Fanfics Brasil - UM JANTAR ROMÂNTICO CONEXÃO AMAZÔNICA

Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance


Capítulo: UM JANTAR ROMÂNTICO

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UM JANTAR ROMÂNTICO


 


UM DOS CAMINHÕES de carga da organização dos contrabandistas acelera o motor pela rodovia estadual, que liga o sudeste do estado à sua capital através da alça viária, sistema rodoviário que transpõe os rios Guamá com uma ponte medindo 1.976 metros de comprimento, possuindo o maior vão suspenso da América Latina, de 320 metros. A partir desse vão se elevam duas torres com mais de 90 metros de altura que sustentam inúmeros cabos de aço. Esta ponte foi comparada ao famoso Golden Gate de São Francisco, na Califórnia (EUA). Logo em seguida, eles passam pela ponte sobre o rio Acará que mede 796 metros de comprimento, passando depois pelas outras  ue possuem 868 metros e passam sequencialmente pelo rio Moju.


O experiente motorista ensina seu parceiro apontando a direção do porto de Vila do Conde que foi transformado em terminal de carga geral com o acesso de navios de até 60 mil toneladas, capacidade superior ao porto de Belém, que estava congestionado. No porto também se encontra o polo industrial do alumínio no município de Barcarena. Passam pelas grandes reservas hídricas de água potável que abastecem a cidade de Belém e municípios vizinhos. Antes, o grupo havia passado pelo acesso ao long o da estrada à usina hidrelétrica de Tucuruí e, mais à frente, o projeto Grande Carajás.


Agenor parte na continuação de sua longa viagem junto de seu acompanhante, que escuta atentamente todas suas histórias vividas em vinte anos de estrada.


 


— NO ESPAÇO QUE se compreende desde a antiga rampa do sacramenta até a escadinha da guardamoria, onde se presenciou o majestoso desembarque, por debaixo da chuva vespertina, passou a ilustre majestade, o imperador D. Pedro II e sua digníssima esposa no ano de 1876, em meio a uma viagem para tratamento de saúde dela nos EUA.


— O imperador D. Pedro II esteve aqui? E desceu por debaixo da nossa famosa chuva da tarde? 


— Na verdade, o desembarque não aconteceu por motivo do forte temporal. Eles desceram em solo paraense somente no outro dia pela manhã.


— Jota, adoro quando fala sobre a história de Belém e do Pará. Não sei como consegue armazenar tanta informação assim, mas fale sobre isto aqui!


— Este espaço já pertenceu à empresa inglesa Port of Pará nos anos áureos do ciclo da borracha, onde se escorria a exportação da matéria-prima preciosa do látex, semelhantemente à importação de mercadorias luxuosas vindas da Europa. Com o fastígio da borracha, a velha cidade deu início à sua modernização e precisou passar por uma autêntica revolução urbanística. No entanto, com a criação do porto em 1906, e consequentemente a desordenada ocupação do espaço metropolitano, a cidade fechou sua janela para o rio. Apenas cem anos mais tarde preocupou-se em reabrir essa janela com o interesse de encontrar outros caminhos para o crescimento econômico longe das falidas rotas das sangrias...


— Eles queriam parar de tirar leite de pau! Ah, ah, ah!


— Criou-se, enfim, este complexo, que é a Estação das Docas em uma área de 32 mil m² nos uinhentos metros de orla fluvial que mencionei antes. Restauraram os quatro galpões de ferro tombados pelo patrimônio histórico.


— Está bom de história, querido. Vamos passar logo ao galpão do restaurante!


Decididamente, o casal segue até o galpão chamado de Boulevard da gastronomia, que abriga o que há de melhor em restaurantes de várias tendências, como regional, nacional, marisco, italiano e japonês, além de possuir um dos palcos suspensos, o qual desliza sobre seus próprios eixos.


A promotora Naula Ferreira possui longos cabelos loiros e um nariz afilado imponente, que lhe denuncia a descendência europeia por parte de seu pai. Ela sugere ao acompanhante que se encaminhem até o seu lugar preferido no restaurante, cujo paladar é o regional à beira da baía do Guajará, passando longe da cervejaria que processa a bebida instantaneamente, pois conhece bem o envolvimento passado de seu amado com bebidas.


 


DEPOIS DA TRAGÉDIA que mudou a vida de Jota Macoi, o militar nato, o sargento elogiado, o aluno insistente de vários cursos morreram naquele momento. O sargento Macoi nunca mais será o mesmo! Do autocontrole às bebidas; do bar às sarjetas; das honras ao mérito para a deserção; e da deserção à prisão. Contudo o comandante preferiu mantê-lo apenas sob observação dentro do quartel, mas o sargento não aceitou o acordo e pediu sua baixa. Afundou sua reputação na última mesa dos bares da cidade de Marabá, sempre com aquela imagem latente na cabeça: sua esposa, que para ele tinha um caráter sem mácula, doce e meiga, e sua pequenina filha.


 


MACOI NÃO SE dedica mais em contar os detalhes da estação das docas, pois sabe que a promotora é uma fiel visitante do complexo. E que, assim como ele, é conhecedora das exposições existentes naquele galpão , onde se encontra a exposição permanente denominada de “Memória do porto”, a qual, além de possuir fotografias e objetos seculares da época da construção do porto, também expõe objetos encontrados durante escavações arqueológicas que indicam a existência no local da antiga fortaleza de São Pedro Nolasco.


Outro galpão é onde funciona o setor administrativo e um espaço para feiras, congressos, convenções, seminários e outros eventos no âmbito do turismo, contando com o apoio do teatro-auditório que tem a incrível capacidade de comportar quatrocentas pessoas sob um moderno sistema de luz e som.


O último galpão era onde funcionava o Mosqueiro-Soure, que continua sendo um terminal de embarque e desembarque de passageiros na estação fluvial turística no flutuante Amazon River. Macoi nunca entendeu o porquê de o nome inglês continuar, aliás, ele não entendia o motivo das pessoas batizarem tudo que criam com um nome inglês. Contudo não quer começar a resmungar como sempre, por isso, volta sua atenção para a falante Dra. Naula que, alegre e eloquente, pede para que o garçom escreva seu pedido em sua comanda eletrônica, a qual envia todos os dados diretamente para a cozinha.


A promotora é divorciada há anos e possui uma filha que foi morar com o pai em São Paulo, a fim de concluir a faculdade. Macoi a ouve falar atentamente sobre o esforço contínuo e dedicado da filha nos estudos, o que culminou com o ingresso na USP, universidade paulista de renome. Ele se mantém fiel ouvinte obedecendo a seus próprios princípios de que o homem nasce com dois olhos, dois ouvidos e uma só boca, por isso jamais se deve falar mais do que se ouve ou se vê. Enquanto a promotora fala das últimas notícias que recebera de sua filha, o agente olha discretamente ao seu redor, analisando sistematicamente as rotas de saídas:


Quais delas seriam a mais apropriada pra ser usada em caso de uma emergência? Onde estão as mangueiras e extintores contra incêndio?


Ele atenta para a direção do vento.


Ir de encontro à brisa seria a melhor maneira de se desintoxicar em caso de vazamento de gás.


Todos reclamam desse seu jeito que até batizaram de mania de conspiração. Ele observa cautelosamente as pessoas em sua volta, a fim de verificar quais delas têm um potencial para ser um possível criminoso ou até um inimigo seu que o espiona esperando um vacilo.


Percebe, ao enxergar no reflexo da bandeja que o garçom segurava no peito ao passar por ele, que o homem sentado na mesa de trás pesa mais de cem quilos em uma estatura de um metro e setenta. O que quer dizer que seu índice de massa corpórea está acima do adequado, e na sua idade, de mais ou menos trinta e cinco anos, significa uma vida sob um sedentarismo preocupante. Então calcula que não precisaria de muito esforço para derrubá-lo, se fosse preciso. O agente não consegue conter o ímpeto de seu cérebro. Este instinto bombardeia seu pensamento como um reflexo que já faz parte de sua personalidade e é mais forte do que ele próprio, sem o deixar relaxar nem mesmo com a presença da sua doce Naula.


Ele vê a mulher de vestido creme brilhante bem à sua frente e percebe que ela apanha de seu marido, justamente por notar que o forte traço de batom e a esmerada maquiagem não puderam esconder um corte nos lábios e uma leve luxação na maçã do rosto no lado direito. Esse detalhe ele somente notou após ver uma entorse no seu braço esquerdo, o que o fez perceber que se tratava de um marido canhoto e que tinha um olhar ciumento sobre ela o tempo todo. A partir dessa interpretação ele pôde deduzir o ocorrido: o marido, com ciúmes de algo — O ciúme quando não tem motivo geralmente fabrica um! —, segurou-a firmemente pelo braço e lhe desferiu uma forte bofetada que a deixou com os olhos lacrimejados na hora do jantar. No momento em que o marido ciumento se preparou para assinar seu cheque, a fim de pagar a conta, Macoi pôde constatar que ele realmente era canhoto.


Um casal com demasiada intimidade chama sua atenção, simplesmente porque o homem bem vestido e ostentando um relógio caríssimo não seria capaz de deixar sua esposa sair com imitações baratas de joias. A não ser que a jovem tão sorridente sem aliança nos dedos simplesmente não fosse sua esposa...


— Jota! Você está ouvindo o que estou falando?


— Sim, é claro! Você acabou de dizer que estava ciente sobre o acordo que o juiz Vicente de Albuquerque havia feito com os acusados de fazerem parte da sociedade secreta dos Onças Pintadas.


— Isso mesmo! Mas não podia dizê-lo na frente do juiz, não é? Isso estragaria todo o meu esforço de condenar os réus. Então achei uma maneira indireta de fazê-lo e acredito que o juiz entendeu o recado, por isso não aceitou o pedido do advogado deles de falar a sós e em nenhum momento atendeu o telefone.


— Se certificou de que não se falaram mesmo?


— Eles não se falaram, não! O juiz Vicente me conhece bem. Sabia que eu o estava vigiando.


— A reputação, Naula, é mais forte que qualquer propaganda.


— E sabe de uma coisa? Você, como sempre, fez um ótimo trabalho conseguindo as melhores provas da existência dessa sociedade secreta. E a gravação com toda a confissão do líder foi primordial para que o júri fosse unânime. Como conseguiu que ele praticamente descrevesse tudo daquele jeito?


— É preciso conhecer o comportamento do ser humano, por mais imprevisível que o homem seja. Porém o seu caráter, o lugar onde vive ou viveu, a sua educação paterna e fraterna, o seu ciclo de amizades, o seu local de tra dico, ou um simples desvio de personalidade pode mudar tudo isso.


— É! E é incrível o que certas pessoas são capazes de fazer.


— O homem é imprevisível, principalmente em hora de crise, pois o mais abobado pode tomar a atitude correta, enquanto que o mais preparado pode até borrar as calças.


— Ixi! É verdade, amor. Olhe nosso pedido vindo aí!


— Sabia que a culinária amazônica foi esquecida na subdivisão de filósofos brasileiros, quando estes afirmaram existir apenas três cozinhas regionais?


— Não brinca, Jota! Como foi que isso aconteceu?


— Aconteceu da mesma forma que vem acontecendo durante séculos. Todos enriquecem em cima das peculiaridades amazônicas e os filhos da terra não fazem nada!


— Para se fazer uma classificação de culinária os autores não precisariam ser cozinheiros ou coisas do tipo?


— Infelizmente não tenho sua resposta.


— Mas quais foram as escolhidas por esses filósofos especialistas em cozinha?


— A nordestina, a baiana e a mineira...


— Essas três?


— Revoltantemente, a culinária amazônica é a única que resistiria a uma investigação sobre a natureza e a identidade de seus pratos, pois os seus elementos e condimentos são autóctones. Tudo é produto da caça, da pesca e do suco das raízes da terra, dos frutos e das folhas. Para os povos não amazônicos, o paladar de nossa região é exótico e estranho, todavia, já é fato o reconhecimento da necessidade de um estudo sério sobre a mais rica peculiaridade da Amazônia, a sua culinária.


— É preciso falar tudo isso só por uma cuia de tacacá?


— Eu ia entrar nesse capítulo gastronômico. A cozinha paraense tem se destacado por desenvolver autenticamente a culinária amazônica em sua plenitude, tendo influências totalmente ameríndias, selvagens e nativas. O tacacá é o prato mais famoso nas esquinas da cidade no horário vespertino. De paladar apurado, servido em uma cuia artesanal, onde se misturam vários sabores distintos: o salgado do camarão, o leve doce do verde-louro do caldo do tucupi, que é cozido com alho e a folha da chicória, o insulso da goma de tapioca cozida, e sem esquecer o gosto travoso das folhas do jambu que deixam os lábios dormentes. A origem dos elementos do tacacá, exceto o camarão que vem do mar, todos são originários das plantas. A goma de tapioca e o caldo do tucupi são extraídos da mandioca; o jambu é uma bela hortaliça; e a cuia artesanal é ainda um fruto da cuieira que é uma arvoreta bignoniácea e de madeira muito útil.


— É tudo isso que você falou, mas somente degustando para saber o quanto é delicioso. E que eu não abro mão disso por nada nesse mundo! No entanto por que você diz que o homem é um ser imprevisível? Só porque ele pode cometer uma infinidade de crimes? Sabe que crime é somente aquilo que está tipificado no código penal!


 


— De certa forma a sua natureza é perversa. Isso, afirmo, pois o bem-estar egoístico tende a se sobrepor à consciência da infelicidade universal. Agora veja os animais: não precisam de leis para viver em harmonia com o meio ambiente em que vivem. Por conseguinte, o homem tem se tornado o maior dos predadores...


O agente cessou a fala ao perceber que se assemelhava à bióloga Fátima Machado. Teve a sensação de que poderia ser ela falando através de sua boca. Achou uma loucura lembrar-se dela nesse momento, porém ficou meio sem graça ao olhar a face da promotora que estava aguardando o fim de sua tese. Portanto, ele continuou a falar:


— Um homem pode ter todos os motivos pra cometer um crime, entretanto não o faz. Igualmente, outro possui todas as oportunidades da vida e prefere o crime. Um, após ser gravemente ofendido por seu semelhante, promete-o de morte sem o cumprir; enquanto que este mesmo chega numa esquina e pisa desastradamente no pé de alguém que, sem dizer nada, lhe desfere um golpe fatal.


— Mas credo, Jota! Falando assim parece até que não sabe que o bem sempre vence o mal.


— E é aí que você mais uma vez se engana! Se fosse assim, nenhum pai de família teria sua vida ceifada por um marginal. E te digo mais: na luta do Bem contra o Mal, vence o mais forte!


 


OS ASSUNTOS SE esmiuçaram durante a conversa dos amantes até o fim do jantar e em meio ao sorvete de bacuri e de frapê de cupuaçu, bem como se estendeu pelo caminho que o carro da promotora fez do complexo turístico ao seu apartamento em um edifício na longa Avenida Gentil Bittencourt. Os dois amantes seguem silentes até o décimo sexto andar e se abraçam antes de entrar pela porta de número 161.


Ao se aproximar do quarto, a bela Naula Ferreira desamarra o fio de trás do seu vestido e o empurra para debaixo de seu busto, deixando-o sensualmente cair ao chão. Esse gesto desperta no velho agente o amante insaciável dentro de si que, num impulso, toma-a pelos braços, deitando-a na cama e retirando o resto da sua roupa em um ritual de boca, dedos e língua.


Naula sente um calor tomar seu corpo simultaneamente com um frio em seu ventre. Sorri graciosamente quando um toque lhe provoca cócegas. Macoi adora ouvir seu sorriso de menina no corpo jovem de mulher madura. Os dois amantes se entregam às carícias, ao amor intrínseco e ao companheirismo mútuo de duas pessoas vividas, que, através da penetração, seguem rumo ao objetivo de alcançarem o ápice do desejo de homem e mulher.


CONTINUA...



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Autor(a): Mauro Celso

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53

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