Fanfics Brasil - Capítulo 4 Scooby-Doo: Wicked Game

Fanfic: Scooby-Doo: Wicked Game | Tema: Scooby-Doo, Round 6


Capítulo: Capítulo 4

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O silêncio entre eu e Marcie já durava uma hora e treze minutos, até que as nossas batidas na porta de Norville nos obrigaram a falar alguma coisa. O primeiro a responder foi Scooby, que começou a pular e a arranhar a madeira sem parar ao ouvir nossas vozes. Shaggy abriu a porta e Scooby Doo, após pular insistentemente em nós duas, começou a nos arrastar para dentro puxando a barra de nossas blusas.


Shaggy: Oi meninas! Entrem e fiquem à vontade! Tipo, eu preciso de um minuto para arrumar um lugar para vocês.


Norville pegou uma pilha de roupas (aparentemente limpas) que estava espalhada no sofá, juntou com outra pilha de roupas (visivelmente sujas) que estava no chão e jogou tudo dentro de um armário que tinha tanta bagunça que me causou crise de ansiedade só de olhar. Assim que o sofá ficou livre, Scooby pulou em cima dele e começou novamente a nos puxar para sentar. Quando nos sentamos, ele começou a nos trazer dezenas de recicláveis que estavam na mesinha de centro, como se fossem os melhores presentes do mundo. Daphne estava sentada no chão com o outro controle de videogame nas mãos, descontando seus sentimentos em uma horda de zumbis de Resident Evil Village. Ela deixou de olhar para a tela por um segundo para nos dizer oi, mas sequer se levantou e nos abraçou como de costume. Ótimo, é a segunda pessoa que me trata com silêncio e desprezo em menos de duas horas. Ao lado dela, portando o outro controle do videogame, estava Crystal Stevens, uma agente da K9 tão alta, tão magra e tão hippie quanto Shaggy, mas ao invés de ter cabelos cor de caramelo como os de Shaggy, ela tem lindos cabelos castanhos, longos e lisos. Não era segredo para absolutamente ninguém que Crystal e Shaggy têm um caso há meses, mas por algum motivo incompreensível, eles preferem fingir que são apenas bons amigos. Em uma poltrona logo ao lado estava Maggie “Sugie” Rogers, irmã de Shaggy, comendo nachos e carregando pacientemente uma metralhadora Nerf que ela acabou de descarregar em seu irmão. Meu cérebro ainda tem dificuldades de entender que Sugie agora é uma universitária de 20 anos, para mim ela sempre será o bebê fofo que Shaggy levou à aula de “mostre e conte” no primeiro ano da escola. Ao contrário de Daphne, Sugie nos cumprimentou devidamente, e começou a acumular entre seus dedos as dezenas de embalagens de fast food e de garrafas de cerveja vazias que estavam apodrecendo há dias em cima daquela mesa. Scooby não gostou da atitude dela e começou a persegui-la para recuperar seus preciosos recicláveis, Norville aproveitou a ausência da irmã e roubou seu lugar na poltrona. Marcie fez questão de não dizer uma palavra, e aquele silêncio misturado com o barulho de metralhadoras me deixava mais ansiosa.


Sugie: Ah, o Fred chegou.


Fred foi recebido apenas por Sugie (que abriu a porta) e Scooby (que o presenteou com uma garrafa pet vazia de Coca-Cola). Daphne não desprendeu os olhos nem por um segundo da tela e Norville disse um “hey” um tanto desanimado, o que demonstrou que o que quer que Daphne tenha ouvido daquela discussão, ela já tinha contado para todos. Marcie estendeu o tratamento de silêncio a ele, e eu fui a única que o cumprimentou adequadamente (mais para demonstrar que estava tudo bem entre nós após a briga do que por vontade sincera de abraçar aquele filho da puta). Pouco depois, Scooby se despediu e foi para a cama (sim, ele tem uma cama queen size inteira somente para ele, mais uma aquisição inútil financiada pelos U$500 que Norville ganha mais do que eu no departamento). Fred aguardou Sugie tirar mais roupas e mais lixo da outra poltrona para se sentar, e enquanto ela trabalhava nisso, eu percebi que ele lançava um olhar de reprovação sobre cada canto sujo e desorganizado daquela casa. Para pessoas que não limpam (Shaggy e Sugie), para pessoas incapazes que tirar uma meia e colocá-la no cesto de roupas sujas (Crystal e Marcie) e para pessoas que têm duas faxineiras e duas personal organizers para cuidar de tudo (Daphne), a casa de Norville estava ok. Para perfeccionistas irritantes como eu e Jones, estava uma merda. Droga, nós somos mesmo iguais.


Norville: Hey, por que vocês não pegam umas cervejas na geladeira? Temos que pedir comida, porque não tem nada para comer aqui.


Somente Jones e eu pegamos cervejas, mais uma prova de que somos iguais e de que, o que quer que esteja acontecendo com todo mundo, nós dois somos os culpados. A geladeira completamente cheia desmentiu a fala de Norville de “não há nada para comer aqui”, e eu entendi que ele disse isso não por falta de comida, mas porque ele não queria compartilhar tudo o que tinha. Fizemos os nossos pedidos e aguardamos a comida ao som de tiros, zumbis sendo assassinados e uma discussão inútil sobre quem é o melhor personagem de The Walking Dead. Uma discussão que, obviamente, eu e Jones não fizemos parte, porque não gostamos desse tipo de série. Toda vez que Norville dava a sua opinião estúpida, Sugie respondia com um tiro de espuma em sua cabeça, o que fazia Marcie, Crystal e Daphne rirem como se tivessem doze anos. De repente, o celular de Fred tocou e mostrou o rosto de uma repórter conhecida na tela, ele tentou evitar, mas antes dele atender todos já haviam olhado para a tela e percebido quem estava ligando. Quando Fred se afastou para atender a moça, Daphne suspirou com impaciência.


Daphne: É, eu acho que eu sou radioativa mesmo. Acho que sou uma ameaça biológica, sei lá, um zumbi…


Sugie respondeu com um tiro na testa de Daphne, e desta vez até eu ri. Inesperadamente, Marcie se sentou ao lado dela e a abraçou.


Marcie: Não fica assim, amiga. O amor é uma droga e relacionamentos são complicados. Eu sei como é, eu também me sinto assim.


Marcie me olhou com certo rancor e Daphne ficou sem entender o que estava havendo. Fred voltou apenas para dizer que precisava ir para uma entrevista e ninguém se importou com sua saída repentina, exceto eu, que fiz questão de acompanhá-lo até a porta apenas para lembrá-lo de que ele não havia mudado depois de nossa discussão. Quando eu voltei, Marcie estava a caminho da porta para buscar a comida no térreo.


Shaggy: Tipo, Vel, responda rápido antes que ela volte: o que está havendo entre você e a Marcie?


Velma: Eu também gostaria de saber, Shaggy… quer dizer… eu sei, mas não sei como mudar… o que eu faço para salvar um noivado falido de dez anos? O que eu faço para ter um relacionamento saudável para nós duas?


Sugie atirou contra a minha cabeça e todos riram.


Sugie: Tente donuts às terças, quartas e quintas, vodka às segundas e sextas, e lingerie vermelha aos fins de semana. Sempre funciona.


Gargalhamos com a resposta e eu corei, por imaginar que ela estava falando sério. O constrangimento que senti foi culpa minha, afinal, eu estava pedindo conselhos amorosos sérios para uma universitária com uma arma Nerf na mão.


Shaggy: Tipo, se eu soubesse a resposta, Vel, eu não teria sido abandonado pelas minhas últimas namoradas…


Shaggy achou engraçado o que disse e riu, mas todas nós achamos a confissão um pouco triste. Ao contrário de Fred, Shaggy era um namorado incrível e sempre levava seus relacionamentos muito a sério. Mas, o aplicativo para se comunicar com Scooby, a cama queen size para um cachorro, os gastos inúteis com o Valorant, o excesso de videogame e comida, uma irmã que brinca com uma arma Nerf no quarto semestre da faculdade e a desorganização explicam perfeitamente porque nenhuma mulher desejou passar o resto de sua vida ao lado dele. Crystal riu um pouco para acompanhar Shaggy na piada, mas terminou beijando o rosto dele de maneira tão apaixonada que ele até se esqueceu do abandono. Eles até que formam um casal fofo. A julgar pelo amor por cães e por videogames que os dois compartilham, pode ser que Norville não seja abandonado desta vez.


Daphne: Bem, eu nunca tive um relacionamento de verdade… e pelo jeito, eu nunca vou ter, porque visivelmente eu não sou boa o suficiente e um relacionamento comigo nunca pode dar certo, então eu não posso te ajudar. Afinal, como você e Fred disseram, eu sou uma garota triste e abandonada, filha de pais assustadores e horríveis, que quer ser como as irmãs estúpidas, que vive em um mundo totalmente diferente e está atrás de dezenas de garotas na fila amorosa de Fred Jones, então eu devo ser dispensada!


 Velma: Eu NUNCA disse isso, Daphne! Olha só, eu estava te defendendo!


Daphne: Eu não preciso que você me defenda, eu não sou uma donzela indefesa! E que defesa foi essa? Você pediu para ele me dispensar, Velma!


Velma: Daph, você não entendeu o que eu estava dizendo porque não ouviu o suficiente!


Daphne: Eu ouvi sim o suficiente! Tem ideia do quanto eu esperei por uma chance? E agora que eu estava quase conseguindo, você diz para ele se afastar e ele simplesmente vai embora pros braços de outra garota!


Sugie ficou em dúvida se deveria atirar em Daphne, para fazê-la rir e impedir que mais lágrimas escorressem pelo seu rosto, ou em mim, para me punir pelo que eu havia feito. Por fim, a orelha direita de Norville recebeu as três balas finais sem motivo nenhum.


Velma: Daphne, eu estava tentando te proteger! Eu só deixei claro que nós não vamos deixar ele te magoar, ok? Eu não vou deixá-lo te tratar como uma simples diversão! Eu não tenho culpa se o Fred é um idiota e fez o oposto do que eu mandei, aliás, eu nem sei se ele tem culpa de ser assim, hoje mesmo eu descobri que eu sou uma idiota como ele, eu nem sabia que eu fazia a Marcie se sentir dessa forma!


Naquele maldito momento, Marcie Fleach entrou na sala com as mãos cheias de pacotes de comida. Não sei o quanto ela ouviu da minha confissão, mas fiquei aliviada por estar de costas para ela enquanto assumi mea culpa. Se eu estivesse olhando para ela, talvez eu nunca tivesse dito nada, o que tornaria as coisas mais difíceis. Felizmente, a refeição foi pacífica – exceto pelos irmãos Rogers brigando por batatinhas fritas – e fizemos as pazes antes de deixarmos a casa de Shaggy. Daphne foi a primeira a sair – ela realmente tinha uma webconferência com a promotora Reyes – e quando Marce se despediu eu peguei o celular de Norville e programei dez despertadores para às 7 da manhã, para que ele possa chegar na perícia às 9 em ponto. Aproveitando que Marcie desceu as escadas na frente, Shaggy me abraçou e pediu para eu salvar nosso noivado e cuidar bem de nós duas. E eu prometi que o faria, mesmo sem saber exatamente como.


O silêncio entre Marce e eu continuou e só foi rompido quando o celular dela tocou no exato momento em que entramos em nossa casa. Eram os pais dela solicitando uma chamada de vídeo. O casal Fleach estava feliz e me agradeceu muito por eu ter comprado os cartões, por eu ter ajudado Marcie a montá-los e por eu ter concordado em abrir mão de minhas próprias férias para ajudar a família Fleach. A cada agradecimento deles, eu apenas sorria, mas eu sentia uma apunhalada de culpa no peito por não ter feito nada daquilo. Ao fim da chamada de vídeo, tudo parecia resolvido entre eu e Marce, mas eu ainda me sentia como uma idiota. Por que deixei Marcie fazer tudo sozinha? Por que eu não a apoiei? Por que eu sempre desprezo tudo o que é importante para ela? Por que eu sou uma pessoa tão desprezível que minha própria noiva tem que fazer as coisas escondido de mim? Por que eu simplesmente sou como Frederick Jones? Percebendo minha consternação, Marcie me abraçou para dizer que tudo ficaria bem. Naquela noite, pela primeira vez em dez anos, nós fomos para cama em silêncio e demoramos a dormir. Quando ela pegou no sono, eu me senti segura para começar a ser uma nova pessoa para ela.


Velma: Marcie, eu sinto muito…




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Autor(a): kendrakelnick

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