Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance
HONRAS FÚNEBRES
OS VISITANTES LOTAVAM a cerimônia que era realizada em um cemitério na rodovia federal. A maioria dos presentes eram os agentes policiais da última turma que se formaram junto ao homenageado. Pelo pouco tempo de serviço, ainda mantinham certo sentimento de união gerado no tempo em que durou o curso de formação de agentes federais. Entre os presentes estava o superintendente regional delegado Júlio Campelo, o qual discursava em memória do jovem agente Luís Cláudio, que jazia no caixão florido e fechado para esconder o corpo irreconhecível.
Totalmente carbonizado, o corpo somente foi reconhecido pela esposa que chorava copiosamente desde o momento em que identificou os óculos e a aliança, na qual estava gravado o nome do casal com juras de amor eterno. Agora lhe aconteceu o que toda mulher de policial teme, ou que pelo menos reza para que nunca aconteça com seu marido: vê-lo se despedir rumo a mais um dia de serviço e não ter o prazer de recebê-lo de volta. Ou ao menos vivo para brincar com seu filho, que de tão pequeno que é, não possui o discernimento de que nunca mais verá seu pai. Ele somente sabe que não consegue conter a angústia que sente no peito, o aperto no coração, e o estreitamento da garganta que o impede de engolir sua própria saliva, que passa forçada e ardendo como uma água turva. E esse era o sentimento que dominava a viúva no instante em que via a urna florida levada para a cova recém-aberta.
A defesa da viúva era apenas abraçar cada vez mais forte seu filho, a fim de continuar tendo forças de seguir em frente. O futuro era algo distante em sua mente, o qual não conseguia imaginar de forma bem definida. Seu futuro era incerto. Iria depender agora somente de seu poder de superação. O seu poder de encarar a vida sozinha.
A homenagem havia sido feita, a única que nenhum indivíduo quer para si mesmo. Foi finalizada com a derradeira porção de terra lançada pela pá do coveiro, o qual deu três batidas para sentar o solo. Infelizmente a cena pareceu funestamente como se quisesse pôr um fim àquela choradeira. Pronto, está tudo acabado! Este já era! A partir de então o diretor do cemitério proibiu quaisquer coveiros de proceder desta forma novamente, sob a pena de ser demitido.
Todos os agentes lotados na regional de Belém se faziam presentes e tentavam consolar a viúva e o restante da família prestando suas condolências. Contudo apenas um policial se mantinha distante de toda cerimônia, pois a sua relação com a fatalidade do ocorrido o obrigava a se resguardar dessa forma. Mas, para sua infelicidade, seu esconderijo fora descoberto por nada menos que a viúva, que de súbito mudou o semblante, partindo em direção ao homem parado próximo de uma enorme lápide. Seu irmão e o agente Galvão tentaram alcançá-la, sem êxito algum. Na verdade, o agente Galvão queria que aquele encontro realmente acontecesse e fingiu mancar.
O AGENTE JOTA Macoi permaneceu inerte sem nenhuma palavra, pois não era de seu feitio usar de eufemismo. E aguardou mansamente a viúva se aproximar dele com o rosto desfigurado. E com um tom de ira, agrediu-o com tudo aquilo que lhe engasgava:
— Seu maldito! Desgraçado! Ele te admirava, sabia? E também te amava. Ele te tinha como um pai e fazia tudo aquilo que você o mandava fazer. Agora pra quê? Me diz, pra quê? Pra morrer em uma dessas suas missões secretas que tu mesmo idealizavas. A tua obrigação era ao menos me trazer de volta ele vivo! Entendeu? Vivo!
— Acalme-se, senhora, por favor! – pedia Galvão.
— Vamos embora, Lídia! Isso não vai trazê-lo de volta – confortava-a seu irmão.
— É claro, mano. Nada vai trazer meu Cláudio de volta. Mas olha aqui, seu destemido, Jota Macoi, ele confiava em ti e te adorava. Porém é por causa dessa confiança cega que o Claudinho vai crescer sem o pai. E agora, o que vou dizer pra ele quando me perguntar sobre o pai? Você não me diz nada, porque não se importa, não é? Nunca se importou com ninguém, nem consigo mesmo. Te digo uma coisa: você não vai ter ninguém pra chorar no teu enterro. Ele podia te amar, mas eu te odeio! Ouviu? Te odeio!
A viúva desabafa toda sua angústia e sofrimento em cima do agente que nada retruca. Ele também está sofrendo, mesmo que não demonstre coisa alguma, afinal, havia perdido um grande amigo e o mais corajoso policial que já vira. Muitas vezes, de tanto que o jovem agente tentava se assemelhar com o venerado, que a sua coragem suplantava a do velho agente. E Macoi o tinha como um filho. Ele ainda não conseguia conceber que seu amigo e parceiro Luís Cláudio estava morto. Aquela imagem dele caído ao chão se juntaria com o resto das lembranças marcantes que, de vez em quando, ruminavam em sua mente. Queria ver com os próprios olhos, queria ter a certeza de que a vida tão vívida em Luís Cláudio tinha se esvaído de seu corpo. Queria tê-lo ajudado, contudo não pode alcançá-lo a tempo. Aquela empilhadeira o lançou pela vidraça, depois teve que escapar dos tiros mergulhando dentro do rio, em seguida, a explosão. E tudo se acabou. Nesse momento, Macoi caiu em si e percebeu o quão impotente é: ele não pôde estar perto para salvar sua própria família, e agora, mesmo estando perto, não pôde salvar seu parceiro.
— E aí, Macoi! Como está se sentindo agora que vai se despedir da PF? – o agente Galvão o interpela com um tom sarcástico. – Porque é isso que o Júlio Campelo vai fazer contigo quando entrar na sala dele amanhã bem cedo. Aliás, me desculpe por não ter repassado o recado. Ele mesmo me pediu pra te dizer: amanhã às oito horas. Você já sabe?
— E tem alguma coisa que eu não saiba nessa polícia?
Galvão retirou o sorriso sarcástico do rosto e partiu em direção ao portão central do cemitério, simplesmente porque temia que Macoi tornasse público algumas de suas façanhas escusas, já que a sua última fora desaparecer com metade dos oitenta quilos de cocaína apreendidos no aeroporto internacional de Belém na semana anterior.
CONTINUA...
Autor(a): Mauro Celso
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53
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