Fanfics Brasil - Capítulo 16 Scooby-Doo: Wicked Game

Fanfic: Scooby-Doo: Wicked Game | Tema: Scooby-Doo, Round 6


Capítulo: Capítulo 16

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Marcie me acordou cedo porque sentiu cheiro de panquecas, e mesmo eu estando em um estágio intermediário entre o sono profundo e a vigília, eu lembrei que estávamos na casa dos irmãos Rogers, portanto, ninguém cederia nenhum tipo de alimento para nós. Ela, então, decidiu se levantar para se arrumar e conseguir suas próprias panquecas em alguma cafeteria. Assim que ela saiu, eu tentei voltar a dormir, mas meu estômago também queria panquecas, então eu mandei mensagens com meus pedidos de comida para Marcie e torci que ela visualizasse em menos de 24 horas. Quando saí do quarto, a imagem de Shaggy empilhando camadas de panquecas com camadas de ovos com bacon (e depois cobrindo tudo com xarope de bordo, mirtilos e sorvete de baunilha) me fez desistir de tomar café da manhã.


Daphne: Bom dia, Vel. Venha ver o que Flim Flam descobriu!


Eu me aproximei de Daphne com um sorriso largo, demonstrando que eu estava ciente do que havia ocorrido entre ela e Fred na noite passada, mas ela não percebeu a minha indireta.


Daphne: Flim Flam acabou de me enviar um relatório do departamento de pessoas desaparecidas da polícia de Seul, veja esses resultados!


Daphne colocou o celular em minhas mãos, ativou o tradutor e ampliou o documento para que pudéssemos enxergar. Fred e os demais se aproximaram para ver também, como as letras eram muito pequenas, eu li as partes grifadas em voz alta.


Velma: “Em Seul, há cerca de 420 desaparecimentos por ano, todos eles ocorrem no mês de junho…” (…) “Os desaparecimentos sazonais ocorrem desde o ano de 1988,  nenhuma das vítimas foi encontrada novamente com ou sem vida, e nunca houve qualquer pista sobre tais desaparecimentos…”… Jinkies!


Daphne: Exatamente. É um fenômeno tão estranho que a polícia local chama de “temporada de desaparecimentos”.


Fred: Há quanto tempo a Liberty existe? Alguém tem essa informação?


Daphne: Não sei dizer… a Liberty de NY existe há pelo menos uns vinte anos…


Fred: E aquelas transferências de milhares de dólares para a ilha de Silmido? Miller disse que elas sempre ocorrem em maio… desde quando?


Shaggy: Tipo, Biggs disse “há mais de trinta anos”, mas não mencionou quando começou…


Fred: Se as transferências ocorrem há mais de trinta anos, podemos supor que a Liberty também existe há mais de trinta anos. Precisamos saber a data exata do primeiro depósito e da fundação da Liberty. Se for o mesmo ano do início dos desaparecimentos, estamos no caminho certo. Consegue obter essas informações, agente Rogers?


Shaggy: Tipo, é pra já, capitão.


Shaggy pegou o celular e começou a digitar rapidamente. E eu fingi tossir para recuperar a atenção de todos e continuar a leitura. Eles perceberam a minha intenção e se calaram.


Velma: “As vítimas são todos adultos (maiores de 18 anos), e têm perfis tão diferentes entre si que se torna impossível traçar um padrão. Consequentemente, é igualmente difícil identificar potenciais futuras vítimas…” (…)


Fred: É exatamente isso que ocorre com as nossas vítimas, totalmente diferentes umas das outras, inclusive na classe social…


Daphne: Sim! Agora, escutem isso: “…o único tipo de vínculo que existe entre as vítimas são dívidas pessoais. Todos os desaparecidos estavam falidos ou endividados…”


Fred: É o que a Velma concluiu, e agora sabemos que ela estava certa. E o período dos desaparecimentos é o mesmo. Creio que é seguro dizer que as trinta e cinco vítimas orientais que encontramos na passagem secreta da Liberty são uma fração desses 420 desaparecimentos que ocorreram em junho de 2020 em Seul. É, turma, Flim Flam tem razão, só acharemos respostas se trabalharmos junto com a polícia de Seul… se não existe perfis genéticos dessas pessoas, teremos que investigar outras informações.


Shaggy ficou aterrorizado com o que ouviu, grudou no meu braço e escondeu o rosto nos meus ombros.


Shaggy: Hey turma… tipo… nós estamos em junho! E vocês querem ir para a Seul? Estão loucos? E se… e se… nós desaparecermos também?


Fred: Por que você está com medo, você deve algo à Liberty?


Sugie: Não, mas ele me deve duzentos dólares e dois milkshakes.


Shaggy: Hey, você mora de graça no meu apartamento, garota! Nem pense em me cobrar!


Sugie: E você come a minha comida de graça!


Shaggy: Porque você bebe a minha cerveja de graça!


Sugie: E você usa a minha internet de graça!  E também a usa minha senha do Netflix!


Fred: Ok, se nenhum dos dois deve dinheiro à Liberty, não há o que temer.


Daphne: Mas, Freddie, sabemos mesmo se todas aquelas pessoas deviam dinheiro à Liberty? Eu posso ter perdido alguma informação, mas aparentemente apenas Cho Sang-woo e Alan Mayberry são devedores… nós apenas supusemos que essas pessoas devem à Liberty…


Fred: Daphne tem razão, temos certeza que o vínculo entre as vítimas são dívidas pessoais, mas precisamos também ter certeza se todas elas deviam à Liberty…


Shaggy: Tipo, vou procurar isso também… me dêem uns minutos…


Daphne: Se descobrirmos que todas as vítimas deviam à Liberty, então Alan talvez seja um sobrevivente desse desaparecimento em massa em junho de 2020? E talvez seja por isso que ele está querendo processar a Liberty com uma prova falsa e não quer nos revelar o real motivo do processo?


Fred: Se isso for verdade, Alan sabe bem mais do que está nos falando… e também deve saber o que aconteceu com todas aquelas pessoas… por que, onde e quando desapareceram, para onde foram…


Daphne: …e finalmente o mistério seria resolvido!


Velma: O mistério dos desaparecimentos sim. Mas ainda precisaríamos entender o que uma transferência de dinheiro milionária no mês de maio tem a ver com o desaparecimento e morte de centenas de endividados em junho… E depois temos que juntar tudo isso com cartões estranhos, uma ilha deserta e os VIPs…


Daphne: Droga, obrigada por me lembrar que as pistas não fazem o menor sentido e eu odeio esse caso!


Shaggy: Tipo, elas ainda não fazem muito sentido, Daph, mas tudo indica que a direção das respostas que precisamos é o Alan…


Velma: Obrigada por me lembrar, Shaggy. O vínculo com Mayberry eu acho que descobri nesta madrugada enquanto analisava as fotos que tirei em Applegate Bank. Achei aqueles nomes que nós vimos nas portas muito estranhos, então eu supus que eram anagramas. Curiosamente, o anagrama de um dos nomes é “Alan Mayberry”, vejam!


Eu mostrei uma das fotos no meu celular e logo em seguida abri o aplicativo de anagramas para demonstrar a minha teoria. Todos ficaram surpresos com a minha descoberta e Fred pegou o meu celular para ver as demais fotos.


Fred: Então podemos supor que os demais nomes também são anagramas?


Velma: Certamente. Mas não temos pistas sobre o nome verdadeiro dos demais VIPs, então, ainda não fazemos ideia do que exatamente procurar…


Daphne: Que tal Cho Sang-Woo?


Shaggy: Tipo, ou então você pode procurar os nomes das vítimas que Flim Flam achou no Ancestry!


Velma: Confesso que não havia pensado nisso ontem, mas é uma ótima ideia. Vou fazer isso agora mesmo.


Shaggy: Tipo, eu posso te ajudar a fazer isso enquanto eu procuro as informações que precisamos sobre a Liberty e sobre as vítimas…


Daphne: Enquanto isso, eu vou agendar nosso vôo com o piloto do papai… e também a nossa estadia em Seul. Vocês preferem voar em um Dassault Falcon ou em um Bombardier Global?


Felizmente, a expressão de interrogação nos nossos rostos foi o suficiente para fazer Daphne entender que nenhum de nós era multimilionário o suficiente para ter dois aviões particulares e saber a diferença entre eles, então ela simplesmente ignorou a própria pergunta e iniciou o processo de reservar o avião que ela mesma preferia.


Shaggy: Tipo… eu prefiro aviões que sirvam batatinhas, Daph…


Daphne: Certo, vou me lembrar disso, Shags.


Shaggy ficou satisfeito de responder a pergunta (do seu jeito) e eu suspirei ao imaginar que ficaria pelo menos quinze horas ouvindo barulho de salgadinhos sendo mastigados de boca aberta. Pensando bem, acho que sei qual dos dois aviões eu prefiro: aquele em que exista uma grande parede entre eu e Norville mastigando batatinhas.


Fred: Certo, e eu vou continuar trabalhando naqueles cartões. Precisamos ter certeza sobre o significado daqueles números.


 Não ficamos nem dez minutos trabalhando em nossas funções: Marcie logo chegou com meia dúzia de pacotes de comida e pediu para desocuparmos a mesa de jantar para ela servir o nosso café da manhã. O cheiro delicioso que vinha dos pacotes restaurou o meu apetite e imediatamente atraiu Shaggy, Sugie, Amber e Scooby Doo para os arredores da mesa. Scooby e Amber iniciaram seus truques de “dar a pata” para conseguir um pouco daquela comida, e Shaggy e Sugie, apesar de não saberem truque nenhum, começaram a exibir um comportamento canino muito semelhante. Marcie fez uma careta de indignação ao perceber que os irmãos Rogers esperavam receber uma parcela daquela refeição – mesmo após os dois terem comido uns dois quilos de panquecas -, Crystal apenas sorriu e se ofereceu para ir buscar mais comida. Marcie – muito sabiamente - havia comido suas panquecas na cafeteria e foi genialmente estratégica ao colocar na mesa uma porção enorme de bagels e cookies para distrair os irmãos Rogers enquanto Fred e eu engolíamos nossos eggmuffins. Daphne revirava sua salada de frutas e lia a tabela nutricional dos iogurtes enquanto discutia com sua irmã Dawn sobre a disponibilidade do seu avião favorito. Ela não teve tempo de escolher qual o iogurte mais adequado para a sua dieta – porque Shaggy tomou todos – então apenas engoliu algumas colheradas de frutas picadas (que Fred lhe serviu) enquanto gritava ofensas elitistas como “Dawn, eu espero que você volte de Ibiza em um vôo comercial”. Enquanto terminávamos, Marcie levou parte da louça suja até a pia e depois se alojou na poltrona para mexer no celular, Sugie se despediu com pressa e correu para a faculdade.  Obviamente, Shaggy foi o primeiro a terminar o café da manhã – afinal, ele consumiu mais da metade da nossa comida – e se retirou da mesa para começar as suas pesquisas, Fred fez o mesmo e se alojou na mesinha da sala para estudar os cartões, então eu pude ter a mesa de jantar inteira para mim. Quando a briga com Dawn terminou – de maneira vitoriosa, com a nossa viagem para Seul marcada para o dia seguinte às nove da noite e Dawn realocada para a primeira classe de um vôo da British Airways –, Daphne se sentou ao meu lado e minha concentração foi interrompida a cada cinco minutos com o barulho de seu celular vibrando com chamadas de George e Nan Blake que foram prontamente recusadas. De repente, o rosto de Alan Mayberry apareceu na tela, Daphne olhou para mim assustada, esperando uma orientação sobre o que ela deveria fazer. Eu sinalizei para que ela atendesse, então ela aceitou a chamada e correu para um dos quartos. Fred Jones imediatamente ficou de mau humor e suspirou bem alto enquanto bateu com o punho fechado na mesinha. Shaggy se assustou com a batida e se virou – apenas para olhar para mim e sinalizar para que eu tomasse alguma atitude. Eu suspirei, salvei os meus arquivos no notebook e fui até a maldita mesinha prestar alguma solidariedade.


Velma: Só queria lembrar que não existe nada entre você e a Daphne, então o seu ciúme é abusivo, machista, obsessivo, irracional, imoral e infantil. Também não existe nada entre ela e o Alan, o que torna seu ciúme também muito imbecil.


Fred suspirou novamente e abaixou os olhos, Shaggy olhou para mim indignado, gesticulou para expressar que minha intervenção foi inadequada e sussurrou: “não era essa a ajuda que eu estava pedindo, Velma!”. Eu suspirei e tentei sentir alguma empatia por aquele que roubou mais de cem soluções de mistérios minhas.


Velma: Olha, Fred, eu não sei exatamente o que te dizer porque realmente não há mais o que se dizer em relação a isso. Não há nada que Shaggy, eu ou Marcie possamos fazer, a única pessoa que pode mudar tudo é você. Ao invés de ficar se torturando e sentindo medo de possibilidades de fracasso que talvez jamais irão se concretizar, por que você não fala com ela? Por que não diz como se sente? Ou pelo menos deixa a Daphne te falar como ela se sente? Já faz dez anos desde o Ensino Médio, Fred… e tudo continua tão confuso entre vocês… vocês discutem e logo em seguida dormem de mãos dadas, vocês não namoram e mesmo assim cuidam tão bem um do outro, você sente ciúmes dela e ela faz de tudo para estar perto de você… sabe, eu acho que está mais do que na hora de vocês dois esclarecerem o que sentem e…


Daphne entrou na sala de repente e me interrompeu mostrando a palma de uma das mãos, em um sinal para que todos nós parássemos de falar por um momento. Ela, então, colocou a chamada no modo viva voz e permitiu que todos nós ouvíssemos a conversa. Shaggy foi mais rápido, ligou o gravador do próprio celular e se aproximou para gravar tudo.


Alan: …e eu estou aliviado de saber que o FBI está cuidando de tudo agora. Certamente a justiça será feita e os monstros envolvidos serão expostos e punidos…


Daphne: Alan! Como pode ficar aliviado? O FBI roubou o meu caso sem a minha permissão, era para a NYPD tomar conta de tudo! E agora que o FBI está no controle, eles estão conduzindo tudo de maneira totalmente errada! Você viu as notícias? Nós sequer formalizamos o processo e a mídia está tratando tudo como um caso solucionado! As coisas não terminaram ainda, descobrimos coisas sobre a Liberty…


Alan: As notícias são terríveis, não? NY está em choque. Quem diria que o velho Applegate seria capaz de coisas tão hediondas…


Daphne: Alan! Isso tudo é mentira, Applegate não está nem minimamente envolvido! Além disso, estão culpando papai também, meu pai sequer sabia que você havia roubado dinheiro de Blake Bank, como pode estar envolvido? Nada do que estão divulgando é verdade, começamos esse caso para punir a Liberty por seus crimes financeiros, por que agora tudo se virou contra meu pai e Applegate? Como isso pode ser justo?


Alan: O mundo é injusto e a verdade é relativa, Daphne. É como eu disse ontem, entre os tubarões financeiros a moral é uma linha muito tênue que se rompe a todo momento. Tudo o que importa é a manutenção de poder e de fortunas…


Daphne: Papai não é assim, Alan, você o conhece, trabalhou para ele!


Alan: Eu sinto muito que tenha descoberto da pior forma que o dinheiro que compra a sua coleção de bolsas Chanel veio órgãos clandestinos retirados de pessoas endividadas, Daphne. Mas não se sinta mal por isso, você ficaria chocada se soubesse quantos magnatas amigos de sua família compram jatinhos e ilhas particulares com dinheiro sujo de drogas… ou roubando do governo aquele dinheiro precioso que os pagadores de impostos pagam, é assim que as coisas funcionam… presas têm que ser sacrificadas para que predadores existam, assim como cidadãos têm que se sacrificar de diversas formas para que bilionários existam, é muito simples de entender… Ora, não seja inocente, nós dois sabemos que existem vários Jeffrey Epsteins por aí que jamais serão expostos e punidos…


Daphne: MEU PAI NÃO É COMO JEFFREY EPSTEIN! NEM STEVEN APPLEGATE! NÓS DOIS SABEMOS QUE A LIBERTY É RESPONSÁVEL POR TODOS OS CRIMES QUE ESTÃO DIVULGANDO, ALAN!


O grito de ódio de Daphne nos assustou e creio que também pegou Alan de surpresa, uma vez que ele fez uma pequena pausa antes de falar. Esse pequeno silêncio permitiu que ouvíssemos um barulho semelhante a um clique na chamada telefônica, e Fred imediatamente nos olhou com preocupação e se aproximou do celular para conseguir ouvir melhor.


Alan: Hey, Daphne, se acalme! Desculpe se minhas palavras te abalaram, eu realmente não tive a intenção…


Daphne: Não teve a intenção? Como pode insinuar que papai é um criminoso, Alan? Como pode comemorar a injustiça que a mídia está cometendo nesse momento ao condená-lo, sendo que foi você mesmo que transferiu o dinheiro dele para a Liberty…


Alan: Não estou comemorando, Daphne, apenas estou tentando fazer você entender que as coisas nem sempre são o que parecem… e que magnatas fazem absolutamente qualquer coisa para manter a sua fortuna, acredite, eu trabalhei a minha vida inteira nesse meio e sei do que estou falando… bem, eu mesmo cometi erros gravíssimos, perdi meu dinheiro e depois roubei para recuperar minhas perdas…


A pequena confissão de Alan fez Daphne se acalmar e ficar em silêncio por um momento, e novamente pudemos ouvir o tal clique durante a chamada. Desta vez, o clique foi tão evidente que Shaggy e Fred se olharam, e a expressão no rosto deles dizia que estavam pensando a mesma coisa.


Alan: …e aqui estou, tentando processar a Liberty por erros financeiros que eu mesmo cometi para recuperar um dinheiro que eu mesmo roubei. Entende, querida? É assim que funciona a elite. Somos inatingíveis e sabemos disso. Por isso sugeri que – talvez – homens de prestígio mundial como seu pai e Steven Applegate não sejam exatamente aquilo que você imagina… quero dizer… você quase não vê o seu pai, ele mal fala com você, como pode ter tanta certeza de que ele é realmente essa pessoa honrada que você imagina?


Daphne suspirou e ficou sem palavras, e tudo o que ouvíamos eram cliques. Fred imediatamente pegou uma caneta e rabiscou em uma embalagem de papelão vazia: “cuidado com o que fala, a chamada está grampeada”. Daphne nos olhou com espanto e tinha lágrimas nos olhos. Eu peguei a caneta das mãos de Fred e escrevi logo abaixo: “não diga nada, deixe Alan falar”.


Daphne: Alan… eu… eu tenho certeza de quem o meu pai é… e eu digo isso não apenas porque o meu coração sente… não há provas do envolvimento dele com todo esse escândalo…


Alan: E aquela transferência de dinheiro para Silmido, Daphne? 


Daphne: Uma transferência que você me falou a respeito, e que eu descobri que ocorre há anos no mês de…


Fred apertou o braço de Daphne para fazê-la parar de falar sobre nossas descobertas, ela gaguejou ao perceber que tinha falado demais e reformulou sua resposta.


Alan: Então a transferência ocorre há anos? Como você sabe disso? Realmente, eu te falei sobre a transferência porque achei aquilo muito estranho, mas não tinha a informação de que havia outras…


Daphne: Sim, existiram outras, mas eu não sei muito a respeito delas… eu só sei que não foi Sang-woo porque a chave que autorizou a transação não é a chave dele, por isso eu acho muito suspeito que você saiba sobre a existência dessa transferência bancária e esteja tentando incriminar um inocente por isso…


Alan: A transação foi feita por um código especial, Daphne… algo que só bancos têm acesso… temos aqui dois banqueiros acusados, não acha um pouco suspeito?


Daphne: Temos também o CEO de uma fintech e uma meia dúzia de investidores experientes que Applegate chama de “VIPs”. Pessoas qualificadas que saberiam não apenas fazer essa transação, como também teriam motivos para fazê-la…


Desta vez Fred apertou uma das mãos de Daphne para fazê-la parar de falar, e logo em seguida gesticulou para que ela encerrasse a chamada.


Daphne: Desculpe, Alan, eu tenho que desligar, eu preciso falar com os advogados do meu pai… mais tarde nos falamos…


Alan: Ok, querida… nos falamos mais tarde…estou orgulhoso que tenha conseguido uma resposta tão rápido para o nosso caso… bom trabalho…


Daphne revirou os olhos, encerrou a chamada sem se despedir e começou a pronunciar seus xingamentos de jardim de infância contra Alan Mayberry.


Velma: Jinkies, definitivamente Alan não é uma vítima dos VIPs e da Liberty… muito menos um sobrevivente dos desaparecimentos misteriosos em Junho de 2020 em Seul… ele parece estar bem confortável com a ideia de que a Liberty, Blake Bank e Applegate Bank estão na mira do FBI e da mídia…


Shaggy: Bem confortável? Tipo, ele praticamente estava acusando o pai da Daphne bem na cara dela para ver se ela dizia algo comprometedor… e, tipo, provavelmente ele estava gravando a conversa para divulgar como prova…


Daphne: Aaaargh! Aquele desgraçado, atrevido, mal-caráter!


Fred: Acho que isso comprova a sua teoria de que Mayberry é um dos VIPs, Velma… afinal, tudo o que Steven Applegate nos contou sobre difamação midiática e atuação do FBI está acontecendo novamente…


Velma: E se ele está do lado dos VIPs e confessou que o processo que tentou mover contra a Liberty era uma farsa para recuperar um dinheiro que ele mesmo perdeu, podemos concluir que a motivação real era derrubar Blake e Applegate e beneficiar a própria fintech…


Fred: E as fintechs dos demais VIPs. Agora só precisamos descobrir quem são os outros VIPs.


Shaggy: E, tipo, descobrir o que 38 milhões que vão para uma ilha deserta todo ano têm a ver com mais de 400 desaparecidos em Seul que viraram órgãos clandestinos em hospitais da elite americana…


Shaggy não teve a intenção de desmoronar nossa linha de raciocínio com aquele comentário, mas infelizmente foi exatamente isso que ele fez. Todos nós suspiramos profundamente para liberar parte da enorme frustração que sentíamos ao saber de tantas coisas, mas, ao mesmo tempo, não conseguir dar sentido nenhum a todas elas juntas.


Fred: Bem… é… é bem óbvio que deve ser um esquema de tráfico de órgãos… deve ser uma das maneiras sujas que os VIPs fazem dinheiro…


Daphne: A única coisa que é bem óbvio é que estamos andando em círculos, nada disso faz sentido e é o fim da linha para a família Blake…


O comentário sombrio de Daphne nos espantou. Geralmente, ela é a otimista do grupo, e vê-la tão desesperançosa foi como receber mais uma pá de terra em nosso moribundo mistério. Irritada, Daphne jogou o celular no sofá e correu para o quarto com lágrimas nos olhos. De longe, pude ver que o motivo de tanta tristeza eram as notícias terríveis que ela leu sobre seu próprio pai nos principais portais jornalísticos. Nós nos levantamos para ir atrás dela, mas quando eu estava no meio do corredor meu celular tocou e indicou a chamada de um número desconhecido. Quando eu atendi, uma mulher que se identificou como perita forense do FBI pediu para se reunir comigo no departamento, para que eu pudesse detalhar sobre o que encontrei na Liberty e pudesse lhe entregar as amostras de sangue e DNA. Eu concordei e combinei a reunião para depois do almoço, não sei explicar o motivo, mas naquele momento eu senti uma sensação estranha, de que algo estava errado, algo como uma pulga atrás da orelha. Norville estava por perto e ouviu parte da conversa, por isso opinou.


Shaggy: Tipo, que bizarro… pensei que eles já soubessem de tudo… afinal, a mídia está falando disso a todo momento…


Novamente, Shaggy não teve a intenção de causar impacto, mas aquele comentário fez a minha pequena pulga atrás da orelha se tornar um carrapato. Fiquei tão desconfiada que procurei o nome da tal agente no Google para confirmar se ela realmente era real… de fato, ela existia, era mesmo um dos grandes nomes da perícia do FBI (mesmo tendo estudado em uma faculdade medíocre)… mas, ainda assim, algo parecia errado. Com Daphne trancada no quarto e se recusando a abrir, Fred se voltou para mim e questionou o que estava acontecendo.


Velma: Uma perita do FBI me ligou pedindo explicações sobre as amostras e eu agendei uma reunião com ela logo após o almoço e…


Fred: E…?


Velma: Eu não sei… acho que perdi alguma coisa, porque achei estranho ela estar pedindo detalhes agora, sendo que a mídia está divulgando esses detalhes desde ontem à noite…


Shaggy: Tipo, muitos detalhes…


Shaggy nos mostrou uma série de manchetes de acusavam Blake e Applegate de envolvimento com fraudes financeiras, tráfico de órgãos e lavagem de dinheiro, algumas manchetes até citavam que as vítimas eram sul-coreanos pobres que tinham dívidas com a Liberty.


Shaggy: E, tipo, que bizarro!  Nós acabamos de descobrir que as vítimas estavam endividadas… e a Daphne acabou de perguntar se todas as vítimas deviam à Liberty, porque isso a gente também não tem certeza ainda…


Fred: Eu ainda não sabia sobre as dívidas das vítimas quando comuniquei o FBI… aliás, eu nem tinha certeza de que todos eram sul-coreanos, quando Daphne e eu chegamos ao departamento a Velma mencionou que – supostamente - eles eram de origem asiática…


Shaggy: Tipo, e eu me lembro de que Alan disse para a Daphne: “o dinheiro das suas bolsas veio de órgãos de pessoas endividadas”.


Shaggy imediatamente recorreu à gravação que fez da conversa entre Alan e Daphne para provar o que disse, e o áudio confirmou. Nós nos olhamos desconfiados e a pequena pulga atrás de minha orelha se tornou um percevejo. Antes que qualquer um de nós pudesse dizer qualquer coisa, o telefone de Daphne tocou na sala, a porta se abriu e ela correu para atender. Corremos atrás dela pensando que era Alan novamente, mas aparentemente era apenas o gerente do Waldorf Astoria confirmando uma reserva em uma de suas melhores suítes.


Daphne: Eu preciso ir, gente. Papai conseguiu uma suíte para mim e eu preciso muito de um longo banho e uma cama macia para esquecer os todos esses horrores… nos vemos à noite?


Fred: Não, espera! Daph… a Velma… tem uma… entrevista… com uma perita do FBI… depois do almoço… então, poderíamos almoçar todos juntos por minha conta, que tal? E depois vamos juntos ao departamento, não podemos deixar a Velma sozinha, pode ser uma armadilha… é importante que fiquemos juntos agora…


Daphne deu de ombros e Shaggy aceitou o convite de forma canina enquanto eu disfarçadamente pisei no pé dele para sinalizar que ele não deveria aceitar a sugestão de Fred.


Velma: Sinto muito, mas já tenho planos. Marcie vai para a casa dos pais dela na Flórida às 2 da tarde e eu gostaria de almoçar com ela hoje.


Daphne olhou desconfiada para Shaggy – que ficou de mau humor por ter que recusar comida grátis – e aguardou que ele desse a sua desculpa para não ir. Shaggy não achou nenhuma desculpa plausível – afinal, todos sabíamos que ele não recusaria comida nem se a vida de sua própria mãe dependesse disso -, então Daphne logo percebeu que tudo era apenas uma armação para que ela e Fred tivessem algum tempo juntos.


Daphne: Desculpe, Fred, eu terei que recusar… não estou em um bom momento… eu também estive pensando muito nas coisas que aconteceram nos últimos dias… e também em tudo o que eu ouvi você dizer… e… eu acho que está na hora da gente se afastar um do outro… acho que será melhor para nós dois… se cada um de nós ficar, você sabe, em seu próprio mundo…


Ninguém esperava ouvir aquilo, então nossa reação foi pateticamente a mesma. Fred não conseguiu dizer nada, apenas a segurou pelo pulso e olhou aflitamente para os olhos dela, esperando que ela desistisse de sair. Daphne o encarou em silêncio por um momento, e quando percebeu que ele não iria dizer nada, ela soltou o pulso das mãos dele e caminhou até a porta.


Fred: Espera, Daph! Não é seguro ficar sozinha nesse hotel agora que o escândalo está na mídia, é perigoso para você… você também é uma Blake, esqueceu?… acho melhor… você… ficar… comigo…quero dizer, ficar na minha casa…na minha casa, não comigo… como amigos… como bons amigos… você não acha?


Involuntariamente, Daphne novamente fez cosplay da própria mãe e direcionou a Fred Jones o olhar mais frio que já vi em minha vida.


Daphne: Fred, eu agradeço sua preocupação, mas está mais do que na hora da gente aprender que amigos não dormem juntos…


Sem expressar nenhuma emoção nem se despedir, Daphne passou por nós e saiu pela porta. No mesmo momento em que ela saiu, Crystal chegou com uma sacola de comida e várias bandejas cheias de um sorvete verde de sabor único e misterioso, o favorito da nossa infância. Com a mesma frieza, Daphne pegou um sorvete da bandeja de Crystal sem dizer uma palavra e desapareceu pelas escadas. Shaggy se esqueceu do momento tenso imediatamente e saltou em cima das bandejas com a mesma alegria canina que exibiu anteriormente. Marcie e eu nos olhamos e depois olhamos para Fred, que ainda estava petrificado.


Crystal: Vocês não vão acreditar no que eu achei perto do Mc Donalds da Fulton St.! Fruitmeir! Era o favorito de vocês também?


Shaggy: Tipo, continua sendo o meu sorvete favorito!


Velma: Qualquer sorvete é o seu favorito, Shags…


Fred não quis o sorvete dele e Shaggy comeu tudo antes que eu insistisse para que ele pegasse. Com o fim dos sorvetes, finalmente pudemos voltar às nossas funções, Shaggy voltou ao computador para fazer suas pesquisas, Fred se instalou na mesinha da sala com os cartões e eu dividi a mesa com embalagens vazias de iogurte e sorvete que estavam irritantemente sendo lambidas por Scooby-Doo. Infelizmente, o barulho que Scooby fazia não era o único motivo que perturbava a minha concentração, minhas emoções também estavam à flor da pele devido aos acontecimentos dos últimos dois dias. O ciúme começou a me cutucar quando vi Marcie e Crystal conversando e vendo séries no sofá, e somando tudo isso ao cansaço de uma noite mal-dormida e toda a paranoia de ter que solucionar um caso que está nas mãos de agentes corruptos do FBI, não havia como sustentar a concentração por mais do que dez minutos. Fred também não parecia produtivo, tudo o que ele fazia era olhar para o vazio com uma expressão aflita e contrariada que – confesso – me deu muita pena. O único empolgado com a investigação era Norville.


Shaggy: Tá na mão, turma! Ouçam isso: Liberty foi fundada em fevereiro de 1988, o primeiro depósito nas contas de Silmido foi em maio de 1988, o dinheiro sempre sai de contas bancárias que a Liberty é dona e depois vai para essa mesma conta em Silmido, ano passado foi o primeiro ano que a Liberty usou contas do Banco Applegate para fazer a transferência e isso é bem estranho, agora eu vou jantar porque estou fudido de fome e daqui a pouco faço uma chamada de vídeo para te explicar o resto!


Shaggy só percebeu o sentido da frase final que disse quando terminou de ler a mensagem na tela e deu um sorriso sem graça para nós. Eu estiquei meu pescoço e pude ver que a “pesquisa” dele, na verdade, era uma mensagem de Flim Flam.


Velma: Uau, eu não sabia que a NYPD fazia pesquisas no Discord usando um avatar do Naruto! Bom trabalho, Shags…


O meu comentário irônico irritou Norville e fez Fred rir, e eu senti um pouco de alívio por isso.


Shaggy: Respeite as minhas fontes, viu mocinha? O Discord tá melhor que muitos chans por aí, entendeu?


Fred: Eu respeito muito! Afinal, sua descoberta confirma a nossa teoria de que os desaparecimentos estão mesmo relacionados aos depósitos milionários em Silmido. E o fato de que contas da Applegate Bank foram usadas apenas no ano passado pode sugerir que a operação do FBI contra Applegate Bank foi realmente uma armação para levar Steven à falência…


Velma: E, consequentemente, que a operação atual contra George Blake também foi uma armação. Muito bem, Shaggy!


Fred: É, parece que a geração Z da Interpol está conseguindo dar algum sentido ao nosso mistério, bom trabalho Shaggy!


Shaggy: Falando em sentido, ouçam essa informação aqui que fui eu mesmo que achei agorinha, vejam: todas as notícias que falam sobre o envolvimento de Blake e Applegate com tráfico de órgãos citam que as amostras foram colhidas no saguão de entrada da Liberty, e todos nós sabemos que não foi lá que nós achamos o sangue… tipo, bizarro, né? Primeiro eles falam dos endividados antes mesmo da gente saber disso, agora divulgam que as amostras foram achadas no lugar errado…


Fred: Mais um indício de que as informações que a mídia e o FBI divulgaram não vieram do NYPD… eu não me lembro de mencionar locais quando contatei os federais…


Shaggy: E tipo, mais um indício de que o escândalo foi montado… vejam essa notícia aqui, médicos confessaram que receberam 250mil pelos transplantes, mas não tiveram seus nomes divulgados, nem foram presos por isso… tipo, parece muito uma false flag…


Velma: Jinkies! Eu acho que disse exatamente isso para Alan no apartamento da Daphne!


Shaggy: Tipo, como assim?


Velma: Alan viu a pilha de papel nas mãos de Daphne e exigiu que ela mostrasse folha a folha a ele. Ficamos desesperadas, pois os relatórios da perícia e o cartão que achamos em Applegate Bank estavam lá no meio. Então, quando Alan questionou sobre a perícia do sangue, eu menti e disse que encontramos as amostras no Hall de entrada…


Fred: Então foi Mayberry que divulgou os detalhes da operação para a mídia?


Velma: Talvez ele até tenha informado o FBI. Afinal, sabemos que ele é um VIP.


Fui interrompida pelo barulho de mensagens recebidas em meu celular, e ao verificar eu vi que era Daphne. Ela avisou que a família Blake organizou um jantar no hotel em solidariedade à George e nos convidou para participar. No momento em que eu aceitei o convite pude sentir Fred Jones esticando o pescoço para tentar ler o conteúdo da mensagem. Logo em seguida, Marcie veio até mim e me lembrou que já estava na hora de irmos, pois nossa reserva era até às 12h15.


***


            Ao fim do almoço, Marcie e eu voltamos para casa para terminar as malas dela. Inexplicavelmente, Fred Jones se ofereceu para levar Marcie até o aeroporto e depois me levar para a reunião com a perita do FBI no departamento – e eu aceitei, porque ele estudou bem menos que eu e ganha bem mais só pelo fato de ser homem, então eu acho justo que ele pague pela gasolina da sua melhor subordinada. Quando abracei Marcie na fila do embarque, um enorme aperto em meu peito quase me sufocou. Nunca fui sentimental o suficiente para chorar em despedidas, mas quando me despedi de Marcie, um nó na garganta deixou os meus olhos marejados. Não soube explicar logicamente o que era aquilo, nem a motivação daquele sentimento – Daphne diria que era a minha intuição -, mas eu senti algo muito ruim naquele adeus. Marcie me abraçou com força, e quando me soltou eu percebi que ela também tinha lágrimas nos olhos.


            Marcie: Credo, Vel, senti um aperto no peito quando te abracei! Parece que a minha intuição está dizendo que algo ruim vai acontecer em breve…


Velma: É claro que algo ruim vai acontecer em breve: você vai chegar no parque de diversões dos seus pais na Flórida…


Nós duas rimos da piada, mas o riso não foi o suficiente para desfazer aquele sentimento estranho que me sufocava.


Marcie: É sério! Prometa para mim que vamos nos ver em duas semanas! E que você vai tomar muito cuidado!


Velma: Só se você prometer que não andará em nenhum daqueles brinquedos sexagenários…


Novamente rimos e nos envolvemos em um abraço final bem apertado antes de Marcie sumir pelo corredor que conduzia até o avião. O desconforto indefinido em meu peito aumentou e confesso que senti um pouco de medo do possível significado daquilo. Apesar de não acreditar nessas coisas, em minha experiência profissional eu já ouvi diversos relatos de pessoas que sentiram esse tipo de sensação ruim antes de se tornarem vítimas de crimes, acidentes e sequestros, por isso estremeci de imaginar que aquilo seria um mau agouro sobre a nossa viagem para Seul no dia seguinte. E cinco dias depois daquele abraço, eu me odiei eternamente por ser tão cética.


***


            O caminho para o departamento só não foi mais patético porque foi silencioso. Eu lutei para empurrar aquele sentimento estranho para o lado do meu cérebro onde fica a negação, e quando tive algum sucesso, tratei de recalcar o mau agouro e todo o resto. Durante meu conflito pessoal, fui interrompida diversas vezes por perguntas e comentários idiotas de Fred, e todos eles tangenciavam de alguma forma o assunto “Daphne”. Era a forma dele de demonstrar que queria falar sobre o assunto e sobre os próprios sentimentos, mas a testosterona e a masculinidade tóxica lhe impediam. Confesso que não fui compreensiva – afinal, eu também estava lutando contra meus próprios preconceitos e demônios – e desviei de todas as tentativas de falar sobre Daphne até que Fred foi objetivo.


            Fred: Se você quiser conversar sobre o que aconteceu na casa do agente Rogers agora há pouco…


            Eu suspirei e olhei para ele com certa compaixão porque sabia exatamente quão irritante era sentir coisas profundas com o coração e negá-las até a morte com a moral e os princípios racionais.


            Velma: Fred, você tomou um fora dela… o seu primeiro fora… se os reles mortais conseguem lidar com isso, você também consegue… nós dois sabíamos que uma hora isso iria acontecer… e eu…


            Eu me contorci para não dizer “eu avisei” porque seria insensível até mesmo para os padrões Velma de insensibilidade, mas ele entendeu o significado subentendido do que comecei a dizer.


            Fred: Não foi um fora… a Daphne está passando por um momento difícil… assim que resolvermos esse mistério tudo vai ficar bem…


            Velma: Isso mesmo, ignore o problema e ele irá desaparecer, é uma ótimo estratégia… muito racional também…


            Fred: Velma, eu conheço a Daphne há uns 20 anos… ela não é simplesmente minha amiga, ela é parte da minha vida… e isso nunca aconteceu antes, então é claro que esse mistério está a abalando e fazend…


Velma: Será que o problema realmente não é esse, Fred? Você a conhece há tanto tempo, a ponto dela ser parte da sua vida, mas não consegue sequer dizer para ela que ela não é uma simples amiga?


Fred entrou no “modo reflexão” e não me respondeu pelos próximos cinco minutos. Infelizmente, ele se livrou de ter que formular uma resposta porque logo em seguida o carro parou em frente ao departamento e nós descemos. Shaggy nos esperava na entrada sozinho e acenou ao nos ver. Ao passar pela recepção, fui informada que a equipe de perícia do FBI me aguardava na sala de reuniões do quinto andar, Fred sinalizou que me acompanharia na reunião e nós três caminhamos até o elevador. Antes que eu pudesse entrar no elevador, um dos agentes correu até mim, segurou o meu braço e me impediu.


Myers: Velma Dinkley, chefe da perícia?


Velma: Sim, sou eu…


Myers: Agente Myers do Departamento de Inteligência. Por favor, venha comigo, o agente Miller está desesperadamente procurando por você…


Fred e eu nos olhamos e seguimos o agente Myers até uma sala do Departamento de Inteligência onde Miller e outros colegas da perícia me aguardavam.


Miller: Doutora! Graças a Deus achei você!


Velma: O que houve, Miller?


Miller: A perícia dos federais está desesperada atrás dessas amostras, eles estão interrogando todos os agentes da perícia como se fossem terroristas. Eu não achei certo entregar tudo isso a eles antes de consultar você, ou antes de você me autorizar a fazer isso, por isso eu trouxe tudo o que temos… e agora deixo a seu critério, você decide se deve entregar ou não a eles… sei que você vai conversar com a equipe do FBI agora, então acho que você é a pessoa mais adequada para expor as nossas descobertas…


Miller então tirou duas pilhas de papéis de uma pasta e me entregou. Logo em seguida, colocou duas maletas da perícia em cima da mesa e empurrou em minha direção…


Fred: Está dizendo que não divulgou nenhum detalhe da perícia na Liberty para os agentes do FBI? Nem mesmo sobre as vítimas?


Miller: Não, capitão…


Myers: Ué, então como eles sabem tanto?


A pergunta simples do agente Myers foi o veredicto do longo julgamento que havia começado quando a perita me ligou de manhã e agendou a reunião: Sim, alguém revelou os detalhes da nossa operação para a mídia e para o FBI.


Shaggy: Tipo, porque os verdadeiros criminosos contaram para eles, Myers…


Myers: Mas o capitão Jones não havia passado o caso para os federais?


Miller: Ontem mesmo você me pediu uma cópia de tudo, não foi, Jones?


Fred: Sim… mas… eu… não… dei tantos detalhes… quando repassei… e a cópia… era… para a Velma…


Fred gaguejou ao perceber que ainda havia certo rancor em todos nós por ele ter feito aquilo. Como tudo indicava que o erro que ele cometeu na noite anterior não foi o responsável pelo escândalo midiático, eu cuidei de provar a inocência do nosso capitão.


Velma: Fred, me empresta seu celular um momento? Fica tranquilo, eu não vou ver as fotos que você recebe nem o seu histórico de internet imundo…


Fred: Eu gostava mais de você quando você não tinha habilidades sociais o suficiente para fazer piadas… essa nova Velma é uma merda…


Por sorte, minha piada fez todos rirem um pouco e o rancor desapareceu. Ao mexer no celular de Fred, vi que a ligação para o FBI ocorreu às 8h40 da noite do dia anterior e mostrei o registro para todo mundo. Miller e Shaggy riram de maneira tensa ao verem a minha evidência.


Miller: Isso não é possível! Tem certeza que o relógio desse celular não está adiantado? O FBI chegou na Liberty bem antes das 8 e ordenou o fim da nossa operação, não é Rogers?


Shaggy: Tipo, bem antes! Às 7h43 eu estava comprando hambúrgueres para mim e para o Scooby Doo no Burguer King…


Shaggy comprovou o que disse com a nota fiscal de um restaurante.


Fred: O celular está certo, porque 7h20 nós chegamos ao apartamento da Daphne e logo em seguida vocês duas subiram… eu me lembro de ter visto a hora no painel do carro…e quando vocês saíram eu fiquei o tempo todo mexendo no celular… o horário está correto…


Miller: Então se não foi você, capitão, quem repassou as informações? Quem saberia tanto sobre o caso a ponto de poder divulgar? E também teria tanta influência para fazer isso?


Velma: Ora, quem divulgou foi a pessoa que criou esse caso e todas as informações que descobrimos… uma pessoa que sabia que o caso iria explodir na mídia e os envolvidos seriam massacrados pela opinião pública, por isso ele foi até o apartamento da Daphne exigir explicações e fingir que também era uma vítima de toda a sujeira…


Shaggy: Tipo, uma pessoa que tentou grampear a Daphne para conseguir alguma informação comprometedora e usar como prova?


Fred: Isso mesmo. Alan Mayberry.




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Autor(a): kendrakelnick

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