Fanfic: Lust For Life | Tema: Saint Seiya (Cavaleiros dos Zodíaco)
Era mais ou menos umas 19h quando eu estacionei de frente ao anfiteatro da Avenida 6, onde a amostra de filmes independentes ocorreria naquela mesma noite.
Estava ali para dar total apoio ao meu melhor amigo e também ao meu namorado, que fariam parte daquela exposição como personagens principais de duas obras que estariam em cartaz naquele lugar.
Como era de se esperar para filmes do gênero, o local não estava lotado, limitando-se somente a uma fila mediana de umas 20 pessoas que faziam parte do cenário mais underground de Los Angeles. E eu bem sabia disso, já que as tais pessoas não faziam questão de esconder sua alma hipster e seus gostos ‘indies’, tão bem exemplados em suas vestes pouco engomadas, de tons escuros e neutros, usadas de forma solta e arejadas, descompromissadas, de modo que mais lembravam a moda de rua de Paris ou Amsterdã do que propriamente o despojado estilo Americano da costa oeste.
As conversas ao longo da fila também remetiam à uma intelectualidade refinada e alternativa, onde bandas desconhecidas, diretores conceituais, fotógrafos pouco renomados do subúrbio e outros artistas do cenário ‘C’ de Hollywood tinham seus trabalhos debatidos com afinco, e embora tais assuntos fossem um mistério para quase 90% dos habitantes daquela cidade, todos ali pareciam mestres no que falavam.
Infelizmente, nem meu namorado e nem meu melhor amigo haviam me conseguido um ‘convite formal’ para a apresentação. Inclusive, não haviam convites formais para ninguém, uma vez que o baixo orçamento dos filmes e a visibilidade quase zero do evento não conseguiam gerar renda para que aquela amostra se desse a tais luxos.
Logo, lá estava eu, apenas mais um naquela fila esperando que minha vez chegasse para que eu pudesse comprar o ingresso. Atrás de mim, e para a minha surpresa, algumas outras pessoas começavam a chegar, e isso me deixava perplexo, uma vez que, embora eu soubesse que o evento não atrairia um grande público, primeiro pelo estilo do evento em si, segundo pela divulgação praticamente nula, eu até que estava conseguindo identificar uma quantidade ligeiramente razoável de frequentadores, o que no final das contas, seria bom para meu amigo e meu amado.
Finalmente chegou a minha vez, e meu ingresso foi pago com caríssimos US$ 10 dólares, um valor exorbitante para aquele tipo de evento, mas bem ao padrão do mesmo, uma vez que em sessões de filmes comerciais, lançados por grandes estúdios, podia-se pagar até US$ 45 dólares pelo mesmo.
Considerando então as quase 40 pessoas na fila, talvez meu querido amigo, meu amado amante, os diretores, produtores, figurinistas e demais responsáveis por aquela coletânea de filmes de baixo orçamento conseguissem embolsar assustadores US$ 400 dólares. Nossa, seria muito dinheiro. E sim, eu estava sendo sarcástico, era uma das formas que eu usava para deixar a vida na cinza Los Angeles um pouco menos melancólica e decrépita.
Los Angeles era uma cidade de falsos sonhos. Uma cidade de Carniceiros. Aqui, não haviam segundas chances. Ou você se dava bem, ou você se dava mal. No entanto, existiam aqueles muito burros, ou sem amor próprio o suficiente para desistir, mesmo quando fracassavam mais de uma vez na tentativa de ter seu nome em uma das estrelas da calçada da fama.
Para meu azar, meu amor e meu melhor amigo eram duas dessas pessoas, mas claro, eu nunca falaria isso para eles, e dava total apoio aos dois que ainda, de forma tola, sonhavam em alçar voo rumo ao estrelato.
Coitados, eles ainda não tinham uma visão realista o suficiente para entender como a Cruel Los Angeles funcionava. De qualquer forma, eu os amava, cada um à seu modo, e por isso, deixava que eles seguissem seus passos e sonhos, na esperança de que um dia eles conseguissem ver com seus próprios olhos o quanto aquilo era uma perda de tempo.
Às vezes, eu me pegava pensando nisso, e tais indagações soavam como hipócritas para mim. Eu trabalhava como Artista plástico numa galeria no centro da cidade. Um trabalho que dava para pagar as contas no fim do mês, mas que não me permitia qualquer outro conforto ou luxo acima disso. Eu havia chegado à Los Angeles quatro anos atrás, e tinha na minha mente o mesmo desejo que hoje, ainda arde em meus companheiros: O de me tornar um dos grandes nomes da cidade da fama. De ser um artista conceituado, respeitado e conhecido, de ter minhas obras expostas em Madrid, Paris, Londres, Veneza e aonde mais a fama me levasse.
Logo no primeiro ano, esse sonho desapareceu, porque não importava o que eu fizesse, não conseguia me destacar ou provar meu valor, e quando finalmente fui avaliado por grandes críticos numa feira artística há uns 4 meses atrás, o que recebi de feedback foram avaliações medianas, e expressões secas que indicavam a falta de originalidade, capricho e inovação naquilo que eu pensava ser ‘A Obra da minha vida’. Pois bem, a Obra da minha vida não era boa o suficiente para ninguém além de mim mesmo, e quando eu me toquei disso, eu finalmente me dei conta de onde era o meu lugar.
Hoje, eu estava conformado em ser o assistente da gerência na galeria, e não mais um dos grandes artistas que eles lançariam no mercado. Meu gerente havia conversado comigo após a exibição, e me dito que, devido a receptividade baixa ao meu trabalho, lançar uma exposição dedicada a mim e as minhas obras era um investimento de risco para ele, e que poderia ‘comprometer’ a qualidade da galeria, que era conhecida por sempre lançar trabalhos de ‘alto nível’. Certo, ele acabara de dizer que eu era um artista de quinta categoria e que meu trabalho era um lixo, só que, claro... Disse isso gentilmente e com cuidado, para não me deixar ‘tão’ mal.
Depois daquilo, eu me conformei. Nunca fui do tipo que ficava chorando pelos cantos por causa de alguma verdade que me era lançada na cara como uma bofetada digna de novela mexicana, contudo, também não vou mentir, aquilo me magoou muito e me desmotivou a continuar sonhando.
Eu era um homem adulto, não podia me dar mais ao luxo de ter fantasias infantis sobre a vida perfeita, não quando a Cruel Los Angeles fazia questão de me mostrar que a realidade era outra.
E eu queria realmente que Aioria, meu namorado, também começasse a ver as coisas dessa forma. Eu queria que ele não fosse tão cheio de vida, tão animado e esperançoso com as coisas, pois assim, ele saberia o que eu já sei, e poderíamos nos organizar para construir nossa vida em outro lugar, em áreas mais condizentes com nossos verdadeiros talentos.
No entanto, eu estava novamente sendo hipócrita, porque foi justamente essa negação em nunca se deixar abater por um 'não', em nunca desistir e em sempre colocar um sorriso no rosto não importa o quanto as coisas caminhassem mal que me fez cair ao chão por ele.
Sim, o fato dele ser um grego lindo, com um corpo maravilhoso também ajudou, mas a atração física, sexual, passa com o tempo, e se o cara não tiver conteúdo, a coisa muda de figura e logo o ‘fogo de palha’ some. Mas ele tinha conteúdo, ele era profundo como um oceano e tinha uma força vital única, um enorme ‘desejo de vida’ dentro dele.
E isso me conquistara, a ponto de não conseguir mais me imaginar sem o amor e os cuidados dele. E aqui estava eu, fazendo mais mal do que bem ao meu amado, alimentando aquela ilusão que ele tinha em se tornar um ‘galã’ de hollywood.
Contudo, por amor, e mesmo sendo algo errado, eu faria, por ele, e também por Afrodite, meu melhor amigo, que partilhava com Aioria o mesmo sonho tolo.
Diferente de Aioria, Afrodite busca esse sonho com um ímpeto até desonesto, e isso já foi motivo de discussão entre nós em momentos passados, afinal, meu amigo não conhecia pudores para tentar chegar à vida que sempre quis ter.
Aioria, a seu modo, ainda tentava alcançar seu sonho com o máximo de humildade que conseguia, o que as vezes era difícil, dado em conta o ego enorme que ele tinha. Ah, Leoninos!
Mas Afrodite não, ele não tinha limites, pudores ou mesmo escrúpulos para tentar conseguir a fama que achava ser direito dele. Não me entendam mal, eu amava meu amigo, ele me apoiou muito e me deu suporte quando decidi sair de casa e vir para Los Angeles, no entanto, quando se amava e conhecia tanto assim uma pessoa, era inevitável não ver os seus defeitos. E Afrodite os tinha acentuados.
Ouvi dizer de alguns conhecidos em comum que ele tinha ido para a cama com alguns produtos e diretores de filmes ‘B’ para conseguir algum papel. E até havia dado certo, pois ele conseguiu aparecer como um personagem coadjuvante em algumas cenas de filmes dramáticos que mal foram exibidos em 500 salas ao redor de todo o país, mas fora isso, os exemplos da brilhante carreira de ‘Dite’ – como o chamávamos. – não se estendiam muito além disso.
E lá estava ele, novamente, tentando pela derradeira vez se destacar no cenário hollywood, que de forma cruel, já o havia mastigado e cuspido tantas vezes.
Dite me ligou duas horas antes da apresentação, primeiramente, para ter certeza de que eu iria, e segundo, para se gabar ao citar o Festival de Cannes ou mesmo o Sundance Festival como possíveis grandes festivais de filmes independentes onde ele finalmente brilharia.
Claro, eu sorri de forma tímida e contente do outro lado da linha, e deixei transparecer isso para ele. Queria dar segurança e apoio. Contudo, eu já sabia que isso não aconteceria, e o pouco público presente era a prova de que aquele evento nada mais era que outra tentativa do cenário ‘underground’ da costa oeste de se destacar diante dos gigantes das mídias.
Era patético, sim, mas era o que eles gostavam. O que poderia eu fazer?!
Logo, vi Afrodite se aproximar conversando com Aioria, e então os dois me viram. Afrodite correu em minha direção, e eufórico, me abraçou, me deu dois beijos no rosto, e pulando como um menino de 10 anos, conseguiu me contar em menos de dois minutos, pelo menos 10 ‘spoilers’ de seu filme.
Aioria andou mais devagar, estava um tanto cansado, mas ao me alcançar, me abraçou e tomou meus lábios num beijo romântico e demorado. Nossa, o gosto daquele homem me deixava entorpecido, e estar envolto nos braços dele, sentindo o calor de seu corpo, deixava-me fraco e ofegante.
Fomos interrompidos pelos gritos clamantes de atenção vindos de Dite, que dizia que ‘se queríamos foder, o carro dele estava no estacionamento e ele nos daria a chave’.
Rimos e ficamos um tanto desconcertados. Mas já era esperado isso de Afrodite.
- Shaka, querido, serei franco com você, minha atuação é digna de Oscar. – gabava-se enquanto íamos de encontro aos acentos.
Por um segundo, me senti um pouco mal. A maioria das pessoas ali, eram parte do elenco dos filmes que seriam apresentados, ou seja, não havia, realmente, de fato, pessoas interessadas naqueles filmes que não as próprias que os fizeram, e isso era muito triste.
- Minha nossa, olha isso, vai lotar. Vamos, temos que arrumar nossos lugares. – comentou Afrodite, entrando numa fileira bem no meio da sessão.
Era sério aquilo? Será que ele não percebia? Que ele não se tocava? Talvez em sua inocência e narcisismo, ele não tivesse visto os demais filmes além do seu próprio, e por isso, não reconhecesse as pessoas que ali estavam. Mas enquanto eu os esperava no saguão, eu vi os cartazes expostos, e podia afirmar que as pessoas ali presentes, eram as pessoas dos pôsteres.
Sentamos então. Afrodite à minha direita, eu no meio e Aioria a minha esquerda.
E embora conversássemos sobre várias coisas, em especial sobre os filmes da exposição, eu tentava fazer um esforço extra para não comentar nada que evidenciasse a terrível verdade que tanto Dite, quanto meu Amado ‘Oria’ não mereciam saber. Ah, meu Buda, eu era um homem ‘Santo’ demais às vezes.
Então os filmes começaram. Primeiramente foram algumas cinebiografias de apenas 15 minutos sobre personalidades que, verdade seja dita, ninguém conhecia realmente.
Depois, uma apresentação de dramas de 30 minutos baseados em romances europeus. Alguns, até filmados em preto e branco para dar um ar mais ‘cult’. Infelizmente, não funcionou. Faltava verdade nas atuações, nas frases prontas ditas sem emoção e no choro falso e de péssima qualidade. Os Atores eram realmente muito ruins, e Afrodite, numa tentativa de parecer um artista muito melhor que aquilo, volta e meia comentava exatamente o que eu estava pensando.
- Shaka, como essa menina é falsa. Que atuação horrível, como essa garota realmente espera ser uma atriz algum dia? Nossa, que pobre! Como é que ela conseguiu um papel num filme desses?! Aposto que deve ter dormido com o diretor! Só pode! – comentava com desdém, sem realmente se tocar da hipocrisia de suas palavras, embora, para mim, fosse normal tal reação, uma vez que ele não sabia que eu sabia sobre ele.
Logo mais então, veio o filme de Afrodite, que ficou eufórico e ansioso para que Aioria e eu víssemos. ‘Lolita’ era o nome. Algo que me deu uma profunda vontade de rir, mas que tive que fazer esforço para não o fazer. Era um título bem apropriado, e pela primeira vez, eu realmente tive a certeza que Afrodite atuaria bem. O papel lhe caia como uma luva, tanto por sua personalidade sexualmente explícita, quanto pela aparência andrógena de meu amigo.
Afrodite era constantemente confundido com uma mulher, devido as suas curvas ambiguamente femininas.
O Filme, como o nome sugere, era uma interpretação independente do romance ‘Lolita’, só que com muito mais Sexo do que eu esperava ver. Tanto, que fiquei até constrangido, e mesmo Aioria, safado como era, não parecia apreciar aquela barbaridade sexual diante de seus olhos.
Ao final do filme, eu já tinha meu veredito, e acredito que todos ali também. Como era de praxe, todos aplaudiram durante a exibição dos créditos, mas não eram aplausos com entusiasmo, e sim de pura educação. O único que realmente estava eufórico e aplaudido de pé, era o próprio Afrodite, numa cena bem constrangedora, diga-se de passagem.
Em seguida, pude ver o filme que Aioria fizera. Chamava-se ‘Lust For Life’ e contava a história de um garoto praticante de esportes que sofreu um acidente e perdeu a capacidade de andar, ficando em depressão, mas que foi ajudado por um colega a recuperar o ânimo e o desejo de viver.
Enquanto o filme se desenrolava, Aioria sussurrava ao meu ouvido algumas explicações extras e também a sua visão sobre o personagem e o filme em si.
- Isso é um bom exemplo para você, Shaka. Sempre tão indiferente com a vida, sempre vendo o lado negativo, quando até disso dá pra tirar algo positivo e curtir a vida ao máximo. A Vida é pra ser vivida, e não lamentada por causa de uma ou outra desavença com o destino, não é mesmo?! – dizia Aioria, falando pausadamente e de forma eloquente ao pé do meu ouvido, o que me deixava interessado, reflexivo e excitado ao mesmo tempo.
Ao final, Afrodite comentou que o filme ficou muito bom, mas não era um elogio real. Fora dito somente para agradar a mim e a Aioria, porque sabíamos que nenhum filme ali importava para ele, que não o dele próprio. Tudo bem, eu não me senti ofendido, e nem mesmo Aioria, afinal, também fomos falsos nas declarações dadas sobre o filme dele, então, enquanto tudo isso ficasse omisso, estava tudo bem.
Vimos mais alguns curtas e logo a exposição acabou. No saguão principal, todos conversavam e debatiam os filmes. Haviam alguns fotógrafos e apenas dois garçons distribuindo cerveja. Sim, o orçamento do evento não permitia Champanhe. Aioria começou a beijar meu pescoço, afastando meus longos cabelos louros e deliciando-se da pele branca e macia daquela minha erógena região. Eu estava me arrepiando todo, e cedendo conforme ele insistia, embora, soubesse claramente que não era o local para isso.
Tentei então fazer o que fazia melhor, e me mantive indiferente, até ele mesmo tomar a iniciativa de ir se despedir de alguns colegas que trabalharam com ele no filme e então voltar-se para mim.
Procuramos Dite, nos despedimos, e ele agradeceu, embora não tenha nos dado tanta atenção assim. Estava ocupado demais numa rodinha de pseudo-intelectuais falando sobre seu longa, e assim fomos.
Já passava das 23h quando finalmente partimos do Estacionamento pelas ruas de Los Angeles.
- Sabe, acho que eu me sobressaí dessa vez. Gostei do meu papel, mas não vai dar em nada. – comentou Aioria, com um sorriso no rosto e um ar de despreocupado.
Olhei para ele do banco do passageiro, vendo seu cabelo louro escuro esvoaçar diante da brisa gélida da noite, enquanto seus olhos verdes se mantinham firmes na estrada.
- Porque pensa isso? – indaguei.
Ele sorriu meio desdenhoso.
- Shaka, você sabe bem... Não há dinheiro ali para fazer o filme vingar ou mesmo ser visto por quem realmente vá fazê-lo vingar. Estou começando a pensar seriamente que isso não é pra mim... Essa vida de ator. Acho que meu irmão estava certo, e eu teria me dado melhor se continuasse como Carpinteiro lá no Texas. – declarou, deixando-me surpreso.
- Nossa, que revelação. – disse.
- Na verdade, eu já sabia disso há muito tempo, apenas estava teimando comigo mesmo. Acho que Hollywood não é pra mim. – continuou.
- Confesso que estou muito feliz em ouvir isso, finalmente você abriu os olhos. Eu também não estou mais feliz estando aqui. – declarei. – A Galeria me faz mais mal do que bem. Não quero estar naquele ambiente. – confessei, vendo ele desviar por apenas um segundo da estrada para mim.
- Eu sei que você sempre esperou por isso, mas eu queria poder te dar mais, sabe?! Bem mais do que essa vida de ‘merda’ que a gente tem. – ele disse, um tanto desgostoso.
Eu sorri. Ele foi 'fofo' falando aquilo.
- Eu também era muito ambicioso e sonhava com uma vida de glamour e fama. Mas acho que isso não é pra mim. E acho que o ‘destino’ e suas desavenças, querem que eu aprenda a ser menos soberbo, e talvez uma vida simples no Texas, ao lado do homem que amo seja o ideal. – disse, vendo ele me olhar com os olhos brilhando, enquanto parávamos num sinal.
Um sorriso bobo, de menino que acaba de ganhar o melhor presente do pai se formou nos lábios de Aioria, e ele me puxou pela nuca, enlaçando os dedos em meus fios loiros, me puxando para si e me dando um beijo apaixonado, onde sua língua invadiu minha boca com ânsia, furor e desejo de posse.
Só paramos quando ouvimos a buzina insistente do carro atrás de nós, e quando vimos, o sinal já estava aberto. Rimos e assim, Aioria arrancou com o carro.
- Estou com muita vontade de comer você agora, Shaka. – confessou meu Leão, me fazendo morder levemente os lábios.
- Então se apresse para chegarmos em casa. – disse sorrindo.
Aioria também sorriu, mas de lado, um sorriso maldoso e pensativo, de quem estava tramando algo.
- Tenho uma ideia melhor... – disse, me fazendo arquear uma sobrancelha e deixando-me curioso e assustado ao ver que ele tomava o caminho da esquerda na última rua em que viramos. Esse não era o caminho de casa.
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- Isso só pode ser brincadeira. – disse em voz baixa, ao comtemplar a vista da imponente e cinza Los Angeles, viva e iluminada pelas luzes dos grandes centros comerciais e arranha-céus, do alto do grande letreiro de hollywood.
- Não é não, é apenas uma iniciativa comum. – Aioria, ao meu lado, comentava, observando a paisagem à sua frente, tão impressionado e vislumbrado quanto eu, mas em sua visão, o que tinha a sua frente era algo diferente do que eu via. E eu sabia disso.
Eu via uma cidade cruel, cheia de pessoas falsa, cínicas e que fariam qualquer coisa para chegar ao estrelato. Aioria ainda via a cidade dos sonhadores, das grandes estrelas, o templo das Artes que todo o marketing turístico vendia como ‘imagem sacra’ para o resto do mundo.
Los Angeles era as duas coisas. O Paraíso de Cor para os que apenas podiam comtemplara de fora, e o Inferno cinza da desilusão para os que estavam dentro.
A Intepretação, como sempre, variava dependendo da oportunidade que se tivera.
A Noite estava fria, nosso carro estava estacionado no meio de uma velha estrada de terra que passava acima do grande letreiro de Hollywood. Abaixo de nós, um desfiladeiro que descia morro abaixo, uma queda simpática de uns 90 metros e claro, as imponentes letras brancas de Hollywood iluminadas por holofotes estrategicamente colocados.
- É muito bonito, Aioria, mas essa estrada por onde viemos foi fechada há 8 anos. Nem deveríamos estar aqui. Hoje é proibido e contra a lei. – disse, sendo racional e chato, como sempre costumava ser.
Ele sorriu, me olhou de lado e demorou-se ao mirar meus olhos azuis com os verdes que ele tinha.
- Acho que te falta um pouco de ‘desejo pela vida’, Shaka. – disse, convicto do que falara.
- Do que está falando? – perguntei, arqueando a sobrancelha.
- Algum idiota chinês disse que ‘O Cauteloso vive mais, mas não vive plenamente. E o imprudente vive menos, mas vive intensamente’, ou alguma coisa assim... Ouvi isso num filme velho do Bruce Lee. – sorriu como um menino maroto. – Mas o que interessa é... Você precisa viver mais... Precisa se jogar mais... Precisa estar mais em sintonia com a vida e aproveitar o que ela te oferece. As oportunidades vêm e vão, e desperdiçamos muitas delas por medo de viver. Viver é uma das poucas coisas que nos é permitido, que é legal e de graça, então porque não fazer isso?! – ele me olhava confiante, com um sorriso lindo nos lábios e um brilho nítido no olhar.
- Aioria, eu... – tentei dizer algo, ao mesmo tempo que tentava controlar os meus longos cabelos loiros, que estavam sendo levados pela brisa noturna daquele penhasco.
- Não Shaka... Não precisa... Você vive comigo e não consegue aproveitar a vida ao máximo. Sinto que falhei então... Mas vou correr atrás do prejuízo, e não vou deixar que você se sinta mais como se sente. Pra você, tudo é muito cinza, e está na hora de colocar um pouco de cor nisso aí... – falou, se aproximando e me puxando pela cintura. – Começando pelo vermelho... do Amor! – concluiu e me beijou.
Eu não sei se foi o frio da ventania, a pegada forte, porém segura, ou mesmo o calor do beijo e do corpo dele colado ao meu em contraste com a baixa temperatura da noite, mas eu me arrepiei como poucas vezes com aquele momento.
Os dentes dele capturaram meus lábios, mordendo, saboreando, me causando furor e excitação. Eu já sentia o membro dele rígido por baixo da bermuda e o meu também estava endurecendo rápido à medida que ele continuava. As mãos pelas minhas costas, entrando por baixo da minha blusa na altura dos quadris, passando com os dedos grossos pela curvatura da minha coluna. A Boca que movia-se de forma cúmplice com a minha. As nossas línguas que dançavam de forma rítmica com aquele momento, acompanhando o sarro contínuo de nossos corpos.
Era mágico, e eu estava me entregando àquilo. Eu queria ele, não como queria anteriormente, não para uma transa rotineira, mas para uma noite que, por alguma razão, eu sentia que me marcaria de uma forma forte.
Ele parou o baixo e alcançou o meu pescoço, o que fez minhas mãos irem direto para seus fortes braços, apertando-os, sentindo a musculatura avantajada e rígida, assim como tudo nele naquele momento.
Seus dentes marcavam minha pele e pintavam de roxo o branco que ali reinava. Ele estava cumprindo o que prometera e deixando-me mais colorido. E para uma percepção mais artística, filosófica e até romântica da coisa, era o amor que ele sentia por mim o pincel usado para colorir a tela.
Eu gemia, baixo para ele ouvir e alto o suficiente para que o vento levasse o som dos amantes para além da gloriosa hollywood.
Tire a roupa, Shaka... - Ele sussurrou em meu ouvido, quando nossos corpos já nem mais sentiam o frio da noite de tão quentes que estavam.
Eu poderia fazer diversas objeções ao pedido de me despir numa gélida noite como aquela, e ainda numa estrada deserta tão próxima a um ponto turístico de renome internacional, mas não me fiz de regrado. Eu precisava ter esse 'tesão pela vida' que ele tanto falava, e para ele, parte disso vinha dessa vontade de se superar, dessa vontade de ir além, de transpassar as fronteiras do permitido e de quebrar as regras.
Então eu fiz, primeiro a parte de cima, e depois a calça, e logo a cueca, e pronto. Eu estava nu e excitado diante dele, que me olhava como o mais aclamado crítico de Arte do mundo olharia para a mais estarrecedora obra de arte que ele já contemplara.
Aioria fazia eu me sentir especial, único e amado. E quando um homem desperta em nós tal sentimento, é inegável que 'é ele' quem devemos tomar como 'nosso amor'.
E o melhor de tudo, ele não tinha pudores ou limitações, o que tornava esses momentos de intimidade e prazer ainda mais compensadores.
Meu Leão então abaixou-se, me encarando de forma marota enquanto me via corar levemente, e de imediato, abocanhou meu membro, me fazendo arfar de tesão. Levei as mãos até sua cabeça, afundando meus dedos em seu sedoso cabelo, controlando o movimento enquanto sentia-me ser sugado com avidez por sua boca.
Os dedos dele, tratavam de explorar minhas nádegas, de abri-las e assim, tocar meu 'botão' já tão deflorado por sua gana sexual em outrora.
E assim se deu... Era bom demais sentir Aioria comigo, me querendo, me desejando e me tomando como ele bem gostava.
E era assim que eu estava, entregue, submisso e dado ao meu homem, que eu sabia e tinha a certeza, me amava com todo o seu ser.
Esparramado por cima do capô, agora eu estava sentindo Aioria friccionar seu mastro teso entre as minhas nádegas, enquanto que de forma provocante, pincelava sua glande na entrada de meu ânus, melando-o com sua lubrificação natural.
Ele apertava minhas ancas e me dava palmadas na bunda, arrancando um gemido, um afago, algum som próprio e característico do Sexo a cada vez que fazia. E seu sorriso sádico não negava, ele gostava do controle.
Aioria deitou-se sobre minhas costas, afastando meu cabelo e beijando meu ombro.
Peça! - ele me pediu, me fazendo morder os lábios!
Faça! Por favor... - minha voz saiu um pouco mais falha e baixa do que eu gostaria, mas aquele membro dividindo minha bunda ao meio e se alojando perfeitamente ali me deixava totalmente entregue.
Ele sorriu, me puxou para trás, fazendo-me arquear os quadris, e posicionando-se, me penetrou.
Eu gemi, senti-lo era sempre difícil e reconfortante demais. Difícil porque ele fora agraciado pela natureza com um membro de respeito, e reconfortante porque eu me sentia sempre na primeira vez. Que sensação boa, que agridoce bom!
Então ele começou, moveu-se me estocando de forma lenta e ritmada, enquanto eu concentrava-me em gemer e dar-lhe os sons do prazer como resposta as suas investidas.
Seu membro preenchia completamente o meu canal, fazendo-me sentir sua grossura, rigidez e tremedeira com precisão cirúrgica. Era uma conexão que apenas os mais entrosados casais tinham, e por Buda, que bom que tínhamos.
Ele movia-se cada vez mais rápido, e me deixava quente de tesão. O Vento então vinha, refrigerando meu corpo e me deixava com calafrios. Era incrível essa sensação, e ao meu lado, as luzes de Los Angeles e o grande letreiro brilhava, testemunhando nossa ligação.
Aioria metia cada vez mais rápido, grunhindo de forma animalesca e me fazendo gemer aos berros com as pancadas fortes de sua pelve contra minha bunda.
Shaka, é disso que eu ‘tava falando, é disso que nós precisamos... ahhh – dizia entre gemidos, e eu nem ao menos me dava ao luxo de responder. Estava concentrado demais em senti-lo em toda a sua glória para me preocupar com qualquer outra coisa.
O som de suas estocadas, do vento correndo, do capô do carro estalando com o movimento que fazíamos em cima dele, dos nossos gemidos, de cada berro gutural que emergia de nossas gargantas. Era a sintonia do Sexo que compartilhávamos, do momento que vivíamos.
E ali, entrando dessa forma, eu acabei por gozar e melar de branco o capô do carro, enquanto que Aioria despejava seus jatos de esperma em minhas entranhas, marcando-me como seu mais uma vez.
Ele então caiu por sobre mim, afundando seu rosto na abertura do meu ombro e me beijando a bochecha. Havia um sorriso satisfeito em seu rosto, e eu compactuava do mesmo.
E foi ali que eu entendi. Sim, a vida era cinza como eu sempre pensei, mas haviam alguns pontos coloridos, e o amor era um deles. O Amor coloria minha vida, e Aioria era esse amor. Tendo ele, o que era a fama comparado?!
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Se passaram duas semanas então. Eu e ele estávamos com tudo encaixotado e ele já havia ligado para seu irmão, que gentilmente e de forma muito receptiva havia arrumado um lugarzinho para a gente ficar na cidade interiorana em que vivia no Texas.
Estávamos dispostos a deixar a opulente Los Angeles para trás e irmos para um lugar mais calmo, menor, menos movimentado e mais propício a uma vida menos agitada.
Dite, como era de se esperar, não havia conseguido nada com sua nova tentativa de estrelado, e as coisas só haviam ficado pior quando comuniquei minha ida para o Texas.
Ele, obviamente, revoltou-se, e usou de argumentos fúteis para justificar a vida numa cidade grande e desenvolvida em comparação a uma cidade interiorana. E de fato, ele não estava totalmente errado. Mas Los Angeles era uma devoradora de almas, e ficar ali era o mesmo que pedir para se condenar.
Ela já havia me tirado muito, e não me tiraria mais nada. Foi difícil, mas eu me fui, deixando um triste, porém conformado amigo de longa data para trás. Eu até havia tentado 'salvar' Afrodite, mas ele queria ser consumido por completo pela cidade dos sonhos destruídos, então que assim fosse.
Para mim e Aioria já havia dado, e assim partimos, deixando as praias da Costa Oeste para trás, rumo ao Sul, aos grandes campos e as fazendas Texanas.
Lembro-me de ver a placa 'Você está deixando Los Angeles' quando finalmente saímos do limite distrital da cidade. Eu então olhei para trás e a vi. Cinza como sempre fora... Era um adeus, um doloroso e estranho Adeus, mas ao olhar para Aioria, a meu lado, animado com sua nova vida, eu não podia deixar de pensar que esse seria o melhor dos ‘adeuses’, pois enfim, eu havia encontrado meu 'Tesão pela vida'.
FIM
Autor(a): archer_beafowl
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