gritando na rua “Zezinho, vem comer! Zezinho, vai tomar banho! Zezinho, não mexe aí! Ze…”
— Vamos parar com as piadinhas. Quando entrei no exército, houve uma discussão sobre meu nome de guerra, pois havia um recruta Machado e outro chamado de Coimbra. Nesse instante, surgiu um oficial de origem americana que passava uma instrução no quartel e sugeriu suprimir meus dois sobrenomes, pegando as iniciais de cada um.
— E a-há! Surgiu então o temido Jota Macoi. Yes!
O cavanhaque fino do agente Formiga denuncia a irreverência de suas atitudes. Entra com o carro na Av. Rodolfo Chermont após deixar a larga Av. Tavares Bastos, e segue passando a feira até parar em frente à residência do velho agente. Antes de sair do veículo, Macoi nota a presença de um homem parado na esquina da passagem Santa Marta.
Macoi sai do carro e despede-se do amigo, se aproxima do homem até poder enxergar vi o que indicava que se tratava de um analfabeto. Seu vizinho, chamado Chiquinho, lhe chega para pedir um dinheiro emprestado, mas nem lhe dá atenção. Segue direto para o homem parado na esquina com o jornal aberto e um cordão de uma santa pendurado no pescoço. O que é que um devoto de nossa senhora de Fátima, analfabeto, iria querer fingir estar lendo um jornal evangélico? Somente pelo motivo de querer disfarçar sua permanência aqui, a fim de chegar a melhor hora de cometer seu crime.
Jota Macoi aborda-o, se identificando e revistando-o ligeiramente até encontrar um revólver carregado de munições. O sujeito, vendo que seu plano de assaltar o açougue tinha ido por água abaixo, fugiu quando o policial verificava o tambor da arma. Macoi não grita e nem impede sua fuga, pois sabia que não pararia. Ele volta-se para o seu vizinho e entrega o revólver, ordenando que fosse até a delegacia do bairro.
— Caramba, seu Jota! Como o senhor sabia que aquele cara estava maquinado?
— Foi simples! Bastou atentar para os detalhes.
O AGENTE ENTRA em sua casa deixando de ouvir a ladainha de seu vizinho inconveniente. Estava exausto, pois a idade já não mais obedece a mente, que teima em ser jovem. O músculo se atrofia, a pele enruga, o fôlego diminui e tudo o mais se torna difícil na sua idade.
Ele se dirigia ao chuveiro quando ouviu o telefone tocar na sala. Retorna, porém não atende sem antes verificar se não há nada de estranho debaixo de seu aparelho e da . Tantas pessoas que foram presas por suas mãos, tantos inimigos declarados e não-declarados, tantas ameaças de morte, que ele até distanciou o telefone da direção da janela. Não que temesse por sua vida, era até o fim dela que pedia quando não tinha nada pra fazer, todavia, odiaria ser interrompido antes de elucidar um caso, de ir até o fim. Esse era o seu combustível.
Não encontrando nada de anormal ao redor, resolve atender. E do outro lado da linha estava a promotora pública Naula Ferreira, com quem tem um caso amoroso. Ela propõe um jantar romântico na estação das docas, seu lugar preferido. Ela deseja comemorar ao seu lado o fim do julgamento da sociedade secreta dos “onças pintadas”, organização desmantelada pelos agentes Macoi e Luís Claudio, e que era a responsável por várias chacinas pela cidade de Belém. Ele aceita o convite e ela combina de pegá-lo às dezenove horas. O agente desliga, mas o aparelho toca novamente. Relutante, decide atender o novo telefonema. Uma voz familiar com um sotaque estranho lhe chama de sargento:
— Sargento, pode falar?
— Sim.
— O correio chega hoje!
— No meu endereço?
— Sim.
— E como devo esperar?
— Às segundas-feiras dobradas.
— Valeu, Cacique!
Do outro lado da linha, bem longe dali o homem de sotaque estranho desliga o telefone e volta a se deitar com uma mulher que veio de Goiânia para vê-lo. Este é Índio, nativo das tribos da região do Xingu que mora nas proximidades do município de Marabá. Conheceu Macoi em uma operação do exército ainda na guerrilha do Araguaia nas matas de Xambioá. Na ocasião, o sargento Macoi fora emboscado por um grupo de guerrilheiros comandados por Geraldão. O militar conseguiu fugir graças à coragem de Cacique e, desde então, se tornaram grandes amigos. Cacique ajuda o agente Macoi em muitas investigações, até porque ninguém desconfia de um índio que demonstra não falar português.
EM BELÉM, o agente Macoi coloca o fone no gancho e retira o plug da tomada para não ser mais incomodado. Segue para o chuveiro, porém é novamente interrompido pelo som da campainha do seu celular tocando ruidosamente em cima da mesa. Ele se enraivece, mas resolve atender. Desta vez é o jovem Luís Claudio, agente recém-formado da academia há pouco mais de três anos. Devota a Macoi uma profunda admiração, mesmo sob a reprovação de alguns desafetos do agente que lecionavam na escola durante o curso de formação de policiais.
Luís Claudio ficou emocionado quando o tio Júlio Campelo permitiu que ele fosse o parceiro do experiente agente. O motivo da ligação fora para avisar que um carregamento de contrabando iria chegar exatamente às vinte e duas horas em um galpão abandonado próximo ao porto da palha no bairro dos Jurunas. Macoi lhe diz que seu recado estava atrasado, pois já haviam lhe passado a informação. Contudo era para o jovem agente esperá-lo próximo ao local dez minutos antes.
O velho agente finalmente consegue tomar seu banho, depois de ouvir a campainha da porta tocar incessantemente. Cautelosamente, abre a porta e descobre que o seu inconveniente vizinho trouxe alguém que queria consultá-lo. Macoi aponta para o sofá e os dois se sentam. A mulher ainda muito nervosa espera Chiquinho apresentá-la:
— Seu Jota, o sr. deve se lembrar da senhora Rosana que mora aqui próximo.
— Sim.
— Aconteceu uma desgraça na casa dela e...
— Peraí, Chiquinho. Não é tão grave assim.
— Como não? Entraram na sua casa!
— Acalme-se e deixe que eu conto o ocorrido. Foi assim: quando cheguei em casa, notei que estavam faltando algumas coisas e descobri na cozinha que haviam arrombado a porta dos fundos.
— E ainda defecaram na cama dela! Esses malditos irmãos Jiló!
— Já sabem quem foram os autores? – indaga o anfitrião.
— Não! Contudo todos sabemos que os irmãos Juca e Pedro Jiló são contumazes nesses casos.
— Então me digam: de que cor eram as fezes da cama?
— Como assim de que cor eram as fezes?! – Espanta-se a senhora com os cabelos tal como a Maga Patológica dos quadrinhos. – Seu Jota, o sr. está de sacanagem, não é? – Aborreceu-se a senhora.
— Não estou não!
— Ora, era a cor de umas fezes qualquer.
— Então podemos dizer, ou quase afirmar, que não foram os irmãos Jiló.
— Como o senhor sabe disso?
— É simples. Todos nós sabemos que a genitora deles vende açaí em sua casa. E que sempre é separado um litro da fruta batida para os filhos. Se eles tomam açaí todos os dias, então de que cor vocês acham que é as fezes deles?
— Minha nossa! Eu não havia pensado nisso!
— Não te falei dona Rosana, que o seu Jota é o policial mais inteligente do mundo!?
— Então me diga, o que devo fazer?
— Descreva no papel tudo o que foi roubado de sua casa que eu mesmo falarei com um amigo meu da polícia civil e ele averiguará pra mim. Depois lhe darei a resposta. Está bem?
— Está bem, muito obrigada!
— O seu Jota tem muitos amigos na polícia. Ele é muito conhecido e temido também! Muitos bandidos por aí odeiam ele, não é? Conte-nos da vez que o senhor perdeu seu carro.
CONTINUA...
Autor(a): Mauro Celso
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53
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