— Dul? — Eu chamei antes mesmo de eu subir de volta para o meu carro.
Ela virou-se, erguendo as sobrancelhas enquanto enfiava as mãos no bolso
do moletom.
— Você vai comigo, baby — Eu disse a ela. — Entre!
Sem mesmo esperar para ver o olhar em seu rosto, eu deslizei em meu banco
e me inclinei para abrir a porta do lado do passageiro.
Depois da minha vitória, renunciei à fogueira ao ar livre tradicional após a
corrida e arrastei Dul de lá, nunca antes tive com tanta pressa para voltar para
casa.
Muitas pessoas não seriam ignorantes sobre o que nós estávamos indo fazer,
também. Imediatamente depois de cruzar a linha de chegada, eu tinha tomado
todos os dois malditos segundos para tentar agarrar Dul e meus cintos de
segurança e arrastá-la para o meu colo para um beijo.
A corrida tinha levantado a minha pressão arterial. Sentindo a energia de
excitação quando ela se sentou ao meu lado tinha meus músculos e nervos
bombeando de adrenalina.
Correr sempre tinha sido agradável, mas com o meu pai me sangrando por
todos os pedaços de dinheiro que eu tinha, a emoção disso há muito havia
desaparecido. Agora eu corria como uma forma de ganhar dinheiro e Dul tinha
mudado isso esta noite.
Enquanto eu corria, tive um tempo difícil para manter os olhos na pista.
Seus deliciosos pequenos suspiros quando nós virávamos as curvas estavam viciando.
Meu sangue finalmente correu quente para isto novamente e eu nunca
queria voltar para o The Loop, sem Dul.
— Christopher — Ela saltou no banco do passageiro enquanto fazíamos o nosso
caminho de volta para minha casa. — Aonde você vai aos fins de semana? Os fins de semana.
Apertei os olhos. Uma confusão de pensamentos girava na minha cabeça,
mas eu não podia agarrar apenas uma. Meu estômago ficou oco e com cada
respiração eu queria fugir do carro.
Meu pai na prisão. Eu não podia dizer a ela sobre isso.
Jax em um lar adotivo e sua mãe uma menina que mal havia entrado na
adolescência que o nosso pai tinha abusado. Minha mãe, também, no que diz
respeito ao assunto. O que ela pensaria?
Os espancamentos. O porão. Minha traição, deixando Jax para trás.
A bile subiu na minha garganta e eu mal podia engoli-la muito menos dizer�lhe toda a história nojenta.
— Só fora da cidade — Eu mantive minha resposta curta e simples.
— Mas onde?
— O que é que isso importa? — Minha mordida não era um disfarce. Ela
precisava se calar.
O passado era embaraçoso e sujo, e ninguém, exceto Jax sabia o que tinha
quebrado naquele verão. Se eu pudesse apagar de sua memória, eu o faria.
Puxando o volante para a direita, eu acelerei mais fundo fazendo uma curva
em direção a garagem. Dul segurava a alça no teto para se firmar enquanto eu
acelerava na minha garagem.
— Por que Jordan sabe e eu não posso? — Ela pressionou com seu tom mais
urgente e defensivo.
Ela sabia sobre Jordan?
— Porra, Dul — Eu gritei entre dentes e pulei para fora do carro, brevemente registrando que o carro da minha mãe estava na garagem aberta. Eu não quero falar sobre isso. E isso era a verdade. Não hoje, nem nunca. Eu nem sabia por onde começar. Se ela realmente quisesse seguir em frente comigo, então ela teria que deixar isso ir. — Você nunca quer falar sobre qualquer coisa! — Ela me seguiu e gritou por cima do capô. — O que você acha que vai acontecer?
Acontecer? Ela pode me ver por quem eu realmente era. Isso era o que poderia acontecer.
— O que eu faço com meu tempo livre é problema meu. Confie em mim ou não.
— Confiança — Ela estreitou os olhos e olhou para mim com desdém. —
Você perdeu a minha há muito tempo. Mas se você tentar confiar em mim, então talvez possamos ser amigos de novo.
Amigos? Nós nunca seríamos apenas amigos novamente.
Derrube-a ou a afaste, eu disse a mim mesmo.
— Eu acho que nós já ultrapassamos essa coisa de amigos, Dul — Eu zombei
com um sorriso amargo. — Mas se você quiser fazer esse jogo, então tudo bem. Nós podemos ter uma festa do pijama, mas haverá transa envolvida.
Ela inalou uma respiração afiada e endireitou os ombros. Seus olhos me
fitaram com dor e choque e eu tinha feito essa porra de novo. Por que eu continuo fazendo essa merda? Eu poderia simplesmente deixá-la e facilmente me afastar.
Mas não. No momento, eu me alimentava com raiva e discussão.
Mas de qualquer forma, eu ainda vi o mesmo olhar em seus olhos azuis
tristes, cheios de lágrimas e eu queria agarrá-la e beijar seus olhos, seu nariz e os lábios, como se isso fosse apagar todas as coisas horríveis que eu já disse e fiz.
— Dul... — Comecei circulando o carro, mas ela pisou duro até mim e enfiou
algo no meu estômago.
Eu peguei e assenti, olhei impotente, quando ela percorreu nossos quintais
em direção a sua casa.
Não. Olhando para ela na varanda, agora escura e a porta da frente fechada foi
um ou dois minutos antes de eu sentir o papel na minha mão.
Quando olhei para baixo, minha boca ficou seca e meu coração começou a
bater dolorosamente em meu peito.
Era uma foto.
Minha.
Quando eu tinha quatorze anos.
Eu estava machucado e sangrando da visita com o meu pai e Dul tinha
encontrado no fundo de uma caixa debaixo da minha cama.
Ela não tinha vindo para me desejar “Feliz Aniversário” esta noite.
Eu a peguei espionando.
E eu apenas a empurrei para não contar a ela o que ela já sabia. Eu tirei o carro para da garagem e dirigi. Descendo a rua e para a extremidade da cidade, onde as luzes não alcançavam.
Dirigir ajudava a limpar a minha cabeça e agora eu era uma bagunça de novo por causa de Dul. Eu não estava funcionando. Eu estava desintegrando.
Ela não entenderia e iria certamente como a merda me ver de forma
diferente. Por que ela não via que isso não era importante?
Eu poderia ter sido mais gentil sobre isso, eu acho, mas ela continuou se intrometendo na merda que não era o seu negócio.
Eu apertei a merda do volante, disposto a acelerar e não voltar.
Eu não podia voltar. Ela queria saber tudo e a vergonha que eu sentia pelo que tinha feito com meu irmão superava a vergonha que eu sentia pelo que eu tinha
feito para ela.
Será que ela não via que algumas coisas eram melhor deixar enterradas?
— Vá. Ajude o seu irmão — O meu pai me disse, muito suavemente.
Minhas mãos estavam tremendo e eu olhava para ele.
O que está acontecendo? Eu me perguntava. Às vezes, acabava na Fairfax’s Garage para fuçar no meu carro. Outras vezes, eu acabava na casa de Alfonso para uma festa. E algumas vezes eu me encontrava na casa de alguma garota.
Mas hoje à noite? O parque? O lago de peixes?
Os pelos do meu braço arrepiaram e eu senti o ácido queimando uma linha
para cima na minha garganta. Eu queria estar aqui tanto quanto eu queria ver meu
pai amanhã.
Mas eu entrei assim mesmo. Através do portão no meio da noite. E para
baixo sobre as rochas até o lago que eu não tinha visto em anos.
O lago havia sido construído pelo homem e a área era acentuada com rochas
de arenito que compunham o apoio ao redor do lago, as falésias em torno dele e os degraus que levavam a ele. Um caminho feito da mesma pedra levava para longe do lago, para a floresta, onde você podia caminhar até um mirante sobre o rio.
Era privado, singular e especial para Dul e eu. Nós vínhamos aqui para piqueniques, o casamento de um vizinho e apenas para se divertir tarde da noite,
quando escapávamos de nossas casas.
A última vez que estive aqui foi a última vez que chorei.
— Dul? Vem cá, meu bem — o Sr. Brandt a chamou e meu coração bateu
como uma britadeira em meu peito. Eu mal podia esperar para vê-la. Para segurá-la.
E dizer a ela o que eu deveria ter dito antes. Que eu a amava.
Meu estômago pulava e roncava com a fome e olhei para as minhas mãos,
cheias de sujeira nas dobras. Eu gostaria de ter limpado antes de eu ir procurá-la,
mas sei que Dul não iria se importar.
Descendo os degraus de pedra, eu a vejo estatelar para baixo sobre o
cobertor, recostando-se em suas mãos com os tornozelos cruzados.
Ela é tão linda. E ela está sorrindo.
Jax surge pela minha mente e eu sinto meus músculos tensos com urgência.
Eu tenho que dizer a alguém.