Fanfics Brasil - Nascimento de algo novo Sugar Heart

Fanfic: Sugar Heart | Tema: Fullmetal Alchemist


Capítulo: Nascimento de algo novo

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Algumas horas após partirem da cidade Central, os três alquimistas juntamente com a mecânica de automails, continuavam seguindo caminho e agora aproximavam-se de Rush Valley, para alegria de Winry que já quase não conseguia conter a empolgação de finalmente poder conhecer o paraíso dos automails e de Ed que já não aguentava mais ouvi-la falando a respeito das próteses metálicas. Só queria poder almoçar tranquilamente, sem toda aquela lengalenga sobre parafusos e placas de metal. Era pedir demais?


-Na verdade dá pra fazer automails não apenas para braços e pernas, já ouvi falar de modelos que até serviam para substituir olhos!


-Heeeh? Sério? – Ani a ouvia falar interessada enquanto comia. – E é tipo um olho normal ou um olho biônico com visão noturna ou sei lá?


Winry ri.


-Normalmente é só um substituto sem grandes aprimoramentos, mas se está falando de possibilidades, é possível sim!


A conversa segue, não demorando para finalmente desembarcarem em Rush Valley e assim que pisam seus pés para fora do trem, também não leva muito tempo para que Winry se encante e grude seu rosto em alguma vitrine, totalmente hipnotizada em meio àquele mar de diferentes modelos.


-Hoooh! O comércio daqui parece realmente todo voltado a mecânica de automails! – Ani comenta num ar admirado enquanto olhava em volta.


-Por favor, não vá ficar igual a ela. – Ed resmunga.


-Como se você a detestasse. – Resmunga de volta.


-Que?


-Nada não. – Leve sorriso. – Winry-chan, me espera!!


Vendo Ani fugir de responder suas perguntas e correr para junto de Winry, Ed apenas bufa, revirado os olhos. Pelo jeito já tinha perdido totalmente o respeito dela como mestre. – Não que se importasse muito com isso.


-Elas se tornaram boas amigas, não é? – Alphonse comenta, observando-as conversando em frente a vitrine. Edward apenas o responde com um resmungo. – Ani nunca entrou muito no assunto, mas ela dá a impressão de não ter tido muitos amigos quando criança.


-Bem, ela vivia em uma fazenda e casas no campo costumam a ser distantes uma das outras. Nós mesmos só teríamos tido contato com a Winry se não tivéssemos ido à escola.


-Pensando bem, a Winry também nunca foi próxima de outra garota. Talvez por isso elas tenham se entendido tão bem.


-Pra mim tem mais a ver com as duas terem um parafuso a menos do que com gênero.


Em meio ao mau-humor rotineiro de Edward, os dois irmãos não percebem uma estranha movimentação que se formava atrás de ambos, percebendo as presenças ali apenas quando escutam uma voz os chamar.


-Ei, você, garoto loiro!


-Hm? – Responde sem ânimo.


E antes que pudesse perceber, Ed estava completamente rodeado de vários mecânicos interessadíssimos em seu automail, já prontamente – E sem nem ao menos pedir autorização. – puxando a manga de sua blusa para expor a prótese mecânica.


-Eu nunca vi um modelo como esse!


-É muito interessante!


-Como foram feitas as conexões elétricas?


E não tendo tempo de sequer protestar, Edward é atacado por aquela multidão de mecânicos sedentos por informações e completamente alheios ao dono da prótese, que simplesmente arrancam suas roupas como hienas famintas apenas para ver melhor a peça.


Ouvindo os gritos de seu mestre atrás de si, Ani olha para trás, arregalando seus olhos ao ver a confusão.


-W-Winry-chan!


Após ser cutucada por Ani, Winry também olha para trás, mas no lugar de parecer surpresa ou assustada como a amiga, a expressão que ocupou o rosto da loira foi de pura alegria e orgulho.


-Aaah! Todos querem saber como foi feito meu automail!


-I-Isso é ótimo, Winry-chan! Mas assim vão acabar matando ele! – Ani arregala mais seus olhos ao ver as roupas voando e vai ao resgate dele – E-Ed!!


-x-


Finalmente libertado daqueles maníacos por maquinas e com o mau humor triplicado, Edward agora vestia suas roupas novamente enquanto Winry se divertia conversando com os demais mecânicos que agora se ocupavam em assediavam Alphonse com suas perguntas.


-Por isso que eu odeio esse tipo de gente.


-Eles só... S-Se empolgaram um pouco demais. Encontrar em uma cidade de automails um modelo inédito deve ser algo realmente inusitado afinal. É compreensível!


-Compreensível despir alguém sem nem perguntar seu nome?! – Indignado. – Na minha terra isso se chama abuso.


-Vaaamos, não vamos formar inimigos aqui também, por favor. Se vista e vamos embora daqui! – Estende para ele algumas de suas roupas que havia recolhido, mas estranha ao ver Ed com os olhos arregalados palpando seus bolsos. – O que foi?


-... Sumiu.


-O que sumiu? – Questiona Winry, se juntando ao grupo novamente junto com Alphonse.


-Meu relógio de prata. A prova de que sou um alquimista federal... Sumiu.


...


-QUEEEEEEEEE?! – Em uníssono.


-COMO ASSIM SEU RELOGIO SUMIU? – Winry questiona.


-EU NÃO SEI! SÓ SUMIU!


-SUMIU ONDE?! – Alphonse pergunta.


-SE EU SOUBESSE NÃO TERIA SUMIDO!


-Hmm... Isso parece ser coisa da Paninya.


Ao ouvir aquela frase vinda de um dos mecânicos, eles imediatamente interrompem seus gritos e voltam sua atenção a ele.


-Paninya?


-Ela é uma ladra da região que costuma a roubar turistas.


Ed se aproxima dele, em desespero.


-Onde eu posso encontrá-la? Ela roubou uma coisa muito importante!


-Bem... Nós até poderíamos dizer, mas... Com uma condição. – Pausa dramática. – SÓ SE VOCÊ NOS DEIXAR VER CADA PEDACINHO DO SEU AUTOMAIL DE NOVO!!


Sendo possuído por uma fúria avassaladora ao ouvir aquela condição absurda Ed compensa toda sua falta de altura em uma feição assustadora, transmutando seu automail numa lança intimidadora enquanto os encarava borbulhando de raiva.


No mesmo instante, os mecânicos que não eram bobos nem nada e que tinham amor por suas vidas, deixam sua curiosidade pelo automail totalmente de lado.


-Na casa do mecânico Dominic, no alto do Vale.


-Vamos logo. – Ed responde, dando as costas assim que obtém sua resposta.


-x-


Quente como o inferno. Escaldante. Sufocante. Abafado. Ardente. Esses eram os pensamentos que se passavam por suas cabeças enquanto andavam há bons minutos em direção ao alto do vale debaixo daquele sol da região... Com exceção de Alphonse que seguia caminhando pleníssimo.


-Eu sei que disseram que ele mora aqui porque tem os melhores minérios, mas precisava ser tão longe?


-E que desaforo eles querendo cobrar pela informação depois de tudo que fizeram! Ed teve o relógio roubado e eles estavam encobrindo a ladra! – Ani resmunga. – Eu preciso dele pra comer! – Edward a encara feio, fazendo ela se corrigir no mesmo instante. – Nós. Nós precisamos dele pra comer.


-Isso não teria acontecido se Winry não tivesse inventado de ir à aquela cidade de doidos.


-O que? – Indignadíssima. – SEU RELOGIO FOI ROUBADO PORQUE VOCÊ FOI DESCUIDADO!


-FICA QUIETA!


-... Eles são sempre assim é? – Ani questiona enquanto observava a cena.


-Seeempre. – Alphonse responde, pouco antes de se distrair com uma movimentação metros à frente, do outro lado do desfiladeiro. – Pessoal? – Sendo completamente ignorado pelos dois que ainda gritavam um com o outro. – PESSOAL?!


-QUIÉ?


-Não é ela?


Alphonse então aponta para uma parte mais baixa do desfiladeiro, ao longe, fazendo com que os outros três olhassem naquela direção e também focando seus olhares na garota que corria sobre uma ponte. Parecendo ter ouvido a confusão atrás de si, ela se vira para encara-los e é nesse instante que o brilho do relógio nas mãos dela ativa o instinto de caça de Ed.


-ACHEI VOCÊ!!!


Sem dizer mais nada, tomado pela fúria, Edward simplesmente parte para cima da garota, usando a alquimia para criar uma passagem direta até onde ela estava.


-PERAE!


Ani dispara atrás dele, enquanto Alphonse e Winry se entreolham.


-Vamos, Winry! Vamos pegar ela do outro lado!


Tendo deixado os outros dois para trás, Ani segue seu mestre nas plataformas que ele criava, sentindo um frio na espinha a cada vez que percebia as plataformas atrás de si sumindo. Se não conseguisse acompanha-lo... Bem, seria uma morte bem feia.


Paninya era uma garota veloz e não foi fácil encurrala-la. Quando por fim conseguem, tem a surpresa de descobrir que ela não apenas era ágil, como também tinha outras cartas na manga, como o fato dela também ser uma usuária de automails, e além disso, um deles com nada menos que um CANHÃO.


Após as emoções, quem realiza o feito de finalmente capturar a garota escorregadia não foram os alquimistas e sim Winry. No entanto, não pelo relógio de Ed, mas sim, para poder sucumbir ao desejo de melhor cada pequeno detalhe dos automails incríveis que ela usava em suas pernas. Bem, zero surpresas.


Com o barulho lá fora chamando a atenção dos moradores, foram recebidos dentro da casa onde Paninya vivia e apresentados à Ridel, um mecânico que vivia naquele local distante e Satella, sua esposa grávida. Já estando um pouco mais calmos, Winry agora satisfazia seus desejos e surtava alegremente enquanto Ani estava ao seu lado, tentando entender o que significavam os apontamentos dela. "Balanço"? "Suspensão"? "Aerodinâmica"? O que significavam aquelas coisas todas?


-Que bom que encontrou um automail todo diferentão, Winry-chan!


-DIFERENTE É POUCO! ELE É SIMPLESMENTE EXPLENDIDO! – Winry corre até Ridel. – Eu te respeito muito por ter construído esse automail!!


-Oh, mas não fui eu quem o construiu.


-Eh?


-Fui eu.­


Todos os presentes voltam seus olhares para a pessoa que chega ali: Um senhor já idoso, de pele bronzeada, cabelos brancos, braços fortes e uma feição nada amigável. Os olhos severos dele imediatamente recaem sobre Edward, de forma não muito gentil.


-x-


Atendendo ao pedido de Winry, o talentoso mecânico de automails Dominic aceita analisar o automail construído por ela.


-Ele é meio pesado, não?


-É-É... – Winry afirma sem graça.


-Tem como um automail ser leve? – Ani arqueia a sobrancelha.


-Claro que será mais pesado que um braço humano, mas não é bom sobrecarregar o usuário. – Explica ainda sério. – É por isso que ele deve ser pequeno assim.


-NÃO ME CHAME DISSO! – Edward esbraveja automaticamente, até uma pequena luzinha acender em sua mente. – Perae, quer dizer que se ele fosse mais leve eu seria mais alto?


-É possível.


Quase foi possível ver os brilhos e balões que rodeavam a cabeça dele repleta de fantasias quando Edward abriu um enorme sorriso ao imaginar a si mesmo com 2,80 de altura depois desta suposição.


-Heeeeh? Sem chance! Um automail pesado poderia fazer isso? Eu sempre achei que fosse pequeno por ser pequen- uh!


Edward interrompe o discurso de Ani colocando a mão sobre sua boca e lhe mandando um olhar feio.


-Não atrapalhe meus sonhos repetindo essa palavra.


-Desculpa! – Rindo.


Enquanto Ani se divertia provocando seu mestre, Winry refletia consigo mesma. Após ter estudado o automail instalado em Paninya e ouvir com atenção todas as observações que Dominic havia feito a respeito do que havia construído, tinha tomado sua decisão.


-Dominic-san! – Todos no local olham para ela. – Por favor me deixe ser sua aprendiz!!


-Nem pensar.


Como o corta clima completo, Winry simplesmente murcha ao ver seu desejo sendo lançado para longe de si sem mínima consideração.


-S-Se o senhor pudesse pelo menos pensar a respeito...


-Eu não aceito aprendizes.


-Winry-chan não seria uma aprendiz, ela seria A aprendiz! – Ani protesta. – E é muito insensível da sua parte nem ao menos pensar sobre isso!


-Não poderia pelo menos ajudar ela a fazer um automail que me fizesse crescer? – Edward pede com a voz toooda mansinha.


-Cale-se pulga! – Critical hit. – Você também, pirralha.


Dominic dá as costas a eles, saindo da sala em direção a sua oficina, mas quando já estava no arco da porta, sente algo bater suavemente em sua cabeça. Volta seu olhar ao chão, encarando uma bolinha de papel e então olha para eles, especialmente para Ani que o encarava com uma expressão zangada... atrás de Alphonse.


Direcionando mais um olhar feio a ela, sai pela porta, sem a menor vontade de discutir com uma criança.


-Anii! – Alphonse a repreende. – Nós somos hospedes! Não arrume briga!


-Mas não é justo! Winry-chan lhe fez um pedido sincero e ele nem sequer pensou sobre isso! – Apontando para a porta. – Até o Ed pensou antes de recusar ser meu mestre quando pedi pela primeira vez!


-Desculpem... – Ridel, abre um sorriso sem graça. – Meu pai costuma ser muito teimoso.


-Winry-chan seria uma ótima aluna! Al, vamos socar ele!


-Quer dizer você bater nele e depois se esconder atrás de mim de novo?


-É!


-Aaaah... – Se recuperando um pouco do choque de ser recusada, Winry abre um sorriso divertido ao ver a amiga irritada daquele jeito. – Você está cada vez mais parecida com o Ed. – Winry estica suas mãos, dando batidinhas no braço de Alphonse. – Pobre Al!


-Ah, nem me fale! – Ri de levinho enquanto encarava de um lado seu irmão deprimido e do outro Ani zangada.


-x-


Alguns minutos após já estarem na casa de Dominc, uma chuva começa a cair juntamente com algumas trovoadas que indicavam uma tempestade se aproximando. Um ótimo contraste para o calor escaldante que haviam experimentado mais cedo.


Agora, Winry, Paninya e Ani se encontravam juntas na sala, conversando enquanto se aqueciam com um café e aproveitavam para se conhecerem melhor. Curioso como estavam próximas da mesma pessoa que havia os roubado algumas horas atrás.


-Uuuugh... Sempre dói antes de chover. – Paninya comenta enquanto massageava uma de suas pernas.


- Sério?


-Quem usa automail é muito sensível tanto ao frio quanto ao calor. – Winry explica. – Já que é uma peça de metal diretamente em contato com a pele.


-Ah! É por isso que o Ed vive com aquelas roupas mesmo quando tá um inferno de quente?


-Deve ser! – Paninya comenta, rindo da descrição dela. – Eu também não consigo usar shorts quando está quente demais!


-Falando nisso... – Olha para Winry. – Como os automails não enferrujam quando toma banho? Deve ser impossível secá-lo completamente depois de cada vez que se molha!


-Ah, o metal usado nos automails é um metal com alta resistência a ferrugem! Mas isso não quer dizer que não se tenham alguns cuidados! Como você mesma disse, não dá pra secar completamente sem desmonta-lo, por isso que é necessário manutenção regular e uso de óleo para que as articulações continuem livres.


-Hoooh... Você tem que pensar em muitas coisas pra construir um, não é?


-Sim. Peso, modelo, quais metais usar, qual quantidade de cada um deles, todas as medidas do usuário, qual o nível de resistência necessário baseado no estilo de vida de quem vai usa-lo, tempo de recuperação... – Winry abre um sorriso maior. – Mas por isso que eles são extremamente lindos!!


Rindo do encantamento de Winry, as três garotas continuam conversando por mais alguns minutos e Paninya compartilha com elas a história de seus automails e como eles conectavam Dominic a sua vida. Uma história que demonstrava que lá no fundo, aquele senhor era mais que um velho carrancudo e ranzinza. Havia bondade em Dominic, assim como parecia ter em todos os moradores daquela casa.


Afinal, até mesmo Paninya tinha suas razões para ser uma ladra, embora ainda fosse algo ruim. Após conversarem, Winry em especial não parece contente ao saber que a garota roubava para tentar pagar o que Dominic fez por ela ao lhe devolver sua liberdade para caminhar e correr.


-Dominic-san deu pra você essas pernas por bondade! Se você quer mesmo lhe pagar, então trabalhe duro para isso!


-Winry está certa! – Ani concorda. – Ele te deu essas pernas para que pudesse ter sua vida de volta! Para que pudesse trabalhar, seguir sua vida e não ter mais nenhuma limitação! Provavelmente ele não aceita seu dinheiro porque não quer que desperdice essa oportunidade nova com roubos! Você com certeza pode ser mais que isso! E é isso que ele quer!


Ouvindo aos apontamentos das duas, Paninya reflete consigo mesmo por alguns instantes. Aquele velho rabugento podia não ser alguém fácil de compreender, mas sua honestidade era algo notável de sua personalidade e fazia sentido ele não querer um pagamento daquele tipo.


-... Vocês têm razão. – Abre um sorriso. – Eu vou parar de roubar! – Paninya coloca sua mão no bolso, tirando de lá o relógio de bolso de Ed. – E eu tenho que devolver isso!


-Aaaaaaah!!! – Os olhos de Ani brilham ao ver o relógio. – Almoooooço!


Winry revira os olhos num ar risonho ao ouvir a fala da amiga. Mas então, ambas observam Paninya enquanto ela tentava abrir o relógio, sem sucesso.


-Ué?


-O que foi?


-Não abre! – Preocupada. – Será que eu quebrei?


-Deixe me ver... – Winry se aproxima de Paninya, juntamente com Ani. – Hmm.... Não, isso não está quebrado! Ele foi lacrado com alquimia.


-Eeh? – Arqueia a sobrancelha. – Ed já me deu o relógio dele para eu sacar dinheiro ou comprar coisas pra ele, mas eu nunca tinha reparado que estava fechado! – Analisando o relógio também. – Por que ele o lacraria com alquimia?


-Não é obvio? – Winry toma em mãos todas as ferramentas que encontra pela frente, rindo de forma travessa. – É porque tem algo aí dentro que ele não quer que ninguém veja!!


-E-Eh?! – Ani arregala seus olhos. – V-Você vai abrir a força?


-Mas é claro! – Cantarolando enquanto usava as ferramentas para tentar abrir o relógio.


-W-Winry! Eu não acho que seja uma boa ideia! Ed não parece ser do tipo que se importaria em esconder segredinhos triviais! Se ele lacrou o relógio é porque deve ser algo muito pessoal! A-Acho que não deveríamos abrir!


-A-Ah! Consegui!


Ani suspira.


-Vamos ver qual é o segredo do Ed...


Mas então, ao abrir o relógio, Winry não continua a sorrir. Pelo contrário, o sorriso da loira some instantaneamente ao ver o que estava ali dentro, sendo substituído por uma feição triste e distante. Vendo a reação dela, Ani e Paninya se entreolham e então se aproximam de Winry, espiando por cima de seus ombros o que havia a deixado daquele jeito. Ao verem a gravura talhada na parte de trás da tampa do relógio, ambas assumem expressões confusas.


-"Não se esqueça: 3 de outubro de 1911"? O que isso significa? – Questiona Paninya.


Mas Winry permanece em silencio, parecendo imersa em suas lembranças. Vendo a amiga parecendo nem sequer ter ouvido à pergunta, Ani começa a refletir sobre aquela data, tentando reunir tudo o que sabia sobre Ed para tentar compreender o que aquela data marcava.


1911... Aquele era o ano em que ele havia se tornado um alquimista federal. Mas o rapaz nunca se mostrou apegado a aquele título... Salvo as poucas vezes que o ego dele o deixava exibido, Edward sempre falava daquele cargo mais como um fardo do que qualquer outra coisa. Ele iria mesmo querer se lembrar dessa data?


Ani lembrava-se bem do dia em que ouvindo o rádio local de sua cidade, tomou conhecimento da existência de Ed pela primeira vez. Raramente ouvia o rádio, pois estava sempre entretida com o trabalho na fazenda ou lendo livros de alquimia. Mas... naquele dia estava muito frio e ameaçava gear e por isso havia passado boa parte dele dentro de casa.


Já era outono quando ouviu aquela notícia, mas a ainda era verão na data marcada no relógio. O que poderia ter acontecido de marcante na vida dele antes de ser divulgado seu novo título?


Após mais alguns segundos refletindo, uma luz se acende em sua cabeça e seus olhos se arregalam sutilmente. Naquela época, naquele ano, tão próximo da data que havia ganho sua alcunha...


-W-Winry-chan...?


O sutil questionamento de Ani é respondido quando Winry volta seus olhos marejados para ela, confirmando sua suspeita: Aquela era a data em que os dois irmãos haviam iniciado suas jornadas, a mesma data que haviam incendiado sua antiga casa.


-O que está acontecendo? – Questiona Paninya, preocupada ao ver a expressão das duas. – Vocês estão bem?


-Nada... Nada. Vá devolver o relógio ao Ed. Eu tenho algo pra fazer.


-Huh?


Winry seca suas lagrimas.


-Eu vou pedir ao Sr. Dominic para ser sua aprendiz novamente!


Ao ouvir a voz determinada da amiga, Ani sorri, assentindo com a cabeça e podendo compreender o que ela estava sentindo.


-É assim que se fala! Eu vou com você! Ele não vai poder negar a nós duas outra vez!


-Hm! – Assente também. – E se ele não aceitar...


-SOCAMOS ELE! – Completam a frase juntas, rindo em seguida.


-N-Não o provoquem demais! – Paninya alerta, preocupada com a vida das duas.


-x-


Winry e Ani caminhavam em direção à oficina de Dominic, ambas ainda parecendo um tanto distantes depois do que haviam visto no relógio de Edward.


-Ele sempre se faz de forte o tempo todo...


-Na verdade os dois tem esse mal habito. – Ani comenta. – Também fico preocupada, mas sabe? – Olha para ela. – Ed sabe que tem a nós! E mesmo que acabe preferindo tentar lidar com tudo por si só, ele sabe que não está sozinho. – Sorri largo.


-É... eu sei. – Sorri também.


-Então vamos nos esforçar também e fazer aquele velhote te ensinar tudo que sabe!


-Sim!


Ao chegarem, Winry bate na porta da oficina, no entanto, antes que Dominic pudesse abri-la, Edward aparece ali correndo, completamente ofegante e esbaforido.


-O que foi, Ed? – Winry questiona enquanto ambas o encaravam.


-A-A m-mu...


-"Mu"?


-M-Mu...


-Mu o que, Ed? – Ani questiona também.


-A MULHER DISSE QUE ESTÁ TENDO O BEBÊ!!!


...


AGONIA! PANICO! PAVOR! DESESPERO!


Estes eram os sentimentos que tomavam conta de todos após a declaração de Sra. Satella de que seu bebê havia escolhido nascer justamente em meio aquela tempestade terrível! Quando o médico mais próximo estava horas de distancia na base da montanha. Mas, mesmo sabendo do tempo acirrado que possuía, Dominic não pensou duas vezes antes de pegar seu cavalo e descer o vale debaixo daquela chuva para trazer o médico o mais depressa possível.


Enquanto isso, todos se encontravam no quarto do casal, preocupados com o estado da iminente futura mãe, que parecia sentir mais dor a cada minuto.


-Aguente só mais um pouco.... – Ridel tentava confortar a esposa.


-M-Mesmo que diga isso, o bebê vira quando qui-ugh. – A mulher emudece. – U-Uh...


-O que foi..?


-JÁ ESTÁ VIIIIIINDO!!


-GAAAAAAAAAAAH!! – Todos começam a gritar juntos.


O desespero tomava conta de seus corpos e os gritos de dor de Satella não ajudavam nem um pouco para que alguém ali mantivesse algum autocontrole! O que eles poderiam fazer naquela situação? Não havia nenhum médico ou parteira por perto e nunca haviam presenciado uma mulher dando à luz! Não faziam a menor ideia do que fazer! Era plenamente esperado que estivessem em pânico como todos ali estavam... Com exceção de duas pessoas, que apesar de também tremerem de medo... Tinham uma certeza clara em suas mentes.


-Vamos ter que fazer. – Winry finalmente se pronuncia, fazendo com que todos a olhassem. – O parto.


Por um segundo, silêncio e no instante seguinte, gritos ainda mais surpresos e olhos quase pulando pra fora da orbita com aquela afirmação. Como poderiam fazer aquilo??!


-O bebê não vai esperar o médico chegar!!


Dessa vez, os olharem recaem sobre Ani, que por sua vez direciona seu olhar para Winry.


-M-Mas vocês sabem como fazer um parto? – Ridel questiona, também em pânico.


-Quem está fazendo o trabalho mais difícil é a Sra. Satella! Não podermos ser covardes enquanto ela está se esforçando tanto! Temos que ajudar! – Segura a mão de Winry. – Vamos fazer!


Com a fala de Ani, a expressão assustada de Winry se reduz um pouco ao não se ver desamparada. Após apertar a mão da amiga de volta, retoma seu autocontrole, se sentindo mais corajosa.


-Sim. Vamos ajudar!


Assumindo a liderança da situação, Winry comanda a todos para reunir todos os materiais que seriam necessários para o parto. Bem, tudo o que fosse possível naquela situação.


Tendo tudo o que precisariam, Winry agora se encontrava na porta do quarto, repassando em sua mente passo a passo do que se lembrava a respeito de partos.


-Está pronta?


Winry olha para o lado, fitando Ani.


-N-Não está com medo? – Questiona, surpresa por vê-la parecendo tão certa do que fazia.


Ao ouvir aquela pergunta, Ani abre um sorriso sem graça e estica suas mãos para que Winry pudesse vê-las: Ambas tremiam muito.


-Completamente apavorada. – Leve riso. – Mas ela está com mais medo que a gente. Precisamos ser fortes e passar segurança a ela!


-... T-Tem razão. – Winry respira fundo. – Vamos lá!


Ani abre um sorriso encorajador para ela.


-Ei. – Ambas olham para os dois irmãos que também estavam ali. – Vocês conseguem!


Winry sorri mais largo ao ter mais encorajamento e volta novamente seu olhar para Ani, assentindo de forma determinada antes de entrarem juntamente com Paninya. Toda ajuda era bem-vinda.


O inicio do parto foi difícil, a cada grito dado por Sra. Satella sentiam mais vontade de se encolher e chorar chamando por suas mães, mas tentavam a todo custo se manterem firmes em ajudar aquela mãe e calmas para conseguirem raciocinar corretamente.


-As contrações estão ficando mais frequentes, mas ainda não tem dilatação suficiente. – Winry murmura para Ani enquanto sentia suas mãos tremerem mais. – Se ela continuar tendo dor desse jeito a pressão arterial dela vai começar a subir e-e isso pode não ser bom.


Ani por um momento tira seus olhos do parto em si e volta seu olhar para a senhora, preocupada com aquela informação. Naquele instante, uma ideia surge em sua cabeça ao se recordar de algumas memórias antigas. Talvez pudesse aplicar as mesmas coisas que havia aprendido.


-Winry-chan! – A encara. – Se preocupe com o bebê, eu me preocupo com a mãe! – Ani volta seu olhar a Satella, se aproximando dela. – A senhora está indo muito bem! Seu corpo vai saber quando precisar fazer força! Ele sabe exatamente o que fazer, então o ouça! Estamos aqui com você! Respire fundo, ok?


-COMO DOOOI!!


-Eu sei! Eu sei! Mas vai ficar tudo bem! – Parecendo nervosa também, Ani para pensar por um momento. – A-Ah! Satella-san, consegue se sentar?


-Eh? – Winry encara Ani.


-S-Sentar? – Satella questiona.


-Sim! Eu posso ajudar a reduzir a dor que está sentindo se conseguir tocar suas costas.


-A-Acho que consigo...


Com o auxílio de Ani e seu marido, Senhora Satella se senta sob a cama, dando espaço para que Ani consiga se sentar atrás dela. Esfrega suas mãos uma na outra até que ambas se aquecessem e as leva para as costas da mulher.


-Com licença. – Levanta um pouco a blusa que ela usava, tocando diretamente a pele de suas costas. – Me diga quando as contrações vierem, ok? – A mãe assente com a cabeça. – Senhor Ridel.


Ani manda um olhar para o marido de Satella, como se estivesse dizendo "Apoie ela.", o qual ele prontamente atende e aperta com mais firmeza a mão da esposa.


-E-Está vindo!!


-Ok! Respire fundo! Estamos aqui!


Ao sentir o corpo dela se tensionar, Ani pressionou suavemente sua região lombar em movimentos circulares, pressionando pontos específicos da coluna, até sentir a musculatura relaxar novamente ao fim da contração.


-Paninya, me dê uma toalha molhada na água quente, por favor!


Paninya atende ao pedido dela, e Ani coloca o tecido aquecido contra as costas de Satella, com suas mãos por cima dele, repetindo o mesmo movimento de antes.


-Está aliviando?


-U-Uhum... U-Um pouco.


Ani abre um discreto sorriso, assim como os outros presentes ao ver a expressão da mulher se suavizando.


-A senhora se sentiria mais confortável em outra posição? Se quiser se levantar, ficar de joelhos ou de qualquer outro jeito, diga!


-E-Eh? M-Mas isso não vai atrapalhar o bebe?


-Não! – Winry responde, atraindo os olhares para si. – Como Ani disse, seu corpo sabe o que deve fazer. Se sentir que quer ficar em outra posição, então é ele lhe dizendo que assim vai ajudar seu bebe a nascer! Por isso, fique como achar melhor!


Ani sorri largo ao ouvir a amiga, assentindo com a cabeça em concordância quando Satella a encara.


-Estamos aqui com você! Não tenha medo.


Vendo que Satella parecia mais calma, Winry se sente mais confiante também. A conexão que havia estabelecido com Ani naquele momento faz com que ela também não se sinta desamparada. Se Ani se concentrasse no bem-estar da mãe, então poderia focar no bebe sem medo. E se todos estavam tão empenhados em ajudar... Ela também tinha que dar seu melhor!


-Vamos ajudar esse bebe nascer!


–x–


Os dois irmãos aguardavam do lado de fora, angustiados para que o tal médico chegasse logo ou que alguém saísse daquele quarto com alguma boa notícia! Eram alquimistas incríveis, prodígios, mas naquela situação, aquilo não valia de nada e o sentimento de impotência por não poderem ajudar de absolutamente nenhuma forma era péssimo.


Em meio a seus pedidos individuais para que tudo corresse bem, a porta do quarto subitamente se abre e dela sai Paninya, completamente assustada.


-S-Sangue... N-Não dá mais...


Os dois irmãos correm até ela.


-O que houve? – Al questiona, enquanto Ed corre para dentro do quarto encontrando Ani e Winry sentadas ao chão uma do lado da outra, completamente ofegantes.


-O que aconteceu?! – Ed pergunta enquanto Winry, ainda sem ar, apenas aponta para frente.


Quando o alquimista olha na direção que ela apontava, seus olhos se arregalam e brilham no exato momento em que seus ouvidos captam aquele chorinho vindo daquele bebe tão pequeno nos braços da mãe.


Alphonse que entra logo em seguida, também fica completamente encantado com o que vê, enquanto o irmão começa a gritar empolgado sobre como aquilo era completamente incrível.


Se divertindo com Edward perdendo totalmente sua pose, Winry volta o olhar para Ani que também ainda recuperava o fôlego.


-C-Como sabia daquelas coisas?


-Eu.... Morei numa fazenda quando pequena. A-Ajudei a fazer parto de ovelhas algumas vezes.


-Q-Que? O-Ovelhas? – Tom risonho.


-É. Ovelhas! – Rindo junto. – No fim... O mecanismo é o mesmo. Nii-san dizia que massagens ajudam a aliviar a dor... compressas quentes também, porque ajudam na circulação. Ele também dizia que... O corpo e a mãe sempre sabem o que devem fazer. Eles fazem o trabalho, nós só ajudamos. – A encara, sorrindo. – E você? Como sabia o que fazer?


-Cresci lendo livros de medicina. Meus pais eram médicos. – Ainda ofegante. – Eu ainda... Me lembrava de alguma coisa.


-F-Foi assustador!


-Foi terrível! Eu estava em pânico! – Winry gargalha num tom aliviado. – Mas... Formamos uma boa dupla.


-É... Formamos! – Sorri largo também.


Assim que termina de pular euforicamente em comemoração ao nascimento do pequeno bebe, Edward se aproxima das duas.


-Vocês são demais!


No meio da empolgação e do costume que havia criado com sua aprendiz, o loiro dá duas batidinhas em suas cabeças, apenas se esqueceu que uma de suas mãos era um automail e bateu com ele na cabeça de Winry.


-AIE! SEU IDIOTA!!


-Ah! Foi mal! Foi mal! – Não parecendo tão arrependido assim. – Bem, agora que está tudo bem, tem algo que eu possa fazer?


Ainda meio emburrada, Winry o encara.


-Na verdade tem sim. – Estende a mão para ele. – Me ajudar a levantar.


-Hã?


-Nós duas não conseguimos ficar de pé. – Ani explica num tom risonho, o fazendo rir também.


-Claro, eu ajudo! – Edward se aproxima de Winry, ajoelhando-se a sua frente para ajudá-la a se apoiar em suas costas. – Já venho pegar você.


-Não se preocupe comigo! – Ani o responde com um sorriso tranquilo. – Cuide da Winry-chan! Al me ajuda quando terminar de dar as boas-vindas ao bebê! – Ri, se divertindo ao ver o outro todo empolgado com o mini serumaninho. – Cuide dela direito, heim?


-Tá, tá! – Revira os olhos com a provocação dela. – Vem, vamos tomar uma agua.


Tendo eles saído, Ani volta seu olhar ao bebezinho que agora repousava ainda chorando nos braços de seus pais, que também choravam emocionados por conhecerem seu primeiro filho.


Assim que acorda para o restante do mundo, Alphonse olha em volta e se aproxima de Ani ao vê-la sentada no chão.


-D-Desculpa me distraí!


-Eu vi! – Rindo.


-Tudo bem com você?


-Só um pouco tonta! Nada com que se preocupar!


-Vocês foram incríveis!


-P-Pfff! Não fizemos nada. – Olha para Satella novamente. – Ela fez tudo.


O olhar de Ani se prende naquela cena tão bonita que presenciava. Impossível que um sorriso não se instalasse em seu rosto ao ver o enorme zelo com que Satella olhava para o pequeno bebe. Era emocionante simplesmente observar a forma como ela o segurava junto a si e a forma como seus olhos brilhavam enquanto parecia gravar em seu coração cada milímetro de seu rosto, de suas mãozinhas, o formato de cada fiozinho de cabelo, a disposição de cada um dos cílios em seus pequenos olhos. E claro... impossível não sorrir junto ao presenciar a forma com que ela sorria por ver o pequeno ser que havia trazido ao mundo.


Todo o sofrimento que havia passado há apenas alguns minutos não parecia ser nada comparado a total paz que a atingia ao escutar aquele chorinho. Sem dúvidas... Devia ser uma das cenas mais bonitas que Ani já havia testemunhado em sua vida e isto fazia com que um brilho sonhador atingisse seu olhar também.


Aquela forma de sorrir e o brilho que se abrigou no olhar dela era discreta a maioria das pessoas ali, mas foi clara a Alphonse, que por alguns segundos, ficou um pouco atordoado.


Às vezes Ani era muito clara para si e as vezes um completo enigma. Mas aquele olhar era algo que não deixava sombra de dúvidas: Sabia exatamente o que ela pensava naquele momento.


-Al? – Arqueia a sobrancelha ao ver ele parecendo avoado daquela forma. – Aaaaaal? – Balançando a mão em frente ao seu rosto.


-A-Ah! O-O que?


-Eu perguntei se pode me ajudar a levantar!


-O-Oh! Sim! C-Claro!


–x–


Al estava sentado sobre um tronco no jardim da casa de Paninya, mesmo que não pudesse sentir o frio da brisa da noite, a tranquilidade e o som suave do vento e dos insetos lhe trazia alguma paz em meio a sua mente barulhenta.


Alguns minutos após o nascimento do filho de Satella e Ridel, o médico finalmente consegue chegar até a residência e para o alivio e alegria de todos, tanto mãe quanto bebê estavam bem, o que rendeu elogios principalmente a Winry.


Sendo o destino carinhoso e Dominic tendo uma clara dívida com a loira, o mecânico de automails não pôde recusar novamente quando Edward se aproveitou da situação para pedir novamente que ele a aceitasse como aprendiz. Bem, ao menos não recusar completamente. O homem se manteve firme em sua decisão de não aceitar aprendizes, mas prometeu indicar Winry a um outro talentoso engenheiro e permitiu que ela viesse visitar seu trabalho de vez em quando, o que foi o suficiente para que Winry pulasse de alegria.


Contudo, os últimos acontecimentos do dia mexeram muito com o Elric mais jovem e o jogaram diretamente num mar de pensamentos não tão animadores, embora todos naquela casa parecessem extremamente felizes com o nascimento daquela criança. Que não o levassem a mal, Al também estava mais do que feliz por aquele bebe ter nascido saudável em meio a toda aquela bagunça, mas passado a euforia, Al foi diretamente confrontado por toda sua moral e ética pessoal ao notar como os olhos de Ani brilharam ao ver aquela criança.


Alphonse era jovem, mas não era tão ingênuo. Já havia tido tempo para compreender que tipos de sentimentos estava cultivando por ela já há algum tempo. Ani havia chego como uma luz nos dias nebulosos dos dois irmãos e toda sua energia e simplicidade era algo que sempre lhe arrancava risos e o fazia gostar mais e mais dela a cada dia. No entanto, mesmo com a alegria de experimentar aqueles sentimentos joviais, muitas vezes também acabava vendo suas fantasias como uma mera ilusão e isso o entristecia. Sendo da forma que era agora...-


-Al!


Ah. Aquela voz. Alphonse se vira para entrada da casa, vendo Ani vindo em sua direção com os cabelos sendo agitados pelo vento e suas mãos segurando seu cachecol em seu pescoço para evitar que ele saísse voando e também para tentar proteger seu rosto do vento frio. Ao se aproximar dele, abre um sorriso largo, abaixando um pouco seu cachecol e revelando um rosto levemente corado pelo frio.


-O que está fazendo aqui sozinho?


-Ah, eu só estava... Ouvindo os insetos. – Ani se senta ao seu lado. – E pensando um pouco.


-Foram muitos acontecimentos para poucas horas, não é? Esse ar pós-chuva sempre é ótimo para relaxar. – Sorri. – Ah! O bebê está indo muito bem! Winry-chan fez um ótimo trabalho!


-Foram mesmo! Ainda não acredito que fizeram um parto – Rindo. – Eu teria ficado desesperado se fosse eu ali!


Ani ri num ar sem graça.


-Eu não fiz muita coisa, Winry-chan quem fez a parte mais complicada, mas fico muito feliz em ter ajudado! – Sorridente. – Não acha que a gestação é uma coisa incrível, Al? Criar outro ser humano a partir de algo tão pequeno! Corpo, consciência e alma! – Gesticulando. – Algo que ninguém pôde explicar ou recriar até então! É fácil definir o que é um corpo, mas como definir o que é uma alma? Não tem como medir, observar ou coletar material de uma alma e nós podemos criar isso! Eu acho fantástico!


-Eu também acho.


-É uma das poucas coisas que eu acho mais incríveis do que alquimia!


Rindo suavemente com o comentário dela, Al mergulha novamente em seus pensamentos não tão otimistas, ficando em silêncio enquanto olhava para o céu e remoía em sua mente as palavras dela. Não só o olhar e o sorriso dela anteriormente reafirmavam a constatação que havia tido horas atrás, como ouvi-la falando também.


-Você está com saudade da sua mãe, Al?


-Eh? – Alphonse olha para ela meio confuso com aquela conclusão.


-Você... Parece meio distante depois de ver a Sra. Satella com o seu bebê. – Preocupada. – Ela o fez se lembrar da Trisha-san?


-Oh. – Fica sem saber o que responder por um instante. – Não... Não é isso. Eu... – "Na verdade estava olhando para você naquela hora." – Só estou meio... Deprimido.


-Por que?


-Bem... – Hesitou por um momento. – Eu estava pensando sobre se... Se por acaso eu não conseguir recuperar meu corpo, sabe? Essa é mais uma das coisas que... não vou poder fazer.


-Filhos? – Al balança a cabeça positivamente. – Ora Al... Você não deveria pensar desse jeito! Você vai recuperar seu corpo! O Ed jamais descansaria até conseguir isso e eu com certeza também não vou!


-E eu acredito nisso. – Responde sincero. – Mas... Se... Se nunca acontecer, eu tenho que pensar no que fazer também. Digo, eu vou ter que seguir minha vida de alguma forma e... É melhor estar preparado pra tudo.


Ani o encara com um olhar tristonho, pois sabia que pensar naquilo fazia sentido. Embora se recusasse a pensar na simples probabilidade de eles falharem... Ela ainda assim existia.


-Mas Al, mesmo que você não recupere seu corpo, você ainda pode ter filhos! Por exemplo, eu e meu Nii-san não somos parentes de sangue, assim como nossos avós, mas eles são minha família do mesmo jeito!


-Eu sei disso. Mas ainda fico chateado pelas coisas não poderem ser como queria. Sabe? De não poder ter escolha. Além disso... – Alphonse hesita novamente, sem saber ao certo se deveria mesmo se abrir quanto aquele assunto com ela. – Eu não gostaria de ser pai sozinho.


-Eh? – Arqueia novamente a sobrancelha. – E por que você precisaria ser pai sozinho?


-Bem... Eu não consigo pensar em uma mulher que aceitaria... Alguém como eu.


-EEH?! – Ani se levanta abruptamente, encarando Al incrédula. – De onde tirou isso?! Al, se alguém realmente gostar de você, vai te amar pelo que você é! Seja como uma armadura ou com seu corpo! – Pisa forte no chão. – Tem que gostar de você pela pessoa que você é! Não pela sua aparência! – Al suspira, não parecendo convencido. Sabia que ela iria dizer algo assim. – E você tem muitas pessoas que realmente gostam de você... De onde tirou um absurdo desses?


-Uma parte de mim quer acreditar que isso seja verdade. Se fosse ao contrário e fosse eu consolando você, eu provavelmente diria a mesma coisa, mas... As coisas são um pouco mais difíceis de aceitar estando desse lado.


Ani volta a se sentar ao lado de Al, com os braços cruzados e ainda com uma expressão indignada no rosto. Não concordava nem um pouco com aquele lamento! Entendia as inseguranças que ele tinha, mas Al supor que por conta disso nunca seria amado era algo que saia de seu entendimento.


Mas... Ver ele parecendo tão abatido daquele jeito por sei lá o que estivesse enchendo sua cabeça... A deixava preocupada.


-Me explique. – Coloca uma de suas mãos sobre a dele e Al hesita outra vez.


-... Eu procuro não pensar muito nisso. Porque eu sei que... Eu ser desse jeito é o preço que estou pagando por um erro que eu cometi e porque sei que me lamentar não vai mudar as coisas. – Encara suas próprias mãos, movendo seus dedos lentamente. – Eu gostaria de um dia conseguir uma namorada, mas... mesmo se alguém gostar de mim, eu acho que seria muito difícil para alguém estar comigo.


-Al, você com certeza é uma pessoa que muitas garotas sonhariam em ter ao seu lado.


Al encara o chão, parecendo perdido em pensamentos, fazendo com que ela só se preocupasse mais. Nunca chegou a pensar que era fácil para Al viver naquele corpo, mas como em grande parte do tempo o maior se mostrava resiliente sobre seu estado... Nunca tinha tido uma real noção do quanto aquilo o impactava. Apenas começou a perceber o quanto viver sem seu corpo o machucava tão profundamente quando Alphonse havia sido tão facilmente colocado contra seu irmão quando Barry o encheu de ideias estupidas em Central City.


E agora que ele parecia querer abrir, queria poder compreender como ele se sentia, pois também lhe doía vê-lo assim.


-Escolher estar com alguém como eu, também seria escolher abrir mão de muitas coisas, não só filhos biológicos. – Hesita. – T-Tem... Muitas outras coisas.


-Aaal! Você é alguém incrível! É gentil, inteligente, confiável, atencioso e muito forte! Tenho certeza que existem mulheres que ficariam felizes em se casar com você independentemente de qualquer coisa que elas precisem abrir mão pra isso! – Fala firmemente. – Você vale a pena! Sei disso! É o melhor amigo que eu tenho!


Ah. "Amigo". Alphonse suspira em um ar conformado, seguido de um discreto riso. Não estava surpreso com aquela afirmação, mas mesmo ela não sendo o que no fundo queria ouvir... Ficava muito feliz por ter ela ao seu lado naquele momento de fragilidade. Independentemente do que fosse, Ani também havia se tornado uma de suas melhores amigas e o conforto dela lhe era valioso, mesmo que ela fosse indiretamente responsável por sua angústia.


-E-Eu mesma... Seria uma delas.


....Pera quê?


Alphonse imediatamente volta o rosto para ela, porém, ela havia virado o próprio para o lado oposto.


-O-O que?


Embora o tom surpreso e ansioso do maior parecesse exigir explicações depressa, Ani precisou de alguns minutos para conseguir encontrar sua voz novamente. Nunca havia sido do tipo reservado, nunca havia tido problemas em falar como se sentia ou o que pensava, mas... Dessa vez era diferente. Não era boa naquele assunto.


-E-Eu... – Ani suspira, reunindo coragem e assim olhando para ele. – Eu ficaria feliz se... M-Me casasse com você.


Os dois se encaram por longos segundos, Al estava estático sem acreditar que realmente havia ouvido certo e Ani tinha seu rosto mais vermelho a cada segundo que esperava ele dizer alguma coisa. Quando Alphonse finalmente conseguiu raciocinar, acalmou um pouco a explosão de euforia que o atingiu e voltou a olhar para frente, deixando de lado seu lado emocional e permitindo que a razão voltasse a falar.


-Você... Não deveria dizer uma coisa dessas só porque sente pena de mim.


Ao ouvir aquela frase, Ani arregala seus olhos.


-Eu jamais diria uma coisa dessas por pena de você! – Rebateu, gritando com veemência. – Isso seria horrível e extremamente desrespeitoso! Além disso, eu não sinto pena de você. – Continuou o encarando, desta vez com uma expressão irritada por ele pensar em algo com aquilo. – Eu estou sendo sincera!


Um novo silêncio se instala entre eles. Um silêncio inquieto na opinião de ambos que agora se encontravam visivelmente bagunçados emocionalmente.


-... Se casaria comigo?


-Sim.


Outro silêncio.


-Isso não daria certo.


-Por que não?


-Porque voltaríamos a questão do início dessa conversa.


-... Poderíamos adotar.


-Esse não é o ponto, Ani! Eu vi a forma como olhou para o bebê da Sra. Satella. Você não só quer ser mãe, um dia... Você quer ter um bebê um dia, não quer?


-... – Desvia seu olhar. – Eu não me importo com isso.


-Mas eu sim. – Responde seriamente.


-A-Al... Por mais que eu tenha essa vontade, eu e você só temos 14 anos! É-É um pouco cedo pensar sobre esse assunto agora. Muita coisa pode mudar! Eu posso um dia nem querer mais i-


-Para...


Ani emudece e outro silêncio recai sobre eles e perdura por mais alguns longos segundos, enquanto Alphonse pensava sobre como se expressar.


Era difícil conseguir pensar direito pois não imaginava que um dia entraria naquele assunto, ainda mais com ela. Sabia que ela queria anima-lo, mas na verdade as falas dela... O deixavam irritado.


-Você tem um péssimo habito de se dar demais para as pessoas. Eu fico muito feliz que me considere tanto, mas não deveria dizer algo assim em função de mim. Você não pode ficar com alguém que não pode te dar carinho, Ani! – Cada vez mais angustiado, pois... finalmente chegava ao cerne da questão. – Com alguém como eu... que-! Que... – Suspira. – Eu não posso... nem sequer... – Não estava certo se deveria dizer aquilo, mas... Já havia falado tanto que naquele ponto já não conseguia mais impedir que as angustias presas em seu peito voassem de sua boca. – Eu não posso sequer te dar um beijo, Ani.


E pela quarta vez o silêncio reina. Ao ouvi-lo, Ani baixa sua cabeça de forma que sua franja escondesse seu rosto, impossibilitando que o outro pudesse decifrar o que sua expressão queria dizer. Alphonse sabia que talvez tivesse ido um pouco longe em suas palavras então... podia entender que ela não tinha o que dizer. Apesar de tudo que já havia vivenciado, Alphonse continuava sendo um adolescente 14 anos. Suas emoções eram muitas e não conseguia as controlar muito bem.


Após pouco menos de um minuto sem trocaram palavras, Ani se levanta novamente e Alphonse inconscientemente fecha seus olhos, imaginando que ela voltaria para dentro da casa e colocaria fim a aquele desabafo e a seus sonhos juvenis. Mas então, ao ouvir os passos dela não se distanciando, mas sim se aproximando mais de si, volta a abrir os olhos e fica estático ao perceber o rosto que tanto havia rondado seus pensamentos no último dia se aproximando mais e mais de si, sem um aviso prévio.


Quando os lábios dela tocaram onde deveria simular a boca de sua armadura, o Elric mais jovem sentiu como se perdesse o ar, mesmo que não tivesse pulmões. Não conseguia sentir como era a sensação do toque das mãos dela em seu rosto ou quão macia era sua boca, mas sentiu como se toda sua alma se expandisse e preenchesse cada espaço daquela armadura com aquela sensação calorosa, mesclada com uma infinidade de questionamentos sobre o significado daquele ato.


Alguns segundos se passaram e ela se afastou dele lentamente. Seus olhos entreabertos o encaravam e suas sobrancelhas se franziam numa expressão envergonhada enquanto seu rosto continuava vermelho. Ela parecia tão perdida no que fazer quanto si e tal visão, fez com que Al risse suavemente.


-O-O que achou?


A pergunta também o fez rir. Um riso leve que fez a expressão "borboletas no estômago" parecer plenamente plausível, mesmo na falta de um estômago.


-B-Bom. – Murmurou num tom tímido, ainda se questionando do que acontecia. – Mesmo não podendo sentir... f-foi bom.


Ani abre um sorriso carinhoso, rindo de levinho com aquela resposta simples. Ficou ali próximo a ele, o encarando com o rosto próximo ao dele enquanto procurava palavras que conseguissem explicar a forma como seu coração batia forte.


-Não estou fazendo nada disso porque sinto pena de você. – Começa a falar com a voz firme, se forçando para vencer a timidez e continuar o encarando. – Nem estou me sacrificando por ninguém. Eu... Eu estou sendo sincera com tudo o que estou dizendo... – Porque queria que ele acreditasse. Queria que ele acreditasse no que ela lhe dizia. Que acreditasse em suas palavras mais do que acreditava em seus medos. – E-Eu gosto de você, Al. – Tenta continuar o encarando, mas acaba desviando seu olhar. Parte de si queria fugir, mas uma outra... Estava repleta de felicidade por finalmente conseguir dizer aquilo. E esta alegria, a fez abrir um tímido sorriso. – E-Eu me apaixonei por você mesmo nunca tendo visto o seu rosto. P-Por isso eu sei que o que está dizendo é besteira. É plenamente possível gostar de você... Mesmo se você nunca voltar para o seu corpo um dia. Então... – Se afasta dele, recolhendo as próprias mãos e as levando para seu peito, arrastando de levinho o pé no chão. – P-Pare de dizer essas coisas. É... É muito triste pensar que talvez você... você nunca nem considerasse o que eu sinto como verdadeiro, porque acha que nunca seria amado por alguém.


Ainda em silencio, Ani volta a se sentar do lado dele, ajeitando seu cachecol de uma forma meio ansiosa só porque queria se distrair de seu nervosismo com alguma outra coisa. Enquanto isso, Alphonse consegue apenas acompanha-la com o olhar, ainda completamente abobado e custando a acreditar que os últimos minutos não haviam sido um delírio seu.


Depois daquele beijo inesperado, todas as inseguranças que Al tinha pareceram derreter juntamente com todo restante de si. Aquela inquietação e euforia que o tomavam eram algo completamente novo para si e sem dúvidas, eram também a sensação mais deliciosa que havia sentido em toda sua vida! Era algo que não chegava nem próximo de todas as descrições sobre a alegria de ser correspondido que já havia lido e ouvido em livros e histórias. Depois de ouvir tudo aquilo... O que mais poderia dizer?


-S-Sendo assim... Quando eu tiver meu corpo de volta, eu vou te dar um beijo de verdade.


Dito aquela frase, um quinto silencio perdurou, mas logo foi cortado por um grito surpreso vindo dela, juntamente com seus olhos arregalados


-O-O-O Q-Q-Q-UE?


O rosto completamente surpreso e vermelho dela lhe arranca outra gargalhada boba. Se havia ainda algum resquício de medo ou hesitação, ele havia evaporado naquele momento.


-Eu também gosto de você.


 



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Autor(a): tord_the_writer

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O próximo dia se inicia e às nove da manhã, Ani que sempre teve o hábito de acordar cedo – Em decorrência de sua vida na fazenda. – ainda se encontrava deitada na cama com os olhos completamente arregalados enquanto encarava o teto. Não havia conseguido dormir, se manteve em um estado de processamento sobre se a noite ante ...


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