Daphne: Eu sinto muito por ouvir isso, Sr. Applegate. Mas saiba que estamos aqui para ajudá-lo, não para difamá-lo. Estamos investigando um desvio de dinheiro feito por uma corretora chamada Liberty e acreditamos que o senhor também pode ser uma das vítimas…
Steven: Ah, a Liberty, claro, eu me lembro dela porque pertencem a um dos meus VIPs… é do Michael? Ou do Jake? Não sei, eu não me lembro… e nem me importo em me lembrar depois de tudo o que esses malditos fizeram comigo… mas essa Liberty me traz problemas com freqüência…
Velma: Que tipo de problemas, Sr. Applegate? E com que freqüência?
Steven: Dinheiro sujo. A todo momento. Milhares e milhares de dólares surgem nas contas da Liberty, sem motivo algum.
Fred: O senhor faz ideia de onde esse dinheiro está vindo?
Steven: Certamente, não está vindo do bom trabalho honesto, filho. Eu tenho medo de saber… drogas, cassinos… de crimes, com certeza.
Velma: E os federais não fazem nada a respeito?
Steven: Eles fazem! Destroem a minha vida enquanto ganham alguns milhões desses mafiosos para ignorar toda a lavagem de dinheiro.
Fred: Quando o senhor diz “mafiosos”… eles são mesmo uma máfia?
Steven: Não tenho provas, filho, mas eu suspeito que sim.
Daphne: Então foi um dos seus VIPs que fundou a Liberty? O senhor poderia mencionar os nomes desses VIPs envolvidos com a Liberty?
Daphne preparou um pequeno bloco de notas e posicionou a caneta para anotar os nomes, porém, o Sr. Applegate, que até então se mostrou à vontade para nos contar sobre seus problemas e sua vida, de repente, ficou aterrorizado. Em pânico, ele olhou aos arredores procurando por câmeras ou gravadores em nossos pertences e começou a gaguejar.
Steven: N…nã…não! Não, Daphne, veja bem, e…eu não estou acusando ninguém de ne… nenhum crime, e…eu…bem, desculpe, é que eu não posso acusá-los sem provas, entende?… esses… esses garotos… eles… eles sabem onde eu moro, entende? Eles conhecem a minha família… e também conhecem a sua… olha, eu não quero problemas, ok?
Daphne: Sr. Applegate, não tenha medo, todas as informações que o senhor compartilhar conosco ficarão em segredo. Por favor, eu preciso que o senhor me diga quem são os VIPs.
O Sr. Applegate começou a suar e a ficar ofegante, claramente demonstrando estar com medo de denunciar os envolvidos.
Steven: Bem… muito bem, Daphne, nós encerramos por aqui…
Daphne: Mas, Sr. Applegate! O senhor concordou em nos ajudar!
Steven: Eu estou te ajudando, querida, meu silêncio é a melhor ajuda que eu posso te fornecer…
Daphne: Por favor, senhor…
Steven: Sinto muito, Daphne, encerramos por aqui. Se precisar de outras informações para o seu caso procure os meus advogados…
Fred: Sr. Applegate, além dos desvios de dinheiro que a Daphne mencionou, o nosso caso também envolve quinze homicídios, por isso a sua ajuda seria fundamental…
Steven: Podem perguntar o que quiserem para os meus advogados, liguem para o número deste cartão…
Velma: Sr. Applegate, se o senhor não quer falar sobre os VIPs, tudo bem. Mas, se importaria de apenas responder algumas de nossas perguntas com “sim” ou “não”?
Steven: Meus advogad…
Velma: O senhor conhece Cho Sang-woo?
O Sr. Applegate suspirou e percebeu que não havia outra alternativa além de responder.
Steven: Não.
Analisei rapidamente as expressões faciais dele e não achei nada que provasse que ele estava mentindo.
Velma: Certo. E o senhor conhece Alan Mayberry?
O Sr. Applegate ficou ainda mais apreensivo. Antes de responder, procurou novamente por câmeras de vigilância que pudessem registrar sua resposta. Por fim, suspirou e respondeu à pergunta:
Steven: Sim.
A expressão facial confirmou mais uma vez que ele dizia a verdade.
Fred: Alan Mayberry é um dos VIPs?
Steven desviou o olhar e balançou a cabeça.
Steven: Não.
As expressões faciais anteriores à resposta indicavam que Steven estava mentindo. Alan Mayberry, portanto, é um dos VIPs de Applegate Bank, e certamente está envolvido nos crimes citados pelo Sr. Applegate.
Steven: Muito bem, garotos, isso é tudo.
Ao perceber que Steven queria se livrar de nós, Daphne fez a manobra rápida de programar o despertador de seu celular para o minuto seguinte. Enquanto Fred agradecia pelo tempo concedido, o despertador tocou, Daphne simulou que estava atendendo uma ligação e se afastou. Enquanto isso, Daphne me enviou uma mensagem que dizia “Fred irá distrair o Sr. Applegate enquanto procuramos por pistas. Finja que temos uma emergência e concorde com tudo o que eu disser”. Shaggy, aparentemente recebeu a mesma instrução em seu celular, pois se aproximou de nós com Scooby-Doo. Após poucos minutos, Daphne voltou fingindo estar com pressa.
Daphne: Turma, houve uma emergência no departamento e precisamos estar lá imediatamente… Freddie, querido, eles me disseram que te enviaram algumas mensagens e precisam de sua resposta.
Shaggy e eu concordamos e nos despedimos do Sr. Applegate. Fred demorou um pouco para entender o plano de Daphne, mas começou a agir de acordo com o combinado assim que ele leu a mensagem em seu celular. Aparentemente, o Sr. Applegate não entendia mesmo de novas tecnologias, pois sequer desconfiou da pequena encenação. Fred, então, começou a conversar sobre esportes com o Sr. Applegate e, felizmente, ele mordeu a isca e novamente começou a falar sem parar sobre suas memórias. Shaggy, Scooby, Daphne e eu deixamos os dois conversando e embarcamos no elevador. Daphne apertou o décimo andar e as portas se fecharam, Shaggy começou a tremer de medo e agarrou o meu braço.
Shaggy: Tipo, Daph, esses lugares têm câmeras, sabia? E alarmes! E seguranças! E esses alarmes, câmeras e seguranças vão avisar assassinos mafiosos que nós estamos mexendo nas coisas deles! Você viu como o Sr. Applegate ficou com medo de denunciar esses VIPs, essas pessoas devem ser mesmo perigosas!
Daphne: Eu sei, Shaggy, por isso estou levando o maior especialista em informática que eu conheço para desativar essas câmeras e alarmes.
Shaggy: Ah, que bom ouvir isso, e cadê ele?
Daphne: É você, seu bobo.
Shaggy ficou ainda mais tenso por saber que a segurança de nosso plano dependia dele. Antes que eu pudesse confortá-lo, as portas do elevador se abriram e revelaram um andar repleto de computadores modernos e telas.
Daphne: E é aqui que esse especialista vai mostrar todo o seu talento. Vamos lá, Shags, preciso que você desative os alarmes e câmeras dos andares 3,4,5, 6 e 7 o mais rápido possível. Temos pouco tempo.
Shaggy ainda estava tremendo e segurando meu braço quando Daphne terminou de falar. Ele olhou para mim esperando algum tipo de apoio emocional.
Velma: Vamos lá, Norville, é como um dos seus jogos de ação, você consegue.
Tomei a coleira de Scooby-Doo das mãos de Shaggy e ele começou o seu trabalho. Como eu disse, Norville é um Steve Jobs desconhecido e pro player, em poucos minutos na frente de um dos computadores ele conseguiu desativar todos os sistemas de segurança dos andares que iríamos visitar. Enquanto isso, Daphne mandou uma mensagem para Fred perguntando se ele ainda conseguiria manter uma conversa com o Sr. Applegate por mais alguns minutos e ele respondeu “Estamos discutindo os playoffs da NFL para a temporada de 1972, vocês têm tempo o suficiente até chegarmos a 2021”. Com a segurança inativa e o Sr. Applegate entretido, partimos para o andar que Daphne determinou. Quando as portas do elevador se abriram, eu me assustei ao ver quatro longas filas de cofres que se estendiam do chão até o teto.
Velma: O que exatamente estamos procurando, Daph?
Daphne: Nós não procuraremos nada, Velma, o Scooby irá procurar… venha, Scooby!
Daphne soltou Scooby da coleira e lhe deu um biscoito. Enquanto ele mastigava, ela abriu a bolsa e pegou dois sacos plásticos com pedaços de tecido dentro e entregou a Shaggy
Daphne: Depois que Scooby atacou o Alan no restaurante eu peguei esse pedaço do terno dele. Preciso que faça Scooby farejar o Alan nesses cofres, Shaggy. Também peguei uma das amostras da perícia…
Velma: Hey, isso é roubo, sabia?
Daphne: …eu sei, mas é por bom motivo, Vel! Também preciso que faça Scooby procurar sangue ou cadáveres por aqui, Shaggy.
Fiquei irritada com o roubo das minhas amostras, mas reconheço que o raciocínio de Daphne foi rápido e genial. Dessa forma, poderíamos descobrir pistas mesmo sem a ajuda do Sr. Applegate. Shaggy assentiu e fez os procedimentos de treinamento que fizeram Scooby entender que Alan deveria ser farejado naquele local. Scooby começou a correr pelo primeiro corredor e nós o seguimos. Percorremos todos os corredores atrás de Scooby, mas ele parecia calmo e não sinalizou nenhuma descoberta. Subimos para o próximo andar repleto de cofres e o mesmo ocorreu: nenhuma pista de Alan, nem de sangue. O quinto e o sexto andares eram ainda maiores e tinham mais corredores, mas Scooby também não sinalizou pistas em nenhum lugar. Porém, quando subimos ao sétimo andar, Scooby começou a ganir e a arranhar as portas do elevador antes mesmo de elas se abrirem. Shaggy se escondeu atrás de nós, temendo o que encontraria quando a porta se abrisse. Para o nosso alívio, no sétimo andar não havia nada além de salas de escritório extremamente luxuosas, com equipamentos tecnológicos de última geração. Scooby correu na frente e começou a farejar com cuidado cada uma das portas das salas.
Shaggy: Meninas, tipo, eu acho que nós achamos os VIPs!
Daphne e eu concordamos e seguimos o cão. A porta de cada uma das salas tinha uma placa com um nome, e eu fotografei todas elas com a câmera do meu celular, supondo que aqueles eram os nomes dos VIPs. Scooby parou em frente a uma das portas e ficou olhando, sinalizando que havia uma pista naquele local. Shaggy se aproximou antes que Scooby começasse a latir e empurrou a porta, permitindo que ele entrasse. A placa da porta dizia “Brayman Leary” PhD. e eu a fotografei assim que entramos. Daphne cuidadosamente abriu as gavetas e armários procurando por pistas, enquanto Shaggy mostrou novamente o pedaço de tecido do terno de Alan para Scooby-Doo farejá-lo. Tudo o que o cão fez foi mover-se para dentro da sala.
Shaggy: É, garotas, o Scooby fareja o Alan nessa sala.
Daphne: Ótimo. Agora precisamos achar algo que prove que essa sala pertence a ele. Caso contrário, só estamos provando que ele esteve aqui por algum motivo.
A mensagem de Fred dizendo “O velho Applegate está querendo ir embora, apressem-se” adicionou alguns quilos de ansiedade aos nossos já sobrecarregados corações. Começamos a procurar com mais rapidez, porém, ainda mantendo o cuidado de não estragar nem desorganizar nada. Olhamos atrás de quadros e embaixo das mesas, verificamos se os armários e gavetas tinham fundo falso, tentamos abrir o velho cofre… e nada. Nada além de pilhas de papéis com dados estatísticos intermináveis e objetos de escritório.
Daphne: Vamos ter que levar esse computador, não temos outra alternativa.
Velma: Daphne, você pirou? Isso é roubo!
Daphne: É só por algumas horas, devolveremos antes do banco abrir amanhã de manhã!
Velma: Ah, claro, cometemos um roubo e logo em seguida uma invasão, você enlouqueceu? Não temos sequer um mandado contra a Applegate, isso é crime!
Daphne: Velma, você consegue pensar em algo melhor nesse momento?
Mais cinco quilos de ansiedade espancaram meu convalescente coração e a pressão foi tão grande que senti minhas mãos tremerem. “Podemos roubar o HD”, “podemos copiar os dados em um pendrive”, “podemos fazer um acesso remoto”, foram algumas ideias rápidas que surgiram em minha mente, mas o pânico e o medo me impediam de agir. Por fim, a melhor ideia surgiu: “podemos usar Scooby-Doo”.
Velma: Jinkies! Quando Scooby derrubou Alan no restaurante, talvez ele não estivesse realmente farejando Alan, e sim algo que estava no terno de Alan! E esse objeto pode estar aqui!
Daphne: Excelente ideia, Vel! Shaggy, faça Scooby farejar os tecidos novamente.
Ao farejar o pedaço do terno, Scooby caminhou calmamente pela sala e olhou para Shaggy, indicando que que o cheiro do terno era sentido naquele local. Porém, ao farejar a amostra de sangue, ele ficou tão agitado que derrubou uma das cadeiras e começou a arranhá-la.
Shaggy: Tipo, tem alguma coisa aqui, garotas!
Daphne e eu começamos a tatear a cadeira derrubada à procura de alguma pista, enquanto Shaggy afastou o agitado Scooby para evitar que ele começasse a latir e rosnar. “Applegate e eu estamos descendo, saiam daí imediatamente!”, foi a mensagem que apareceu na tela do celular de Daphne. Sem saber o que fazer, eu comecei a fotografar a cadeira de todos os ângulos, talvez eu pudesse analisar as fotos com calma posteriormente e descobrir algo que a pressa, o medo e a ansiedade não permitiram que eu enxergasse. Enquanto passava os dedos pela parte de baixo do revestimento do assento , Daphne quebrou uma de suas unhas e gemeu. Ao tocar o local onde a unha dela quebrou, percebi que havia algo por baixo do tecido e imediatamente peguei um abridor de cartas para alcançar o objeto. “Achamos algo, por favor, mantenha Applegate no prédio por mais cinco minutos”, foi o que Daphne digitou com uma velocidade impressionante enquanto eu cuidadosamente rasgava o tecido do assento. Quando consegui abrir uma fenda no tecido, Scooby ficou ainda mais agitado, começou a arranhar o chão e puxar Shaggy pela coleira para se aproximar da cadeira.
Daphne: Shaggy, desça com Scooby e nos espere na van. Se vocês ficarem, Scooby pode começar a latir.
Shaggy assentiu e usou toda a força que tinha para puxar o cão de volta até o elevador. Eu coloquei minha mão na fenda, mas meus dedos curtos e roliços não conseguiram alcançar o objeto que senti através do tecido. Daphne (que tem dedos mais finos e longos que os meus, e também unhas longas) fez o mesmo, e com a mesma habilidade motora com que conseguiu retirar o cartão de visitas misterioso de dentro do dispenser de moedas ela conseguiu retirar de dentro da cadeira… um cartão de visitas igualzinho! Daphne e eu nos olhamos e imediatamente colocamos a pista em um saco plástico de amostras. Rapidamente ocultamos a fenda de tecido com grampos de papel e deixamos a sala às pressas. Quando Fred confirmou que o elevador estava livre, nós descemos e encontramos Shaggy e Scooby-Doo na van dividindo um sanduíche. Após alguns minutos, Fred se juntou a nós.
Fred: E aí, turma, vocês descobriram algo importante?
Velma: Na verdade, descobrimos algo impressionante, você não vai acreditar, Fred. Daphne trouxe uma das amostras de sangue da perícia e Scooby farejou uma trilha até uma sala. Ele sinalizou que havia uma pista em uma cadeira e quando Daphne e eu procuramos, achamos um cartão de visitas igualzinho ao cartão misterioso que encontramos na Liberty!
Daphne: No dia em que Scooby invadiu o restaurante, eu peguei um pedaço do tecido do terno de Alan como amostra. E Scooby farejou Alan na mesma sala em que achamos o cartão. O que prova que Alan esteve no local. Ou então, que no dia do incidente do restaurante, Scooby farejou o mesmo cartão nos bolsos do terno de Alan.
Shaggy: Tipo, nós também procuramos outras pistas na sala, mas não achamos nada além dos nomes nas portas.
Velma: E eu fotografei todos eles. Acreditamos que sejam os nomes verdadeiros dos VIPs.
Shaggy: O Scooby-Doo ficou calmo o tempo todo, ele só se alterou quando pedimos para ele farejar a amostra de sangue.
Velma: Ele se alterou da mesma maneira que ele se alterou no restaurante e no prédio da Liberty. Ou seja, há visivelmente uma ligação entre Alan, a sala secreta da Liberty onde achamos sangue e aquela sala em Applegate Bank onde achamos esse cartão. Só não sabemos exatamente qual ligação.
Daphne: Ou será que sabemos? A ligação é claramente o cartão. O que não sabemos é o significado desse cartão. E você, Freddie, conseguiu descobrir algo durante sua longa conversa com o Sr. Applegate?
Fred: A única coisa que eu descobri é que existe uma pessoa que gosta mais de futebol do que eu.