Fanfics Brasil - Capítulo 18 Scooby-Doo: Wicked Game

Fanfic: Scooby-Doo: Wicked Game | Tema: Scooby-Doo, Round 6


Capítulo: Capítulo 18

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Fred e eu chegamos à entrada do Waldorf Astoria no horário combinado. Eu notei certo desconforto em Fred em ter que seguir todos os protocolos da elite – incluindo ter que entregar o carro a um serviço de valet parking de 60 dólares -, mas eu o ignorei deliberadamente para que aquela discussão idiota sobre “entende por que eu não quero isso para a minha vida” não viesse novamente à tona. Não muito tempo depois, eu fiquei impressionada de ver Crystal se aproximando de mãos dadas com uma versão magrela e de 1,92m de altura de Tom Holland segurando um cão pateta e marrom que parecia sorrir. Norville sempre fica muito bonito quando se arruma, se penteia e se barbeia… mas ele nunca faz isso. Enquanto os garotos se cumprimentavam, Crystal me enviou uma mensagem de texto rápida que dizia: “consegui convencê-lo a cortar e pentear o cabelo, fazer a barba e colocar uma camisa. Não tentei convencê-lo a deixar o cão no canil senão certamente ele terminaria comigo”. Eu apenas lhe agradeci pelo milagre e sorri.


Shaggy: Tipo, vocês dois não venham me falar que não era para eu trazer o Scooby! Esse hotel é pet-friendly, eu pesquisei!


Não sou especialista no assunto, mas acho que o conceito pet-friendly se refere a permitir a presença de gatos e cachorros que tenham menos de 1m de altura e 45kg. O que não é o caso de Scooby-Doo. Obviamente, a presença de um cão do tamanho de um lobo e a ausência de milhões de dólares em nossas contas pessoais certamente foram os fatores que atraíram olhares de desprezo e fizeram a nossa recepção não ser tão calorosa quanto gostaríamos. O tratamento, entretanto, mudou totalmente quando Daphne nos abraçou com alegria e nos apresentou aos demais como “seus amigos de infância”. É, talvez Fred tenha razão, eu também odeio toda essa merda.


Daphne: Que bom que chegaram cedo! Eu não aguentava mais ficar aqui sozinha, acreditam que a minha família ainda não chegou?… venham, vamos entrar…


 


 


Quando entramos no grande salão, a visão de um amplo buffet fez Shaggy e Scooby se afastarem imediatamente de nós. Eu me sentei à mesa reservada para nós na primeira oportunidade que tive, desejando mortalmente ficar invisível aos cumprimentos falsos que eu estava recebendo. Crystal fez o mesmo, porém, as razões para ela querer ficar invisível obviamente tinham a ver com o seu namorado dividindo uma panacota com um cachorro - e em seguida lambendo a calda que estava no prato, assim como o cão. Por ser o famoso capitão da NYPD, Fred foi o único simpático que permaneceu apertando mãos e sorrindo de forma artificial durante quinze ou vinte minutos. Não senti pena dele, afinal, ele é a porra do capitão, ele que nos represente. Quando os multimilionários enxeridos deixaram de se aproximar para querer saber quem eram os quatro pobretões com quem a Daphne insiste em manter uma amizade, Fred finalmente se sentou. Uma fração de segundo depois, Daphne o pegou pelas mãos, sinalizando para que ele se levantasse. Mesmo sem entender, Fred obedeceu e Daphne o puxou pela gravata até que seus corpos ficassem a menos de dez centímetros um do outro. A atitude dela o paralisou e o desarmou totalmente, tudo o que Fred fez foi intercalar seu olhar assustado entre os lindos olhos verdes que lhe olhavam fixamente e a boca volumosa pintada de vermelho. Daphne, porém, ignorou os sinais não-verbais óbvios que ele estava emitindo e não esboçou nenhuma expressão corporal que denotasse consentimento para um beijo acontecer. Ao invés disso, ela sorriu e começou a fazer manobras incompreensíveis com a gravata dele, formando um nó mais bem feito que o anterior. Fred então corou e ficou visivelmente envergonhado por ter deixado suas emoções e desejos transparecerem por alguns segundos. Quando Daphne finalmente o soltou e ajeitou a gola de sua camisa, ele tentou novamente fingir ser inabalável. Mas acho que apenas ele acreditou naquela atuação medíocre.


Fred: Ah… o nó… eu sempre me esqueço como fazer… eu não consigo aprender… na verdade, eu não quero fazer e eu não ligo para isso… acho todas essas frescuras uma merda…


Não consegui decifrar o olhar de Daphne para saber se ela havia se ofendido ou não, apenas detectei uma força irredutível no pequeno sorriso de deboche que os lábios dela formaram logo após o “insulto”.


Daphne: Tudo bem se você não souber “essas frescuras”, Freddie, eu faço “essa merda” para você se você precisar… ok?


Eu pensei que minha mente estava me pregando peças ao ouvir Daphne dizer um palavrão (sim, merda é um palavrão para ela) pela primeira vez na vida, mas quando eu olhei para a expressão chocada no rosto dele (e de outras pessoas da elite ao nosso redor), eu percebi que eu realmente tinha ouvido aquilo. Fred então riu e não conseguiu manter seu papel indiferente por muito tempo. Era impossível não sentir nada, Daphne era apaixonante demais.


Daphne: Turma, antes de nós falarmos sobre as novidades, eu preciso mostrar algo incrível para vocês.


Nas condições normais de temperatura e pressão, “algo incrível” para Daphne era achar um desconto de dez mil dólares em alguma jóia da Sotheby´s, mas como estávamos lidando com uma máfia internacional de bilionários psicopatas, por um minuto eu nutri a esperança de que se tratava de algo sério. E eu me enganei completamente.


Daphne: Eu sei que essa situação é bastante triste e perigosa, mas eu estou adoraaaaaaaando ver as minhas irmãs serem canceladas no Instagram, vejam isso!


Daphne começou descontroladamente a ler a enxurrada de comentários negativos que suas irmãs receberam em seus perfis, e ao fim de cada comentário ela ria com a alegria e a maldade de uma garota de 12 anos que acabou de ver a sua inimiga se ferrar. Eu confesso que ri e também senti algum prazer naquilo, afinal, eu sempre odiei aquelas vadias. Quando ela terminou de ler, ela começou a favoritar os melhores comentários negativos e a mencionar (com orgulho) quais celebridades e subcelebridades haviam curtido a mesma mensagem, com a esperança adolescente de que algum tablóide sensacionalista notaria aquela atitude e transformaria em manchetes super interessantes e relevantes para a sociedade, como: “Kylie Jenner deixa de seguir Daisy Blake no Instagram logo após curtir comentário detonando Daisy”. Crystal também se divertiu – apesar de eu suspeitar que ela apenas ria para nos acompanhar e sequer sabia do que ou de quem estávamos falando. E Fred parecia menos tenso por perceber que a elite pode ser tão informal e maldosa quanto nós cidadãos comuns.


Velma: Certamente as suas irmãs não merecem todo esse ódio, Daph, mas por um lado, eu fico feliz que estejam provando um pouco do próprio desprezo… elas sempre desdenharam as outras pessoas, acho que agora chegou a vez delas…


Fred: Concordo. E como seus pais estão lidando com tudo isso? Porque você… bem… você parece ótima…


Daphne corou de uma maneira tão violenta que não conseguiu disfarçar. Ao perceber o ato falho, Fred também corou e tentou se explicar.


Fred: …o seu humor está visivelmente ótimo, eu quis dizer… você parece estar mais calma e mais feliz do que estava…


Daphne: Eu estou bem, eu estou… aprendendo… e… tentando lidar… da melhor forma possível… com tudo…


Dessa vez, o ato falho foi dela. Daphne olhou para os olhos dele ao dizer “com tudo”, evidenciando que ela também estava aprendendo a lidar com seus sentimentos em relação a Fred. A frase soou como um soco no estômago e encerrou a pequena aproximação afetuosa que eles estavam nutrindo desde que se reencontraram. Houve uma pausa tão incômoda que Crystal decidiu se juntar à Shaggy na mesa de canapés e até eu senti vontade de acabar com aquilo o mais rápido possível.


Velma: Imagino que seus pais e irmãs estejam zangados…


Daphne: Bem, mamãe não conseguiu me atender desde o ocorrido, mas eu vi que ela colocou o sobrenome de solteira nas redes dela e curtiu todos os comentários negativos que eu achei sobre papai… acho que ela está tentando dizer ao mundo que não somos mais uma família… aliás, a secretária dela sequer confirmou presença nesse jantar, então eu acho que ela está distante de todo o problema… já papai… bem, ele ficou um pouco zangado naquele dia em que as notícias saíram na TV, mas ele não me culpou pelo ocorrido… também não consegui falar com ele desde então, mas sei que ele tem recebido muito apoio da comunidade… inclusive daquela loira tingida nojenta ali, que é sete anos mais nova do que eu e já tem mais botox na cara do que uma celebridade de hollywood, será que essa ridícula não se enxerga?… minhas irmãs estão bravas com o cancelamento e estão morrendo de medo de perder toda a herança, mas eu tenho certeza que elas não têm noção da gravidade dos fatos porque sequer sabem o que significa a palavra “estelionato”… enfim… as coisas estão mais calmas… a família Blake está do lado do papai, por isso organizaram esse jantar… aqui todos sabem que isso é um golpe para fazê-lo perder o negócio… aliás, eu conversei com os advogados de papai e do Sr. Applegate sobre esse caso e eles me disseram que a Liberty fez contas em Applegate Bank dez dias antes dos federais iniciarem a operação contra a eles no ano passado… é como se eles tivessem criado essa conta de propósito para incriminar Applegate Bank pelos desvios de dinheiro que a Liberty estava fazendo…


Velma: Eu me lembro de Flim Flam e Shaggy terem mencionado que ano passado foi o primeiro ano que a Liberty usou contas da Applegate Bank para transferir o dinheiro sujo… então acho que realmente foi de propósito…


Daphne: Sim! E os advogados também disseram que os detetives particulares conseguiram gravar algumas ligações dos telefones de Applegate Bank, e todas eram muito estranhas. Elas foram feitas para diversos países, inclusive para Silmido na Coréia do Sul… e durante as chamadas as duas pessoas na linha só ficavam repetindo palavras aleatórias em vários idiomas…


Fred: Bem, não podemos descartar a hipótese de que sejam mensagens codificadas… geralmente, as agências de inteligência se comunicam dessa forma… e se os VIPs conseguiram corromper o FBI aqui na América, eu imagino que tenham corrompido os federais de outros países também… afinal, temos provas de que a atuação deles é mundial…


Daphne: Sim, Freddie, os próprios advogados mencionaram isso e estão trabalhando para tentar descobrir o sentido dessas mensagens, mas esta não é a parte realmente estranha das ligações… de todas as palavras que eles ouviram, a única expressão que se repetia em todas as ligações era “jogo da lula”… tintenfischspiel… juego del calamar… le jeu du calmar… e  bem, eu pesquisei a respeito e descobri que é um jogo infantil coreano, uma espécie de pega-pega, aparentemente… sinceramente, eu não entendi muito bem como funciona, nem mesmo consegui encontrar alguma lógica que explicasse por que eles repetem “jogo da lula” tantas vezes durante as conversas, e o que eles querem dizer com isso, mas… vejam que curioso, para jogar esse jogo, você precisa desenhar um tabuleiro no chão com essas formas geométricas aqui, vejam… que são exatamente as mesmas formas que estão nos cartões que achamos…


Velma: Jinkies! Não! Não pode ser… eu não quero acreditar!


Eu fiquei tão surpresa com a descoberta de Daphne que entrei em profundo estado de negação e, em um momento de surto, arranquei o celular da mão dela e comecei a analisar a imagem do tabuleiro e ler todas as informações a respeito daquilo. Daphne ficou confusa e procurou os olhos de Fred para conseguir alguma explicação.


Fred: Há algumas horas, fizemos uma chamada de vídeo com o agente Flim Flam para discutir as descobertas recentes que ele fez…


Daphne: Sim, Flim Flam me contou a respeito dos irmãos Hwang… aliás, os advogados do Sr. Applegate também levantaram essa hipótese de que os VIPs estão tentando afundar a Liberty porque Oh Il-nam faleceu e eles não conseguirão mais usar a empresa para cometer os crimes… e estão tentando afundar Blake Bank e Applegate Bank junto com ela através desse caso falso…


Fred: …exatamente. E se ele te contou tudo, você já deve estar sabendo que, mais uma vez, encontramos um monte de pistas sem sentido nenhum que só deixaram esse mistério mais confuso…


Daphne: Sim, eu confesso que eu nem sei o que pensar sobre tudo aquilo… e para piorar, enquanto eu pesquisava sobre os irmãos Hwang, eu achei outras quatro pessoas que haviam desaparecido no mês de junho em Seul entre 2000 e 2010 e depois reapareceram milionárias… mas apenas duas delas são coreanas… e isso deu menos sentido ainda às minhas suposições… quero dizer, o único sentido nisso é que esses estrangeiros poderiam estar ajudando na comunicação e servindo de intérpretes para aquelas mensagens secretas…


Fred: Pois é, durante essa discussão, novamente nos sentimos perdidos diante de várias evidências contraditórias, então Shaggy sugeriu do nada que a causa dos desaparecimentos seria um reality show secreto que os VIPs organizam na ilha de Silmido, em que pessoas participariam voluntariamente para concorrer aos 38 milhões de dólares que a Liberty leva a essa ilha todos os anos… e por isso elas desaparecem todo ano no mesmo mês…


Velma: E a pior parte é que essa merda faz muito sentido…


Fred: …é, eu ainda não me convenci a respeito, mas confesso que algumas pistas fazem bastante sentido… quando fizemos a perícia, havia alguns jogos malucos naqueles andares, o que indica que a Liberty deve mesmo oferecer esse “serviço” às pessoas… caso contrário, não investiriam tanto naquela infra-estrutura…


Velma: E as centenas de cartões que Fred achou seriam o convite para esses jogos… de alguma forma eles recrutam pessoas pobres e desesperadas, e quem se interessar liga para o número do cartão… não há informações detalhadas nos cartões, o que justifica o anonimato do reality show…


Fred: … e agora que você mencionou sobre o tal “jogo da lula”, creio que essa teoria maluca do Norville ganhou mais força… por que investidores internacionais bilionários mencionariam um jogo infantil coreano em ligações secretas?


Velma: …certamente porque eles devem fazer esse jogo com essas pessoas em um reality show… e fazem de uma forma mais brutal, assim como os jogos infantis que jogamos na Liberty…


Daphne automaticamente riu de nós com um deboche divertido.


Daphne: Ah, turma, peraí, então todas aquelas pessoas desaparecidas só estão confinadas em uma ilha fazendo jogos humilhantes para ganhar prêmios? Puxa, eu esperaria ouvir algo do tipo de Shaggy, mas de vocês dois…


Velma: É, nós dois também rimos da primeira vez que ouvimos, Daph, mas como Fred disse, essa informação sobre o jogo da lula foi como uma cola que uniu várias peças desse quebra-cabeça contraditório…


Daphne: Até tu, Velma? Nunca achei que você apoiaria essas maluquices… vocês não pensaram que talvez “jogo da lula” seja uma metáfora para outra coisa? Agências de inteligência geralmente usam palavras e expressões para se referir a pessoas importantes em mensagens secretas, Hillary Clinton era chamada de “Evergreen” pelo serviço secreto durante os dois mandatos de Clinton… talvez “jogo da lula” seja uma referência a uma pessoa… ou uma empresa… ou uma operação?


Velma: Ou talvez seja uma referência ao próprio jogo… caso contrário, não haveria motivo para os cartões terem exatamente os mesmos símbolos… os VIPs esconderam a própria identidade de maneira estúpida através daqueles anagramas, Daph, se eles fossem adotar palavras secretas, creio que eles adotariam para esconder a própria identidade, não?


Daphne: Velma, eu não vejo nem motivo para os VIPs fazerem um jogo em um reality show… pense, eles são estelionatários internacionais, por que perderiam tempo com pessoas fazendo joguinhos de criança?


Velma: Eles são estelionatários, e como todo bom estelionatário, eles adoram dinheiro… talvez estejam fazendo isso por apostas? Eles colocam pessoas para jogar, apostam em seus favoritos e quem vencer fica com o dinheiro?


Daphne: Eu acho que vocês estão assistindo De Férias com o Ex demais! Reality show em uma ilha deserta, Velma? Com jogos infantis brutais? Hoje em dia, se uma pequena atitude machista de um participante é capaz de fazer uma emissora desistir de um programa por retaliação do público, imagine o que o desaparecimento de 420 pessoas seria capaz de fazer… além disso, se isso fosse verdade, essas pessoas não estariam desaparecidas, seus familiares saberiam que eles estão na TV…


Fred: Não, Daph, escute, eu sei que parece idiota, mas Flim Flam sugeriu que o reality show esteja sendo feito de maneira clandestina e sendo transmitido na Deep Web…


A menção à Deep Web fez o deboche de Daphne desaparecer e seu rosto ficou sério.


Daphne: Deep web… como… uma red room? Então essas lendas são reais?


Fred: Não sabemos, Daph, mas creio que diante dessas evidências não podemos simplesmente descartar a hipótese de Shaggy… por mais absurda que pareça…


Daphne: Então… essas… pessoas… são mortas… nesses jogos?


Velma: E algumas viram órgãos saudáveis que serão vendidos por meio milhão de dólares a milionários doentes da América…


Daphne: Mas… como… como isso é possível?


Fred: Flim Flam e Shaggy têm mais experiência que nós quando o assunto é internet, então creio que eles sabem do que estão falando… aliás, um dos trabalhos da Interpol é caçar pedófilos e monstros que fazem isso na dark web, então, Flim Flam já deve ter lidado com coisas desse nível…


Daphne levou as mãos à boca e ficou com lágrimas nos olhos ao ouvir aquilo. Fred novamente entrou em estado de paralisia ao olhar nos olhos dela e ficou sem saber se deveria se aproximar para confortá-la ou não. O desconforto de Daphne durou pouco, e logo ela enxugou as lágrimas retidas e se recompôs para evitar qualquer tipo de investida do capitão.


Daphne: Então, se essa é a hipótese mais plausível para os desaparecimentos, precisamos agir o mais rápido possível e descobrir quem são os VIPs…


Fred: Nós já sabemos quem são os VIPs, Velma e eu descobr…


Enquanto eu retirava a lista dos VIPs da minha bolsa, eu tossi propositalmente duas vezes e fiz barulhos com a garganta para impedir que Fred mais uma vez se apossasse do meu trabalho.


Fred: …na verdade, a Velma fez um trabalho exaustivo de formar anagramas daqueles nomes estranhos que vocês encontraram nas portas dos escritórios de Applegate Bank… e depois comparou os nomes obtidos com os nomes dos CEOs das empresas envolvidas com a Liberty… e o resultado é esse aqui…


Daphne se aproximou para ler a lista e notei que Fred ficou tenso com a aproximação. Ela então me pediu uma caneta, e quando eu lhe dei, ela começou a olhar para os convidados e a fazer anotações no papel. Fred e eu nos aproximamos ainda mais para conseguir ler o que ela estava escrevendo e percebi que ela estava anotando as características físicas de cada um daqueles homens ao lado dos nomes deles. Foi então que eu me dei conta de que Daphne estava olhando ao redor e verificando quais dos VIPs daquela lista estavam no jantar. Quando ela terminou – e eu descobri que a maioria daqueles criminosos estava bem ali, vestindo smokings e agindo normalmente - eu senti novamente aquele mau agouro perturbar meu peito.


Fred: Bem… então podemos afirmar que estamos sendo vigiados…


Daphne: Que malditos! Eles estão fingindo que vieram prestar solidariedade ao papai e ao senhor Applegate, mas na verdade estão vigiando os dois!


De repente, sentimos um baque muito alto e muito forte vindo da parte debaixo de nossa mesa. Ao olhar por baixo dela, eu pude ver que Scooby-Doo havia batido a cabeça com força quando correu para se esconder debaixo de todas aquelas toalhas finas, e ele estava inquieto se mexendo entre as nossas pernas, procurando um lugar para se deitar. Não demorou muito, o seu dono fez algo parecido: obviamente, ele não se escondeu debaixo da mesa – apesar de eu ter certeza que ele faria isso se não tivesse 1,92m de altura -, mas chegou até nós correndo de maneira aflita, sentou-se rapidamente e escondeu o rosto com as mãos.


Velma: O que houve, Norville?


Crystal se aproximou de maneira mais calma e se sentou, mas ela tinha um olhar preocupado.


Crystal: Vocês reconhecem as pessoas que estão perto dos violinistas?


Eu estreitei os meus olhos para conseguir enxergar os rostos da meia dúzia de homens aos quais Crystal se referiu, mas não obtive sucesso. Fred fez o mesmo, e felizmente conseguiu ver.


Fred: Eles estavam no Departamento hoje à tarde, não?


Shaggy: S… s… si…sim! Esses filhos da puta são do FBI, minha gente, eles estão nos perseguindo!


A fala amedrontada de Norville nos fez olhar novamente para aquelas pessoas, e dessa vez eu pude reconhecer a chefe da perícia do FBI entre os vários borrões que enxerguei.


Velma: Jinkies, Shaggy tem razão… são os peritos do FBI…


Daphne: Ninguém do FBI foi convidado, eu vi a lista de convidados!


Fred: Então, certamente eles não vieram aqui para jantar e prestar solidariedade…


Shaggy: E o que que a gente vai fazer agora, meu Deus do céu?


Daphne: Relaxa, Shags, a Velma me mostrou a lista e eu percebi que a maioria dos VIPs estão aqui… então, eles não farão nada de perigoso com ninguém… acho que Fred está certo, eles só vieram vigiar e certificar que ninguém irá atrapalhar o plano deles…


A fala de Daphne teve efeito totalmente contrário. Shaggy agarrou o braço de Crystal com força e choramingou ao saber que os VIPs estavam tão perto. Como se entendesse o que acabou de ouvir, Scooby reagiu com a mesma aflição e se debateu entre nossas pernas e cadeiras, batendo o rabo na mesa constantemente e tentando esconder sua cabeça debaixo de nossos pés. Daphne aparentemente se sentiu culpada por ter causado tanto transtorno, pois a única coisa que fez foi abrir a bolsa e entregar biscoitos suíços na boca de Scooby até ele se acalmar. Ao perceber o comportamento pateticamente canino de seu namorado invejando os biscoitos, Crystal fez um sinal para que Daphne lhe entregasse algumas unidades, e então ela colocou uma a uma na boca de Shaggy, até ele se sentir confiante novamente.


Fred: Calma, turma, não há razão para temer… pelo contrário, da mesma maneira que eles estão aqui para nos vigiar, podemos fazer o mesmo com todos eles.


Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, Fred se levantou e ajeitou o terno. Daphne segurou uma das mãos dele, impedindo que ele se afastasse.


Daphne: Freddie, aonde você vai?


Fred: Vou cumprimentar os federais pelo ótimo trabalho que estão fazendo na investigação contra a Liberty.


Daphne: Você perdeu a cabeça?


Fred: Daphne, eu entreguei o caso para eles, então eu tenho que fazer alguma coisa para consert…


Daphne: Freddie, não foi você que entregou… as evidências apontam que eles sabiam bem antes e que o caso chegaria à mídia de qualquer forma porque o processo contra a Liberty é uma farsa… então, não precisa se sentir culpado por tudo o que está acontecendo… porque… eu sei… que… não foi… você…


Daphne olhou nos olhos dele com doçura enquanto falava pausadamente. As pupilas de Fred dilataram e houve um esboço de sorriso nos lábios dele, além de uma clara expressão de alívio que lhe deu confiança o suficiente para segurar as mãos dela com força.


Fred: Mesmo assim, Daph… supostamente fui eu que entreguei o caso aos federais, então supostamente eu estou do lado deles e eu tenho todo o direito de saber como andam as investigações…


Daphne: Freddie, não! Eles certamente devem saber sobre nós! Eles devem estar ouvindo nossas ligações e conversas… aliás, certamente eles estão aqui para nos vigiar… você não pode fazer isso… é perigoso…


Dessa vez foi ela que apertou as mãos dele, e a maneira gentil e preocupada com que Daphne disse “é perigoso” fez Fred hesitar. Porém, o Fred que eu conheço sempre quer provar para todo mundo que ele não tem medo e consegue enfrentar todos os perigos. E foi exatamente isso que ele fez.


Fred: E é exatamente por isso que precisamos fingir que apoiamos o trabalho deles… precisamos continuar interpretando nossos papéis… há algumas horas, Velma entregou as amostras ao FBI com a esperança de que eles vazem algumas informações que não sabemos… quem sabe em uma conversa em descubro algumas coisas…


Fred piscou para Daphne e soltou a mão dela gentilmente com um sorriso confiante nos lábios.  Daphne tentou argumentar para fazê-lo ficar, mas Fred foi mais rápido e se afastou. Irritada, Daphne suspirou e começou a mexer no celular.


Daphne: Que droga! Já são oito horas e nenhum Blake chegou! Que falta de educação!


Com raiva, Daphne começou a digitar números na tela do celular e iniciar chamadas com cada um dos seus familiares. Como de costume, ninguém atendeu prontamente e isso a irritou mais ainda. Na décima ou décima segunda tentativa, finalmente uma das chamadas foi atendida.


Daphne: Papai? Onde você está? A recepção do jantar já acabou e vocês ainda não chegaram!


Nan: Daphne, onde você está, querida? Não me diga que se perdeu novamente…


A voz distante de Nan no celular foi como um soco em meu estômago. O mau agouro novamente surgiu e me sufocou tanto que minha respiração parecia um suspiro. Inevitavelmente, eu olhei ao redor e percebi homens que pareciam policiais à paisana estrategicamente posicionados perto das portas. Minha paranóia também me fez suspeitar das pessoas que estavam nas mesas ao nosso redor e dos garçons…


George: Daphne, o que houve?  Por que ainda não chegou? Não vá me dizer que se meteu em encrencas novamente…


…e ela também me fez perceber que essas pessoas estavam prestando atenção na conversa de Daphne. Então, em um impulso, eu arranquei o telefone das mãos dela e encerrei a chamada antes que os Blakes dissessem qualquer coisa que fizesse Daphne surtar.


Daphne: Velma! Isso não foi legal, sabia?


Velma: O que não é legal é você ficar usando o celular durante um jantar. Comporte-se! Nem parece que você frequentou escolas de etiqueta…


Meu comentário confundiu Daphne e ela encerrou a discussão. Aparentemente, ela ainda não tinha percebido nada de errado e começou a digitar raivosamente uma mensagem para os pais, perguntando onde eles estavam. Minha atitude tirou a atenção de Norville dos pãezinhos que ele estava devorando e o colocou em estado de alerta, procurando ameaças ao redor. Quando o celular vibrou ao receber a resposta, Daphne ficou tão surpresa que arregalou os olhos e levou a mão à boca. Shaggy pressentiu algo errado, por isso fechou os olhos com força e se encolheu de medo em direção à Crystal. Quando eu me aproximei para ler a resposta, eu não me espantei nem senti medo, apenas senti aquela sensação estranha fervilhar por todo o meu corpo até transbordar através de uma frase rouca e angustiante.


Velma; Jinkies, eles estão em Mônaco!


Dessa vez, a paranóia fez todos nós olharmos ao redor para ver se alguém havia ouvido o que eu havia dito. Aparentemente tudo estava bem, pois as pessoas das mesas estavam entretidas com outras coisas. Imediatamente eu tomei o celular das mãos de Daphne e digitei a mensagem “Não entrem em pânico nem digam nada, eles estão de olho em nós” para todos lerem, assim que todos concordaram, pegamos nossos celulares e começamos a trocar mensagens sobre como deveríamos agir. Enquanto decidíamos, o celular de Shaggy tocou e pude ver que era Flim Flam solicitando uma chamada de vídeo. O barulho da chamada atraiu olhares em nossa direção, e Shaggy desesperadamente a recusou. O celular de Shaggy continuou recebendo mensagens no modo silencioso, tanto o número quanto a freqüência das chamadas indicavam que se tratava de algo importante. Eu sugeri que ele saísse da festa com Crystal e Scooby para atrair atenção dos seguranças, pois dessa forma ele poderia atender Flim Flam enquanto Fred e eu daríamos um jeito de tirar Daphne de lá em segurança. Após reclamar por ter que fazer o papel de isca e me xingar com um repertório extenso de palavrões, ele aceitou e saiu com Crystal e Scooby. Conforme esperávamos, a saída deles atraiu olhares curiosos e pude notar que alguns seguranças os seguiram. Antes de se levantar da mesa, Daphne me mandou uma mensagem pedindo para eu descer as cinco malas que estavam em seu quarto e disfarçadamente me entregou o cartão de acesso à fechadura eletrônica da porta. Ela caminhou calmamente até Fred e lhe disse algo no ouvido enquanto envolvia seus braços em volta do pescoço dele. Um minuto depois, Fred se afastou dos cavalheiros com quem estava conversando e os dois foram para o centro do salão. Por fim, eles se misturaram aos demais casais que dançavam uma música lenta e imediatamente atraíram a centenas de olhares curiosos. Fred intercalava seu olhar entre os olhos dela e as portas e seguranças do local, enquanto Daphne dizia coisas olhando fixamente para o rosto dele, e eu pude perceber que eles estavam combinando uma maneira de fugir em segurança. Era a minha deixa para sair dali sem ser notada. Mesmo assim, eu me senti angustiada, juntei meus pertences rapidamente e caminhei até a porta com passos rápidos e comedidos. Quando eu finalmente saí, olhei para trás e notei que, felizmente, todos ainda estavam entretidos com aquele casal inesperado e improvável. Confesso que eu também os admirei por alguns segundos. Droga, eles eram perfeitos um para o outro até mesmo quando estavam fingindo.


***


            Quando finalmente cheguei ao quarto de Daphne e entrei, eu fechei a porta com tanta força que o barulho ecoou pelo corredor. Eu não pude evitar de colocar toda a tensão que estava sentindo na pobre porta. Imediatamente, eu juntei as cinco malas que estavam ali e avisei Norville que eu estava descendo. Com a mesma tensão anterior, eu arrastei toda a bagagem até o elevador e desci ao som de meu coração batendo rápido. Os corredores e elevadores estavam vazios – obviamente porque a área é frequentada por pessoas que têm dinheiro o suficiente para terem a sua privacidade respeitada -, mesmo assim, eu sabia que em algum lugar havia câmeras que estavam me vigiando. Quando o elevador chegou ao térreo, encontrei Crystal correndo em minha direção.


            Crystal: Precisamos ir, Norville disse que é urgente.


            Senti uma pequena alegria ao perceber que as toneladas daquela bagagem seriam divididas entre os meus braçs e os de Crystal. Ao ver duas garotas carregando malas com quase um metro de altura, alguns empregados do hotel se ofereceram para ajudar – e nós aceitamos, mesmo sabendo que aquilo atrairia uma atenção prejudicial à nossa segurança. Afinal, naquele momento nós duas estávamos sentindo o mesmo ódio por Daphne ser tão vaidosa. Quando terminamos de carregar a van de Norville, eu pude ver Fred e Daphne saindo calmamente do salão, Shaggy me segurou pela mão antes que eu pudesse pensar em encontrá-los.


Shaggy: Velma! Tipo, nós precisamos ir!


Crystal me puxou para dentro da van e eu me alojei entre a bagagem. Enquanto Scooby me pisoteava ao cheirar cada uma das malas com cuidado, Crystal avisou Daphne através de uma mensagem.


Crystal: Esperamos vocês na alfândega do aeroporto JFK, venham rápido.


Shaggy saiu em alta velocidade, mas duas quadras à frente o trânsito nos parou e ele recitou seu tradicional repertório de palavrões enquanto surrava a direção do veículo.


Velma: Calma, Shaggy, será que dá para você me explicar o porquê de tanta pressa?


Shaggy: Tipo, Flim Flam achou Gi-hun! Ele está preso na alfândega do JFK neste momento e é a nossa chance!


Velma: O quê? Como assim?


Como se tivesse ouvido a minha pergunta, o celular de Shaggy começou a vibrar e a imagem de Flim Flam apareceu na tela. Crystal aceitou a chamada e colocou o celular no suporte da van, para que todos nós pudéssemos ver.


Flim Flam: Onde vocês estão?


Shaggy: Nós mal conseguimos sair da rua do hotel, Flim Flam!


Flim Flam: Ah, que merda, Shags, pega um atalho!


Shaggy: Tipo, o aeroporto é do outro lado da porra da cidade!


Flim Flam: Deixa essa merda na rua e vai de metrô!


Shaggy: Mas, tipo, demora mais de metrô!


Flim Flam: Cara, sei lá, pega um Uber! Vai logo!


Shaggy: E tipo, qual a diferença de um Uber para a minha van, animal?


Flim Flam: O Uber sabe dirigir em Nova York…


Velma: Calma, gente! Estamos a caminho, fiquem calmos! O trânsito melhora daqui a umas cinco quadras. Enquanto isso, explique o que está acontecendo, Flim Flam.


Flim Flam: Só um minuto…


Flim Flam se afastou e fez alguns movimentos na tela do celular que terminaram quando a imagem de Daphne e Fred apareceu na tela.


Flim Flam: Prontinho! Agora a equipe está completa. Onde vocês dois estão? A alguns quilômetros de distância de Shaggy eu imagino…


Daphne: Estamos perto de Pulaski Bridge…


Shaggy: Tipo, como vocês chegaram aí?


Fred: Uma tecnologia avançada chamada Waze…


Flim Flam: É como eu imaginei, o problema não era o trânsito… enfim…  eu havia colocado Gi-Hun no banco de dados de desaparecidos da Interpol e há mais ou menos meia hora eu recebi uma notificação da alfândega do aeroporto JKF avisando que ele foi detido por tentar entrar em um vôo comercial com substâncias ilícitas. Aparentemente ele ainda está por lá, então acho que seria uma ótima oportunidade de vocês o pegarem antes dos federais. Isto é, se chegarem a tempo…


Shaggy: Ah, qual é, tipo, você vai ficar me enchendo o saco com isso agora? Nós vamos conseguir pegá-lo e vamos descobrir toda a verdade sobre o que aconteceu com Sang-woo!


Flim Flam: Bem, na verdade, vocês terão que perguntar mais algumas coisinhas, porque eu descobri mais coisas comprometedoras envolvendo o nome dele. Eu consegui identificar mais três pessoas daquelas amostras de sangue que a Velma achou: a primeira foi Ali Abdul, um paquistanês que trabalhava há alguns anos em uma fábrica em Seul, ele imigrou ilegalmente para a Coréia, então constava com desaparecido para a polícia paquistanesa… foram eles que o identificaram… a segunda vítima foi identificada por um processo parecido: Kang Sae-Byeok, uma jovem desertora da Coréia do Norte que fugiu para Seul… quando pedi ajuda aos norte-coreanos, eles a identificaram entre os desaparecidos… e por último, Han Mi-nyeo, uma jovem mãe desempregada, natural de Seul, a polícia de Seul a identificou ao comparar o DNA da amostra com o DNA de seu filho… e adivinhem? Todos desaparecidos desde junho de 2020, vistos pela última vez em Seul, todos muito pobres e endividados e blá blá  blá, a mesma merda de sempre…


Daphne: E qual seria a relação de todos eles com Gi-Hun?


Flim Flam: Dinheiro! Assim como Gi-Hun tem ajudado financeiramente a mãe de Sang-woo todos os meses, eu descobri que ele envia ajuda financeira à esposa de Ali Abdul e às pessoas que estão criando o bebê de Han Mi-nyeo… aliás, a mãe de Sang-woo não está apenas recebendo ajuda, ela está criando um garotinho chamado Kang Cheol, que é irmão de Kang Sae-Byeok… ele foi tirado de um orfanato, mas não há registros de adoção nem de fuga, as funcionárias do local apenas disseram que um homem o tirou de lá há uns seis meses, então eu suponho que esse homem seja Gi-Hun… ah, e a ajuda financeira às famílias de Ali e Mi-nyeo acontece assim: todos os meses cai um depósito anônimo nas contas dessas pessoas, vindo de caixas eletrônicos em Seul, mas a imagem desses caixas mostra que é Gi-Hun, vejam… e a mesma quantia depositada é retirada das contas pessoais dele horas antes, o que confirma que é ele mesmo…


Quando Flim Flam nos mostrou as imagens dos caixas eletrônicos, Daphne se assustou.


Daphne: Jeepers, eu vi esse homem de cabelo vermelho nas imagens das câmeras de Applegate Bank!


Dessa vez, todos nós nos espantamos.


Flim Flam: Quando?


Daphne: Eu não sei as datas… mas quando conversei com os advogados do Sr. Applegate, eles me mostraram imagens desse homem entrando em Applegate Bank e andando até os escritórios que nós visitamos… eles disseram que ele era um suspeito… naquele momento eu achei que ele era um dos VIPS que estavam conspirando contra papai e Steven… mas agora nada mais faz sentido!


Fred: Na verdade, faz muito sentido, Daph. Gi-Hun desapareceu e logo em seguida reapareceu milionário, e para completar, foi visto no escritório dos VIPS… para mim parece óbvio que ele foi pago para executar os crimes…


Velma: Hmmmm… eu concordo com Fred de que as coisas estão começando a fazer muito sentido… mas não acho que Gi-Hun é o executor… eu acho que estou começando a desvendar esse mistério…


Shaggy: Eu também acho, Velma, eu acho que Gi-Hun ganhou o reality show e agora veio aqui acabar com a raça daqueles VIPS filhos da puta!


Fred: Ah não, de novo essa história de reality show? Isso é só uma teoria entre tantas outras, Shaggy… vamos ser um pouco mais realistas, por favor!


Flim Flam: Ok, Fred, deixa eu ser um pouco mais realista então… a ficha de desaparecimento de Han Mi-nyeo tinha isso daqui anexado a ela…


Flim Flam então compartilhou uma foto que mostrava um cartão idêntico àquele que achamos no caça-níquel da Liberty, com os símbolos na frente e o número atrás. Mais uma vez, nós ficamos impressionados.


Flim Flam: O cartão estava no apartamento dela. Uma vizinha de Han Mi-nyeo afirma que dois dias antes de desaparecer ela pediu para usar o telefone porque havia encontrado uma maneira fácil de ficar rica. A vizinha se lembra que ela discou para o número desse cartão e contas telefônicas antigas confirmam que uma ligação para o tal telefone foi feita e completada naquele dia… o que nos prova que houve sim uma espécie de recrutamento dessas pessoas que desapareceram, e ofereceram dinheiro para elas para que fizessem algo, ou participassem de algo…


Fred suspirou com certa irritação, mas não conseguiu contra-argumentar. Daphne também parecia cética, por isso arriscou.


Daphne: Bem, mas se Gi-Hun está em Nova York, certamente ele deixou evidências… registros em hotéis, passagens aéreas, registros na imigração… e talvez essas coisas possam nos dizer algo sobre ele…


Flim Flam: Nada… nenhum registro de hotel, nenhuma passagem pela imigração… passagem aérea eu só encontrei um registro dele em um vôo para Seul saindo de JFK daqui a vinte minutos, ainda não consegui descobrir como ele chegou a NY… mas quem sabe umas quatro horas de sono me ajudem a mudar isso…


Fred: Então estamos com sorte, porque chegaremos ao JKF em dez minutos…


Shaggy: O que? Ah não, tipo, você tá de brincadeira, Fred, você saiu depois, como você vai conseguir chegar primeiro?


Fred: Largue os jogos de tiro e comece a jogar os de corrida… ou de fuga, como GTA…


Flim Flam: É um conselho sábio, mas só funciona se você souber dirigir…


Shaggy novamente recitou seus palavrões e pisou no acelerador com violência enquanto os garotos riam – o que fez as malas despencarem em minha direção e fez com que eu recitasse o meu próprio repertório de palavrões. Eu não cronometrei, mas eu poucos minutos pude ver as luzes do aeroporto se aproximando.


Shaggy: Tipo, aonde eu estaciono para ir mais rápido?


Fred: Não estacione, vamos direto para as docas da alfândega.


Shaggy: Tipo, você tá louco? Não podemos entrar de carro lá…


Fred: Se todos estiverem com suas credenciais da NYPD, nós podemos emitir um alerta de fuga de um procurado pela Interpol e podemos entrar aonde nós quisermos, até mesmo nos aviões…


Shaggy: Até naquela parte dos aviões onde as aeromoças preparam os lanches?


O nosso olhar de desprezo uniforme respondeu a pergunta idiota de Norville.


Shaggy: Que foi? Tipo, eu só queria saber se um dia eu precisar…


Daphne: Mas Freddie, e os federais? Vocês não podem simplesmente aparecer e pegar Gi-Hun se não estão mais cuidando do caso. Aliás, isso seria perigoso, pois mostraria ao FBI que temos um informante…


A preocupação de Daphne fez Fred hesitar e Shaggy estremeceu ao ouvir a palavra “federais”.


Flim Flam: Então… lembra que eu disse que vocês precisavam chegar rápido justamente para evitar que os federais chegassem primeiro? Se não tiver viaturas do FBI por toda parte, eu acho que ainda está valendo…


Velma: Flim Flam tem razão, Daphne… se nós nos apresentarmos como civis, eles não irão nos atender…


Fred: E como civis também não poderemos impedir o vôo de Gi-Hun de decolar…


Shaggy: Nem poderemos visitar a cozinha do avião…


Nós reviramos os olhos e rimos com a insistência de Shaggy, e logo em seguida concordamos que a melhor coisa a fazer seria agir como membros da NYPD. Entretanto, quando Shaggy parou a van em frente à alfândega, o maldito agouro se apossou novamente de meus sentimentos e eu comecei a duvidar de que aquilo não era a melhor coisa a se fazer.


***


            Crystal ficou na van com Scooby e Shaggy desceu correndo – eu pensei que fosse pela pressa de pegar Gi-Hun, mas logo percebi que Fred e Daphne estavam na nossa frente e ele apenas queria chegar primeiro do que Fred na alfândega -, porém, minhas pernas não tiveram a mesma energia para se mover. Na verdade, eu me arrastei atrás de meus amigos até chegar ao guichê principal, onde uma longa fila de passageiros aguardava para passar pelas máquinas de raio X, pelos detectores de metais e pelos agentes. Eu olhei ao redor para procurar se, de fato, a minha paranoia poderia ser justificada por alguma evidência real de perigo, mas tudo que encontrei foram olhares irritados nos censurando por passar na frente de todo mundo na fila. Chegando ao guichê, Fred se apresentou e mostramos nossas credenciais do NYPD.


            Fred: Boa noite, eu sou Frederick Jones, capitão na NYPD, e estamos aqui porque a Interpol nos alertou de que um desaparecido internacional foi detido pelos agentes da alfândega ao tentar embarcar em um vôo com uma substância perigosa. Esse homem é um dos suspeitos de um caso em que estamos trabalhando, então precisamos vê-lo.


            A apresentação de Fred atraiu o dobro da atenção de já tínhamos despertado, e de repente, os olhares de raiva se transformaram em pânico. Obviamente, foi bastante insensível da parte dele mencionar que um criminoso internacional estava tentando embarcar em um avião em uma cidade como Nova York. Mesmo sendo o ano de 2021, isso ainda era algo que causava pânico nas pessoas. Houve um pequeno tumulto entre as pessoas da fila – umas se aproximaram para entender o que estava acontecendo, outras se afastaram, temendo serem vítimas do que quer que estivesse acontecendo – e logo os seguranças do aeroporto e os agentes da alfândega apareceram para normalizar a situação.


            Sarah: Boa noite capitão, eu sou a oficial Sarah Nolan, a responsável pela alfândega. Por favor, venham comigo…


            A mulher não parecia muito feliz com a nossa atitude, mesmo assim nós a seguimos até uma sala reservada. Ela fez sinal para nós nos sentarmos e logo em seguida ela se sentou e olhou para nós com uma expressão nada amigável.


            Sarah: Muito bem, em que posso ajudá-los? Você é bem mais bonito do que na TV, capitão Jones, mas confesso que a sua atitude lá fora não foi muito bonita…


            Fred: Eu sinto muito…


            Sarah: Não precisa sentir muito, capitão, apenas não fale sobre criminosos entrando em um avião em uma cidade que sofreu um ataque aéreo terrorista há vinte anos, ok?


            A bronca de Sarah foi tão severa que a vaidade de Fred nem conseguiu se exaltar por ter recebido um elogio. Nós ficamos igualmente constrangidos. No meu caso, não apenas pela atitude, mas por tê-lo como capitão.


            Sarah: Ok, do que se trata? Não temos ninguém detido aqui neste momento…


            Daphne: O nome dele é Seong Gi-Hun, é sul-coreano, de acordo com a Interpol foi impedido de embarcar em um vôo direto para Seul…


            Creio que até mesmo Sarah entendeu que a razão para que Daphne – a única que não lhe apresentou nenhuma credencial da NYPD - assumisse a palavra foi o elogio descarado que a agente Nolan fez a Fred, e Daphne descontroladamente deixou claro que “o capitão mais bonito do que na TV” tinha dona. Os ciúmes também fizeram com que Daphne praticamente esfregasse a tela de seu celular com a foto de Gi-Hun na cara da moça. E isso  fez Sarah entender que Fred não era o único sem noção do grupo.


            Sarah: Ah, sim, eu me lembro, foi há uma ou duas horas… ele foi barrado porque estava com substâncias ilícitas em sua bagagem de mão, mas não foi realmente detido… nós conversamos, ele se explicou e concordou em se desfazer dos galões, então o deixamos seguir viagem…


            Fred: Mas… a Interpol está atrás dele! Ele não deveria ter sido liberado!


            Sarah: A Interpol da Coréia do Sul está atrás dele, o que significa que ele não é problema meu, nem problema de nenhuma agência americana… nenhuma autoridade americana emitiu pedido de prisão ou de extradição contra esse homem, então os coreanos que o peguem assim que ele sair do avião em Seul…


            Fred: Você não está entendendo, oficial! Nós precisamos dele aqui para dar um depoimento para o nosso caso! Por favor, mande seus agentes pararem aquele vôo! Ou então permita que eu faça isso!


            Sarah: Capitão, o vôo dele é aquele ali que está manobrando na pista para poder decolar… boa sorte em conseguir fazê-lo parar! Além disso, como uma equipe de pessoas brancas americanas irá tirar do avião à força um cidadão sul-coreano aparentemente inofensivo? Sem nenhum mandado, nenhuma prova de crime, nem um motivo evidente?  Consegue imaginar a repercussão negativa que isso geraria? Perderíamos nossos empregos e seríamos chamados de racistas até o fim de nossos dias… e com esse cabelo loiro nórdico e esses lindos olhos azuis, as pessoas acreditariam que você é um supremacista de merda…


            A oficial Nolan então começou o típico cortejo patético que algumas mulheres exibem na presença de Fred – para desespero de Daphne. Cortejo esse que sempre termina com Fred cedendo e passando o número do celular dele para a moça – para desespero ainda maior de Daphne -, mas dessa vez ele estava tão focado no caso (ou talvez estivesse irritado com o descaso da agente Nolan?) que ignorou deliberadamente todas as investidas, agradeceu a ajuda de Sarah e se retirou. Shaggy e Daphne pareciam igualmente frustrados, por isso seguiram Fred imediatamente. Sarah não parecia muito satisfeita por ter sido rejeitada pelo capitão, por isso não ofereceu mais nenhuma ajuda. Antes de eu ser expulsa de lá, eu pensei rápido.


            Velma: Oficial Nolan, você mencionou que Gi-Hun tinha substâncias ilícitas na bagagem… que substâncias eram essas?


            Sarah: Ah, eu não me lembro bem… lembro apenas que eram dois galões de três litros de uma substância bem forte… os peritos disseram que era inflamável e poderia oferecer riscos…


Velma: Inflamável como gasolina?


Sarah: Não, parecia algum tipo de solvente ou desinfetante… não sei dizer exatamente… acetona… desinfetante hospitalar… formol… sei lá, algo do tipo…


Velma: Eu sou chefe da perícia da NYPD, se importaria em me mostrar?


Sarah: Claro!


Sarah me conduziu até uma sala no fim do corredor e ao abrir a porta eu pude ver que se tratava de uma espécie de almoxarifado, pois havia centenas de objetos confiscados por toda a parte. Ela caminhou até uma das mesas e apontou para dois galões de plástico transparente com rótulos escritos em coreano.


Velma: Será que eu posso ficar com eles? Ou pelo menos posso levá-los para análise, depois lhe devolvo?


Sarah: Seria um enorme favor que você me faria. Você iria me poupar de preencher dezenas de formulários idiotas descrevendo essas substâncias… além de me poupar de implorar centenas de vezes para que alguém do centro de lixo tóxico venha recolher essa merda…


Coloquei as luvas de emergência que eu sempre trago em minha bolsa, e Sarah providenciou um saco plástico para eu acomodar os dois galões. Por um segundo eu pensei que ela havia feito isso por interesse em ajudar na minha perícia, mas logo percebi que ela só queria se livrar de mim. Quando saí das salas da alfândega, vi Daphne e Crystal entretendo Scooby com biscoitos enquanto Fred e Shaggy acendiam cigarros e discutiam na área de fumantes. Todos pareciam tensos e desolados pela partida de Gi-Hun, mas quando eles me viram, eles olharam imediatamente para as minhas luvas e se aproximaram com um sorriso nos lábios.


Shaggy: Tipo, você não sabe como eu fico feliz de ver você usando essa luvinha! Por favor, me diga que você achou alguma coisa que faz sentido nessa merda toda…


Fred: É, por favor, diga que esse não foi mais um caminho sem saída e que nós não voltamos novamente ao início com mais perguntas do que respostas…


Velma: Bem, eu achei alguma coisa… e eu creio que estou começando a achar algum sentido nesse mistério… mas a notícia ruim é que nós voltamos realmente ao início, turma… a resposta para esse caso está naquela geladeira, e infelizmente nós teremos que arrumar uma forma de voltar lá…


Pude notar que ninguém gostou da minha sugestão, mas antes que pudessem contra-argumentar, Scooby-Doo ultrapassou todos eles e se aproximou violentamente do pacote onde estavam os galões, em seguida começou a cheirar, espirrar e forçar o plástico com o focinho, desejando ter acesso aos galões. Irritado por não conseguir acessá-los, ele começou a arranhar a embalagem e a rosnar, e em seguida iniciou um comportamento obsessivo muito parecido com o comportamento que ele teve na Liberty e no restaurante. Nós nos olhamos e eu sorri com alívio. Eu adoro a sensação de estar certa.


Shaggy se aproximou de Scooby e começou a falar com ele e a mostrar a embalagem em minhas mãos – sim, ele tinha a intenção de que Scooby respondesse -, mas antes que pudéssemos descobrir o que ele pretendia com aquelas perguntas, Fred nos puxou pelo braço.


Fred: Vamos, turma, precisamos ir…


Daphne abriu a boca para questionar o motivo, mas logo notou que alguns homens que vimos no jantar estavam se aproximando da alfândega. Shaggy murmurou “FBI” e apontou para os tais homens, pois Crystal ainda não tinha percebido o que estava acontecendo. Começamos a andar depressa em direção aos carros enquanto Fred e Shaggy combinavam caminhos seguros e rápidos para chegar até o apartamento de Fred. Eu mencionei que precisava pegar meus equipamentos de perícia, por isso decidi ir com Fred e Daphne. Ninguém teria nos notado se Scooby-Doo não tivesse começado a latir descontroladamente no momento em que foi separado dos galões.


***


            A presença dos agentes do FBI à paisana no aeroporto e no jantar me deixou tão paranóica que eu incluí a arma que eu nunca usei na maleta de acessórios de perícia que eu levaria para a casa de Fred.


            Fred: Uau, uma Glock 19, nada mal para uma democrata, hein?… só uma dica, se você não colocar balas, ela não funciona… se bem que com essa visão de merda e os reflexos de um coala, eu acho melhor você não colocar balas mesmo… mas você ainda pode usá-la para dar coronhadas na cabeça de alguém… se bem que com 1,52m de altura, eu acho pouco provável que você acerte a cabeça de alguém...


Os comentários idiotas me fizeram revirar os olhos e rir um pouco do meu desespero irracional. E também me fizeram desistir da arma, afinal, Fred tinha razão sobre o meu despreparo. Enquanto eu empacotava o meu microscópio, o celular de Daphne tocou e ela atendeu logo após o primeiro toque. Era novamente Flim Flam, e na outra tela estava Shaggy, Scooby e Crystal na van, no drive thru de um Burguer King.


Daphne: Oh Flim Flam, chegamos tarde demais e fracassamos! O avião de Gi-Hun já estava na pista de decolagem quando falamos com os agentes da alfândega!


Fred: Fracassamos porra nenhuma! Chegamos a tempo e não foi culpa nossa que aquela vadia liberou um desaparecido procurado pela Interpol!


Eu estava acostumada a ver evidências loucas e sem sentido naquele caso, mas não estava preparada para ver Fred Jones irritado com uma mulher bonita. Depois de anos vendo o comportamento canino e patético que ele desempenhava perto de qualquer fêmea minimamente atraente de acordo com os padrões de beleza estúpidos, aquela irritação soou como algo insano. Daphne também não estava preparada, porque ela se calou e olhou para ele com uma cara mais surpresa do que a minha, mas Fred não percebeu a nossa reação. Shaggy reagiu da maneira que ele costuma reagir quando se surpreende com algo: ele parou de mastigar.


Flim Flam: Calma, gente, eu já estou sabendo disso. Fiquem tranqüilos que estaremos esperando por ele em Seul daqui a algumas horas… o real motivo da minha ligação foi que eu achei dois registros sobre Gi-Hun aí em Nova York… são dois registros de compras que ele fez no cartão de crédito em dois estabelecimentos… eu vou passar o endereço correto, mas pelo que eu pesquisei aqui, um endereço é de uma loja de brinquedos em Manhattan e o outro é uma Associação Cristã que fica na rua de trás da Cedar, bem perto da Liberty por sinal… na loja de brinquedos ele gastou em torno de quinhentos dólares, e na Associação Cristã ele gastou… mil dólares? É, como sempre nada faz sentido, pessoal, boa sorte nas pesquisas!


Velma: Na verdade encontramos algo que fez algum sentido, Flim Flam. Gi-Hun foi impedido de embarcar por portar na bagagem dois galões de substância ilegal. Eu ainda não analisei o composto nem os galões, mas Scooby já confirmou minhas suspeitas, porque ele reagiu aos galões da mesma maneira que reagiu na Liberty e no restaurante. A minha teoria é que: o que quer que os VIPs façam todos os anos com essas pessoas, Gi-Hun se envolveu ano passado e sobreviveu… ou então ele participou do crime de alguma forma e foi recompensado pelo que fez… por isso ele sabe o suficiente… e, portanto, Gi-Hun sabia que iria acontecer novamente esse ano e os VIPs iriam armar contra Steven e George. Então, ele plantou provas na Liberty e usou essa substância para atrair Scooby e os cães… porque me parece que ele quer denunciar os VIPs, mas precisa fazer isso sem que os VIPs saibam… eu penso que ele quer fazer justiça pelas vítimas, afinal, o melhor amigo dele foi vítima daquilo… as evidências que você achou provam que ele tem envolvimento afetivo com aquelas pessoas do DNA das amostras, ele ajuda a mãe de Sang-woo, o irmão de Sae-Byeok, o bebê de Mi-nyeo e a esposa de Ali… se ele fosse realmente da máfia, porque ele ajudaria desconhecidos?


A minha revelação causou um silêncio reflexivo muito perturbador e eu aproveitei para anotar os endereços que Flim Flam havia mencionado. A ansiedade me corroeu até que Fred ousou me apoiar.


Fred: É, eu não estou dizendo que concordo totalmente com a maluquice do reality show, mas confesso que tenho dificuldade em aceitar que 35 pessoas foram levadas para aquele cubículo e foram assassinadas uma após a outra… a equipe da perícia mal coube lá dentro, tiveram que revezar para entrar…


Shaggy: É, o Scoob não sentiu cheiro do Alan ali… e tanto ele quanto os VIPs sabiam das mortes, mas não sabiam da geladeira… se eles soubessem, eles usariam isso contra o pai da Daphne…


Velma: Mas o Scooby sentiu o mesmo cheiro no cartão que achamos debaixo da cadeira em Applegate Bank… o cartão tem cheiro parecido com o que sentimos na entrada da Liberty… e Daphne disse que as imagens das câmeras de Applegate Bank mostram Gi-Hun andando nos escritórios…


Shaggy: Provavelmente porque Gi-Hun queria que a gente achasse o cartão e o sangue!


Velma: Também acho! Nós estávamos em um lugar cheio de VIPS que deveriam estar com seus cartões secretos, e Scooby não se comportou dessa maneira no jantar. Então, tudo indica que ele farejou algo especial naquele cartão que nós achamos, algo que foi colocado por alguém…


Fred: Então esse cartão que vocês acharam em Applegate Bank deve ter alguma informação que nos leve até as vítimas…


Flim Flam: Na minha opinião, isso faz sentido… mas vocês já pararam para pensar que isso implicaria no fato de que as vítimas podem estar vivas e Gi-Hun pode estar tentando salvá-las? Sinceramente, eu não descartaria a possibilidade daquele lugar ser uma câmara de tortura, ou de haver salas parecidas escondidas ao redor… como Shaggy disse anteriormente, se aquelas caixas estão lá, elas vieram de algum outro lugar, porque elas não passam no frigobar…


Daphne: Hmmm… acho que Velma tem razão, Gi-Hun está mesmo tentando nos dizer algo. Pensem comigo: por que outro motivo ele causaria tanta confusão no aeroporto? Se a intenção dele era se esconder de nós e se livrar dos galões, ele poderia ter simplesmente jogado tudo no lixo antes de embarcar… mas, ao contrário disso, ele foi detido, a Interpol foi notificada e ele deixou os galões… me parece algo proposital…


Fred: Concordo, mas não temos certeza se isso é ou não é uma armadilha… Gi-Hun pode estar nos confundindo e nos distraindo… Não podemos confiar totalmente nele antes de ter certeza de que lado ele está…


Daphne: Freddie tem razão… precisamos ter cuidado…


Fred: Além do mais, se ele plantou as provas, porque há tantas manchas nas paredes?


Velma: Alguns desinfetantes oxidam o luminol, Fred… por isso eu disse que eu preciso voltar lá de alguma forma, eu preciso fazer alguns procedimentos para diferenciar as manchas de sangue das demais…


Daphne: E como faremos isso? Sem falar que você mesma disse que há manchas de sangue no teto… eu não sou perita, mas eu acho que não dá para espirrar sangue propositalmente…


Velma: Daphne, eu preciso ver as manchas para entender…


Daphne: Não há como, Velma! A passagem está bloqueada com tijolos, lembra?


Velma: Fred quebrou os tijolos e pegou os cartões dentro daquelas caixas, não foi, Fred?


Fred: O problema não são os tijolos, e sim os federais. Eu estive lá antes do FBI cercar a Liberty… agora, dificilmente conseguiremos entrar sem que ninguém nos veja…


Flim Flam: Hmm… já que a teoria de todo mundo está certa… e se a minha teoria estiver certa também?  E se realmente houver algum lugar ao redor daquele corredor que permita entrar e sair do prédio sem passar pela entrada principal?


Shaggy: Tipo, uma passagem secreta?


Velma: Ou uma passagem não tão secreta! Afinal, Gi-Hun acabou de nos mostrar…


Quando terminei de falar, ampliei o mapa do endereço da Associação Cristã que Flim Flam mencionou e mostrei que o lugar ficava a menos de trinta metros do prédio da Liberty. Todos sorriram com a minha suposição e apenas Shaggy choramingou.


Fred: Genial, Velma! Amanhã mesmo iremos checar os dois endereços e tentar descobrir mais alguma coisa. Enquanto isso, vamos estudar os cartões e tentar descob…


Daphne: Enquanto isso todos nós vamos descansar, Frederick Jones! Já passa das dez e todos nós tivemos um longo dia, precisamos dormir bem para a viagem de amanhã…


A bronca fez Fred se calar e sorrir, e todos nós concordamos com Daphne. Ele ficou olhando para ela durante algum tempo com admiração – afinal, ninguém se preocupava com ele daquela forma –, mas Daphne apenas corou e mudou de assunto. Quando a chamada de vídeo foi encerrada, eu juntei todos os meus pertences e saí. A última imagem que tive antes de fechar a porta – uma foto de Marcie e eu sorrindo no dia de nosso noivado – me causou um aperto no peito, e eu decidi levar o porta-retrato comigo antes de deixar o meu apartamento. Secretamente, eu temi que aquela fosse a última vez que eu fecharia aquela porta e veria o sorriso da minha noiva. Dias depois, eu me arrependi profundamente de não dar ouvidos aos meus medos secretos.





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Autor(a): kendrakelnick

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