Velma só parou de andar de um lado para o outro quando o carro de Fred Jones estacionou em frente a sua casa. Do banco de passageiro, surgiu Daphne, e isso a deixou ainda mais aliviada. Antes que eles tocassem a campainha, Velma abriu a porta de maneira afoita e logo sinalizou para que eles entrassem e se acomodassem no sofá.
Velma: Fred, querido, que bom que você veio! Eu preciso muito que você faça uma armadilha para que eu não saia dessa casa… sei lá, só me amarra na minha cama e não me deixe sair de lá enquanto os meus pais não voltarem, ok?
Daphne: É sério? Foi para isso que você nos chamou?
Velma: Foi pra isso que eu chamei ELE, querida! Você não precisava ter vindo…
Daphne: Você está se comportando como a oferecida da Penélope e chamou MEU NAMORADO para te amarrar em uma cama, então, sim, EU PRECISAVA TER VINDO!
Velma inevitavelmente corou com o mal entendido, principalmente porque Fred ficou constrangido ao ouvir sua proposta.
Velma: NÃO, NÃO É O QUE VOCÊS ESTÃO PENSANDO! Eu… eu só preciso não sair mais de casa… até isso passar… queridos… eu estou correndo sério perigo… e preciso ficar aqui até…
Daphne: Velma, você aceitou um trabalho como governanta! Ficar na sua casa é a única coisa que você não pode fazer nesse momento, você deveria estar na mansão! Se a Penny descobrir, além dela não te pagar, ela vai ficar furiosa comigo!
Velma: Querida, a Judy Jetson acabou de me chamar para ir ao clube e eu aceitei! EU ACEITEI, OK? A minha cabeça negou, mas de alguma forma meus dedos se moveram por conta própria e eu aceitei! E eu não sei como eu fiz isso! Agora eu tenho certeza que, por mais que eu me esforce para ficar aqui, meu corpo vai me desobedecer a qualquer momento e eu vou me arrumar como uma cheerleader e ir até o clube com aquelas… aquelas… queridas!
Fred e Daphne se entreolharam constrangidos, e Fred sinalizou que deixaria as duas a sós para conversarem. Velma suspirou ao ver a atitude do amigo, pois obviamente ele não estava levando seu desespero a sério e não a ajudaria.
Daphne: Vel, escuta… eu entendo o quanto é difícil para você assumir que, no fundo, você gosta de tudo aquilo que você sempre negou e criticou… mas isso é normal! Você já tem 16 anos, está virando uma mulher, é natural que você não se identifique mais com a aparência e os comportamentos de antes… é completamente normal você querer se arrumar mais e fazer outras atividades, é normal querer dirigir e fazer amizades que tenham esses mesmos interesses… toda garota passa por isso, algumas mais cedo, outras mais tarde… e está tudo bem!
E obviamente Daphne também não a levava a sério e não a ajudaria.
Velma: NÃO, NÃO ESTÁ TUDO BEM QUERIDA! EU PAREÇO BEM PARA VOCÊ? Você não me viu com uma saia minúscula dirigindo como uma louca? Não acha isso estranho? Eu nunca faria isso, nunca!
Daphne: Vel, talvez seja esse o problema… você achar que “nunca” faria isso, e insistir que “nunca faria e que você não é assim”, ao mesmo tempo em que você quer fazer e quer ser uma nova pessoa… a psicologia chama isso de negação, você está em conflito porque você está em processo de negação contra todas essas mudanças! Olha, talvez você só deva relaxar e normalizar tudo… você não está fazendo nada de errado, é a sua cabeça e o seu preconceito que acham tudo isso errado… permita-se ser quem você é… aceite-se… afinal, qual o problema de ir ao clube?
Após algumas verdades, Daphne abraçou Velma por um momento. Apesar de se sentir brevemente acolhida, aquelas verdades deixaram Velma ainda mais desconfortável. E se Daphne, Marcie e Madelyn estivessem certas? E se ela realmente estava se tornando uma nova pessoa e todo o incômodo fosse apenas causado pelo preconceito que ela tinha contra aquelas garotas e aquele estilo de vida popular?
Daphne:… quero dizer, não há problema nenhum em ir ao clube com as garotas quando você não está trabalhando como governanta em uma mansão… mas já que você está, eu acho melhor você voltar para Pitstop Manor antes que a Penny decida nos atropelar e fingir que foi acidente…você viu como ela consegue escapar impunemente da polícia…
Velma retribuiu o abraço da amiga com um tapinha nas costas. A ansiedade a paralisou por um momento, até que a amiga a puxou pela mão em direção à porta. Antes de sair, ela pegou o celular e um livro de física quântica para ler enquanto ficaria na mansão. E suspirou, por saber que a velha Velma de sempre ainda estava ali, presa em algum lugar, mas não sabia como trazê-la de volta.