Fanfics Brasil - A DESPEDIDA CONEXÃO AMAZÔNICA

Fanfic: CONEXÃO AMAZÔNICA | Tema: Crime Ambiental, Assassinato, Conspiração, Romance


Capítulo: A DESPEDIDA

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A DESPEDIDA


 


AS NUVENS NEGRAS cobriam a região metropolitana de Belém, impedindo que o sol do amanhecer iluminasse suas praças e logradouros. Chovia intensamente por toda a cidade naquela manhã de março, dia que despertou sombrio, predizendo o lúgubre encontro entre o agente Jota Macoi e o delegado Júlio Campelo, o qual sepultaria uma das mais brilhantes carreiras da polícia federal do Pará.


Retirando os tentáculos da instituição, a mente mais poderosa atuante em campo na PF. Cessaria, assim, a ação investigativa do homem que mais perturbou os grandes nomes da sociedade paraense, aqueles que se veem inundados em negócios ilícitos; os que constroem em seus nomes, ou de outrem, enormes impérios alicerçados sobre inúmeras negociações corruptas. Ou aqueles que estão adornados sob a taxação de cordeiros do povo; imaculados e martirizados pela consequência do amor aos necessitados e às causas da justiça.


Abrindo os olhos às cinco da manhã, pôde perceber que a chuva e a ventania já castigavam a cidade desde cedo, desfazendo seus planos rotineiros de praticar exercícios físicos antes do amanhecer. Portanto, se contentou em apenas cerrar as pálpebras novamente. Infelizmente sua inquietude o fez saltar da cama e ir direto ao chuveiro com a higiene pessoal. Depois disso, tentou assistir à TV, todavia, as duas únicas programações que lhe interessavam eram os jornais e alguns bons filmes. Às vezes parava para assistir a um programa de perguntas e respostas, só para exercitar sua mente. Em síntese, seu passatempo predileto era ler. Entre seus autores preferidos estão sir Arthur Conan Doyle, o pai de Sherlock Holmes, o qual em um de seus livros diz que quando a resposta está impossível de vir à mente, deve-se fechar o livro, esquecer o assunto, a fim de que o cérebro já saturado descanse e, com certeza, repentinamente ele trará à luz toda a elucidação da questão.


Ele tenta pensar ou refletir, mas os seus pensamentos o perturbam com imagens mescladas da morte de seu parceiro Luís Cláudio e a revolta da esposa ao se ver sozinha no mundo com o filho; as ameaças do delegado Júlio Campelo e a possibilidade de cumpri-las neste dia; a proximidade de obter uma prova concreta para ser inserida em seu dossiê guardado dentro da caixa do aparelho de som na estante da sala, e agora, a iminente decisão de abandonar todos os seus projetos de investigação elaborados durante toda sua carreira policial. Nunca hesitou em enfrentar os mais perigosos dos bandidos, por conseguinte terá que enfrentar não o delegado Júlio, que tem um passado mais sujo que qualquer policial que Macoi já conheceu, mas a monotonia de viver a vida de uma pessoa comum.


O relógio indica que são exatamente sete horas e a chuva havia cessado, no entanto o céu permanecia cinzento. Jota Macoi se barbeia, se veste, penteia o restante dos seus cabelos que a calvície deixou, toma as suas armas, uma pistola calibre 380-bessa e uma calibre 635, que sempre coloca na perna quando usa camisa de mangas compridas, ou nas axilas das camisas de mangas curtas, e sai como se fosse um dia comum de trabalho, seguindo em direção à parada de ônibus. Não tinha pressa nenhuma de chegar, por isso decidiu esperar pela famigerada linha de coletivo que tem por itinerário os conjuntos Euclides Figueiredo e gleba, conhecida pela demora e superlotação.


O ônibus surge no fim da Av. Rodolfo Chermont deixando para trás a extensa Rua da Marinha, que tem esse nome por ladear a base de adestramento e a estação radiogoniométrica da Marinha. A partir daí todo o aglomerado que se estacionava ao redor do ponto de parada se prepara, munindo-se do passe e esperam que o ônibus pare próximo a eles para que sejam os primeiros a entrarem, todavia isso nunca acontece, ocasionando uma correria, um empurra-empurra no início da jornada de trabalho.


Bom para quem trabalha! É melhor despertar cedo para trabalhar do que ter que dormir para esquecer a fome. É melhor ter as mãos sujas de graxa, do que tê-las limpas e o bolso vazio.


 


O COLETIVO PERCORRE a feira livre conhecida pelo nome da próxima avenida a seguir, a larga avenida Tavares Bastos, que se estende até a coletora avenida Almirante Barroso, que possui um trânsito intenso quase todas as horas do dia e da noite. O velho agente sobe a passarela em frente ao quartel do exército e de longe sua presença é confirmada por seus confrades através das vidraças escuras do grande prédio da polícia federal.


Adentra a sede regional e é cumprimentado por todos que o encontram, indicando que o aguardavam. Alguns trazem sentimento de fraternidade, mas Macoi percebe sarcasmo em outros, e um travo de alívio em mais alguns. Ele sempre mantém a cabeça erguida, mesmo ao entrar na sala do delegado, o qual, escondendo seu temor por Macoi, destila seu olhar flamejante e um sorrisinho de satisfação em seus lábios finos debaixo do marcante bigode.


Fitando-o, olhos nos olhos, o delegado estende a mão esquerda oferecendo-lhe um envelope contendo seu afastamento e, sem dizer nenhuma palavra, acena para que o visitante o deixe e não atrapalhe sua conversa no telefone. Macoi, semelhantemente, se retira sem arguir coisa alguma e nem ao menos recorre pelo seu direito de ampla defesa e contraditório, princípio do direito constitucional, mais precisamente no artigo 5º, que garante ao indivíduo, sob acusação, plena defesa e de contradizer todas as suspeitas dirigidas à sua pessoa. Entretanto nem ele considerava segura sua permanência na atividade, já que em seu íntimo carregava a culpa de não proteger mais uma vida. Concebeu dentro de si que era melhor abandonar essa vida de desconfiança e de agitação, tanto que deveria até mudar de endereço e investir sua aposentadoria em um sítio qualquer no meio da estrada com um chalé no final de uma vereda ladrilhada envolta de um charmoso jardim, no fim do terreno, importante haver um pequeno rio que possa proporcionar umas boas horas de pescas com sua família.


Família? Mas que família? Isso foi uma das primeiras coisas que lhe arrancaram das entranhas.


E agora também o emprego onde muito pôde demonstrar seus talentos e qualidades, sendo por isso reconhecido e invejado por muitos.


 


JOTA MACOI DARIA seu braço direito para saber se não havia no esquema que tentou averiguar o dedo da mesma organização que tentava desmantelar, a qual é poderosa ao ponto de possuir membros espalhados em todas as instituições que se atribuem influência e poder dentro do governo. O GOVERNO! O poder central do Estado é a grande aspiração da organização que lhe juraram que não existe. Contudo esta peleja já não lhe pertence mais, ele, que é tão pequeno e sozinho contra todo um esquema de ambição e egoísmo. Cabe agora abandonar tudo isto.


Então Macoi abandona o prédio com o envelope nas mãos sem encontrar nenhuma alma à sua frente. O corredor jazia deserto diante de seus passos, enquanto que, após sua sombra escorregar pelo chão, inúmeras cabeças surgiam com o ranger das portas. Ele, sem expressão alguma, não olhava para trás, dizia consigo mesmo que era para não virar uma estátua de sal. Caminhou por todo o pátio do estacionamento até alcançar a calçada da rua, onde chamou o primeiro táxi que surgia da travessa ao lado. Jota Macoi desaparece junto ao táxi e nem por um minuto sequer olhou para o grupo de pessoas que estacionava na fachada do prédio. O aglomerado se formava de todo o expediente que estava ali parado, como se quisessem presenciar aquela cena, no intuito de poder guardar na memória a despedida do velho agente. E durante todo o plantão pôde-se ouvir histórias em que os próprios narradores participaram, ou não, dos feitos deste agente federal.


CONTINUA...



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Autor(a): Mauro Celso

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • Mauro Celso Postado em 26/06/2023 - 13:24:53

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