Thorn: Então quer dizer que você está trabalhando para Penelope Pitstop e há um Poltergeist na mansão dela?
A pergunta de Thorn foi objetiva, mas Velma não queria respondê-la. Velma Dinkley trabalhar para a garota mais popular da escola era algo humilhante, mas não tão humilhante quanto Velma Dinkley admitindo a existência de fenômenos sobrenaturais.
Velma: Não, de jeito nenhum! Eu… eu estou fazendo um favor… para a Penelope… porque a Daphne me implorou… e… quando eu cheguei… eu ouvi… ruídos… um pouco atípicos… e… movimentações incompatíveis com as leis da ciência, então eu achei que… talvez… você…
Thorn: Então você deseja contratar meus serviços mediúnicos?
Outra pergunta objetiva que exigia uma resposta humilhante. Velma Dinkley contratando serviços mediúnicos da garota paranormal da escola. Era mesmo o fundo o poço.
Velma: Não! Não aconteceu nada… absolutamente nada… eu… eu… só queria te convidar para dar uma olhada no lugar… porque eu sei que você gosta de mistérios e coisas estranhas… e como houve um crime aqui eu achei que você gostaria de investigar e…
Thorn: Velma, quem gosta de investigar mistérios são os seus amigos estranhos… eu sou bruxa e médium, então, se não tem nada sobrenatural acontecendo, eu não sou a pessoa certa para…
A dobradiça fez um barulho agudo e lento desta vez, evidenciando que a porta que havia sido fechada com violência quando Velma deixou o quarto foi aberta mais uma vez. Imediatamente, o medo tomou conta de Velma, acelerou seus batimentos cardíacos e a fez admitir algo inadmissível. Velma Dinkley estava com medo. Humilhante demais.
Velma: Thorn! Por favor… eu… eu… eu… eu estou com medo! Meus amigos não estão aqui… e… algumas coisas estão acontecendo, e eu não consigo explicar… eu… eu preciso que você venha para cá imediatamente…
Thorn: Vou pegar meu tabuleiro ouija e chamar um Uber. Estarei aí em alguns minutos. Mas devo dizer que as sessões mediúnicas são pagas…
Velma: Eu te pago a quantia que você quiser, só venha logo, sim?
A ligação foi encerrada e o silêncio do local só contribuiu para que o barulho da porta se movendo sozinha ecoasse e ficasse mais evidente. Velma, sem hesitar, se escondeu embaixo da grande mesa de mogno, cobriu a cabeça com a gola de seu suéter, fechou os olhos com força e tampou os ouvidos com as mãos. Algo que Shaggy certamente faria nessa situação, mas Velma Dinkley? Nunca! “Que vergonha, Velma”, seu lado racional lhe repreendeu. Realmente, era humilhante demais. Se Thorn contasse para alguém, sua reputação intelectual iria por água abaixo. Mas também era assustador demais. E seu ceticismo poderia lhe colocar em perigo. De repente, seu telefone tocou e interrompeu o duelo entre razão e emoção que acontecia em sua mente. O nome de seu pai apareceu na tela e Velma atendeu imediatamente.
Madelyn: Velma? O que você quer?
Velma: Madelyn! O que você está fazendo com o celular do papai? Chame ele imediatamente!
Madelyn: Dã, papai está lecionando na universidade, idiota!
Velma então se lembrou que seu pai estava trabalhando e se preparou para desligar, pois não queria que a irmã desconfiasse de nada. Mas o medo lhe induziu a deixar a chamada continuar.
Madelyn: O que você quer? Você parece assustada… o que você e seus amigos estranhos aprontaram dessa vez?
Velma: Eu não estou com a turma… eu estou sozinha…
O ruído da dobradiça surgiu mais uma vez, e de repente a porta se fechou com violência. Velma deu um pulo de susto e gemeu de medo.
Madelyn: Onde você está? Qual é o mistério idiota em que você se meteu agora?
Velma: Madelyn, eu estou na mansão Pitstop trabalhando como governanta, os detalhes e perguntas eu explico depois. Certamente há alguém aqui, ou há alguma coisa muito estranha acontecendo, e eu estou com muito medo de ser assassinada! A mamãe e o papai não sabem de nada, Fred e Daphne estão em um encontro e Shaggy está com os pais dele, será que dá para você vir aqui me ajudar? AGORA!
Velma cuspiu todo seu pânico em meia dúzia de frases desconexas que foram ditas rapidamente. Madelyn recebeu toda aquela informação de uma vez e ficou em silêncio, tentando processar todos os absurdos que acabou de ouvir.
Madelyn: Então você quer que eu vá até aí para ser assassinada junto com você? Afinal, uma garota de 12 anos não faria diferença nenhuma contra um assassino…
Velma: É que o assassino… ele… ele… não é humano… digamos que ele não é de carne e osso…
Madelyn: Ele é um fantasma?
Velma: Não! Fantasmas não existem!
Madelyn: Então por que você está com medo de algo que não existe?
Velma: MADELYN! Não faça perguntas, venha me ajudar! Eu estou em perigo!
Madelyn: E eu não posso te ajudar! Por que você simplesmente não sai daí?
Velma: Porque se eu sair eu não ganho os três mil dólares!
Madelyn: Você arrumou um emprego de três mil dólares?
Velma: Madelyn, sem perguntas!
Madelyn: Ok, eu estou a caminho… mas vai lhe custar cinquenta dólares…
Velma: O quê? Isso é absurdo!
Madelyn: Absurdo é o papai e a mamãe não saberem que você está recebendo três mil dólares para ser a empregadinha da burguesinha mais nojenta da cidade… já pensou se, sem querer, eu mando uma mensagem para eles falando isso?
Velma: Sua vadiazinha, não se atreva!
Madelyn: Pois é, cinquenta dólares é o valor da minha companhia e do meu silêncio… por hora…
Velma: Um valor muito abusivo!
Madelyn: Velma, minha cara, a verdade custa caro na era das fake news… e eu sei que a sua chefinha Pitstop é muito rica e também muito generosa, eu sei que ela irá te pagar uma pequena fortuna… e então, o que me diz? É pegar ou largar…
O barulho da porta se abrindo novamente não deixou Velma ter dúvidas.
Velma: Acho bom você pegar a sua bicicleta e voar, se você demorar mais do que quinze minutos para chegar você não irá receber!
Madelyn: Combinado, até o fim do dia você irá receber um contrato por e-mail com todas as cláusulas e condições para a contratação dos meus serviços, você deve rubricar todas as folhas e assinar em três vias e…
Velma: MADELYN, VENHA AGORA!
Madelyn: É pra já, maninha…