Fanfics Brasil - Dia 2- Velma Pit…stop! – parte 1   Girl, Pitstopped

Fanfic: Girl, Pitstopped | Tema: Scooby-Doo, Apuros de Penélope, Josie e as Gatinhas, Corrida Maluca, Os Jetsons


Capítulo: Dia 2- Velma Pit…stop! – parte 1  

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            O barulho do despertador acelerou o coração de Velma, mas seus olhos sequer se incomodaram de se abrir. Era primavera, por isso havia bastante claridade na janela mesmo às seis da manhã. De maneira automática, seu corpo se levantou da enorme cama rosa e migrou até o closet, onde ela estacionou novamente em uma poltrona rosa fofa e macia. O despertador tocou novamente, ordenando que o corpo de Velma fizesse algo além de buscar um abrigo confortável para dormir. Sem alternativa, ela suspirou com impaciência e começou a coletar roupas e acessórios nas prateleiras. Quando seus braços se encheram, ela depositou tudo na poltrona e correu para o chuveiro.


O banho foi breve por imposição do terceiro despertador. Ela se vestiu rápido porque as roupas que escolheu eram fáceis de colocar: meia calça e collant cor-de-rosa claro, e por cima deles, uma saia branca e uma blusa de cetim pink de alças finas, finalizando com uma bota cano médio branca de salto alto. O cabelo curto foi puxado firmemente para trás em um rabo de cavalo pequeno, e logo em seguida, torcido em um coque adornado com grampos cheios de cristais cor-de-rosa.  A maquiagem também foi bem rápida, apenas um batom rosa nos lábios, delineador e um pouco de sombra azul bebê nos olhos. Ela não sentiu vontade de colocar pulseiras, colares ou anéis, mas achou extremamente necessário que suas orelhas usassem os lindos brincos de diamante rosa em forma de coração que estavam guardados no porta-joias. Enquanto conferia o resultado da maquiagem e decidia se deveria passar New Bond St. Amorpha ou House of Sillage, Velma se assustou com as unhas roídas que viu no espelho. Imediatamente, ela correu para a penteadeira e pegou uma lixa para arrumar aquela catástrofe, mas como as unhas estavam curtas demais, ela preferiu colar unhas postiças pink de tamanho médio. Após uma volta ou duas ao redor do espelho, Velma se contentou com a própria imagem. Do armário principal, ela retirou uma edição rosa e exclusiva de uma Serpenti Forever da Bvlgari, e dentro dela colocou maquiagem, perfume e sua carteira. Também pegou uma pequena mochila Michael Kors rosa que continha uma sapatilha de ponta cor-de-rosa, um figurino de ballet e ponteiras.


Velma desceu as escadas cantarolando uma música incompreensível do Now United. Ao chegar ao grande salão, ela passou por Alexandra, Marcie e Madelyn adormecidas no tapete e foi em direção à cozinha. Seu estômago exigiu alguma comida, mas seu cérebro logo lhe lembrou dos benefícios de um jejum intermitente, então ela se contentou em pegar uma caixinha de água de coco e acomodá-la na mochila. Velma, então, continuou a caminhar pelos corredores da mansão até chegar a uma porta lateral que tinha uma escada de blocos de mármore que levavam até a garagem. Lá havia cerca de dez carros do ano de diversas cores e diversas marcas de luxo, mas ela sequer hesitou sobre qual deveria escolher. Velma caminhou diretamente até uma Ferrari 275 GTB/4 1968 prata com pequenos detalhes em esmalte rosa metálico e se acomodou no banco do motorista. Intuitivamente, ela achou as chaves escondidas no quebra-sol, ligou o carro e saiu em alta velocidade. Ela tinha apenas dez minutos para chegar ao seu destino.


***


            Velma chegou a tempo e estacionou no estacionamento privativo com cobertura, mesmo sabendo que aquilo lhe custaria uns $20 por hora. Mesmo usando botas de salto alto, ela correu em direção à Crystal Cove Royal Academy, afinal, a sua aula estava prestes a começar e todas já deveriam estar esperando por ela. Suas roupas curtas – e também o fato de ela estar correndo usando botas – chamaram a atenção dos garotos do colégio que estavam malhando na academia ao lado da escola de ballet, entre eles, Fred Jones. Velma parou de correr apenas para fazer uma careta de desprezo e mostrar a língua para todos eles, mas seu gesto, ao invés de afastá-los, apenas atraiu a curiosidade de outros garotos do time. Ao chegar ao grande saguão da Royal Academy, ela se apresentou à secretária e deixou seu cartão de crédito e seus documentos. A garantia de pagamento fez a secretária permitir a entrada dela imediatamente, e Velma seguiu até os vestiários. Chegando lá, ela tirou a blusa de alças e trocou a saia branca por uma saia de organza rosa com cristais brancos brilhantes e fita de cetim rosa por toda a barra. As botas foram substituídas pelas sapatilhas de ponta, e tão logo seus pés se ajeitaram nelas, ela deixou o vestiário e entrou na sala de dança.


            A entrada de Velma não foi triunfal, mas todos os olhos presentes imediatamente se voltaram a ela. Velma, no entanto, pareceu não se incomodar, apenas atravessou a sala indiferente aos rostos interrogativos que lhe encaravam e se acomodou junto à barra de exercícios para se aquecer. Melody Valentine estava ao lado dela fazendo uma série de jetés, mas ao invés de encará-la como as demais garotas, ela apenas abriu um enorme sorriso.


            Melody: Oi Velmaaaa! Que legal te ver por aqui!


            Melody foi doce e simpática como sempre, mas suas palavras atingiram Velma como um grande soco no estômago. De repente, ela caiu em si e se olhou no grande espelho da sala de ballet. Velma se sentiu confusa, como se estivesse acabado de acordar de um sono profundo. As roupas, os brincos, a maquiagem, e até mesmo sua presença enigmática em uma aula de dança lhe causaram tanta estranheza que ela entrou em pânico. Melody continuou sorrindo para ela, esperando alguma resposta, mas tudo o que ela fez foi sorrir desconcertada e sair correndo dali. Infelizmente, antes que ela pudesse escapar, a Sra. Ludsworth a pegou pela mão e a levou de volta para o centro da sala no mesmo momento em que todas as garotas se posicionavam junto à barra.


            Sra. Ludsworth: Meninas, temos uma nova aluna, o nome dela é Velma Dinkley. Quero que dêem as boas-vindas a ela e ensinem a ela a nossa coreografia, pois assim poderemos incluí-la no recital no mês que vem.


            Todas as garotas: Oi Velma!


            Cada garota cumprimentou Velma em um tempo diferente, e cada uma tinha na face uma expressão de espanto única. A expressão mais incrédula era de sua amiga Daphne Blake. Desconcertada, Velma andou até Daphne e ficou ao lado dela na barra. A Sra. Ludsworth então começou a demonstrar a sequência de exercícios da aula, e as duas amigas começaram a cochichar.


            Daphne: Velma, o que você está fazendo aqui? Quero dizer… nada contra… eu só… nunca imaginei que… você dançasse ballet avançado… ou tivesse qualquer interesse dança…


            Velma: Daphne, socorro, eu não faço ideia de como eu vim parar aqui! É como se eu tivesse dormido ontem e cinco minutos depois eu estava aqui ao lado da Melody…


            Daphne: Muito engraçado! Agora me diz logo, quem te trouxe aqui? Eu pensei que tinha deixado claro que você deveria ficar na mansão o tempo todo!


            Velma: Eu não sei como isso aconteceu! Eu não sei como eu cheguei, nem como eu vesti essas roupas, nem…


Daphne: OH! Oh meu Deus, essa é a saia do figurino de Giselle da Penny?


Velma: Eu nem sei quem é essa tal de Giselle!


Daphne: Meu Deus, onde você achou isso? Ela ganhou essa saia quando era a primeira bailarina do Mariinsky! Se você gostar dos seus ossos da face, por favor, tire isso imediatamente!


Velma: Daphne, eu não faço ideia do que é  Mariins…


De repente a senhora Ludsworth interrompeu suas explicações, fez um barulho alto com a garganta e olhou para as duas.


Sra. Ludsworth: Já que as senhoritas acham que a minha explicação é desnecessária, poderiam fazer a gentileza de vir aqui demonstrar para o resto da classe?


O coração de Velma acelerou e Daphne fez uma careta para ela enquanto murmurava “olha o que você fez” entre os dentes. Envergonhada, Daphne caminhou de cabeça baixa até o centro da sala e Velma a seguiu. Apesar de assustada, estranhamente, Velma parecia saber o que fazer. Assim que Daphne começou a executar os movimentos, ela fez todos os passos sem precisar copiar a amiga. A professora Ludsworth ficou contrariada de ver que as duas fizeram todos os passos corretamente, por isso as dispensou. As duas amigas voltaram cabisbaixas para a barra, mas no meio do caminho, a voz de Velma ecoou pela sala.


Velma: Muito simples…


Imediatamente todas as garotas olharam para ela estupefatas, e no olhar delas, era possível perceber que elas não estavam apenas espantadas, mas também amedrontadas.


Sra. Ludsworth: Como é que é, Srta. Dinkley? A senhorita considera esses passos muito fáceis?


Velma: Não, Sra. Ludsworth…


Sra. Ludsworth: Ótimo, por que…


Velma: …eu disse apenas que os considero muito simples.


Um novo silêncio constrangedor repleto de rostos assustados se impôs na sala. Daphne olhou para ela em choque e murmurou entre os dentes “o que você acha que está fazendo?”. Velma olhou de volta para ela em pânico, mas apesar do medo, ela não conseguiu fazer com que aquelas palavras deixassem de sair de sua boca.


Sra. Ludsworth: Ah, muito simples? Nada mal para o seu primeiro dia de aula, não? Se importaria de nos dar uma pequena demonstração?


Daphne sacudiu a cabeça negativamente, gesticulou para a amiga e murmurou “não faça isso” diversas vezes, mas novamente Velma não pode impedir sua boca de responder.


Velma: Claro, como quiser…


A resposta atrevida fez um “oh!” de espanto ecoar pela sala de dança, e as demais garotas começaram a se entreolhar estupefatas.


Sra. Ludsworth: Muito bem… poderíamos, talvez, tentar uma variação? Que tal… hmm… Fada Açucarada? Ou então “A prece”, de Coppélia? Que tal a variação de Kitri no terceiro ato de Don Quixote?


Velma: Por que não a variação de Giselle no primeiro ato?


A resposta atrevida causou ruídos de espanto mais intensos, e dessa vez as garotas riam e comentavam o atrevimento entre si.  Daphne balançou a cabeça de maneira mais rápida e gesticulou para que Velma parasse imediatamente.


Sra. Ludsworth: Como quiser… afinal, a senhorita está trajando até mesmo o figurino, não é mesmo?


A professora, então, gesticulou para que as garotas se sentassem e elas formaram uma roda ao redor de Velma. Judy Jetson e Josie McCoy imediatamente pegaram seus iPhones e começaram a filmar. Velma sentiu suas pernas tremerem, e a ansiedade em seu peito era tão grande que lhe causou náuseas. Mesmo assim, ela caminhou até o centro da sala, se posicionou e… quando a música começou, estranhamente, ela começou a dançar. Mesmo sem saber como ou o que deveria fazer, seus braços e pernas se moveram em perfeita sincronia com a música, e os saltos e piruetas da coreografia foram tão perfeitos que arrancaram gritos de alegria das demais alunas. Velma terminou a coreografia graciosamente de joelhos com os braços abertos e foi ovacionada por todas as garotas. Tanto a perfeição da dança quanto o entusiasmo das meninas irritaram a Sra. Ludsworth profundamente, por isso ela ordenou que todas se calassem e voltassem aos seus lugares. Quando Velma voltou à barra, Daphne estava tão espantada que parecia ter visto um fantasma.


Daphne: Como você fez isso? Por que nunca me falou que dançava tão bem?


Velma: Eu nunca dancei na minha vida! E eu não faço ideia de como eu…


Daphne interrompeu a amiga e sinalizou silêncio. Velma entendeu que Daphne queria evitar que outra intervenção da Professora Ludsworth acontecesse, por isso se calou. E dançou ballet perfeitamente pelas próximas duas horas.


***


            Quando a professora Ludsworth declarou o término da aula, Velma imediatamente retirou as sapatilhas do pé. Estranhamente, ela não sentia incômodo de usá-las, apenas se sentia muito ridícula.


            Judy: Oi? Seu nome é Velma, né?


            Velma se virou para encontrar a fonte da voz que falou com ela e logo percebeu que era Judy Jetson. Velma fez uma cara de surpresa - afinal, durante dez anos estudando com Judy, aquela era a primeira vez que elas se falavam -, e então balançou a cabeça afirmativamente para Judy.


            Judy: Legal, eu sou a Judy. Acho que a gente já se vê há anos, né? Mas por algum motivo a gente nunca nos falamos, er… enfim… ontem foi o meu aniversário de 18 anos, por isso hoje eu vou dar uma festa na minha casa e todo mundo da escola vai, então… sabe… se você quiser ir, vai ser legal ver você por lá…


            Judy timidamente entregou um convite nas mãos de Velma.


            Judy: Ah, se você não se importar, eu vou precisar do seu telefone e uma foto sua… para a minha assistente digital Rosie identificar você na portaria…


            Velma apenas balançou a cabeça afirmativamente e falou uma sequência de números. Em seguida, Judy tirou uma foto de seu rosto.


            Judy: Perfeito. O QR Code do convite permitirá seu acesso. Meu telefone está no verso, se você tiver alguma dúvida de como chegar ao meu condomínio…


            Velma: Obrigada, querida. Nos vemos lá!


            Judy sorriu para ela e se afastou. Quando ela se juntou às demais garotas, foi possível ouvi-la dizer “legal, ela disse que vai”. Velma olhou para Daphne em pânico. Ela simplesmente não sabia por que havia dito aquilo.


            Daphne: “Querida?” Velma, o que está acontecendo com você? Se você estiver tirando uma com a minha cara, pode parar porque você está me assustando…


            Velma: Judy! Espera, querida! Eu não vou, eu… eu não sei por que eu disse que iria! Eu não sei o que está acontecendo comigo…


            Daphne: Também não é legal ficar imitando a minha prima! Eu sei que o sotaque sulista dela é um pouco caricato, e que usar rosa aos 18 anos é ridículo, mas ela nunca fez nada para você…


            Velma: Daphne, é isso! Eu fui possuída pela Penélope!


            A frase só fez sentido na cabeça de Velma, e assim que ela falou, ela se sentiu tão idiota que retirou o que disse imediatamente.


            Velma: Olha, eu sei que parece idiota, mas de alguma forma eu dormi naquela casa e acordei como a Penélope… eu não sei explicar, talvez a energia do ambiente me influenciou, talvez o espírito de Sneekly seja um obsessor e tenha me feito parecer com ela para me atacar e…


            Daphne: Velma, o que eu estou tentando dizer é que neste exato momento eu estou sendo a racional e você está acreditando em possessão espiritual, e é isso que está me assustando…


            Velma: Não! Eu não estou acreditando nessas coisas… eu só… olha, você não acha estranho eu estar aqui? Com essas roupas, e com esses dons? Como eu poderia forjar isso? Não existe explicação racional para me transformar em uma bailarina incrível em 24 horas! Também não acha estranho essas meninas estarem me convidando para uma festa? Em condições normais, elas não me convidariam nem se eu fosse a melhor dançarina do Fifth Harmony!


            Daphne: Ok, você me convenceu quando disse “não existe explicação racional” e quando revelou saber o que é o Fifth Harmony…


            Velma: Eu te disse, querida! Alguma coisa estranha está acontecendo comigo e você tem que me ajudar antes que eu aceite outro convite idiota!


            Daphne: Ok, em primeiro lugar, vamos sair daqui, trocar essas roupas e fingir que isso nunca aconteceu. Chegando à mansão, a gente liga para os meninos e tentamos descobrir o que está fazendo você se comportar assim…


Velma: Ok, querida.


Daphne: Só, por favor, tenta não me chamar de querida, tá?


Velma tentou, mas outro “querida” inevitavelmente saiu de sua boca e Daphne revirou os olhos. Ela, então, pegou Velma pelo pulso e a arrastou até o vestiário. Lá, Velma abriu o armário e começou a retirar seus pertences. Quando Daphne viu os acessórios, ela ficou tão assustada que arregalou os olhos e levou as mãos à boca.


Daphne: Meu Deus, você pegou a Bvlgari rosa!… a Penny é campeã de Muay Thai, sabia? Se ela descobrir que você pegou a bolsa que fizeram exclusivamente para ela, você vai precisar de uma plástica no nariz…


Velma: Será que agora eu te convenci que eu estou doente? Eu jamais usaria essa coisa ridícula, a Barbie da minha irmã tem acessórios mais bonitos!


Daphne: Por favor, continue criticando, quem sabe isso estimula a Velma verdadeira voltar a esse corpinho de 1,5m…


Velma: Sem falar que eu jamais gastaria mais do que 50$ em uma bolsa!


Daphne: Isso é lamentável, mas continua… está soando como você… agora fala aquela coisa chata sobre mais-valia, por favor…


Velma: Sim, mulheres asiáticas ganharam 1$ para produzir isso daqui! E isso foi vendido por uns $3000, consegue perceber o quanto é injusto… querida?


Daphne suspirou ao ouvir outro “querida” e começou a tirar as roupas de dentro da mochila, para que Velma se trocasse logo. Entretanto, ao notar a saia branca, ela resistiu.


Velma: O quê? Nem pensar, eu não vou vestir isso!


Daphne: Velma, essa saia que você está usando é de um figurino raro e caríssimo, você não pode sair na rua com ele!


Velma: E saia branca deixa metade do meu traseiro à mostra, então eu simplesmente não posso usá-la, entende querida?


Daphne: Se algum cristal do figurino sumir, Penélope vai notar… e, acredite, você não quer isso… agora, vamos logo! Ninguém vai notar que você tá de mini-saia!


Velma suspirou e substituiu a saia que estava usando pela saia branca curta. Quando as duas deixaram a academia de dança, uma enxurrada de olhares masculinos se concentraram nas roupas curtas de Velma, e ela fuzilou Daphne com os olhos enquanto murmurava debochadamente “ninguém vai notar, né?”. Daphne sorriu desconcertada e deu um tapinha nas costas da amiga para tentar conter a sua fúria.


Daphne: Relaxa, os garotos são uns idiotas, é só ignorar…


Velma: Eu não me importo com eles! Estou preocupada com o Shaggy, o que ele vai pensar de mim, querida?


Daphne: Eu acho que ele vai gostar…


Velma olhou com mais raiva para a amiga e ela logo procurou corrigir o que disse.


Daphne: Relaxa, Vel…


Velma: O que os meus pais vão pensar de mim?


Daphne: Velma, é só uma saia curta, uma roupa idiota, não é um atestado de caráter e inteligência! Que coisa idiota ficar julgando uma garota pela roupa que ela usa… não era você mesma que dizia que isso é machismo?


Desta vez foi Daphne que se irritou e deu uma resposta enérgica a amiga. Velma ficou constrangida não apenas pelos comentários preconceituosos que fez, mas também por não saber mais quem ela era e o que ela pensava a respeito das coisas. O silêncio entre as amiga durou até o estacionamento, quando foi interrompido por um pequeno grito de pavor vindo de Daphne.


Daphne: Oh não! Velma! Eu não acredito que você foi capaz de fazer isso!


Mesmo sem saber o que havia feito, Velma olhou assustada e envergonhada para amiga.


Daphne: PORQUE NÃO ME DISSE QUE VEIO DIRIGINDO ESSE CARRO?


Velma: É claro que eu não vim, você sabe que eu nem tirei carteira de motorista ainda!


Daphne: Então como esse carro veio parar aqui…?


Velma: Eu vou saber? Eu nunca vi esse carro na minha vida! Eu nem sequer tenho as chaves dele!


No momento em que Velma disse não ter as chaves, Daphne arrancou um chaveiro rosa da bolsa Bvlgari igualmente rosa e olhou com raiva para a amiga, que ficou sem jeito e baixou os olhos.


Daphne: Tinha dois Lamborghinis, um Audi e um Porsche naquela garagem, todos de 2022, e você tinha mesmo que escolher esse carro?


Velma: Qual o problema? Ele é bem velho comparado com os outros, então o seguro deve ser barato e as peças devem ser achadas em qualquer ferro velho de fundo de quintal…


Daphne: VELMA, ESSE CARRO TEM ATÉ NOME!


Velma: Lata velha? Porque a minha avó tem um carro mais novo que esse, e olha que ela tem o mesmo carro desde os 16 anos…


Daphne: Não, idiota, esse carro é uma Ferrari rara, e a propósito, os pronomes do carro não são ele/dele, são ela/dela! Essa é a maldita Compact Pussycat! A Penélope conta a quilometragem dela, ela confere as ranhuras dos pneus, o nível do óleo, e se duvidar ela até verifica as digitais na direção! Ela ama esse carro mais do que a própria vida, e agora você vai certamente perder um olho por causa disso! Lembra do braço quebrado da Dawn no dia de Ação de Graças passado? Pois bem, ela não caiu enquanto patinava, ela dirigiu a Compact Pussycat!


Velma: Daphne, para de surtar! Qualquer que seja o erro estúpido que eu tenha cometido em relação a esse carro, eu não vou repetir! Simples, vamos chamar um guincho e tirá-lo daqui em segurança, você me dá uma carona até a mansão e lá nós voltamos a quilometragem do carro igual ao filme do Ferris Bueller… querida…


Daphne: Claro, vamos chamar um guincho e deixá-lo desfilar lentamente com esse carro por todas as ruas da cidade, assim todo mundo vai ficar sabendo que ele foi tirado da garagem… você enlouqueceu? A cidade é pequena e cheia de fofoqueiros, se alguém vir o carro, a Penélope vai ficar sabendo…


Velma: Então, você dirige…


Daphne: Tá doida? O carro mais velho que eu já dirigi é de 2020! Ele não faz barulho, tem uma direção macia e é tão automático que até um castor conseguiria dirigi-lo… eu não vou arriscar mexer nessa coisa velha cheia de pedais, o barulho desse carro me assusta! E eu precisaria fazer uns dois meses de musculação para mover essa direção…


Velma: Ótimo, então vamos chamar os meninos!


Velma tirou o celular da bolsa e começou a discar uma sequência de números. Imediatamente, Daphne arrancou o celular das mãos dela.


Daphne: NÃO! Não vamos fazer isso! Os garotos vão pirar com um carro raro desses e certamente contariam para alguém, não podemos deixar que tantas pessoas fiquem sabendo! E temos que agir logo antes que as garotas do ballet apareçam… olha, eu acho melhor você dirigir e a gente secretamente levar o carro de volta à mansão… se você andou de salto sem torcer os tornozelos, dirigiu em segurança até aqui e soube exatamente o que fazer na aula de ballet, eu acho que essa doença maluca vai fazer você dirigir bem até Pitstop Manor…


Velma ficou incrédula com a revelação, mas Daphne não se importou com ela e entrou no banco do passageiro do carro. Velma abriu a porta com raiva e sentou-se no banco do motorista para enfrentá-la.


Velma: Você está mais preocupada com a segurança de um carro idiota do que com as nossas vidas? Eu já disse que eu não sei dirigir!


Enquanto disse “eu não sei dirigir”, Velma ligou o carro, deu ré e o tirou da garagem perfeitamente. Daphne sorriu para ela, fez um gesto estendendo as palmas das mãos para demonstrar que ela estava dirigindo e disse “voilà!”. Velma arregalou os olhos em espanto e não conseguia crer no que seus braços e pernas estavam fazendo. Daphne a incentivou a continuar e imediatamente colocou o cinto de segurança assim que o carro deixou o estacionamento.


Daphne: Não se esqueça do cinto de segurança… essa porcaria velha não apita se você não está usando cinto, então você pode se esquecer de colocar… e, acredite, se você dirigir igual à Penny, você não vai querer se esquecer…


Velma ficou mais assustada ainda e prendeu o cinto com força. E logo em seguida, ela se sentiu grata por ter feito isso, pois a primeira coisa que fez ao deixar o quarteirão da Academia foi demonstrar a Daphne como aquela belezinha era capaz de ir do 0 aos 100 km/h em menos de 9 segundos.


***


            O trajeto até Pitstop Manor levaria apenas dez minutos se Velma o fizesse em uma velocidade constante de 100km/h. Mas em algum momento na via rápida de acesso Riverdale ela decidiu mostrar a Daphne que o carro conseguia chegar a incríveis 240km/h, e isso despertou a atenção dos oficiais Blast e Meekly que estavam patrulhando a rodovia naquela manhã. Velma parou o carro no acostamento e seu rosto tinha um semblante de medo e culpa, mesmo sabendo que não tinha controle sobre o que havia acabado de fazer. Daphne estava mais agitada do que ela e se mexia de um lado para o outro no banco do motorista, tateando o carro como se estivesse procurando algo. Na verdade, ela estava tão desesperada que não sabia o que fazer.


            Daphne: Eu vou ligar para a Delilah, ela esteve no exército e conhece os superiores deles na polícia, ela pode nos ajudar a…


            Velma: NÃO! Você enlouqueceu? Eu roubei um carro raro, dirigi sem carteira, coloquei as nossas vidas e as vidas das outras pessoas em risco dirigindo a mais de 200km/h…e agora vou usar corrupção para escapar? De jeito nenhum! Eu mereço uma punição… além do mais, quem sabe isso me ajuda a voltar ao normal… talvez uma multa ou alguns meses de serviços comunitários me cure desse fenômeno psicológico estranho… querida…


            Daphne suspirou e fechou os olhos para não demonstrar que estavam cheios de lágrimas. Velma então percebeu que ela estava mais preocupada com o destino do carro do que com o destino que ela teria. O oficial Meekly deixou a viatura e caminhou em direção a elas preenchendo uma multa, mas quando chegou ao lado do carro e viu que Velma estava no volante, ele fez uma expressão de estranhamento e amassou a multa preenchida em nome de Penelope Pitstop.


            Meekly: Srta. Dinkley? Eu esperava ver outra mocinha irresponsável dirigindo esse carro a 240 km/h…


            Velma e Daphne apenas sorriram desconcertadamente. Elas procuraram palavras, mas não conseguiram encontrar nada adequado para dizer.


            Velma: Oh, desculpe, querido…


            Meekly riu do que Velma disse como se fosse uma piada, e as duas não conseguiram entender o motivo.


            Meekly: Sim, é exatamente isso que ela diria! Muito bem, me mostre a sua habilitação, Srta. Dinkley… e espero que você tenha uma boa desculpa para justificar a sua pressa… uma desculpa tão boa quanto às desculpas de Miss Penelope…


            Velma entrou em pânico e olhou para Daphne, procurando algum apoio emocional. No entanto, Daphne apenas continuou a mexer e tatear, como se fosse encontrar uma explicação em algum lugar daquele carro. Ao perceber que a amiga não tinha um plano, Velma sorriu novamente para o guarda.


            Velma: Sabe, querido, eu estava atrasada para o ballet…


            Meekly riu novamente.


            Meekly: Miss Penelope já usou essa desculpa… mas eu sei que a senhorita não faz ballet, Srta. Dinkley… e, à propósito, onde estão os seus óculos? Não vá me dizer que estava dirigindo a 240km/h sem os seus óculos?


            Velma tateou o rosto e olhou para Daphne aterrorizada enquanto choramingou: “meus óculos!”.  Daphne, então, percebeu que era o momento de agir.


            Daphne: Ela está usando lentes, Oficial Meekly…


            Meekly: Ótimo. Mas as ruas de Crystal Cove não são a Daytona, Srta. Dinkley… precisarei multá-la por sua irresponsabilidade no volante… por favor, habilitação e documentos do carro… aliás, eu sei que esse carro não te pertence… tem autorização para dirigi-lo?


            O medo fez Velma congelar, e Daphne entendeu que ela deveria intervir para impedir que levassem a amiga até a delegacia. Felizmente, ela tinha um plano.


            Daphne: Bem, Oficial Meekly, eu sei que o senhor vai ficar zangado com o que vou dizer, mas… a Velma não tem carteira de motorista…


            A frase final fez Velma olhar com raiva para Daphne, arregalar os olhos e abrir a boca de espanto, mas ao invés de se importar com a reação da amiga, ela continuou.


            Daphne: …e eu estava ensinando ela a dirigir. Eu não podia usar nenhum dos meus carros porque não queria que meus pais soubessem, por isso eu tive a ideia idiota de usar o carro da Penny enquanto ela estivesse viajando… e quando vi que a Velma estava dirigindo bem, eu a incentivei a acelerar… enfim, é tudo culpa minha e eu tenho plena consciência disso. Eu entendo que o senhor deve fazer o seu trabalho, então pode me multar e guinchar o carro até o pátio. Assim que a Penny voltar, eu digo a ela que o senhor guinchou a Compact Pussycat e a deixou apodrecendo naquele ferro velho, ela entrará em contato para conseguir recuperá-la.


            Quando Daphne disse “eu digo a ela que o senhor guinchou a Compact Pussycat”, o oficial perdeu o sorriso e imediatamente fechou o bloco de multas que ele estava prestes a preencher. Em seguida, ele olhou para as garotas e para o carro por algum momento e hesitou.


            Meekly: Bem, acho que nem eu e nem vocês queremos que Miss Penelope fique sabendo que esse carro esteve fora da garagem enquanto ela estava viajando…


            As garotas balançaram a cabeça negativamente.


            Meekly: …e certamente eu não quero me responsabilizar por estragos que esse carro pode ter no pátio, então… bem, são apenas 9 da manhã, não tinha quase ninguém na rua…é, acho que nem foi tão perigoso assim… vou deixar passar dessa vez, senhoritas, mas não quero que isso se repita!


            As duas se entreolharam e sorriram, e logo em seguida sorriram para o oficial. Ele se despediu, voltou para a viatura e logo saiu. As duas, então, suspiraram aliviadas.


            Velma: Então é assim que a Penélope escapa das multas?


            Daphne: Não. Ela tem tantas multas que é proibida de dirigir em 15 estados e em cinco países da Europa, inclusive na Autobahn da Alemanha. 


Velma: Então como escapamos?


Daphne: Bem, no início do ano o sargento Blast resolveu puni-la exemplarmente guinchou a Compact Pussycat…


Velma: E o que isso tem a ver com o que acabou de acontecer?


Daphne: Bem, até hoje ele não consegue deixar a viatura e caminhar normalmente…


***


            O incidente com a polícia não foi o suficiente para fazer Velma dirigir com cautela. Cinco minutos depois dos oficiais saírem, ela pegou um atalho pela Platinum Drive – a via que circunda das montanhas de Crystal Cove e dá acesso à área mais nobre da cidade –, acelerou e começou uma conversa estranha sobre como aquelas curvas se pareciam com o Circuito de Monte Carlo em Mônaco. Quando o carro finalmente estacionou na garagem da mansão, Daphne desceu de maneira afoita, como se estivesse deixando um avião após manobras no ar. Velma desceu com o mesmo desespero, como se quisesse se livrar de um carro amaldiçoado, no entanto, ela sabia que a maldição estava dentro dela mesma. Ao adentrar o salão principal, Velma chamou pelas garotas, mas não as encontrou. Imediatamente, ela subiu as escadas, mas quando chegou no meio do trajeto, ela ouviu uma música alegre vinda do jardim e foi até lá verificar. Daphne a seguiu. Ao chegarem à piscina, elas viram Marcie Fleach com óculos de sol e roupas de banho deitada em uma espreguiçadeira.


            Velma: O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? VOCÊ NÃO DEVIA ESTAR AQUI!


            O modo ríspido de Velma irritou e magoou Marcie, mas a primeira reação que a garota teve foi debochar das roupas de Velma.


            Marcie: Ah, é sério isso? Se não bastasse você andar com as vadias, vai se vestir como elas?


            Marcie continuou a rir e debochar. As palavras duras de Marcie constrangeram Daphne e irritaram Velma mais ainda, mesmo assim, ela se sentiu tão envergonhada por ter sido vista usando aquelas roupas que não conseguiu reagir.


            Marcie: Já sei, você está me expulsando porque agora a sua amiguinha chegou e você não precisa mais de mim…


            Velma: Eu não estou te expulsando, eu apenas pedi um milhão de vezes para você não ser vista aqui! Você sabe que isso pode me faze perder o emprego, e mesmo assim você fez, querida!


            Marcie: Não, “querida”, isso é apenas uma desculpinha que você usa para justificar o fato de que você não quer mais a minha companhia só porque agora você conseguiu ser amiga das garotas populares! Olha só para você, está até falando igual a elas!


            Velma ficou ainda mais constrangida.


            Velma: Marcie, isso é ridículo! Eu só estou tentando ganhar os 3000$, e se você fosse minha amiga de verdade, você me ajudaria, querida!


Marcie: E foi o que eu fiz, não? Eu vim aqui te ajudar ontem, enquanto você estava com medo e ainda vestia roupas normais, mas agora que a sua amiguinha chegou, eu não sirvo mais, não é?


Velma: Marcie, pelo amor de Deus, eu não estou te dispensando! Quanto anos você tem? Será que você não consegue entender que eu estou trabalhando e preciso seguir regras, querida?


Marcie: Claro, regra número 1: se vestir como a Barbie e dirigir o Barbiemóvel enquanto deixa sua melhor amiga para trás em uma casa assombrada!


Velma: Eu não tenho culpa de estar vestida assim! Eu estou doente, tá legal? A alma do Sneekly me amaldiçoou, ou sei lá, essa casa me causou um transtorno psicológico estranho! E eu não sei dizer como, mas eu acordei hoje de manhã me comportando diferente, e fazendo coisas que eu nunca faria, tipo dirigir a 200km/h… e veja, eu nem estou usando meus óculos e estou enxergando normal, não parece estranho para você? Tem algo acontecendo e eu preciso achar uma explicação racional para tudo isso e…


A explicação de Velma foi interrompida por uma gargalhada debochada de Marcie, que continuou a rir por alguns minutos. Velma suspirou e ficou frustrada por perceber que a amiga, cega de ciúmes, não levava a sério o que ela estava falando.


Marcie: Ah, claro, e o seu modo vadia só é ativado na presença da Daphne? Por que ontem à noite, na presença das garotas normais, nenhuma “maldição terrível” tinha te atingido… você ainda era você…


Velma: Marcie, por favor, me escuta, deixe-me explicar…


Marcie: Não, Velma, não precisa se incomodar, eu já entendi tudo. Agora que você faz parte da A-list, eu perdi a minha melhor amiga.


Marcie se levantou com raiva e recolheu suas roupas e pertences da espreguiçadeira. Velma ainda tentou segurá-la e impedi-la, mas Marcie estava tão irritada que não permitiu ser detida. Ao ver a amiga partir, algumas lágrimas desceram pelo rosto de Velma, e aos poucos, essas lágrimas solitárias se transformaram em um choro intenso. Daphne ficou ainda mais constrangida e tentou consolar a amiga de alguma forma, mas não conseguiu.


Daphne: Relaxa, se aquele biquíni rosa que ela estava usando era um Missoni, ela vai ficar uns tempos sem poder se locomover, e vocês terão tempo para fazer as pazes…


A piada não surtiu nenhum efeito cômico em Velma, e Daphne suspirou. Como a garota não saía da posição fetal, nem tirava as mãos do rosto, Daphne foi até o interior da mansão e pegou os pertences de Velma. Quando o pranto finalmente cessou, Daphne enxugou as lágrimas da amiga e encaixou os óculos no rosto vermelho.


Daphne: Eu trouxe suas roupas, o vestiário é logo ali. Vamos, eu vou te levar para casa.


***


            Velma estava vestida como Velma, mas ela não se sentia como Velma. A começar pelo sotaque sulista irritante que insistia em sair de sua boca de uma maneira que ela não podia evitar. E, além disso, havia as músicas que agora ela gostava, as roupas e assuntos pelos quais agora ela se interessava, e até mesmo os garotos que agora ela reparava. Tudo isso a fazia se sentir como uma impostora. Quando Daphne parou em frente a sua casa e a Sra. Dinkley abriu a porta sorrindo para recebê-la, era como se ela estivesse entregando a criança errada a uma mãe aflita que estava há mais de 12h sem notícias da filha. A senhora Dinkley cumprimentou Daphne, agradeceu pela carona e a convidou para entrar.


Daphne: Desculpe, Sra. Dinkley, eu deveria ter chegado em casa há 1h30 atrás, meus pais devem estar surtando de imaginar que eu estou com o Fred, então é melhor eu ir.


Daphne se despediu das duas e partiu. Velma a abraçou a mãe com estranheza e entrou na própria casa com receio de que, em algum momento, algum Dinkley percebesse que ela não era mais ela.


Sra. Dinkley: Como está o projeto, querida? Você parece cansada… Maddie disse que vocês trabalharam até tarde fracionando petróleo… confesso que fiquei surpresa quando Madelyn me falou do interesse do Sr. Pitstop em financiar pesquisas sobre desenvolvimento de tecnologias que possam tornar o uso de combustíveis fósseis algo sustentável e termodinamicamente mais eficiente… para um magnata ignorante e ganancioso como ele, é um grande avanço…


Madelyn estava comendo panquecas na cozinha e sorriu como um anjo para a irmã, demonstrando que a mentira que ela havia elaborado na noite anterior enganou os pais com sucesso. Velma acenou de volta, e antes que pudesse esboçar qualquer tipo de agradecimento pelo álibi, a garota apontou para o pote de biscoitos, sinalizando que a irmã deveria realizar o pagamento pelo serviço prestado.


Velma: Ah, claro… foi… bem legal…


As palavras que saíram de sua boca não foram palavras “padrão Velma” o suficiente, então ela preferiu se calar.


Sra. Dinkley: Ótimo! Agora que vocês duas estão em casa em segurança, eu preciso ir encontrar meus doutorandos e alimentar nossas cobaias…


A Sra. Dinkley beijou o topo da cabeça de cada uma das filhas e saiu. Assim que a imagem do carro da mãe deixando a garagem surgiu na janela, as duas suspiraram aliviadas.


Velma: Madelyn, querida, me ajuda, eu acordei muito estranha hoje e estou colocando a minha vida e a vida das outras pessoas em risco!


Madelyn: Você parece bem normal… pior sou eu que não acertei fazer uma mágica hoje! E daqui a uma hora eu vou me apresentar em um aniversário! O que eu faço se eu errar?


Velma: Madelyn, querida, pelo amor de Deus, esqueça as mágicas, você tem que me ajudar!


Madelyn: Bem, a segunda vez que você disse “querida” deixou claro que você não está sendo irônica, e o fato de você ser ateia e ter citado Deus me convenceu. Prossiga. O que está havendo? O que você quer dizer quando disse que “está estranha e colocando vidas em risco”?


Velma: Eu não sei o que aconteceu, nem sei o que deu em mim, eu simplesmente acordei às seis da manhã…


Madelyn: É, isso é bastante impossível de acontecer…


Velma: …passei maquiagem, coloquei uma mini saia e fui para uma aula de ballet…


Madelyn: Oh não!


Velma: E o pior é que eu arrasei na aula… querida!


Madelyn: Pare, Velma, você está me assustando… se a mamãe souber que você está repetindo estereótipos femininos socialmente aceitos, vai ficar furiosa…


Velma: Não estou! Depois, eu simplesmente descobri que eu havia dirigido até a aula de ballet, e logo em seguida eu peguei o carro novamente e dirigi perfeitamente até Pitstop Manor a mais de 200km/h… querida!


Madelyn fez uma cara desconfiada para a irmã e logo em seguida, uma cara de raiva.


Madelyn: Sua ridícula, você está tirando uma com a minha cara?


Velma: Não, querida, eu não estou, eu estou desesperada, porque parece que eu simplesmente virei…


Madelyn: A Penélope Pitstop? Ah, Velma, vá à merda… por que eu perco meu tempo com suas histórias idiotas? Como se não bastasse a live de Free Fire que eu perdi ontem por causa da sua conversinha idiota sobre fantasmas!


Velma: Madelyn, querida, eu não estou fingindo! Realmente, havia algo sobrenatural naquela mansão ontem à noite, e essa coisa me fez ficar… desse jeito bizarro…querida…


Madelyn: Ah, claro, e eu sou a Marie Curie só porque eu tirei uma radiografia do joelho ontem! Cala essa boca, vai, Velma, para de me tratar como uma criancinha, eu não acredito nesses mistérios idiotas que você e seus amigos inventam…


Velma: Madelyn, eu preciso de ajuda antes que Shaggy, mamãe e papai percebam que eu estou… sei lá… possuída… doente… amaldiçoada!


Madelyn: Acho que o nome correto seria “psicologicamente influenciada”. É um fenômeno comum na adolescência e atinge mentes fracas que resolvem imitar comportamentos de pessoas que possuem maior popularidade… é por isso que influencers se tornam influencers, idiota, eles influenciam pessoas! E você visivelmente foi influenciada por essas líderes de torcida babacas…


Velma: Madelyn, querida, eu não estou forjando isso! Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo comigo! E… como eu poderia forjar uma dança perfeita de ballet se eu nunca dancei na minha vida?


Madelyn: Ué, você aprendeu alemão e equações diferenciais sozinha quando tinha a minha idade… você sabe que os Dinkleys aprendem as coisas de maneira muito fácil…


Velma: Mas como eu poderia fazer isso se eu nunca tive a chance de aprender? Ontem eu não sabia dançar e hoje eu simplesmente sei, não sei como! Pergunte para a Daphne, eu dirigi perfeitamente sem meus óculos…


Madelyn: Ah, claro, eis a resolução do mistério: Daphne Blake! A Marcie tem mesmo razão, desde que você se tornou amiga dela, você quer imitá-la para ser popular… até a mamãe já notou, de repente você começou a namorar, começou a sair por aí numa van duvidosa…


Velma: O quê? Não, isso não tem nada a ver, querida, o que aconteceu hoje é muito diferente, eu literalmente estou muito parecida com a Penélope e eu não consigo achar uma explicação racional para…


Madelyn: Ah, Velma, me poupe, se você quer copiar essas garotas fúteis, só copia e assume, ok? É ridículo ficar inventando desculpas… e eu não sei o que essa nova amiga fez com você, mas se você não está gostando, é só dizer a ela!


Velma: Madelyn, eu não tenho…


Madelyn: … mais o que fazer? Problema é seu, porque eu estou de saída. A Luan Loud está a caminho para irmos nos apresentar no aniversário.


Madelyn tomou o resto do suco e se levantou da mesa, ignorando os apelos da irmã. Velma se sentiu frustrada, mas ao mesmo tempo, começou a duvidar de sua sanidade. Será que Madelyn estava com razão? Será que, inconscientemente, ela realmente estava tentando imitar Penélope, mas sua razão não a deixava admitir? Seus pensamentos foram interrompidos por seu celular vibrando, sinalizando a chegada de uma mensagem. Quando Velma olhou, percebeu que um número novo havia iniciado uma conversa de whatsapp, e a foto era de Judy Jetson. “Oi Velma, está a fim de ir ao clube? Todas as meninas vão estar lá hoje à tarde!”, era o conteúdo da mensagem. Velma, então, se concentrou no que a irmã mais nova havia lhe dito. Realmente, ela havia mudado bastante desde que começou a ter uma amizade com Daphne, e agora essas mudanças estavam alterando tanto sua personalidade que ela estava se sentindo outra pessoa.  Velma Dinkley jamais sentiu e jamais sentiria vontade de dançar ballet e ir ao clube com Judy Jetson, e ela não ia permitir que a amizade com Daphne e os padrões de vida e de comportamento de Daphne mudassem isso. Convencida de que aquela era a explicação racional para tudo o que havia ocorrido, Velma decidiu ignorar o convite de Judy. Mas antes que ela pudesse pressionar o botão para deletar a mensagem, seus dedos rapidamente digitaram: “Claro, querida”, e a mensagem foi visualizada imediatamente.




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Autor(a): kendrakelnick

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