Fanfic: Sugar Heart | Tema: Fullmetal Alchemist
Duas da tarde. Três pessoas paradas na calçada diante a um açougue. Duas tremendo a terceira confusa sobre porque as outras duas pareciam tão aterrorizadas. Este era o estado do trio de alquimistas assim que finalmente chegaram ao seus destinos: A casa dos Curtis.
-...... Vocês não vão bater na porta? - Ani questiona quando se cansa de assisti-los encararem a porta sem se moverem.
-Deixe-nos nos despedir da vida com calma. - Retruca Ed.
-Não acham que estão exagerando? O que ela vai fazer por acaso? - Arqueia a sobrancelha. - Matá-los?
E como o abrir de uma caixa de pandora, assim que Ani proferiu esta frase, a porta da frente se abre estrondosamente, assustando aos três que tiveram o imediato reflexo de se juntarem em um único local como filhotes temendo por suas vidas.
-P-P-Pensei que a professora de vocês fosse uma mulher! - Sussugritando.
-Essa não é ela! - Ed sussugrita de volta.
-É o marido dela. - Completa Alphonse.
Ani só se encolhe mais junto aos outros dois. Se aquele era o marido da professora dos irmãos, ela devia ser tão assustadora quanto. Começava a pensar que talvez todo o drama e medo dos amigos para reencontrar sua mestra não fosse algo tão infundado assim.
No entanto, assim como uma tempestade súbita que vai embora tão depressa quando surge, o homem forte e alto sorri para os dois.
-Olá. Você cresceu. - Sigmund cumprimenta o alquimista mais velho com um carinho em sua cabeça.
-B-Boa tarde! - Ed responde um tom nervoso e Alphonse o acompanha com um aceno de cabeça.
-...Oh. -Suspirando aliviada. - Ele é como o Al. - Alphonse encara Ani num ar interrogativo. - Grande e assustador, mas gentil.
Al nem sequer se preocupou em ponderar se deveria considerar aquele comentário como um elogio ou um insulto, pois estava mais preocupado em cumprimentar o marido de sua professora educadamente.
-O-Oh! eu sou o Alphonse! Há quanto tempo!
Mantendo sua postura de "homem grande", o homem apenas acarinha a cabeça de Alphonse assim como havia feito com Ed, fazendo com que Al ficasse bobo pela nostalgia daquele ato.
-E você, mocinha?
-O-Oh! Muito prazer! - Ani estende sua mão, tendo o cumprimento retribuído educadamente. - Eu me chamo Ani Harris, sou aprendiz do Ed.
-Prazer em conhecê-la.
Tendo completado os cumprimentos, Sigmund se dirige até uma janela próxima, espiando para dentro da casa onde Izumi estava e chamando-a para avisar que haviam visitas.
-Izumi, você tem visita. Os irmãos Elric estão aqui. Pode se levantar?
-Ah, sim. Não estou me sentindo mal hoje.
-Ela está bem?
-Ela sempre esteve meio doente. - Ed comenta. - Talvez tenha piorado.
Toda a calmaria que haviam recuperado é novamente dissipada em pouquíssimos segundos quando outra figura - esta bem mais assustadora que a anterior - sai estrondosamente pela porta bufando em puro ódio antes de simplesmente CHUTAR EDWARD PARA O OUTRO LADO, como se ele fosse uma pequena pedra.
-ALUNO IDIOTAA! SOUBE QUE SE TORNOU UM CÃO DO EXÉRCITO!
-ESSA DAÍ É A PROFESSORA??!! - Sussugrita de novo, imediatamente se escondendo atrás de Al.
-É-É!
Alphonse estremece quando o olhar enfurecido de Izumi direciona-se para si, sentindo-se na mira de um canhão, a um passo da morte certa. Porém, tão logo Izumi rosnava em fúria, sua expressão se converte em um rosto surpreso.
-Al, é você?
-A-Ah! S-Sim!
O Elric mais jovem relaxa um pouco ao ver sua Sensei parecendo tão feliz e surpresa ao vê-lo. Por isso, abaixa sua guarda sem pensar e se aproxima para cumprimentá-la. Lamentavelmente, outra vez a calma revelou-se só uma nova farsa quando desta vez é Alphonse quem foi arremessado brutalmente para o lado oposto ao de Edward, com uma facilidade assustadora levando em conta seu peso. Sem mais lugares onde pudesse se esconder, Ani sente um frio percorrer toda sua espinha quando foi encarada por aquela mulher.
-E você, quem é?
-E-E-Eu? Quem sou eu? Nem eu sei quem sou eu, então com certeza não sou alguém importante! Tchaaaau!!
Infelizmente, antes que pudesse dar no pé, Ani tem seu cachecol pego como uma coleira e é impedida de escapar.
-Não me faça de tonta... - Rosnando.
-E-E-EU ME CHAMO ANI HARRIS! E-E-UU SOU A-APRENDIZ DO EDWARD E É UMA HONRA CONHECER A SENHORA!!! - Choramingando. - NÃO ME MATEEE!!
-x-
Esfriado os ânimos após aquela recepção...no mínimo calorosa, os três alquimistas agoram se reuniam na mesa de jantar do casal para que finalmente pudessem ter uma conversa civilizada e não-violenta sobre os assuntos que os trouxeram até Dublith.
-Que arrogância sua pensar que tem capacidade para treinar alguém.
-Ela insistiu, eu aceitei ajudar, só isso. - Edward direciona um olhar para Ani que ainda estava ali encarando Izumi com cara de estresse pós-traumático. - Mas eu admito que eu ainda tenho que aprender algumas coisas. Essa é uma das muitas razões para termos vindo até aqui.
-Hm? - Izumi arqueia a sobrancelha.
-Sensei, gostaríamos de perguntar o que sabe a respeito da pedra filosofal.
Izumi cruza suas pernas e braços.
-Não sei muito sobre a pedra filosofal. Nunca me interessei muito por ela.
-Entendo... - Responde Edward com uma certa frustração.
-Da última vez que fomos à Central nós conhecemos um alquimista que parecia saber muito sobre a pedra. - Comenta o marido de Izumi assim que percebeu a decepção na face deles.
Com aquela fala, o trio sorri entre si. Finalmente tinham uma nova pista para seguir!
-Como ele era? - Questiona o Elric mais velho com empolgação.
-Hm... Acho que ele disse que se chamava... Hohenhein.
Aquele nome. No instante em que escuta aquele nome após tantos anos sem sequer mencioná-lo, o sorriso animado de Edward desaparece em um sopro. Uma raiva desmedida se apossa de seu corpo, tornando difícil esconder os sentimentos amargos que experimentava e com isso, Edward que sempre havia sido uma pessoa cabeça quente, se reclui em sua fúria, apertando os punhos e encarando o próprio colo, tentando engolir aqueles sentimentos amargos.
-Qual o problema? - Questiona Izumi ao observar sua reação.
-Então ele ainda está vivo... - Pragueja.
-Vocês os conhecem?
-Ele é nosso pai. - Alphonse responde após um segundo de hesitação.
-Aquele que abandonou vocês?
-AQUELE MALDITO. - Edward não consegue conter seus ressentimento. - Foi por causa dele que a mamãe morreu. Foi por causa dele qu-
O discurso de Ed se interrompe quando ele sente um toque sobre sua mão. No instante que encara os dedos repousados sobre si já sabia de quem se tratava. Edward apenas direciona seu olhar para Ani, sem virar sua cabeça para encará-la. Ela, o observava com um olhar preocupado
-Se continuar apertando tanto, vai machucar suas mãos. - Aperta suavemente sua mão antes de soltá-la, ainda mantendo um olhar preocupado sobre ele.
Com aquela atitude, Edward suspira pesadamente, recobra um pouco de sua calma e abre suas mãos sobre seus joelhos, mantendo-se em silêncio. Vendo que ele havia se acalmado, Ani abre um leve sorriso.
-O Papai disse algo sobre a pedra filosofal? - Questiona Al, também mais tranquilo com o irmão.
-Ele disse algo sobre estar perto de realizar um sonho antigo. Parecia bem contente.
-"Sonho antigo"? - Ani arqueia a sobrancelha. - ... Será que tem algo a ver com vocês dois?
-Duvido muito. - Edward responde sem ânimo. - Ele nunca se importou com a gente.
Edward volta a ficar em silêncio novamente, assim como Alphonse. Falar sobre seu pai sempre foi um assunto complicado para seu irmão e Al sabia muito bem disso. Por este motivo evitava tocar no nome de Hohenheim, embora não nutrisse um rancor equivalente ao do irmão. Vendo a expressão de seu mestre, Ani estava prestes a tentar consolá-lo novamente, mas Izumi é mais rápida com seu punho do amor e deixa um belo de um cascudo na cabeça baixa de Edward.
-É hora de comer! - Declara com autoridade e se retira em direção a cozinha.
-Táaa... - Ed resmunga, com as mãos sobre a cabeça.
Sigmund se levanta para auxiliar Izumi na cozinha enquanto os outros três permanecem ali. Os dois irmãos ainda um tanto perdidos em seus pensamentos ao saberem um rastro do paradeiro de Van.
-Estou começando a entender a Izumi-san.
-O que quer dizer?
-O comportamento dela. É como uma mãe bem severa. - Leve riso.
-Que raios de mãe você teve?
Ani gargalha.
-Estou dizendo que ela parece se importar com vocês. De um jeito bem energético.
Os dois irmãos se entreolham, não parecendo tão certos daquela comparação e também passam a encarar a porta por onde Izumi havia saído. Quando recordavam dos tempos em que foram treinados por ela, quase sempre eram acometidos por lembranças tenebrosas e sombrias, mas, dentre estas memórias também existiam as vezes em que eram parabenizados, as vezes em que ela se mostrava orgulhosa e que se preocupava com eles.
Embora Izumi possuísse aquele temperamento explosivo, sabiam que Ani estava certa no que dizia. Aquele era o jeito que ela agia com quem se importava.
-Também consegui entender de onde vem sua mania dos cascudos educativos.
Edward apenas franze o cenho ao perceber que de fato havia herdado alguma mania de Izumi, mas antes que tivesse chances de responder, os três se assustam com um berro nada amistoso vindo da cozinha.
-OS TRÊS VAGABUNDOS VÃO FICAR AI PAPEANDO ATÉ QUANDO?? AO TRABALHO, AGORA!
-S-SIM! - Respondem em uníssono, disparando para a cozinha.
-x-
Após o jantar, os três se recolhem no quarto de hóspedes da casa. O mesmo quarto que Edward e Alphonse costumavam a ficar quando ainda eram treinados por Izumi.
-Nii-san, a Sensei ainda é a mesma.
-É, ela não mudou nada desde a última vez que a vimos.
-Como vocês se conheceram?
-Uma vez em um dia de muita chuva, uma das represas de Rizembool estava ameaçando transbordar e ceder. A sensei estava de passagem e conseguiu consertar a represa com uma transmutação incrível. - Al se mostrava animado contando a história. - Nós tivemos que insistir muito para convencer ela a nos treinar.
-Olha só, outra semelhança. - Ani provoca Ed.
-Só que nós não nos enfiamos debaixo da mesa da Sensei.
-Pff! Nunca vai esquecer disso, é?
-Não. Eu devia mesmo te mandar pra sobreviver em uma ilha deserta como punição por aquilo.
-Pfff! Essa história da ilha é mesmo verdade?
-É sim! - Al gargalha. - Depois que aceitou nos levar com ela, a sensei nos impôs um teste para só então nos aceitar oficialmente como aprendizes. Tivemos que sobreviver naquele lugar e com isso conseguir explicar a ela o que significava "Um é tudo, tudo é um".
-Oh! Um sou eu e tudo é o universo, não é? - Ed e Al a encaram chocados. - .... O que foi?
-Como matou isso tão rápido?
-Oh. Parece ser a mesma lógica de "um por todos e todos por um". - Ed e Al fazem cara de paisagem. - Han.... Os três mosqueteiros...? Alexandre Dumas? Romance? - Continuam a encarando com cara de paisagem. - Heeeh? Vocês dois vivem lendo livros e nunca leram este?
-Eu e Al só líamos livros sobre alquimia quando crianças.
-Que crime.
-Nós levamos um mês para entender o significado disso.
-Talvez seja porque vocês eram muito jovens naquela época. Ou talvez seja porque eu sou mais inteligente. - Provoca. - Será que dá tempo de trocar o Ed pela Izumi-san?
-Não vou nem responder.
Ani e Al gargalham.
-Para ter treinado vocês dois Izumi-san deve ser realmente uma alquimista excepcional.
-Foi o que nós pensamos também quando a conhecemos. Foi a primeira vez que vimos alguém capaz de transmutar sem o círculo de transmutação.
-Eh? Ela também? Mas se ela pode, então...
No mesmo instante, seguindo aquele raciocínio, a resposta que obtiveram fez com que os dois irmãos arregalassem seus olhos e Edward que até então estava deitado em sua cama se senta bruscamente.
-A Sensei... também viu a verdade.
-x-
Após finalmente terem conectado o ponto que demoraram tanto tempo para entender, Ed e Al decidem confrontar sua professora a respeito daquela informação. Se ela havia mesmo realizado uma transmutação humana em algum momento, porque nunca os havia dito? E se tivesse mesmo feito, talvez ela possuísse conhecimento para ajudá-los... Se também contassem a ela o próprio segredo.
Apenas não esperavam que durante todo esse tempo, não na verdade não possuíssem nenhum segredo. Enquanto a questionavam e buscavam palavras para explicar tudo desde o início, souberam que desde o primeiro momento haviam subestimado a astúcia de sua professora e Izumi havia percebido a verdade por trás deles. Havia percebido os automails de Edward e havia percebido a armadura vazia de Alphonse.
-Você viu aquilo? - A questionou sériamente.
Edward hesitou em respondê-la.
-VIU OU NÃO VIU?!
-VI!!
Mais surpresa do que ficaram ao descobrirem que na verdade Izumi já sabia do que vinham escondendo foi quando em um suspiro desanimado, Izumi desabafou:
-Mestre e discípulos cometendo o mesmo erro.
Foi quando finalmente tiveram sua confirmação: Izumi de fato havia cometido o mesmo pecado que eles.
-x-
Já era noite quando voltaram a se recolher em seus quartos, visivelmente cansados porém também com os olhos brilhantes por uma nova esperança.
-Foi um dia longo.
-Sim.
-Vocês estão bem? - Ani se senta sobre a cama, próximo a Edward.
-Sim.
Em um pouco espaço de tempo várias reviravoltas e novas informações haviam sido trocadas.
Em um momento finalmente haviam se tocado que eram mais parecidos com sua professora do que gostariam de ser.
Em outro, recebem a informação de que no passado, a dor em perder seu bebê foi o que motivou Izumi a chegar perto demais do sol e como resultado assim como Edward, havia se queimado e tido parte de seus órgãos internos levados como preço. Finalmente sabiam o porquê a saúde dela era tão frágil.
Após isso, um momento inusitado e ao mesmo tempo... familiar. Sempre imaginavam que seriam trucidados quando Izumi tomasse conhecimento sobre seu erro. Porém, positivamente contrariando suas expectativas, ela os acolheu num abraço maternal, os confortando e compreendendo todo o peso que eles carregavam sobre si sem que eles precisassem explicá-lo.
-Já fazia tempo desde que os vi tão mexidos. - Ani Sorri. - Mas... acho que vocês precisavam disso, não é?
-Acho que sim. -Ed resmunga.
-Mas eu realmente achei que ela estava expulsando vocês pra sempre.
-Ela estava. - Ed abre um sorriso de canto. - Mas somos insistentes.
-Como se sentem agora que não são mais alunos dela? - Ani sorria largo.
O que ela se referia era o momento que se sucedeu após o abraço de Izumi. Acalmados de suas emoções, a excentricidade da dona de casa os abala novamente quando ela declara que eles não eram mais professor e alunos e pede que eles fossem embora.
Pensando que haviam desonrado os ensinamentos de sua mestra, Edward e Alphonse vão embora da casa sem argumentações. Foi apenas graças a Sigmund, marido de Izumi, que puderam compreender que apesar da escolha torta de palavras, o que ela quis dizer com aquilo é que agora não havia mais hierarquia entre eles. Eram alquimista e alquimista.
-Ainda é estranho. - Al ri suavemente. - Acho que vamos ver ela como professora pra sempre. Mas foi bom poder falar sobre o que aconteceu com alguém que entende o que fizemos.
-Eu imagino. Izumi-san é realmente uma pessoa muito gentil. - Seu olhar fica distante. - É uma pena que ela tenha tido uma perda assim.
Ed suspira.
-Infelizmente... Essas coisas acontecem.
-Que bom que vocês foram capazes de confortar um ao outro.
-Sim.
-Já sabe como vamos tentar ajudar o Al a recuperar suas memórias?
O quinto momento importante daquele dia, quando finalmente puderam questionar Izumi diretamente sobre como poderiam ter uma pista para recuperar seus corpos e desta conversa, uma chance de obter alguma resposta através das memórias perdidas de Alphonse.
Quando um alquimista confronta a Verdade, na grande maioria das vezes não recebe o que estava atrás, mas é recompensado com conhecimento. Puro e bruto conhecimento que invade seu cérebro a ponto de enlouquecer. Aquele conhecimento fazia de Edward e Izumi capazes de não precisar do círculo de transmutação.
Sendo a recompensa equivalente ao que foi dado como pagamento, por lógica, Al recebeu mais conhecimento do que Edward e talvez se o recuperasse de alguma forma, saberiam o que fazer.
-Ainda não sei. Elas podem voltar eventualmente, ou podemos induzi-las de algum jeito. Me diga você como fazer isso já que tem experiência nisso.
-Há. Engraçado. - Faz cara feia. - Bem... acho que vamos precisar ser um pouco pacientes. Mas vamos encontrar um jeito!
Edward permanece em silêncio, se mantendo deitado com os braços atrás da cabeça enquanto encarava o teto imerso em seus próprios pensamentos. Ultimamente, parecia que estava tendo muitas conversas sentimentais com as pessoas à sua volta, o que era um pouco cansativo já que não estava acostumado a se mostrar vulnerável daquela forma. Mas também... Era reconfortante poder libertar-se um pouco daquelas angústias.
-Precisa de um abraço?
Edward tem sua reflexão interrompida, voltando o olhar para Ani.
-O que? -Arqueia a sobrancelha.
-Você está aí longe e com essa cara de quem precisa de abraço!
-Esse tipo de cara existe?
-Claro que existe! - Sorri largo. - Se olhe no espelho.
-Não, obrigado.
Ani gargalha.
-Você quem sabe! Precisa de um abraço, Al? - Abre os braços.
-Pfff! Hm... Talvez mais tarde, Ani. Estou bem. - Al a encara. - Agora estou bem.
-Que bom, Al. - Após direcionar um sorriso carinhoso para o maior, Ani se levanta da beira da cama e se espreguiça. - Foi um dia bem comprido. Deveríamos dormir.
-Eu já estava pronto pra dormir, mas você não para de falar.
-Ok, seu ranzinza. Já entendi! - Revira os olhos. - Boa noite, Ed.
-Boa noite.
Fechando seus olhos novamente, Edward vira seu corpo para o lado oposto, ficando em silêncio a partir dali. Já Ani, se ocupa em puxar a colcha da cama para que pudesse se deitar.
-... Estava pensando, essa era sua cama quando morava aqui, Al?
-Oh. - A encara. - Sim, era.
-Hm... Meio cedo pra eu tá dormindo na sua cama, acha não?
Se Al respirasse, com certeza teria engasgado depois daquela, assim como aconteceu com Ed que ainda infelizmente não havia pego no sono.
-A-ANI!
Ela apenas ri alto, não parecendo se abalar com o tom de voz envergonhado dele.
-NÃO FOI VOCÊ QUE SAIU CORRENDO SÓ PORQUE FIQUEI SABENDO DE VOCÊS?
Ani simplesmente continua rindo, sentindo-se um pouco constrangida da própria brincadeira e cobrindo parte do rosto com a colcha.
-Sério, vou deixar vocês pra trás se tiver que ouvir mais dessas.
-Q-Quié? Eu tava brincando! - Ainda sem conseguir parar de rir. - Q-Quero esperar o-o c-casamento.
-ANIE!
-Por favor, chega! - Edward suplica.
-CALEM A BOCA VOCÊS!!
Com o grito de Izumi todos fecham suas bocas imediatamente. Ou quase. Ani ainda ria, mas agora abafava o riso contra o travesseiro.
-Mereço. - Ed resmunga antes de voltar a tentar dormir de novo.
Quando finalmente consegue acalmar seu riso, Ani levanta sua cabeça, custando em não começar a gargalhar novamente assim que olha para Alphonse e o vê parado com uma das mãos na cabeça como se questionasse todas as escolhas de sua vida. Quando percebe que ela o encarava, levanta novamente o olhar.
-...Tonta.
Ani solta um leve risinho, se levantando da cama.
-D-Desculpa. - Se aproxima dele. - Eu só queria que não parecesse tão esquisito falar sobre... nós.
-Tem jeitos melhores de fazer isso. - Mal humorado.
-Pff! Sei não. Achei bem divertido sua reação. - Leve riso. - Boa noite, Al.
Al suspira.
-Boa noite, Ani.
Os dois se encaram por alguns segundos. Sabiam o que queriam, mas nenhum deles se moveu. Apenas trocaram um olhar afetuoso antes dela retornar a cama e finalmente se aninhar.
-x-
No dia seguinte, logo após o café da manhã e após professora e alunos terem finalmente conseguido colocar todos os pingos que faltavam nos "is" de suas questões, finalmente Edward pôde se preocupar com seu outro objetivo: Obter uma segunda opinião com Izumi a respeito do treinamento de Ani.
-Quando a conheci ela não conseguia fazer uma única transmutação simples. Depois de algumas observações, conseguimos corrigir isso mas... Ainda tem muitas inconsistências que não consigo entender a razão.
Izumi, Edward e Ani estavam novamente reunidos na mesa de jantar, enquanto Alphonse havia sido gentilmente intimado a limpar a frente da loja.
-Muito bem, me mostre.
Edward e Izumi voltam o olhar pra Ani e após um leve aceno de cabeça de Ed, Ani se aproxima da mesa de jantar.
-C-Certo.
Seguindo o comando que Izumi impõe, Ani respira fundo e bate suas mãos, iniciando uma transmutação simples, quase infantil: Uma pequena casinha de madeira proveniente da madeira da mesa.
-Não me parece ter algo de errado com a transmutação.
-Se é algo simples e se me concentro para fazer, tenho sucesso na maioria das vezes. Mas se for algo mais complexo ou sem pensar direito...
E sem se concentrar como antes, Ani inicia outra transmutação, desta vez tentando criar algo com mais detalhes e como esperado, a transmutação falha, explodindo em suas mãos.
-A-Ai...
-Hm... - Parecendo intrigada com o que via.
-No entanto, ela também já fez transmutações complexas e em situações improvisadas sem cometer erros. - Ed explica. - Assim como já errou em transmutações simples em que se concentrava. As vezes falha na decomposição, as vezes falha na reconstrução. Simplesmente não há um padrão que eu tenha conseguido observar. E além disso...
Edward direciona um olhar para Ani, que imediatamente compreende o que ele queria e assente com a cabeça. Mordendo a ponta de sua luva, retira uma seguida da outra e realiza uma nova transmutação. Ao ver aquela atitude, Izumi franze o cenho.
-Você também viu aquilo?
-Não. Bem, ao menos... Eu acho que não.
-Ani não tem muitas memórias estruturadas, então é difícil dizer o que ela pode ou não ter feito já que ela não se lembra de muita coisa.
-Isso quer dizer que não sabe nada sobre si? Seus pais, onde nasceu...
-Bem... - Ani franze o cenho. Era uma pergunta difícil - Até onde sei eu nasci em Creta. Meu pai me deixou quando eu tinha por volta dos cinco anos, então não me lembro muita coisa sobre ele e minha mãe...
Ani novamente tenta trazer de volta as memórias de sua mãe a cabeça e novamente aquela fisgada forte a atinge.
-N-Não me lembro muito dela.
Com uma expressão aflita, Ani volta seu olhar para o chão. Por que desde que Ina havia aparecido não conseguia mais se lembrar direito de sua mãe? Todas as vezes que tentava puxar as memórias que antes se recordava com tanto carinho... Aquela dor vinha como uma barreira.
Com o mesmo olhar, inconscientemente toca o cachecol em seu pescoço, voltando a encarar Izumi sem muito ânimo.
-Eu fui criada por um casal de idosos numa cidade rural próxima à fronteira. Não tenho nenhuma memória que possa explicar porque consigo fazer isso.
-Entendo... - Pensativa. - Acredito que por conta disso, seja possível que ela não tenha feito o mesmo que nós.
-Você diz uma transmutação humana? Como pode ter certeza?
-Teoricamente, o que faz alguém ser capaz de não precisar do círculo é saber da verdade. Ou seja, ter as lembranças daquele lugar. Alphonse por exemplo, embora tenha visto ele não pode realizar esse tipo de transmutação, já ele não se lembra de nada.
-Por isso, não faz sentido que você possa realizar transmutações sem o círculo se não tem lembrança alguma do que viu.
-É realmente um caso incomum. Deve ter alguma outra condição que possa resultar nisso.
-Já cheguei a supor que Ani fosse o resultado de uma transmutação humana. - Ani franze o cenho, incomodada com aquela hipótese sendo levantada novamente. - Só assim ela poderia ter visto a verdade mas sem ter realizado uma transmutação.
-Não é um pensamento incoerente. Isso poderia explicar as explosões.
-Também achou estranho.
-Sim.
-... O que é estranho? - Ani alternava entre os dois rostos.
-Acho que já cheguei a te falar isso algumas vezes. É estranho que suas falhas na alquimia geram explosões. O normal é que elas simplesmente não acontecessem.A explosão sugere que o processo alquímico se completa, embora você não consiga concluir.
-Se você for o resultado de uma transmutação, poderia ser porque seu corpo não foi criado pelos meios convencionais
-Meu corpo..?
-A alquimia como qualquer outra reação química não é algo que simplesmente se inicia do nada.
Ed arregala seus olhos.
-Como não pensei nisso...
-Eh? Explicação, por favor!
-Bem... - Edward pensa um pouco. - Pense em uma fogueira. Para se criar uma fogueira nós precisamos de combustível e oxigênio, certo? - Ani assente. - Mas mesmo se colocarmos todos os gravetos juntos e com todo oxigênio do mundo, o fogo não vai surgir se simplesmente os deixarmos ali. Precisamos de uma faísca, de um meio de ignição.
-Hm. - Ainda parecendo meio confusa.
-A alquimia acompanha este processo. - Izumi continua. - Para a transmutação nós precisamos do conhecimento e do material necessário, mas a centelha que a inicia é a energia vital do próprio alquimista.
-Energia vital?
-Podemos dizer que é algo como a energia da nossa "alma". Por isso mesmo sem um corpo, Alphonse ainda pode transmutar.
-Então... Se meu corpo não for normal, talvez o problema esteja aí?
-É possível.
-Mas isso também não quer dizer que não importa o que eu faça, minhas transmutações sempre vão ser imprevisíveis desse jeito?
-Ei, se acalme. - Ed cruza os braços. - Como é algo até então sem precedentes, tudo o que temos agora são hipóteses. Se esta for mesmo a razão, tudo o que sabemos de concreto é que temos um monte de novos caminhos para colocar em teste. Além disso, pelo que vi até agora, tenho motivos para acreditar que mesmo assim, você ainda tenha algum controle nas transmutações.
Ani franze o cenho.
-Mas... Ina disse que meu corpo é humano.
-Eu sei. Mas isso não nos responde muita coisa.
-Quem é Ina? - Questiona.
Ed e Ani se entreolham por um momento.
-É uma longa e complicada história. Mas não é nada importante por agora, eu acho. Acredito que já temos uma nova direção para investir. Obrigado, Sensei.
-Entendo. - Izumi se levanta da poltrona. - Bem, espero ter podido ajudar a clarear suas mentes. Agora, farei o almoço. Se ocupem com alguma tarefa também.
-Muito obrigada, Izumi-san. - Ani se levanta e se curva respeitosamente.
Com um leve aceno de cabeça, Izumi deixa o cômodo em direção a cozinha, percebendo que os dois precisavam de um tempo com seus pensamentos. Assim que Izumi sai, Ani se senta novamente.
-Ed, a tatuagem.
-Eu sei.
-Acha que Ina mentiu?
-... Acho que ela nos deu uma meia verdade. - Ani o encara. - Quando você perguntou sobre seu corpo, ela disse que era complicado de explicar, lembra?
-...Sim. - Suspira pesadamente. - Ed, eu estava pensando... Ina disse que meu corpo é humano mas ela também disse que eu nunca estive morta antes.
-Hm. - Num tom de "continue", a encarando.
-E se... - Ani desvia o olhar. - ... E se eu não existo?
-Tipo uma alucinação, você diz? - Arqueia a sobrancelha.
-Não! - Revira os olhos. - Minhas memórias, as coisas que Ina disse, a tatuagem, os homunculus... E se eu fui criada?
-Hm... O que pensa disso?
-Você não parece surpreso.
-Já havia pensado nisso antes. E... Acho que é um bom palpite. Explicaria tudo.
Ani franze o cenho, visivelmente perturbada com aquela possibilidade. Como poderia simplesmente se manter tranquila ao pensar que talvez fosse uma... criação. Mas sabia que fazia muito sentido. Tanto sentido que lhe agoniava. No entanto, ao voltar seu olhar para Ed ele a encarava com uma expressão séria, porém intrigada. Por alguns segundos o encarou em silêncio, naquele diálogo não verbal que de alguma forma, funcionava para eles.
-..... Tem um porém.
-Sim. - Ed assente. - Tem uma coisa que não bate. Partindo pelo pressuposto que tudo o que Ina nos disse é verdade tem um detalhe que refuta toda essa teoria. - Ani apenas continua o encarando, esperando que ele concluísse. - Ela disse que seu corpo foi criado de forma natural.
-Oh... - Ani arregala levemente seus olhos. - Sim. Se ela não está mentindo, então isso muda tudo. - Edward assente. - Aaah... Não estou morta, não fui criada em laboratório, tenho um corpo humano. Mas tenho essa tatuagem e eu posso transmutar como você e a Izumi-san. - Leva uma das mãos à cabeça. - O que eu sou afinal?
-Não pense tanto nisso agora. - Ed também levanta. - Pense que a conversa com a Sensei é algo bom. - Sorri. - Temos mais pistas.
Ani também sorri.
-...Tem razão.
-Bem, é melhor procurar algo pra fazer antes que a Sensei grite de novo.
-Pfff! Ok! Vou ver se Al precisa de ajuda!
-Vou com você. Quero atualizá-lo dessa conversa.
Ani apenas acena com a cabeça como resposta, enquanto volta a ficar imersa em pensamentos. Uma meia-verdade...é? Porque Ina tinha que ser tão misteriosa afinal? Se fosse mais direta em responder suas perguntas não estaria com agora com tantos questionamentos! Ela dizia que queria esperar que Ani compreendesse a verdade antes de lhe contar tudo. Mas... o que Ina esperava que descobrisse?
-Ed.
-Hm?
-Quantas mais teorias sobre mim você pensou e não me disse?
-Ainda está pensando nisso?
-Claro que estou.
-Essa é a única que ainda não tinha dito.
-Por que?
-Porque não queria que você ficasse ansiosa com algo que ainda é só uma hipótese.
-...Hm. - Abre um leve sorriso.
-O que?
Ani acena negativamente.
-Você se preocupa comigo. Me deixou feliz, só isso. - O encara. - Mas prefiro que me conte daqui pra frente. Se é sobre mim, eu quero saber de tudo. Não saber de nada me perturba mais do que todas as possíveis respostas. Eu quero a verdade completa, não importa qual seja.
-Hm. - Assente. - Tudo bem.
-Mas... Obrigada. - Sorri mais largo. - Se continuar assim vou acabar te chamando de Nii-san também, hm?
Ed revira os olhos.
-Bem, você falou até de casamento ontem. Dado as circunstâncias, acho que tudo bem. **
Ao ouvir aquela leve provocação acompanhado do sorriso divertido de Ed, Ani não consegue evitar ficar um tanto vermelha a se lembrar daquilo.
-Q-Quem sabe. - Solta um leve riso enquanto abria a porta que dava acesso ao lado de fora. - Al, você precisa de ajuda? - Olha em volta. - .... Al?
Edward também começa a olhar em volta.
- Pensei que ele tivesse dito que limparia a calçada.
-A vassoura ainda está aqui. - Ani pega a vassoura do chão. - Jogada..? Estranho... Normalmente ele não deixa as coisas assim pelo chão.
-Hm... Vamos dar uma olhada por aí. Talvez encontremos ele.
-Ah! Sim!
Ani passa a seguir Edward, atenta ao redor enquanto estranhava o sumiço repentino de Alphonse.
-Al não costuma sair assim sem avisar.
-Eu sei, mas não é como se ele fosse uma criança.
-Eu posso te levar até ele.
No instante em que são atraídos por aquela voz estranha, os dois alquimistas num sobressalto rapidamente voltam seus olhares para um dos becos, onde uma figura encapuzada os observava com um sorriso maldoso. De forma instintiva, ambos se colocam em guarda.
-Mas só se nos dizer o segredo de seu irmão.
Com aquela frase, Ani e Ed tiveram uma confirmação: Alphonse não havia simplesmente saído para passear, algo havia acontecido com ele e aquela pessoa sabia o que era.
Entretanto, contrariando as expectativas daquele homem que pensava que os teria na palma de sua mão quando expôs ter conhecimento do paradeiro de Alphonse, foi negativamente surpreendido quando no lugar de uma expressão assustada, foi encarado por duas faces tenebrosamente intimidadoras.
-ONDE. ESTÁ. O. AL?!
**Em algumas culturas é comum se referir ao cunhado como irmão.
Autor(a): tord_the_writer
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Um estrondo atinge a porta e o impacto causado a faz ser arrombada violentamente enquanto aquela estranha criatura era arremessada através dela e se esborrachava no chão. Aquela entrada brusca imediatamente atrai o olhar das demais pessoas presentes dentro do cômodo para os dois alquimistas que o adentraram. -Nii-san! Ani! -Al! – Ani sorri ao v&ec ...
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