Fanfics Brasil - A CILADA CONEXÃO AMAZÔNICA

Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance


Capítulo: A CILADA

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A CILADA


 


O CAMINHÃO DE seu Agenor se aproxima do destino após longas horas de estrada, enfrentando o sistema de transporte predominante no Brasil, e no Pará não seria diferente, que é o rodoviário. Ignorando o grande potencial do estado, detentor de inúmeras vias rodos-fluviais e de uma enorme, também esquecida, tendência ferroviária. O usufruto desses sistemas seria econômico e ecologicamente correto, atenuando o inevitável crescimento de emissão de gases poluentes na atmosfera terrestre, além de diminuir o número de acidentes que ocorrem nas estradas congestionadas.


O caminhão partiu do meio da selva rumo à cidade de Belém, abandonando uma das bases da organização exploradora dos recursos naturais da floresta, onde uma bandeira estrangeira é descaradamente hasteada no lugar da nacional tupiniquim. O carregamento do caminhão é composto apenas por um grão oriundo do esquema que há muito causa uma perda ao país estimada em US$ 6 bilhões anualmente. Tal perda fez com que o governo criasse a lei ambiental n° 9.605/98, a qual tipifica como crime a prática da biopirataria, assim como a retirada ilegal de madeira e de outros produtos advindos da fauna e da flora para fins comerciais.


O termo biopirataria, lançado no Encontro Internacional no Rio de Janeiro, serviu para alertar as autoridades sobre o fato do conhecimento tradicional e dos recursos biológicos estarem sendo apanhados e patenteados por empresas multinacionais e instituições científicas em seus países-sede. Esta patente impõe restrições às exportações brasileiras e obriga o pagamento de caríssimos royalties na importação de produtos acabados. Ou seja, o Brasil não pode vender o que é dele e ainda tem que pagar caro para usufruir dos derivados de sua própria matéria-prima.


 


A AMANTE NAULA Ferreira desperta vagarosamente em sua cama após um ligeiro cochilo provocado pela fadiga do ato sexual intenso que teve com seu amante. O corpo estava levemente cansado, com um teor de anestesia pelos orgasmos alcançados. Ela lança seu braço esquerdo para o lado, tateando o colchão à procura de seu parceiro que, no entanto, não se encontrava mais lá. Enfim, ela nem precisa abrir os olhos para saber que Jota Macoi havia partido sem se despedir, e um pequeno sorriso no canto dos lábios denota que a sonolenta Naula já está acostumada com essas famosas escapadelas. Portanto, apenas se esforça em observar o horário do despertador em cima da   que marcava 21h50min.


Saiu silenciosamente como sempre o faz!


 


O AGENTE LUÍS Cláudio atenta para seu relógio de pulso, comprado com seu primeiro salário ainda na academia, o qual marcava exatamente o horário combinado entre ele e seu parceiro, que ainda não havia chegado. Começa a se aborrecer e passa a mão por detrás da cabeça, pois não gostava de esperar.


Resmungando, olha pelo retrovisor de seu carro, o qual deixou estacionado em um ponto estratégico na Avenida Bernardo Sayão, de onde poderia ver a chegada do caminhão com o contrabando. Dali, vislumbra o rosto de um homem sentado no banco de trás, o que lhe causa enorme susto.


— Caramba, Macoi! Por que não me avisou que estava aí? Me deu o maior susto! Ainda vou resvalar uma bala na tua fuça qualquer dia desses!


— Mas com que arma vai atirar em mim, Luís Cláudio?


— O quê?! Cadê minha pistola daqui? Seu filho de uma roncadora, devolve minha arma agora! Prometo que esta é a última vez que vai me pegar desprevenido. Te juro!


— Precisa aprender muito ainda sobre como sobreviver nesta imensa selva que é a sociedade, uma selva muito mais voraz e traiçoeira do que qualquer outra. Agora, vamos! Abaixe-se porque já está vindo o nosso carregamento ali.


— Minha nossa! É mesmo! O que vamos fazer agora, Macoi?


— Faremos uma incursão silenciosa pra filmar e fotografar tudo o que pudermos. Principalmente o descarregamento. Quero juntar todas as provas de que preciso pra acabar com a farsa dessa organização e botar seus chefões na cadeia.


— O senhor quer realmente prender esses caras, não é?


— Ainda necessito de uma prova concreta pra completar meu dossiê, que eu mesmo chamei de Conexão Amazônica.


— Ah, agora o senhor já deu até um nome para aquele monte de papéis na caixa?


— Vamos! O caminhão acaba de entrar. É a nossa deixa! – Neste momento, uma música ensurdecedora surge no interior do carro. Macoi se enfurece ao saber da onde vem a tal música.


— Alô, meu bem! Não posso falar agora, meu amor! Estou numa investigação com o Macoi... É claro que é importante!... Que jantar? Ah, o jantar com sua mãe! Desculpa, bem, mas prometo que vamos marcar outro e... Amor? Amor? Ela desligou!


— Marcou furo com sua esposa de novo? Se tivesse me falado do seu compromisso, eu teria vindo só.


— E deixar o senhor sozinho nessa missão perigosa?


— É menos perigoso do que deixar a esposa sozinha em casa! E quantas vezes vou ter que te avisar pra tirar essa música barulhenta do seu telefone?


— Eu sei, eu sei. Aí, o senhor vai dizer que algum dia essa música vai nos denunciar quando estivermos investigando. E que o celular do policial tem que ser discreto e tal...


— Se já sabe, então desliga logo isso aí!


Luís Cláudio ignora a advertência de seu parceiro e não desliga seu aparelho, apenas colocando-o de volta no bolso. Então, os dois agentes federais entram sorrateiramente no galpão abandonado que tem seus fundos voltado para o rio. A aparência é de um estabelecimento vazio, porém, no seu interior, o movimento de pessoas é intenso devido à chegada de mais uma encomenda: alguns dos indivíduos empilham os caixotes; outros carregam gaiolas de pássaros e até mudas de plantas; assim como fragmentos de troncos de árvores e uma variedade de insetos, tanto vivos, em uma incubadora, como mortos em várias pastas de catalogação.


O velho agente federal sente em seu íntimo uma sensação de presságio de que algo não estaria certo, ou que alguma coisa ruim iria acontecer,  . Por causa disso, reflete estagnado antes de se separar do seu amigo:


— Luís Cláudio, tem algo de muito estranho no ar. Alguma coisa não está certa!


— Você agora com intuição?


— Havia apenas um vigia no portão de entrada com um velho revólver 38 na cintura. Os muros laterais estão descobertos, nem sequer há um alarme ou sensor de movimento.


— Macoi! Isto é um armazém abandonado. Pra que tanta tecnologia e segurança.


— Você parece que tem memória curta. Não se lembra que nas duas últimas investigações como estas, nos deparamos com um forte aparato de segurança, e que quase nos tiraram a vida?


— Sim, na ilha de Tracuateua, onde tivemos que fugir pelos igarapés, após terem-nos descoberto.


— E quando tivemos que retornar lá pra recuperar a filmadora...


— Tudo estava limpo!


— Luís Cláudio, não podemos correr risco desta vez. Preciso das provas. Mais um fracasso daqueles nessa investigação por contra própria, Júlio Campelo cortará nossas cabeças.


— Não se preocupe! Desta vez vai ser ripa na chulipa!


— Não podemos baixar nossa guarda. Ainda tenho um mau pressentimento. Vá pelo lado de lá, mas tome cuidado. Toda essa facilidade não é do feitio dessa organização.


O experiente policial observa seu companheiro partir se espreitando pelas sombras e usando a penumbra como cobertor. Ele permanece remoendo seu pressentimento até decidir ingressar na investigação no interior do armazém, onde se depara com um movimento intenso de peões, como se fosse o depósito de um supermercado bem-sucedido.


Macoi começa a fotografar tudo que achava importante. Atentou-se com o desembarque do carregamento que acabara de chegar e se apressava em ser levado ao navio ancorado no porto aos fundos do galpão. Chama sua atenção o homem que gritava rouco no meio do salão, com uma calça de jeans surrada e uma touca na cabeça, e que segurava uma prancheta com inúmeros papéis. O homem se dirige a uma pequena sala, que se assemelha a um escritório improvisado e era a parte mais iluminada do lugar.


O agente aguarda a saída do encarregado de dentro do escritório, a fim de conseguir fotografar os documentos que despontavam na mesa da pequena sala. Sua intenção era registrar algo como documentos de carregamentos anteriores e sobre o destino e rotas de escoamento do contrabando. De repente, um feixe de luz atravessa de relance a vidraça da janela, chamando sua atenção e o fazendo desistir da investida. Regressou à janela onde pôde presenciar algo que o fez estremecer. De imediato 


Fomos delatados! Eu devia saber que estava fácil demais.


 


DO LADO DE fora do armazém, muitos carros chegam e estacionam em frente, saltando de dentro deles muitos homens que ostentavam seus vários tipos de armamento. Do primeiro veículo, surge um homem que mandava nos demais, dizendo para não fazerem barulho e não espantarem os visitantes.


A partir de então, o velho agente tenta localizar seu amigo para avisá-lo da cilada. Macoi sempre se irritou com a falta de prudência de seu jovem parceiro, já cansou até das inúmeras vezes que o advertiu para abandoná-lo, todavia Luís Cláudio afirmava insistentemente que não trabalhava com outro policial que não fosse o destemido Jota Macoi. Muitos policiais também lhe disseram sobre a índole de Macoi, isso porque não gostavam do velho agente.


Macoi se irrita ainda mais ao descobrir que seu parceiro desenvolve sua investigação pelas ferragens de sustentação do telhado. Macoi reluz sua lanterna para cima no intuito de chamar a atenção de seu amigo, que somente via o que estava dentro a partir do alcance de sua filmadora. A lanterna pisca mais algumas vezes sem surtir efeito nenhum, até que o velho agente vê seu pesadelo aumentar quando o homem que estava do lado de fora invade o galpão com grosseria e é abordado pelo encarregado que fica furioso com a invasão, e logo se dirige ao homem de cicatriz no rosto que ordenava a todos para vasculharem a área:


— O que está acontecendo aqui, Vítor Navalha?


— Cale a boca. Ele está aqui!


— Quem está aqui?


— Seu idiota, estou falando daquele policial mexeriqueiro!


— Ah, o tal do Macoi?


— E quem seria mais?


— Mas como ele descobriu o nosso...


Nesse instante, o encarregado é subitamente emudecido pelo som alto de uma música eletrônica que surge no ar. Macoi não consegue acreditar ao reconhecer a música que havia acabado de ouvir ainda dentro do carro. Rezou para que os traficantes não descobrissem da onde vinha, porém infelizmente seu parceiro deixou o celular cair quando tentou desligá-lo e o aparelho se espatifou no chão, chamando a atenção de todos que se viraram para ver os estilhaços no chão.


— Olhem lá em cima! Atirem!


Vários tiros são disparados para o alto em direção ao agente Luís Cláudio, que estava começando a descer para não ser descoberto. Tarde demais. Ele despenca do alto por cima das caixas empilhadas no armazém e some por detrás das pilhas. Daí uma intensa rajada vinda dos capangas se direciona para as caixas onde caiu o policial. Os tiros não cessam, mesmo quando um a um começa a ser eliminado com um tiro na fronte, pois no meio de tantos disparos não dava para saber de onde o policial caído revidava.


Um dos capangas, ao ver seu parceiro ao lado cair com o tiro na testa, olhou para o lado e percebeu o brilho do fogo de uma arma que disparava contra ele, o que deu apenas tempo para gritar:


— Ele está ali! Argh!...


Todos os outros se viraram na direção onde o capanga apontou antes de cair ao chão. Macoi, que tentara livrar seu parceiro do alvo das rajadas e usava os inúmeros estrondos dos tiros para camuflar os seus, agora precisava se esconder para não ser atingido. Ao contrário das cenas cinematográficas, nas quais todos sabem de onde vêm os tiros e para onde atirar, na vida real é totalmente diferente. É cada um por si! O som dos disparos é ensurdecedor, e Macoi consegue fugir de seus algozes e, com muito custo, tenta se aproximar do lugar onde seu amigo caiu. Se concentra tentando memorizar a direção de cada um dos capangas que atiravam contra ele, para depois surgir em um lugar diferente a cada vez que efetuava um disparo certeiro. Precisava economizar munição, já que tinha trocado de carregador uma vez. Precisava sair com vida e tirar Luís Cláudio dali para entregá-lo à sua esposa e seu filho, era só nisso que pensava. Eles são muitos, então não tinha como eliminar a todos, e a única solução era encontrar Luís Cláudio e fugir dali.


Após alguns minutos de agonia, o velho agente vislumbra o que ele mesmo temera. Seu parceiro, após a queda, não esboçava nenhuma reação, isso já tinha preocupado Macoi, e agora podia comprovar seus pressentimentos ao ver apenas as pernas do corpo de seu amigo estirado no chão por trás de alguns caixotes. Reconhece os sapatos e então parte em direção do corpo inerte em uma poça de sangue:


— Não, Luís Cláudio! Eu havia avisado. Droga!


Era o que menos precisava naquele momento: perder um amigo em quem confiava; ser culpado por sua morte; ser perseguido pelo delegado Júlio Campelo; e ainda ter que explicar tudo para a viúva. Ele dispara mais uma vez antes de partir em direção ao corpo do seu amigo. Em sua mente, tenta culpar o próprio agente pela negligência de sua morte, no entanto isso não mudaria nada agora.


De repente um som alto de motor cresce em seus ouvidos, e antes que pudesse olhar o que era aquilo, uma empilhadeira o intercepta, lançando-o contra a janela lateral. Do lado de fora, o corpo do velho agente despenca por sobre camburões até cair nas águas do rio Guamá, que se encontravam na preamar.


Vítor Navalha surge no porto, seguido dos seus capangas, e procura pelo policial dentro do rio, entretanto sem encontrá-lo. Dispara várias vezes para o alto em um gesto de ira e ordena que todos não parem de procurar em cada canto daquele porto. Macoi emerge para recuperar o fôlego que lhe faltava por cair na água repentinamente. É iluminado pela luz do luar, e logo avistado pelos homens de Vítor Navalha, que se voltam contra ele e atiram ininterruptamente. Macoi submerge nadando cada vez mais para o fundo e usa toda a sua capacidade de apneia para fugir dos projéteis que perfuram a água barrenta do rio Guamá.


— Não parem de atirar! Quero esse desgraçado morto. Iluminem ali! Esse filho de uma égua não pode escapar de novo.


 


O VELHO AGENTE consegue ir para bem distante furando a correnteza, usando suas técnicas de mergulho aprendidas nos tempos de exército. Porém sabe que não pode ir tão longe, pois precisava retornar e resgatar seu amigo.


Sobe até a superfície acreditando ter chegado a uma distância segura. Como passou bastante tempo debaixo d’água, muitos perseguidores acabaram desistindo da busca. Já com a cabeça para fora da água, observa de longe o armazém, no entanto, antes que pudesse formatar um plano de resgate, de súbito uma explosão destrói todo o lugar. Tudo foi pelos ares. Ele já devia imaginar que depois de descobertos, iriam destruir as provas de qualquer maneira. Sem nenhuma prova, uma inexplicável explosão na beira-mar e o cadáver de Luís Cláudio. Com tudo isso, sabia que estava agora nas mãos do delegado Campelo. Mas o pior de tudo seria encarar a esposa de seu amigo e ter que contar para o filho que seu pai jamais retornaria para casa.


CONTINUA...


 


 


 


 


 


 


 


 



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Autor(a): Mauro Celso

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53

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