Fanfic: A Imperetriz do Mar | Tema: As Tartarugas Ninja
Lisa mantinha seu olhar no de Karai, compartilhando com ela uma silenciosa conversa ocular que expressava a enorme quantidade de palavras presas na garganta de ambas. Porém, levou tempo para que alguém ali se pronunciasse, o silêncio sendo finalmente quebrado apenas quando Mikey – que aparentemente teve sua presença esquecida por alguns segundos – não se aguentou de curiosidade ao ouvir aquilo.
-"Ume"?
Recordando-se que o outro estava ali, Lisa tem um suave sobressalto ao ouvir a voz dele atrás de si e volta o olhar para ele e o encarando pelo cantinho dos olhos. Após alguns segundos, solta um leve riso enquanto abria um pequeno sorriso, seguido de um suspiro.
-Hajimemashite, Mikey. (Prazer em conhece-lo, Mikey.)
Recebendo aquela confirmação à sua pergunta, Mikey arregala levemente seus olhos e acaba também sorrindo em resposta ao sorriso dela. Enquanto isso, Karai se aproxima mais um passo, fazendo com que as duas tartarugas voltassem sua atenção a ela. O olhar da mais velha ainda parecia perdido.
Nada mais em Lisa era familiar às memórias de Karai e provavelmente se não estivesse ouvindo sua voz e reconhecido a cor de seu olhar naquela tartaruga, seria muito mais difícil acreditar que aquela mutante realmente era sua irmã mais nova. Mas aquela forma com que era encarada por ela tornava impossível que Karai não a reconhecesse, mais baixinha que si, porém com brilho que não revelava intimidação por aquele simples detalhe.
-O que você... Por que você..?
O sorriso de Lisa se apaga, tornando-se uma expressão séria.
-O que estou fazendo aqui ou por que estou assim? – Suspira novamente. – Isso não é o que mais importa no momento, Nee-san.
-Como não?! Você deveria estar no Japão! Já fazem meses que não a vejo e de repente te encontro aqui! A-Assim! E o que está fazendo com um dos ninjas do Splinter?! Você não sabe que eles são-
-Ninjas subordinados a Hamato Yoshi? Eu descobri isso assim que cheguei aqui.
-Você usa umas palavras difíceis, hein? – Mikey comenta, completamente perdido no contexto.
Lisa apenas sorri ao ouvir o comentário de Mikey, não respondendo ao comentário dele e apenas se mantendo atenta a sua irmã, que a encarava atônita.
-Mas se você sabe então porquê? Isso é algum tipo de plano do clã?
-Nee-san, acho que se fosse algum plano do clã eles não estariam atrás de mim.
-Fui eu quem pedi que a procurassem. – Lisa a encara surpresa. – Achou mesmo que eu ficaria quieta depois de descobrir que você se tornou... Isso?
-É uma escolha indelicada de palavras, Nee-san. – Franze o cenho.
-Por que está falando assim, Ume?
-...Desculpe. Não consigo evitar de sentir raiva quando olho para você, Nee-san. – Lisa a encara por um longo momento de forma entristecida. – Você fica mais bonita com os kimonos do que com esse uniforme....
-Ume...
Lisa suspira.
-Nós precisamos conversar. Tenho algo para lhe contar.
-Algo mais importante do que me explicar como as coisas acabaram assim?
-Muito mais.
Vendo a expressão séria de sua irmã, Karai suspira profundamente, usando todo seu treinamento ninja para suprimir suas emoções e engolir todas suas perguntas e questionamentos. Feito isso, também assume uma feição mais séria e acena levemente com sua cabeça.
-Certo. Me diga.
Vendo que a mais velha estava disposta a ouvi-la, Lisa se vira para Mikey e num pedido silencioso estende sua mão para ele, pedindo que lhe entregasse o T-phone que continha a foto que haviam tirado do porta-retrato no quarto de Splinter. Sem hesitar, o ninja laranja atendeu à seu pedido e entregou o aparelho para ela.
-x-
Juntos, com uma caixa de pizza entre eles, Mikey e Lisa agora se encontravam sentados no parapeito de um dos prédios da cidade, ambos em silêncio enquanto comiam.
-Você está bem..?
-Não.
Mikey hesita por um momento.
-Eu... Pensei que ela acreditaria em você.
Ao ouvir aquela frase, Lisa sente seu peito sendo apertado pela mesma decepção que se instalava sua expressão. Nem o sabor do queijo derretido ou da calabresa tostada pareciam melhorar seu desanimo naquele momento. Não esperava que fosse uma conversa fácil, ou que Karai não hesitasse em acreditar na versão que lhe contava após tantos anos nutrindo ódio pelo suposto assassino de sua mãe, mas... Mas também esperava que ela lhe desse alguma credibilidade.
Quando Lisa mostrou a foto para Karai, a primeira reação expressada por ela foi a confusão, sem conseguir compreender porque Lisa lhe mostrava aquela foto. A segunda reação, após Lisa começar a lhe explicar o que aquilo significava, foi a surpresa, seguida pela fúria.
-Mas que história absurda é essa?! É completamente contrária ao que nosso pai sempre contou, Ume!
-Eu sei disso, por isso queria que você soubesse!
-Soubesse do que? Da história mentirosa que o Splinter te contou?
-Não, Nee-san! Eu não acho que o mestre Splinter tenha mentido! Eu não acho que ele faria isso! E além disso, olhe essa foto! É Hamato Yoshi que está junto de Tang Shen e um bebê, não nosso pai! Então ou ele mentiu para nós a respeito da Tang Shen nunca ter correspondido o amor do Splinter ou ele contou uma mentira ainda maior e essa filha é na verdade você!
-Ume, é impossível! Se isso fosse mesmo verdade, então... Então quem matou a minha mãe? – Lisa a encara seriamente, em silencio, respondendo à pergunta que ela lhe fazia. – I-Isso... isso é maluquice.
-Eu sei que é difícil acreditar nisso, Nee-san. Mas-
-Você está sendo completamente influenciada pelo Spliter, Ume!
-Karai, você precisa concordar que ao menos deveríamos questionar qual é a verdade!
-Que verdade? Isso é uma PINTURA! Pode muito bem ser um retrato falso!
-E por que o mestre manteria uma pintura falsa em casa, Nee-san?!
-Não enxerga? Nós somos sua família! Você deveria estar do nosso lado! E não com eles!
Ao ouvir aquela frase, toda a calma que Lisa ainda tentava manter em si se esvai e dá lugar a mesma raiva e confusão que se instalava no olhar de sua irmã.
-"NOSSA FAMILIA?" POIS OLHE O QUE "NOSSA FAMILIA" FEZ COMIGO!
No mesmo instante, a raiva de Karai da novamente lugar a confusão, a encarando com os olhos arregalados.
-O... O que quer dizer?
-O que acha? Acha que eu fiquei assim por acidente? Por acaso? Que eu escolhi? Ou então que eles me transformaram? – Aponta para Mikey. – Não, Nee-san... Quem fez isso comigo foi a nossa família. Porque eu não era uma ninja boa o suficiente. Porque eu não tinha raiva o suficiente! Porque ele não conseguiu me fazer odiar o mestre Splinter o suficiente! Porque eu... porque eu não era o que eles queriam. – Lisa tentava conter suas lágrimas. – Então me diz! Em quem eu deveria confiar?! No nosso clã que fez tudo isso? Ou no mestre Splinter que tem me acolhido mesmo eu sendo alguém do clã que dizimou o dele?!
Ouvindo aquelas palavras, Karai permanece atônita, sem saber o que deveria responder após receber todas aquelas informações. O mesmo sentimento de desolação e desamparo que Lisa havia experimentado há meses atrás quando despertou naquele corpo de réptil, agora Karai também experimentava. Era horrível a sensação de não saber em quem deveria acreditar, juntamente com a percepção de que talvez tudo o que soubesse era na verdade mentira.
Depois de jogar para fora tudo o que estava contendo em sua garganta, Lisa respirava fundo, tentando retomar seu controle. Quando conseguiu, voltou a encarar sua irmã.
-Eu não posso confiar mais no nosso clã. E... E uma parte de mim, também não sabe se pode mesmo confiar no mestre Splinter depois de ouvir tantas coisas ruins sobre ele. Mas... Eu sei que posso confiar em você, Nee-san. E você sabe que também pode confiar em mim! Eu não mentiria para você!
A expressão de Karai se suaviza um pouco ao ouvir aquilo, embora ainda permanecesse séria. As duas irmãs se encaram por longos segundos, numa conversa ocular silenciosa que apenas ambas podiam compreender.
-... Ume, se vai estar com eles, então nós estaremos lutando em lados opostos.
-Eu sei disso.
-... Volte comigo. Eu juro que nós vamos achar um jeito de consertar o que fizeram com você e eu mesma vou punir quem fez isso!
Lisa continua encarando Karai profundamente, mantendo o silêncio. Alguns poucos segundos se passam e responder nada verbalmente, Lisa recua dois passos, se aproximando de onde Mikey estava.
-Já decidi a quem vou ser leal, Nee-san. – Karai baixa seu olhar. – Mas eu jamais irei lutar contra você.
-...Sabe como me encontrar se mudar de ideia, Ume.
-Sim... Eu sei. Pense no que eu te contei, por favor. Se nosso pai estiver mentindo... Não quero que você seja enganada por mais tempo. – Suspira. - ... Vamos embora, Mikey.
Mikey que estava em silêncio a tanto tempo que até tinha esquecido da própria existência, encara a amiga quando ela se aproxima de si e apenas acena com a cabeça, concordando com o que ela diz.
-Ume. – Parando seus passos, Lisa olha para trás. – Estou feliz por te ver.
-... – Abre um leve sorriso tristonho. – Eu também, Nee-san.
-x-
Lisa mantinha um olhar perdido nas luzes em movimento dos faróis dos carros nas ruas, enquanto Mikey mantinha sua atenção nela, um tanto perdido sobre o que deveria dizer depois de toda aquela cena.
-Talvez... Talvez fosse coisa demais para que a Nee-san processasse de uma só vez. Quem sabe ela só precise de tempo.
Lisa mastigava a fatia de pizza em suas mãos de forma desanimada, a voz de seu silêncio contrastando completamente com a confusão no interior de sua cabeça.
-Vamos, não fique assim! – Mikey dá um leve soquinho em seu ombro. – Meus irmãos também nunca acreditam em nada do que eu digo!
Ao ouvir aquela fala, Lisa parece acordar de seus devaneios e volta seu olhar para Mikey, abrindo um leve sorriso.
-Estão sempre te colocando para baixo, não é Mikey?
-Hã?
-Sempre ouço os outros fazendo piadinhas e zombando de você. – Morde a pizza, voltando a falar meio enrolado por conta da comida em sua boca. – Força, inteligência, maturidade, aparência... Sem falar naquela idiotice de "Time B".
-Aaah! – Abre um sorriso sem graça. – É. Eu acho que talvez seja porque eu sou o mais novo.
-Eu sou a mais nova agora. Mas você continua sendo o tratado assim. Ver isso me incomoda muito. – Morde sua pizza novamente.
-... Às vezes isso me deixa irritado também. Mas... – Mikey baixa seu olhar. – Às vezes acho que eles não me respeitam por culpa minha.
-Eu concordo. – Mikey abre um sorriso sem ânimo. – Eles não o respeitam porque você acredita neles. – Ao ouvi-la completar a frase, Mikey a encara num ar surpreso, enquanto Lisa continua olhando para os prédios a sua frente. – Você acredita no que eles dizem sobre você e por isso, eles acham que estão certos.
-Como assi- UWAAH!
Sem aviso prévio, em um movimento rápido Lisa lança o próprio braço contra Mikey, lhe deferindo um golpe que apenas não o acerta, pois, o ninja laranja é mais veloz e se protege com os dois braços cruzados em frente ao seu rosto. Infelizmente, sua pizza não tem a mesma sorte e a fatia escapa de sua mão, despencando prédio abaixo.
-Aaaaah pizzazinha... – Choraminga. – P-Por que fez isso?!
-Se fosse qualquer um dos outros três, seu olho estaria roxo agora. Seus reflexos são os melhores, Mikey. – Com um sorriso, Lisa entrega uma nova fatia de pizza para ele. – Fico irritada vendo que até mesmo você se coloca abaixo dos outros. Mas... Eu acho que consigo compreender. Quando se ouve algo ruim sobre você tantas vezes... é fácil acreditar que é verdade. No entanto, fico feliz que mesmo com isso... Você não deixou de ser quem você é, Mikey. – Seu sorriso aumenta. – Você tem sorte. Eu gosto do seu jeito honesto de ser.
Não era sempre que Mikey era elogiado daquela forma por alguém, mas o tom de voz que ela utilizava ao falar, não ativavam seu lado metido e sim, sua curiosidade.
-... Você ainda gosta bastante dele, não é?
-Hm?
-Do seu pai. Você... Não parece ter tanta raiva quanto deveria depois de tudo que ele fez. Só parece triste.
-... Eu não sei se foi ele quem fez isso.
-Que? Mas você disse que-
-Eu disse que pessoas do meu clã fizeram isso. – Desvia o olhar. – Ainda não sei se ele está envolvido.
-Mas quando descobrimos sobre você o mestre disse sobre isso ser um capricho dele!
-Eu sei o que ele disse. Mas ainda acho que isso seja um capricho deles. Do clã.
-Lisa...
-Mikey, E-Eu sei o que pensam sobre ele, mas... Ele é meu pai! E-Eu sei que ele não é uma pessoa justa e que cometeu vários erros, mas isso? – Indica a si mesma com as mãos. – Fazer isso com a própria filha? A-Acho... que isso seria longe demais, até para ele.
-Lisa, não foi um "erro"! Ele matou a esposa do mestre splinter! Ele está mentindo pra Karai pra fazer ela pensar que o culpado de tudo é o mestre e fazer ela odiar o próprio pai que nem sabe que ela tá viva! Do que ele NÃO seria capaz?
-E-Eu sei disso, mas... Eu sempre fiz tudo o que ele me pediu pra fazer! Não podia brincar... Não podia usar coisas bonitas... Apenas treinar, treinar e treinar! Tudo isso só... Só para... – Lisa fecha seus olhos. – Para tentar fazer ele ficar feliz comigo.
Após aquelas declarações, o silêncio volta a se instalar entre eles enquanto Mikey voltava a se incomodar com aquela expressão no rosto dela.
-... Acha que mudou muito por culpa dele?
-... Todo meu treinamento foi pensado para no fim matar alguém que nem conhecia. Quando eu penso sobre isso... Que a poucos meses atrás o objetivo da minha vida era machucar o mestre Splinter... – Lisa suspira. – Eu acho que meu pai não queria filhas e sim armas. E... Ele poderia ter me transformado nisso.
-Eu não acho que ele conseguiria. Talvez tenha conseguido com a Karai mas não com você.
-... Nee-san não é tão ruim assim. Digo... Ela era bem legal comigo quando tínhamos algum tempo livre. – Lisa abre um discreto sorriso. – Às vezes, nós brincávamos juntas quando éramos mais novas. Ela gostava de arrumar meu cabelo e eu amava os penteados. A Karai não é como você acha que é, mesmo que ela dê motivos para que vocês pensem assim.
-... Como você era? – Lisa o encara com uma expressão interrogativa. – Sabe? Antes.
-Oh. Hm... Bem, eu costumava a ter cinco dedos. – Ri de levinho.
-Ah! Isso eu sei! – Ri junto.
-Bem... Meu cabelo era ruivo, não de um jeito tão vivo como o da April, um ruivo mais puxado para o cobre, algo entre o castanho e o ruivo, sabe?
-Seeeei. – Tom de quem obviamente não sabia.
-P-Pfff! U-Um ruivo mais escuro, Mikey! – Rindo.
-Ah, tá! Vocês garotas gostam de complicar as coisas!
Lisa revira os olhos num ar divertido.
-Eu tinha olhos puxados como minha irmã, mas quanto a cor... era esta mesmo.
-Você era bem colorida pra uma japonesa.
-P-Pfff! O que?
-Ah, você sabe! Normalmente japoneses não tem olhos e cabelos pretos?
-Não é bem uma regra. Mas eu entendo o que está querendo dizer. – Risos. – Eu acho que isso provavelmente tenha vindo da minha mãe.
-Oh! E como ela é?
-Bem... – Baixa o olhar. – Eu não a conheci.
-Ah... desculpa.
-Ela não morreu, ou melhor, eu não sei se morreu. – Suspira. – Mas meu pai nunca quis me falar sobre ela. Dizia que ela não importava para nossos planos e que eu não deveria me distrair com essa história.
-... Desculpa, mas seu pai é péssimo!
Com aquela declaração tão sincera e espontânea, Lisa não consegue evitar de rir. Após terminar o ultimo pedaço de pizza que tinha em mãos, dobra suas pernas, as abraçando contra seu corpo.
-Bem... Quem sabe um dia eu possa conhece-la.
-Mas claro! Nem que seja uma mãe tipo a minha!
Ainda com um leve ar de riso na feição de ambos, continuam olhando para as luzes da cidade por mais alguns minutos, admirando aquele silencio confortável e os rodeava.
-Nós deveríamos voltar antes que notem que saímos. – Lisa comenta.
-Uhum. Vambora.
Ambos se levantam com Lisa segurando a caixa de pizza agora vazia. Mikey observa Lisa encarando algo prédio abaixo. Abrindo um sorriso divertido, ela segura a caixa como seguraria um bumerangue, fechando um dos olhos como se mirasse em algo. Curioso, Mikey estica seu pescoço e espia o que ela olhava, focando seus olhos em uma lata de lixo aberta próximo à rua.
-Aaaaah! Duvido! – Provoca, fazendo Lisa aumentar seu sorriso.
Sem rebater a provocação verbalmente, Lisa apenas se concentra em seu alvo e lança a caixa de pizza. Influenciada pela resistência do ar, a caixa plana enquanto caia prédio abaixo, até cair perfeitamente dentro da lata. Com um sorriso convencido, Lisa o encara, erguendo suas sobrancelhas.
-O que dizia?
Mikey passa de boquiaberto para um enorme sorriso.
-QUE DEMAIS!!
-Ssssh! Mikey!! Tartarugas mutantes escondem-se nas sombras, lembra? – Gargalha da indiscrição dele e ele a acompanha nas risadas.
-Você é muito boa para uma garota!
-"Para uma garota"? – Arqueia a sobrancelha.
-O que? Foi um elogio!
Lisa revira os olhos risonha.
-Claro, Mikey. Vamos para casa!
Lisa faz menção de começar a se mover para retornar ao esconderijo.
-Ah! Pera!
Lisa interrompe seus passos.
-Hm?
-É que... Quando a Karai estava aqui ela disse aquilo sobre você não conseguir ser uma "ninja de verdade" e você disse aquilo sobre mudar pra ser o que seu pai queria... Bem... – Mikey coça a nuca. – Eu acho que você é ótima desse jeito.
Lisa fica em reação por alguns segundos após ouvir aquela afirmação e logo em seguida, abre um sorriso agradecido. A melancolia que restava em seu olhar se esvaindo por completo.
-Obrigada, Mikey. Eu também te acho ótimo do jeito que é. Vamos para casa!
-Vamo nessa!
-x-
Já próximos de casa, Lisa e Mikey silenciam suas vozes e passos, aplicando toda a habilidade furtiva que possuíam para voltarem sem serem vistos. No entanto, assim que colocam seus pés dentro do esconderijo, sentem um arrepio correr por suas espinhas ao sentir aquela presença bem atrás de suas costas.
-Posso saber onde foram? – Virando suas cabeças de forma temerosa, ambos encaram Splinter logo atrás. – Pensei ter sido claro quando pedi que não saíssem sem minha autorização.
Brancos como papel, os dois viram o restante de seus corpos na direção de Splinter, com os olhos arregalados e estáticos na feição séria dele.
-S-Sensei. – Lisa automaticamente se ajoelha e Mikey por reflexo a imita. – N-Nós... nós precisamos sair. E-Era importante. Sentimos muito.
-E por qual razão era tão necessário que saíssem, Mona Lisa?
Mikey e Lisa se encaram. Não era como se pudessem simplesmente dizer "Então, sua filha tá viva mas ela acha que é filha do destruidor e quer tipo assim, te sentar a porrada porque acha que você matou a mãe dela, vulgo sua falecida esposa." Mas que raios de desculpa dariam que justificaria terem ido contra as ordens do sensei? Claro que ele tinha direito de saber a verdade, mas talvez aquela não fosse a melhor forma ou situação. Eles próprios não sabiam como processar os últimos minutos! Como iriam explica-los?
-B-Bem... N-Nós...
Precisavam de uma desculpa, e depressa! Enquanto Lisa gastava bons segundos tentando formular alguma desculpa coerente que desviasse Splinter da real razão de terem saído, Mikey tem a ideia mais absurda e improvável que poderia se passar por sua cabeça, mas que infelizmente, havia sido sua única ideia.
Subitamente, Mikey agarra a mão de Lisa, encara Splinter com sua face mais séria e convincente possível, ou seja, nada convincente e solta sua perola.
-V-V-VOCÊ NÃO PODE IMPEDIR NOSSO AMOR!
Lisa buga.
O mestre buga.
A gata de sorvete buga.
O próprio Mikey buga.
E um silêncio constrangedor se instala no recinto, enquanto Lisa volta sua cabeça lentamente para Mikey, ainda custando a acreditar que havia ouvido certo.
-...Como?
-N-Nós, huh, só... q-queriamos ficar juntos? – Mikey a encara em pânico.
-............É. – Concorda sem a menor ideia de como sair daquela situação. – Dar as mãos e essas coisas.
Mikey encara Lisa com os olhos arregalados numa expressão de "QUE RAIOS DE RESPOSTA É ESSA?!" enquanto Lisa o encara de novo com o mesmo desespero como quem dizia "EU NÃO SEI!"
Vendo aquela discussão não verbal, Splinter suspira pesadamente, massageando a área entre suas sobrancelhas num ar impaciente.
-Vão os dois para seus quartos. Conversaremos pela manhã.
-S-Sim, Sensei!
Respondem ao mesmo tempo, se levantando em sincronia e saindo dali o mais rápido possível, fugindo em direção aos quartos.
Ao estarem novamente sozinhos, em meio as respirações ofegantes após terem se livrado da bronca por um tris, se encaram outra vez.
-Como assim "dar as mãos"?!
-O que?! Foi você que inventou aquela história! Queria que eu falasse o que? Beijar?
-Não! – Arregala os olhos. – Espera! Agora vamos ter que fingir ser um casal?
Lisa suspira balança a cabeça negativamente.
-Eu não acho que o mestre comprou aquela história. Apenas o deixou sem reação por um momento, o que de certa forma foi bom. – Mikey a encara confuso. – Splinter vai perguntar porque saímos de novo. Isso nos vai dar tempo para pensar numa desculpa.
-Por que não contamos a verdade pra ele?
-Não dá pra simplesmente chegar e dizer. É um assunto delicado e querendo ou não, não temos certeza.
-Como não?
-Bem, meu pai teve outra filha além da Karai. – Coloca a mão sobre o próprio peito – Quem garante que a Karai também não é filha de uma outra mulher e não da Tang Shen?
-Mas de quem mais a Karai seria filha? – Mais confuso.
-Bem, é a história que ele sempre nos contou, mas... Já vimos que ele é um grande mentiroso. – Lisa explica, enquanto as engrenagens na cabeça de Mikey pareciam girar. – Eu realmente acho que a Karai é a Miwa mas... Se estivermos errados, seria cruel demais dar falsas esperanças para o mestre.
-... – Mikey franze o cenho, parecendo ter chegado em alguma conclusão.
-O que foi?
-E se for você?
Lisa arregala seus olhos.
-... – Abre um leve sorriso. – Eu... Adoraria ser filha do mestre Splinter, mas eu sei que não sou eu. – Balança a cabeça negativamente. – Além de eu não me parecer nada com a menina na foto, as contas não batem. Miwa é alguém mais velho do que eu. Eu não sou ela.
Lisa baixa sua cabeça, mantendo um sorriso triste em seu rosto.
-Pois você me parece a cara dos filhos dele pra mim. – Dá um leve soquinho em seu ombro.
Lisa instantaneamente sorri com a fala dele, o encarando num ar carinhoso. Por mais que tivesse angustia em seu coração, Lisa estava feliz por não ter feito aquilo sozinha.
-Gosto da sua forma simples de ver as coisas, Mikey. – Mikey aumenta seu sorriso. – Obrigada por ir comigo.
-Nah, relaxa! Eu sempre me meto em encrenca sozinho! Dessa vez pelo menos eu tenho um motivo!
Sorrindo largo pela plenitude dele em dizer aquilo, Lisa se aproxima de Michelangelo, deixando um leve beijo estalado em sua bochecha, que só faz o mais velho sorrir mais, num ar divertido.
-Obrigada pela pizza!
-Pizza é obrigatório para animar alguém! E pra comemorações, pra jogar vídeo-game, pra assistir filme... – Contando nos dedos. – Ah! E pra quando não estiver fazendo nada também!
Lisa ri.
-Boa noite, Mikey. Amanhã pensamos sobre o que dizer ao mestre. Obrigada de novo por manter segredo.
-É uma promessa de dedão. – Mikey mostra seu polegar, fazendo Lisa aumentar seu sorriso.
-Promessa de dedão.
Autor(a): tord_the_writer
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