Fanfics Brasil - Capítulo 5 Scooby-Doo: Wicked Game

Fanfic: Scooby-Doo: Wicked Game | Tema: Scooby-Doo, Round 6


Capítulo: Capítulo 5

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Cheguei ao prédio da Liberty às 8h40 e aproveitei para tomar o café que eu comprei há seis quarteirões atrás. Percebi nos arredores a presença discreta, à paisana, de vários agentes da NYPD e de alguns colegas da perícia. A Liberty aparentemente funcionava normalmente, as luzes de todos os andares estavam acesas e o elevador panorâmico estava subindo e descendo, e certamente foi por isso que havia tantos reforços do departamento. Um colega da Unidade de Serviços de Emergência se aproximou discretamente, pediu instruções de procedimento e eu fiquei confusa. Sinceramente, era a primeira perícia que eu faria sem ter a menor ideia do que eu estava periciando, ou o que eu exatamente estava procurando.


Velma: Até onde eu sei, foi uma denúncia anônima de estelionato. Essa empresa foi acusada de desviar dinheiro para contas estrangeiras, então creio que só vamos apreender uns computadores e dar o fora.


Daphne: A ordem judicial é atividade ilegal, eles não têm alvarás de funcionamento nem registros de categoria. Também há ordem judicial de busca e apreensão por crimes cibernéticos financeiros. Então, sim, vocês vão apreender todos os eletrônicos do local, inclusive as imagens da câmera de segurança.


Felizmente, a nossa advogada agregada enxerida sabia mais do que eu, a chefe da perícia, e pôde dar instruções claras aos meus subordinados. Eu adoro quando Daphne Blake sabe mais sobre o nosso trabalho do que nós mesmos, diz muito sobre a nossa competência profissional. Os minutos passavam e eu torcia para que tudo ocorresse de maneira pacífica, sem resistências, lutas corporais, arrombamentos ou tiros. Meu trabalho difícil fica cem vezes pior quando a cena do crime é profanada minutos antes da minha verificação. Eu também torcia para que a invasão começasse logo, se demorar muito certamente os trabalhadores da Liberty suspeitarão das pessoas se acumulando ao redor do prédio e esconderão as evidências.


Daphne: Puxa, cadê os meninos? Já são quase 9 horas! O mercado abre às 10, então temos apenas uma hora para conseguir alguma coisa.


Daphne ainda estava fria comigo. Eu sabia disso porque, sempre que ela está chateada com alguma coisa que eu fiz, ela só fala sobre assuntos objetivos, como o tempo ou sobre crimes. Como eu havia começado a ser uma nova pessoa há oito horas, procurei reparar meus erros.


Velma: Daph, sobre ontem, eu sinto muito mesmo. Mas, eu te asseguro que você entendeu mal a minha conversa com Fred. Eu só quis te ajudar, eu juro!


Creio que Daphne e eu discutiríamos por horas se o acaso não me abençoasse com uma prova cabal de que eu estava certa: no exato momento em que eu terminei minha frase, um táxi parou em frente ao prédio da Liberty e dele saiu o capitão Jones. Andar de táxi era o modus operandi de Fred após passar a noite com alguma mulher que ele não deveria. Ele sabia que estacionar seu carro na garagem de jornalistas, juízas, advogadas e promotoras não era algo saudável para a credibilidade de seu trabalho, então, ele simplesmente ia de táxi. Daphne assistiu à cena com desprezo (ela ficaria furiosa consigo mesma se soubesse que é capaz de fazer a mesma cara de nojo de Nan Blake) e suspirou.


Daph: Não, Vel, na verdade eu entendi tudo certo. Você tem razão sobre Fred.


Fred: Olá meninas, tudo certo? Prontas para pegar esses cretinos?


 Eu fiz um sinal afirmativo com a cabeça, Daphne continuou fazendo cosplay da própria mãe até dar as costas a Fred e atravessar a rua em direção à porta da Liberty.


 Fred: O que há com ela?


Velma: A pergunta que eu faço, Fred, é o que diabos há com você, afinal. Qual é o seu maldito problema?


Fred: O que você disse para ela?


Velma: Eu não disse nada, Fred. Você disse assim que saiu daquele taxi. Idiota!


Repeti o gesto de Daphne, apesar de não conseguir reproduzir o desprezo de Nan. A minha caminhada até a porta fez com que um exército de peritos repetisse meus passos e se acumulassem ao redor de mim. Fiz sinal para que eles dispersassem novamente, para não causar suspeitas, mas não deu tempo, pois o capitão Jones logo chegou com seus agentes a tiracolo.


Fred: Nove horas, pessoal, é hora do show.


Velma: Mas, e o Norville? A K-9 Unit ainda não chegou.


Fred: Não precisa chamá-lo. É um estelionato, Velma, não é assassinato. Ninguém precisa dos cães para pegar computadores.


Os outros peritos olharam para mim esperando confirmação da ordem de Jones. De fato, nessa situação os cães não eram essenciais, então eu concordei e pedi para todos tomarem seus lugares.


Daphne: Shaggy está a caminho. Temos uma pessoa desaparecida, é claro que precisamos dos cães!


Fred: Por que você chamou o agente Rogers? Ninguém confirma o desaparecimento do Sr. Cho em Nova York…


Daphne: O Departamento de pessoas desaparecidas confirma. E a imigração também. Sr. Cho não era imigrante ilegal, e não há relatos de extradição. Na Coréia do Sul, o desaparecimento foi registrado há meses pela família. E a Interpol o procura por crimes financeiros. Então, sim, precisamos dos cães, pois esse foi um dos últimos lugares em que o Sr. Cho foi visto.


 Como eu disse, o fato de nossa agregada de estimação saber mais sobre o caso do que nosso próprio capitão diz muito sobre a competência do nosso departamento. A cada frase dita por Daphne, ela pegava uma pilha de papéis para provar o que estava dizendo. É claro que o sobrenome dela é o passaporte para obter com facilidade muitas das informações que ela precisa, mas a qualidade do trabalho de Daphne não vem apenas de seu berço de ouro. Ela é responsável, cuidadosa e astuta, diferente do troglodita que eu chamo de capitão, e muitas vezes eu desejei que ela fosse do NYPD. Ela também desejou muitas vezes trabalhar conosco, é verdade, mas desistiu quando descobriu que as mulheres do NYPD não usam saltos finos nem roupas elegantes como nas séries de televisão.


Fred: Daphne, nove e cinco! Vamos esperar o agente Rogers até quando? Não era nem para ele estar a caminho, não precisamos…


Daphne: Esperaremos até ele chegar! Ele não ouviu o despertador e perdeu hora! Você também chegou bem depois de todos nós, deve ter ido dormir bem tarde, não é Fred? Ou talvez nem dormiu!


A acusação magoada de Daphne atingiu Fred e os dois começaram a discutir coisas sem relevância nenhuma com o nosso caso. Meus colegas me olharam com uma cara impaciente de “why dont they get a room?” e eu concordei. Não demorou muito, o primeiro furgão da K-9 Unit estacionou na esquina, seguido de outros dois furgões que fizeram o mesmo na esquina seguinte.


Fred: Três furgões de cães? Aonde vocês estão com a cabeça? Não estamos em 11 de setembro!


A pergunta havia sido para mim, a chefe da perícia, mas eu prestava tanta atenção no capitão Jones que só percebi quando meus colegas me cutucaram.


Velma: Eu não pedi três furgões cheios de cães, capitão. Eu só chamei o agente Rogers. Eu fiz como você mandou ontem, durante o jantar.


Fred: Eu não pedi cães! Vamos pegar computadores! Vocês têm ideia do gasto disso para o departamento? Dos relatórios inúteis que teremos que preencher?


Velma: Eu não faço ideia, Fred, porque eu não sou administradora, então nada disso me interessa. Eu apenas sigo as ordens confusas de um capitão imaturo, que combina uma perícia sem sentido apenas para se exibir enquanto o Sr. Mayberry corteja a Daphne.


Eu não vi a reação de Fred porque dei as costas a ele assim que terminei, mas consegui ouvir uma risadinha de deboche de Daphne. Caminhei depressa em direção a Norville, que de longe acenava com alegria para mim.


Shaggy: Tipo, hey Vel! Por que você colocou “Forever” do Kiss como despertador? Você sabe que para me acordar tem que ser algo mais pesado, tipo, “For whom the bell tolls” do Metallica! Tipo, eu dormi que nem um bebê, se não fosse a Daph me ligando…


Velma: Que merda, Norville! Você vai ter um mês inteiro para dormir o quanto quiser, tinha que dormir demais justo hoje?


Shaggy: Tipo, é que eu demorei para dormir porque fiquei com medo dos zumbis, daí eu fui streamar no CS um pouco, daí quando eu percebi eram três da manhã e…


Velma: Não me interessa o que você fez, Norville! Vamos logo, já são quase nove e meia! E o Fred está de mau humor!


O jeito impaciente e autoritário com que eu falei deixou claro que não era apenas o Fred que estava de mau humor, e a “nova Velma” se odiou por ainda ser tão parecida com Fred Jones. Ao fim da minha bronca, Norville e os demais agentes da K-9 Unit começaram a desembarcar os cães dos furgões. Percebi que Crystal saiu do mesmo furgão de Norville com a mesma cara de quem acabou de acordar às pressas, e então eu entendi por que o agente Rogers havia dormido demais.


Velma: E quem ordenou trazer três furgões cheios de cães? Não tivemos um terremoto! O Fred foi claro que só queria Scooby-Doo, que diabos deu em você que autorizou essa matilha?


Por mais que eu me esforçasse para ser uma nova pessoa, a capitã Velmarick Jones, the bitch, continuava lá gritando e dando ordens para pessoas que não trabalhavam para ela. Por sorte, Norville – o chefe da K-9- encarou o meu descontrole da maneira mais pacífica e mindful possível, uma atitude que é fruto de um conhecimento superficial sobre budismo, anos curtindo boa música dos anos 60 e anos de boa maconha.


Shaggy: Tipo, relaxa, Vel! Fui eu mesmo que pedi para trazer todo mundo! Eu trouxe essa turminha para dar uma volta, não dá para escolher quem levar na perícia e quem deixar no canil, é como escolher um filho preferido!


Os demais agentes ignoraram a minha bronca, e quando eu percebi, eu estava rodeada de cães. Crystal segurava as coleiras de Scooby-Doo e de um golden retriever fêmea que Norville chama de Amber, quando os demais agentes da K9 se distraíram com os cães, o agente Rogers se despediu dela e lhe beijou rapidamente, confirmando as minhas suspeitas sobre os motivos do atraso. Eu suspirei e fiz meu caminho de volta à Liberty, sem disposição para discutir com Norville. Ele que enfrente Fred sozinho.


Para a minha surpresa, não havia mais ninguém em frente ao prédio. Aparentemente, o capitão Jones, em um momento de birra infantil, havia começado a perícia sem a chefe da perícia, algo incrível e que também diz muito sobre a competência de nosso departamento. Olhei para trás e vi que, também, não havia mais ninguém ao redor dos furgões. Os agentes da K-9 e a dúzia de cães já estavam a quarteirões de distância (sim, aparentemente eles só foram trazidos aqui para passear mesmo, um fato que diz não sobre a competência, mas sobre a nobreza do chefe da K-9 Unit). Confusa, corri em direção à porta do prédio para tentar alcançar a equipe, mas no meio do caminho eu fui ultrapassada por Scooby-Doo em alta velocidade e por Norville correndo atrás dele com a coleira na mão. A porta da Liberty era automática, então Scooby não precisou parar de correr para entrar. Norville e eu entramos logo atrás e encontramos o Hall vazio, sem sinal da nossa equipe. As luzes estavam acesas, toda a estrutura do local estava muito limpa e muito bem cuidada, o cheiro de concreto fresco misturado com cheiro de água sanitária dizia que o local recebia cuidados excessivos com freqüência. Havia equipamentos de última geração por toda parte – câmeras, cabos, roteadores, modems, computadores, sensores -, mas não havia ninguém. Inclusive, não havia sequer sinal de que haveria alguém ali, não havia cadeiras, mesas, máquinas de café e outras coisas presentes em escritórios cheios de funcionários. Scooby-Doo desacelerou no meio do Hall e logo assumiu o mesmo comportamento lunático que teve no restaurante: começou a latir e avançar, e quando parou, começou a cheirar loucamente cada centímetro do lugar. Eu e Norville nos olhamos assustados.


Velma: Eu acho que ele achou alguma coisa, Shaggy.


Shaggy: Tipo, tá sentindo esse cheiro? Não sei, um cheiro de coisa química, sintética, não sei…


Velma: Sim… parece… água sanitária… acetona… não sei dizer exatamente.


Shaggy e eu ficamos minutos cheirando o ar para tentar definir exatamente o tal cheiro, e enquanto isso Scooby farejava os cantos, até que começou a cavar o chão. Corremos até o local, mas o chão parecia firme demais para haver algo embaixo. Shaggy se abaixou para verificar se havia algum piso solto ou algo do tipo, e nisso Scooby começou a correr novamente. Ao se aproximar do elevador, a porta automática se abriu e, do mesmo jeito, se fechou, levando Scooby para o subsolo. Eu e Shaggy nos desesperamos e procuramos uma escada, mas não havia outro acesso aos outros andares a não ser pelo elevador. Também não havia um botão para solicitar o elevador e fazê-lo voltar com Scooby. Somente após alguns minutos a porta se abriu sozinha, mas o elevador estava vazio. Norville gritou de desespero ao ver que Scooby havia desaparecido, eu o confortei com um abraço e o puxei para o interior do elevador junto comigo. Lá dentro não havia botões de andares, nem um painel que mostrasse o andar em que o elevador se encontrava. De repente, a porta do elevador simplesmente se fechou e nos conduziu vários metros acima, sem explicação nenhuma. Norville logo agarrou meu braço, temendo o que estava acontecendo.


Velma: Calma, Shaggy, deve ser um elevador smart computadorizado, algo do tipo…


Inventei qualquer coisa para tentar deixar a situação menos tensa, mas eu também estava com medo. Shaggy gritava por Scooby-Doo e por socorro, mas ninguém respondia. Deduzi que ali dentro havia algum tipo de isolamento acústico, pois os gritos de Shaggy não ecoavam como deveriam. Dentro do elevador, o cheio químico era ainda mais forte e sufocante, e por um momento eu temi que Norville e eu ficássemos presos ali e morrêssemos sufocados com alguma substância tóxica.


Shaggy: Deve ser um laboratório secreto de drogas, não é possível…


Velma: Combina com a nossa teoria sobre a lavagem de dinheiro…


Quando eu terminei de falar, o elevador parou em um andar muito acima do térreo. A porta se abriu e o andar parecia um frigorífico de tão frio. A vista panorâmica do alto da Cedar St. era linda, mas a vista que tive do interior daquele andar foi assustadora. Centenas de máquinas Frostbit 1000 estavam espalhadas pela sala, com luzes verdes piscando, indicando que estavam funcionando. Cada máquina estava conectada a vários cabos, e a rede de cabos terminava em uma grande caixa metálica, parecida com um painel elétrico.


Velma: É, pelo jeito o Fred tem razão, são os malditos moleques dos bitcoins…


Shaggy: Tipo, nem precisamos mais procurar o dinheiro roubado, deve estar tudo aqui! Veja essas máquinas caríssimas!


Velma: Vamos levá-las.


Nós dois começamos a andar entre as máquinas para procurar pistas, a cada passo Norville as admirava e falava sobre especificações técnicas incompreensíveis até para mim. Quando percebi que não havia nada além delas, mandei uma mensagem para o capitão Jones para avisar sobre a minha descoberta. Para a minha surpresa, inexplicavelmente, o meu celular estava sem sinal, pedi a Norville para contatar Fred, mas o aparelho dele também estava sem internet. No mesmo momento eu lembrei do elevador sem botões e uma tonelada de pânico tomou conta de mim. Não havia sinal de celular, não havia escadas, nem botão de elevador, portanto, eu e Norville estávamos presos ali, a muitos metros do chão. Eu não precisei explicar para Shaggy que estávamos presos, ele logo se deu conta, correu para o elevador e começou a bater na porta e gritar desesperadamente.


Velma: Droga, como eu pude ser tão burra? Certamente isso é uma armadilha, alguém queria nos prender aqui.


Shaggy ficou ainda mais desesperado com a possibilidade de alguém vir nos encontrar. Eu tentei ficar calma e achar uma solução racional, mas o medo me impedia de raciocinar. Depois de muito gritar e chamar, a porta do elevador finalmente se abriu, e o interior dele estava vazio. Shaggy e eu nos olhamos, sentimos certo receio de embarcar novamente e sermos levados para algum andar mais acima. Porém, quando as portas começaram a se fechar, nos desesperamos e decidimos entrar mesmo assim. Infelizmente, o que mais temíamos aconteceu: subimos. Não consegui contar quantos andares exatamente, mas creio que foram uns cinco andares, e então, sem explicação nenhuma, o elevador parou novamente e as portas se abriram. A sala era igualmente fria, mas estava vazia e parcialmente escura, um barulho repetitivo e estranho vinha do fundo dela, um som que parecia vir de algum equipamento elétrico. Norville me impediu de sair do elevador, afinal, não havia nada ali para investigar. Nós esperamos a porta se fechar novamente para sermos levados a outro andar, mas o elevador parecia não mais funcionar, era como se ele quisesse que saíssemos e entrássemos naquela sala. Eu, então, fiz sinal para que saíssemos, assim que descemos o elevador fechou as portas e partiu, o que deixou Shaggy ainda mais nervoso. Tentei justificar minha atitude com um pensamento lógico.


Velma: Esse elevador deve ser programado para levar os responsáveis pela Liberty em locais estratégicos, por isso precisávamos descer e investigar o que há aqui, Shaggy. No primeiro andar estavam as máquinas, então em algum lugar desse andar deve haver o painel de controle…


Shaggy: Tipo, painéis de controle invisíveis? Porque eu não vejo nada aqui, a não ser medo e perigo…


Olhei com desprezo para Shaggy para censurar sua piada inoportuna, mas eu não consegui contestá-lo com palavras, porque eu sentia exatamente aquilo. O barulho de componentes elétricos parecia aumentar e eu senti um arrepio esquisito percorrer todo o meu corpo.


Shaggy: Velma, você também está se sentindo esquisita? Tipo, parece que eu estou flutuando, eu não sei explicar, meu corpo está dormente, parece que alguma coisa está me puxando…


Era exatamente o que eu estava sentindo, mas eu não podia admitir. Eu precisava confortar Shaggy e manter o controle da situação, se eu admitisse que sentia o mesmo, ele poderia ter um ataque de pânico.


Velma: Shaggy, você está no meio de uma crise de pânico. Todos os sintomas que você descreveu são compatíveis com sintomas de pânico e ansiedade, e você sabe que você tem esses transtornos com freqüência, logo, a explicação disso é fisiológica e… ahhhh!!


De repente, eu fui arremessada violentamente contra uma das paredes da sala e ali permaneci grudada, sem a possibilidade de me mexer. Eu não conseguia enxergar devidamente, pois eu estava na parte escura da sala e meus óculos haviam desaparecido (provavelmente caíram quando fui jogada contra a parede). Consegui ver um grande borrão em pânico grudado na parede a alguns metros de mim e deduzi que era Shaggy. Eu tentei raciocinar rápido e me soltar de todas as formas, e logo percebi que as partes do meu corpo que estavam presas eram exatamente as partes que tinham componentes metálicos: o relógio no punho esquerdo, os distintivos do NYPD, a armação do sutiã, as fivelas do colete a prova de balas, o cinto da calça, as fivelas dos sapatos, meu (agora falecido) celular e, certamente, os meus desaparecidos óculos.


Velma: Shaggy, rápido! Tire todos os objetos metálicos que tiver! Estamos em um campo magnético!


A sala vazia pareceu ouvir a minha conclusão, pois o barulho elétrico aumentou de intensidade e eu senti que a atração de nossos corpos à parede ficou ainda mais forte. Removi os sapatos e o blazer com os distintivos com facilidade, mas o relógio – completamente metálico –, o cinto, o colete e o sutiã pareciam impossíveis. Percebi que Shaggy enfrentava o mesmo dilema, preso por apenas alguns objetos.


Velma: Fique calmo, Shaggy! Vamos pensar racionalmente em uma solução, ok?


Aqui estou, novamente fingindo ser Fred Jones e tentando segurar as rédeas da situação em minhas mãos, mesmo sem fazer ideia do que fazer. Felizmente, não precisei pensar muito, de repente, inexplicavelmente, do teto da sala surgiu um grande borrão colorido, pendurado em uma corda, e ele ficou girando devagar, como aquelas malditas pinhatas que éramos obrigados a destruir nos aniversários de nossos amigos nos tempos de pré-escola. Com a mão livre, procurei meus óculos com armação de acrílico no blazer e confirmei minhas suspeitas: era realmente uma pinhata. Ela tinha a forma de um cavalinho sorridente, feito de papelão e decorado com papel crepom colorido. No lugar do nariz, porém, não havia um nariz: havia um botão vermelho escrito “off”.


Shaggy: Tipo, uma pinhata! Eu não acredito que eu estou preso aqui e não posso destrui-la! Que tipo de doces será que tem aí dentro?


Shaggy tem a mente de um adolescente e o coração de uma criança de seis anos, então, a aparição da pinhata foi para ele tão terapêutica quanto o pirulito que os médicos dão a uma criança logo após lhe examinar a garganta. Eu, que sempre tive 85 anos mentalmente e emocionalmente, não achei tão divertido. Inclusive, parte disso se deve a Shaggy, por ter quebrado um bastão de pinhata na minha cabeça (por acidente) enquanto desesperadamente espancava uma pinhata no aniversário de seis anos de Fred Jones.


Velma: Eu acho que não há doces, há um botão para desligar essa porcaria, veja o nariz do cavalo!


Novamente, a sala pareceu ouvir o que eu disse, e de repente o barulho elétrico diminuiu e nós nos soltamos da parede. No entanto, mal conseguimos comemorar: em poucos segundos, o barulho elétrico voltou e nós grudamos novamente na maldita parede.


Shaggy: Tipo, a partir de hoje eu sou defensor das lagartixas! Elas ficam grudadas na parede o tempo todo e ninguém percebe como isso é difícil!


Também não ficamos muito tempo grudados: Cerca de um minuto após, o barulho elétrico cessou novamente e nos desgrudamos mais uma vez. Shaggy disse um compilado de palavrões e eu rapidamente corri para apertar o botão da pinhata, mas quando estava a poucos metros dela, novamente o barulho voltou e nós ficamos presos.


Velma: Shaggy, escute, alguém está se divertindo conosco, e eu acho que o único jeito de sair daqui é apertando aquele botão…


Não consegui concluir: fomos soltos novamente e corremos o mais rápido que podíamos em direção à pinhata. Shaggy, que era bem mais rápido que eu, chegou até o cavalinho, mas no momento em que foi apertar o botão, o barulho elétrico voltou e fomos arremessados contra a parede. Desta vez, o impacto foi tão violento que meus óculos de acrílico caíram e se estilhaçaram no chão. Senti um pouco de sangue escorrer da minha narina direita e Shaggy me olhou com preocupação.


Shaggy: Velma, tipo, eu acho que estão aumentando o campo, não saia mais dessa parede, você pode se machucar! Eu contei 15 segundos para chegar até a pinhata, deixe comigo!


Velma: Shaggy, é só nos livrarmos dos objetos metálicos.


Shaggy me olhou com uma cara de “isso é tão simples e, ao mesmo tempo, não tão simples”, e eu só entendi o que ele quis dizer quando o barulho sumiu e eu arranquei meu colete e meu sutiã de uma só vez. Quando recuperei meus óculos de metal (que não estavam inteiros, mas estavam em melhor estado do que os de acrílico), eu olhei para mim semi-nua e me arrependi totalmente de ter tomado uma decisão baseada apenas nas leis da ciência (e totalmente inadequada para as leis sociais). Shaggy foi mais cuidadoso: arrancou somente o relógio e o colete e postergou a retirada do cinto, acreditando que conseguiria quebrar o recorde de velocidade de Usain Bolt antes de ser jogado novamente contra o concreto. Quando ficamos livres novamente, corremos o máximo que podíamos, mas terminamos na parede mais uma vez por causa dos objetos metálicos que nos restavam. De fato, o campo parecia estar mais forte, e os intervalos de campo ligado e campo desligado também pareciam estar menores, de modo que mal conseguíamos desafivelar os cintos entre um intervalo e outro.


Shaggy: Tipo, Velma, quem está brincando conosco está mudando as regras do jogo e isso não é bom! Pode ser perigoso, é melhor nos apressarmos.


Sem opção, colocamos todas as nossas energias em arrancar todos os objetos metálicos remanescentes e Shaggy – o primeiro a conseguir ficar livre de metais – correu até a pinhata e apertou o botão. Felizmente, o botão tinha a finalidade que suspeitamos: o campo magnético cessou totalmente e luzes acenderam na parte escura. No canto oposto da sala, o elevador novamente apareceu de portas abertas. Shaggy e eu pegamos rapidamente nossos pertences e corremos o mais rápido que podíamos para alcançar o elevador antes que ele desaparecesse novamente. Quando entramos no elevador, ouvimos latidos distantes de Scooby Doo, e Shaggy gritou de volta. As portas se fecharam, o elevador continuou a subir e os latidos ficaram ainda mais distantes. Shaggy, em pânico, tentou ligar o seu celular para acessar o seu aplicativo de linguagem canina, mas após tanta exposição a um campo magnético altíssimo e após vários impactos contra a parede, o celular parecia quebrado. Antes que eu pudesse testar o meu próprio celular para pedir ajuda, o elevador parou em um andar e a porta se abriu, relevando Daphne e Fred.


Após tanto sofrimento, Shaggy teve uma reação emotiva e correu desesperadamente para os braços de nossos amigos. Eu reagi de maneira mais contida, apesar de sentir o mesmo alívio. Daphne e Fred pareciam ter feito as pazes e estavam felizes em nos ver também, mas não estavam tão aflitos, aparentemente não tiveram uma experiência tão ruim quanto a nossa. Após os cumprimentos iniciais, tentamos sair do elevador, mas Fred nos impediu e disse que não havia nada naquele andar.


Fred: A não ser que vocês também queiram brincar de arremessar bolas de baseball em latas, não há nada a se fazer nesse andar.


Daphne: Sim, é o terceiro andar em que encontramos apenas brincadeiras chatas de feiras e parques de diversões.


 Os três ursinhos de pelúcia que Daphne segurava revelaram que os dois tiveram mais sucesso em seus desafios do que eu e Shaggy. Os vestígios de batom de Daphne ao redor da boca e do pescoço de Fred mostraram que, sim, eles tiveram muito o que fazer neste andar. E o sorriso bobo que Daphne portava dizia que as brincadeiras que ela participou não foram tão chatas assim.


Shaggy: Tipo, vocês tiveram sorte! Vel e eu brincamos de pinhata, mas em uma versão psicopata e perigosa! Algum sádico ligava um campo magnético e a gente espatifava na parede igual uma fatia de queijo quando cai do hambúrguer!


Velma: E porque vocês estavam aqui sozinhos? Cadê o resto da equipe? Por que você não nos esperou, Fred?


A bitchy Velma estava de volta, furiosa, dolorida e exigindo explicações. O sorriso de Daphne se desfez e pude perceber que ela formulava alguma resposta menos patética e adolescente do que “Fred Jones me chamou para ficar a sós com ele e eu simplesmente aceitei”. Fred, o inabalável Fred, foi menos inseguro e rebateu meus questionamentos com o habitual desprezo.


Fred: Porque vocês trouxeram duas dúzias de cães sem me comunicar e estavam atrasando a minha operação…


Velma: Ah, claro, a SUA operação, não é? E por conta disso você achou que o mais adequado a fazer seria deixar todo mundo para trás e sumir com a Daphne?


Fred: Porque a Daphne é quem tem todas as informações do caso!


Velma: Eu tenho as informações, o Norville tem as informações, o agente Collins tem as informações, todo mundo aqui tem as porras das informações, por que você trouxe só a Daphne? E por que há batom dela no seu rosto?


Daphne parou seu processo de formulação de uma resposta viável e fez uma expressão facial de “por favor, pare de ser desagradável”. Eu, no entanto, estava com hematomas demais para me importar com as expressões faciais alheias.


Velma: Fred, isso não é brincadeira! Você não está mais no Ensino Médio, quando você simplesmente sumia para beijar alguma garota na sala de química! Quem está por trás desse crime é perigoso, o que ele fez comigo e com Shaggy foi cruel, poderíamos ter morrido! Além disso, a nossa equipe e Scooby-Doo desapareceram, estamos em um elevador sem rumo, e o nosso capitão está sozinho com uma mulher jogando bolas de baseball em latas para ganhar um ursinho de pelúcia!


Ao fim do meu sermão, a porta se abriu e três membros de nossa equipe entraram desesperados no elevador, empurrando nós quatro uns contra os outros.


Collins: Feche a porta desse elevador, rápido!


Os três membros começaram a bater nas paredes do elevador, procurando um botão que fechasse a porta. Só entendemos a reação deles quando um robô humanóide assustador surgiu do fundo da sala e começou a se aproximar de nós em passos lentos, dizendo “O mestre mandou esperar”. O desespero, então, foi generalizado, e todos nós nos esforçamos para que aquela porta fechasse o mais rápido possível.


Collins: Esse monstro nos obrigou a brincar de “O mestre mandou”. E ele é o mestre!


Por sorte, a porta se fechou antes que o robô nos alcançasse e o elevador continuou a subir. No andar seguinte, mais três membros da equipe visivelmente machucados se juntaram a nós no elevador, tornando insuportável respirar e se mexer. Eu tentei manter a calma e evitei pensar que, se o elevador parasse, nós inevitavelmente morreríamos por falta de oxigênio, mas quando Daphne gritou ao ser espremida contra a parede, eu também surtei.


Myers: Faz meia hora que estamos aqui brincando de Marco Polo, espero que o Marco Polo não apareça antes que essa porta se feche.


Infelizmente, o “Marco Polo” apareceu (outro robô humanoide ainda mais assustador que o anterior) e por pouco ele não se juntou a nós naquele maldito elevador que continuava a subir e subir.


Fred: Na próxima parada, todos nós descemos. Vamos morrer se ficarmos aqui.


Obviamente, não foi o que aconteceu. Na próxima parada, encontramos mais três membros de nossa equipe: dois totalmente ensanguentados e um com algumas fraturas, e o susto que tomamos ao ver uma cena tão violenta fez com que nossos instintos de preservação agissem e arranjassem meios de empilhar nossos amigos em cima de nossos (já esmagados) corpos.


Steward: Uma tela nos instruiu a jogar Corre-cotia, mas o pacote simplesmente explodiu em todos nós.


Os relatos do sadismo das “brincadeiras” me fez sentir alívio de apenas ter sido arremessada contra a parede diversas vezes. Fred, porém, ficou transtornado, e entre uma dúzia de corpos entre nossos olhos eu pude perceber que ele se sentiu culpado por ter deixado sua equipe para trás. De repente, o elevador fechou as portas, e pela primeira vez, começou a descer. Descemos por tanto tempo que um pequeno pânico começou a perturbar meu raciocínio lógico, mas felizmente o pânico estava errado: quando o elevador parou e a porta se abriu, estávamos em um andar enorme, elegante, muito bem iluminado e, aparentemente, logo abaixo do hall térreo por onde entramos. Sem hesitar, descemos e ajudamos nossos amigos feridos a descer também.


A primeira coisa que fiz foi tentar ressuscitar o meu celular e, curiosamente, o sinal dos nossos aparelhos funcionava normalmente naquele lugar. Shaggy começou a chamar por Scooby-Doo, e seus gritos atraíram olhares curiosos de nossos amigos para as nossas roupas de baixo. Shaggy e eu então nos lembramos que estávamos sem as nossas calças, coletes e sapatos, e rapidamente nos vestimos para evitar os olhares curiosos. Daphne, porém, foi mais rápida. Motivada por uma vingança infantil por eu ter reclamado da atitude dos dois pombinhos, ela começou a me censurar.


Daphne: Quando encontrei vocês, você estava em um elevador sem calças, sem sutiã, cheia de hematomas, com os óculos quebrados, na companhia de Shaggy, que também estava sem as calças e cheio de hematomas… e você decide perguntar sobre o meu batom?


Velma: Poderia dar uma explicação lógica sobre como seu batom foi parar no rosto do Fred?


Daphne: Poderia dar uma explicação lógica sobre como suas calças e seu sutiã saíram? E as calças de Shaggy? Pois é algo bem mais comprometedor do que meu batom no rosto de Fred, não acha?


Em outro contexto, eu teria levado essa discussão muito mais longe. Naquele momento, porém, eu estava feliz demais por estar viva para brigar com a minha melhor amiga e mandá-la ficar longe do idiota do Fred Jones. Então, eu simplesmente desisti de enfrentar Daphne.


Velma: Campos magnéticos fortíssimos, no meu caso. E no seu, aparentemente, um tipo diferente de magnetismo.


Minha resposta fez Daphne corar e sorrir, e eu consegui encerrar mais uma discussão com sucesso. Pudemos ver, então, que o tal andar parecia com um bar, havia poltronas nos cantos, mesas de pôquer, um pequeno palco, um balcão no centro cheio de garrafas de bebida e, ao redor, dezenas de máquinas de caça níquel e alguns caixas eletrônicos da Applegate. Por sorte, os membros restantes de nossa equipe estavam ali, em segurança. Quando eles nos viram, se assustaram com os ferimentos de nossos amigos e vieram nos ajudar.


Steward: Eu não acredito que servi de brinquedo de um psicopata enquanto vocês ficaram aqui bebendo e ganhando dinheiro nessas máquinas!


A acusação de Steward tinha algum fundamento, visto que alguns copos de whiskey e algumas centenas de moedas estavam espalhados pelo local. Mas também havia maletas de coleta abertas e máquinas confiscadas, o que confirmava que minha equipe fez o seu trabalho.


Fred: Então é isso, pessoal, aqui é a porra de um cassino ilegal… cheio de jogos estranhos que devem atrair pessoas mais estranhas ainda…


Velma: Eu não diria isso, Fred. Shaggy e eu achamos dezenas de máquinas para minerar bitcoins. Máquinas muito caras, inclusive, e achamos que o dinheiro desviado foi usado para comprar essas máquinas.


Fred: Então é um cassino estranho com bitcoins malditos, o que mais falta para ser o nosso caso mais bizarro do ano?


Como se entendesse o que Fred acabou de dizer, Scooby-Doo apareceu no grande balcão do bar e começou a latir da mesma maneira insana que ele latiu no restaurante (de acordo com Shaggy, Scooby entendia a nossa língua, mas Shaggy também achava que Scooby falava, então ele não pode ser considerado uma fonte confiável). Shaggy correu para abraçá-lo, mas Scooby não esperou por ele e disparou até uma pequena porta de frigobar e desapareceu novamente.


Shaggy: Scooby-Doo, cadê você?


O eco dos latidos de Scooby vieram de dentro do frigobar, confirmando que ele realmente estava ali. Quando nos aproximamos, percebemos que a porta revelava um espaço bem maior na parte de dentro, e concluímos que aquilo não era um refrigerador e sim uma entrada secreta para algum lugar. O tal lugar secreto parecia iluminado por luzes brancas, tinha paredes pintadas de azul claro e aparentemente era muito frio, pois emitia um ar bastante gelado. Scooby insistia em nos chamar, e nós nos olhamos com receio antes de obedecê-lo.


Velma: Ah, não, nem pensar! Eu acabei de sair em um elevador psicótico que parecia uma lata de sardinha! Eu não vou entrar nesse lugar minúsculo!


Daphne: Velma tem razão, Fred, pode ser perigoso!


O olhar romântico que Daphne e Fred compartilharam foi interrompido por Shaggy, que passou entre eles e pulou dentro no frigobar.


Shaggy: Hey, Scooby-Doo está nos chamando, turma, ele pode estar em perigo, vocês não pensam nele não?


A bronca de Shaggy fez Fred se espremer imediatamente dentro do frigobar e pular dentro da passagem secreta. Quando Daphne fez o mesmo, ele tentou impedi-la, mas ela acabou pulando em seus braços e ele a amparou. E eu revirei meus olhos de raiva ao perceber que eu teria que seguir meus amigos idiotas em mais uma perícia idiota em um lugar idiota. Peguei as maletas necessárias, entrei na passagem secreta e pedi que os membros da equipe que não estavam machucados me seguissem.


O lugar era um corredor longo e estreito, com cerca de dois metros e meio de altura, um metro de largura e vários metros de comprimento. O lugar era bem iluminado e as paredes pareciam ser feitas de Etileno Acetato de Vinila (material que as pessoas comuns chamam de EVA, e que PhDs em química como eu fazem questão de chamar pelo nome completo). A primeira impressão que tive é que o lugar era uma grande geladeira, feita para atenuar reações químicas exotérmicas em processos de fabricação de drogas ou algum composto financeiramente rentável.


Shaggy: Hey, Vel, tipo, lembra do cheiro que sentimos quando chegamos? Provavelmente veio daqui!


Shaggy tinha razão, o local estava contaminado com o cheiro sintético que sentimos quando chegamos. Eu não tenho olfato o suficiente para diferenciar um vinho caro de suco de uva integral, mas o cheiro sintético se parecia muito com…


Daphne: É formol! E… acetona… não! Parece mais com… solventes orgânicos… é removedor de esmalte!


Confiei no olfato da Daphne não apenas porque ele confirmava o que eu estava sentindo, mas também porque ela sabe diferenciar vinhos caros. Por um instante eu pensei que o cheiro talvez fosse exalado pelo revestimento da parede, mas antes de sugerir essa hipótese eu fiz algumas reações químicas rápidas em minha mente (para encontrar algum composto volátil) e não obtive nenhum embasamento científico para a minha teoria, então não falei nada. Conforme avançávamos pelo corredor, o cheiro parecia ficar mais forte e não havia janelas, nem nenhum local de ventilação.


Fred: Acho melhor voltarmos. Esse cheiro químico pode ser tóxico e nos matar. Vamos interditar o local e depois voltamos com máscaras adequadas.


Scooby-Doo mais uma vez provou que entendia a nossa língua, mordeu a manga da camisa de Fred e o puxou até o fim do corredor, a apenas alguns metros de onde estávamos. Shaggy seguiu os dois como um cão obediente, e o resto de nós fez o mesmo. Terminamos em uma sala grande com as mesmas características do corredor, grande parte dela estava vazia, exceto por uma pilha de caixas pretas enormes, que pareciam grandes caixas de presente. Scooby-Doo começou a latir mais e mais para todos os cantos da sala, em especial para as caixas pretas, e isso fez com que Shaggy sentisse medo e me abraçasse.


Shaggy: Tipo…isso daí… é o que eu estou pensando, pessoal? São…são…são caixões?


Eu senti um arrepio de horror percorrendo a minha espinha quando Shaggy disse caixões. Eu não havia pensado nessa possibilidade até ele dizer, mas depois que ele disse, eu só conseguia pensar nessa finalidade para as caixas de presente. Fred olhou para Daphne e eu – ele estava tão aterrorizado com a ideia quanto nós duas – e esperou a nossa opinião para prosseguir. Algo tão raro de acontecer quanto encontrar caixões em forma de caixa de presente.


Daphne: Fred, esse cheiro… pode ser formol… e você sabe, eles usam formol para conservar cadáveres!


Daphne estava quase chorando quando terminou de falar e olhou para mim. Infelizmente, eu não podia discordar.


Velma: E se não for formol, é água sanitária ou algum desinfetante poderoso. E você sabe que os assassinos usam isso para lavar sangue das cenas de crime…


Quando eu disse “assassinos”, Shaggy me abraçou com mais força e também puxou Daphne para perto, escondendo a cabeça nos ombros dela. Daphne o confortou, mas olhou para mim e Fred como se ela mesma precisasse ser confortada.


Daphne: Turma, eu vou sair. Se o pobre Cho Sang-woo estiver nessas caixas, eu não quero ver!


Shaggy: É isso aí, eu estou indo também! Agora o trabalho é do capitão e da perícia, venha Scoob! Nosso trabalho terminou!


Fred segurou Scooby pela coleira e Shaggy pelo colarinho no mesmo momento, impedindo-os de sair.


Fred: Ainda não terminou. O cão nos trouxe até aqui, o cão irá ficar até o fim! Scooby fareja cadáveres, não fareja?


Shaggy: Infelizmente, sim…


Fred: Então, ele fica…


Shaggy: E o treinador do cão, pode ir embora?


Mesmo sem combinar, Fred e eu lançamos o mesmo olhar de reprovação para Norville, indicando que a pergunta que ele fez era tão óbvia que nem precisava de resposta.


Shaggy: Tipo, é que eu só queria ter certeza, capitão…


Daphne: Vamos, Shags, vamos todos juntos até o fim.


Daphne pegou na nossa mão como se estivéssemos brincando de roda no recreio da pré-escola, e juntos caminhamos alguns passos em direção às caixas. Scooby, satisfeito por perceber que estávamos obedecendo a seus latidos, correu na frente e começou a indicar caminhos com o focinho. Eu logo abri a minha maleta e meus companheiros de perícia fizeram o mesmo, sinalizando os locais que o cão indicou a presença de um cadáver. Fred quase pisou em minha mão com suas botas pesadas (ele estava tateando o chão para tentar achar terra fofa ou algum fundo falso) e eu revidei o descuido dele alfinetando seu tornozelo com meus marcadores. Inevitavelmente chegamos na pilha de caixas e Daphne sinalizou que ficaria distante. Eu respirei fundo e coloquei minhas luvas, e minha equipe fez o mesmo. Shaggy segurou Scooby pela coleira (ele já forçava com o focinho a tampa da caixa que estava no alto da pilha) e iniciou seus comandos de praxe. Scooby se abaixou e apontou o focinho para as caixas, para nosso desespero.


Shaggy: É, há algo nas caixas.


Daphne fechou os olhos com força e cobriu o rosto com as mãos, e Norville gemeu de tristeza por não poder fazer o mesmo. Fred, então, respirou fundo e com a ajuda do agente Collins removeu a tampa da caixa. Felizmente, a primeira caixa estava vazia, o que causou uma onda de alívio em todos nós. A tensão voltou quando Fred abriu a segunda caixa, e assim tivemos picos de tensão e de alívio por mais seis ou sete vezes, até as caixas acabarem.


Fred: Todas vazias, pessoal, nenhum cadáver…


Shaggy comemorou com um grito.


Velma: Nenhum cadáver aqui, neste exato momento. Não significa que cadáveres não tenham sido colocados nessas caixas em outro momento…


Shaggy choramingou com a notícia. Pelo comportamento de Scooby, ele sabia que eu estava certa.


Velma: É o que vamos descobrir agora…


Comecei a borrifar luminol nos locais indicados e, infelizmente, todos confirmaram a presença de sangue. As manchas de luminol, no entanto, pareciam não ter fim, extrapolavam os locais indicados por Scooby e revelaram uma cena assustadora. Percebendo que eu não estava conseguindo fazer o trabalho sozinha, toda a equipe de perícia começou a borrifar luminol pela sala e pelas caixas vazias, e o resultado final foi impressionante. Havia manchas por todo o chão, e do chão até metade das quatro paredes, com respingos no teto, e isso revelou que aquele lugar havia sido palco de uma verdadeira carnificina.


Shaggy: Vamos pensar positivo, aqui pode ter sido um frigorífico! Ou um lugar usado para fazer hambúrgueres! Afinal, entramos em uma geladeira!


Velma: Os testes da perícia dirão se…


Fred: Sim, apenas uma geladeira que foi desinfectada após o uso, e isso que estamos vendo deve ser apenas reação do luminol com água sanitária, não é, Velma?


Velma: Bem, só os testes da perícia dirão se…


Daphne: Gente, e se isso for uma geladeira, mas de carne humana? Se todas essas manchas forem de sangue, conseguimos descobrir se isso é sangue humano ou animal, Velma?


 Velma: OS-TES-TES-DA-PE-RÍ-CIA-DI-RÃO-O-QUE-É-IS-SO!


Às vezes, a minha voz só é ouvida quando ela é destacada com uma pitada de grosseria. Quando terminei de soletrar aos meus amigos que eu precisava periciar o local para entender o que havíamos encontrado, eles perceberam que a minha mensagem claramente era “caiam fora daqui porque eu preciso trabalhar” e se retiraram. Ficar sozinha naquele local me causava arrepios, por isso realizei os testes e coletas o mais rápido possível e logo saí dali. Ao chegar à porta da pequena geladeira, Fred me puxou pela mão e me ajudou a sair daquele corredor angustiante. Convoquei, então, meus colegas de equipe para uma pequena reunião a fim de discutirmos detalhes técnicos de nossas descobertas. Fred Jones obviamente não foi convidado, mas pateticamente ficou a uma distância pequena de nós, ouvindo os detalhes que ele provavelmente roubaria para si quando o mistério fosse solucionado. Um colega evidenciou o fato do K-9 ter encontrado a passagem secreta (o que reforça a hipótese de que houve um crime no local) e solicitou nova perícia com o cão, porém, ao perceber que Daphne dividia uma caixa de Basler Brunslis legitimamente suíços (que custa cinqüenta dólares, por sinal) entre Scooby Doo e seu tutor, concluí que seria inútil solicitar que a K-9 unit voltasse ao trabalho. Quando a caixa de biscoitos acabou (em uma cena lamentável em que Scooby Doo, como um bom retriever, pegou a caixa com os três biscoitos finais para si e saiu correndo, e Shaggy, como o bom e velho Shaggy, correu atrás dele para pegar os biscoitos e ainda por cima lambeu o chocolate que ficou na caixa), eu pedi a Norville que voltasse à cena do crime com o K-9. Ele elaborou uma explicação técnica tão complexa para justificar o seu medo que eu resolvi não obrigá-lo (entre tantas pérolas, ele disse que “Basler Brunslis atrapalham o olfato dos cães” e que, “segundo o aplicativo, Scooby disse que não era necessário voltar lá porque ele já farejou o bastante”). Fred, como sempre, deu suas ordens arrogantes e inúteis de capitão, do tipo, “peritos, recolham as máquinas”, e a única que obedeceu foi Daphne, que curiosamente é a única que não trabalha para ele.


No fim, colocar Daphne nessa função foi uma grande ajuda do destino, porque eu (ou qualquer pessoa normal) jamais repararia em uma agulha no meio do palheiro. Já Daphne (uma detalhista que repara se a cor da pedra dos seus brincos combina com os enfeites do seu sapato) é uma grande perita em pequenos detalhes, e assim que ela começou a tentar retirar uma das máquinas caça níquel, ela viu o que jamais veríamos.


Daphne: Olhem! Há algo aqui dentro!


Na parte de baixo da máquina, no buraco onde as moedas saem quando o jogador é premiado, havia um pequeno triângulo de papelão fino e marrom. Daphne passou os dedos com cuidado para tentar puxar o objeto (que parecia ser a ponta de algo maior), mas seu gesto fez o pequeno triângulo afundar ainda mais na fresta onde ele estava preso, então ela parou. Eu me aproximei com uma lupa para tentar enxergar melhor o que era aquilo, e percebi que parecia um cartão de visitas ou algo do tipo.


Fred: É uma nota de cem que ficou presa, garotas.


Daphne: Fred, isto parece ser algo mais escuro que uma simples nota, e feito de material mais firme…


Fred: É uma nota de cem suja e dobrada que ficou presa…


Daphne: Não, Fred, veja, é bem menor que uma nota, e essa máquina não fornece notas como prêmio…


Daphne aproveitou a oportunidade para pegar na mão de Fred e levá-la cuidadosamente até o local em que o objeto estava preso, e depois disso, ela demorou um pouco para soltar. Fred Jones, porém, não foi tão romântico, ele estava ocupado demais tentando ter razão e sequer aproveitou o gesto de Daphne.


Fred: Então deve ser uma nota de cem falsa, suja, dobrada que ficou presa…


Velma: Fred, eu acho que a Daphne conhece notas de cem melhor do que todos nós, não? E acho que ficou um pouco evidente que NÃO É uma nota de cem, não?


Contrariado, Fred pegou uma pinça da minha maleta sem pedir a minha permissão e tentou puxar o pequeno triângulo, mas falhou diversas vezes até reduzir o triângulo inicial a uma ponta minúscula no dispenser da máquina. Daphne novamente aproveitou a oportunidade para segurar as mãos gigantes e descoordenadas de Fred e impedir que ele falhasse até empurrar totalmente o triângulo para dentro do dispenser. Então, com uma habilidade motora que nem mesmo eu tenho (e eu aprendi a escrever com dois anos!), Daphne pinçou a ponta do objeto com suas unhas bem feitas e o puxou delicadamente para fora até libertá-lo completamente. O objeto, de fato, se revelou um cartão de visitas de papelão fino, mas nele não havia nenhuma informação senão três figuras geométricas na frente e uma sequência de números no verso. Daphne sorriu por ter encontrado uma pista e depositou o tal cartão em um saco plástico que eu lhe ofereci.


Fred: Bom trabalho, Daphne! Porém, eu não sei se podemos considerar isso uma pista para este caso. Isso é um dispenser de moedas, às vezes alguém apenas utilizou um cartão qualquer para tentar trapacear e conseguir mais moedas do que ganhou.


Velma: É, Fred tem razão, Daph. Parece-me que alguém tentou trapacear e o cartão ficou preso. Nenhum criminoso deixaria um cartão de visitas.


Daphne: Mas vocês não acham que é um cartão estranho? Geralmente, cartões têm informações claras, nome da pessoa e da empresa, cargo, e-mail… Esse aqui só tem um telefone esquisito! E de oito números, Velma! Não deve ser um número dos Estados Unidos… nem da Suíça, nem de Londres, nem de Milão, porque os números de telefone das nossas casas nesses lugares também têm dez dígitos… talvez seja da França! Se eu me lembro bem, o número da Blake Estate em Paris tem oito números, eu preciso confirmar com o Jenkins…


A observação de Daphne sobre o número não ser daqui foi interessante, mas Fred e eu sabíamos, com base em nossa experiência de anos no NYPD, que o cartão não tinha relevância para o que havíamos encontrado até então. Fred e eu nos olhamos e percebi que ele estava delegando a mim a função de estragar os alegres minutos de detetive de Daphne.


Velma: Daph, poderia ser um número de outro planeta, pense logicamente, o que é mais provável? Que a pessoa por trás do roubo, dos jogos sádicos e da geladeira sinistra deixou esse cartão aqui ou que alguém colocou um cartão qualquer para pegar algumas moedas a mais? Entende? No trabalho policial, encontramos muitas distrações e pistas falsas e não podemos deixá-las atrapalhar o foco da investigação…


Daphne ficou visivelmente chateada por Fred e eu não considerarmos aquilo uma pista, mas mesmo assim manteve o cartão intocado dentro do saco plástico, provando que ela discordava totalmente da nossa opinião e iria investigar o cartão ela mesma.


Shaggy: Hey, Daph! Tipo, que loja de games é essa? Posso ver? Shaggy pegou o saco plástico com o cartão dentro e começou a analisá-lo. A frase “Eu disse que não era relevante” inevitavelmente saiu da minha boca quando Shaggy mencionou que era o cartão de visitas de uma loja de games idiota e Daphne ficou brava por ter sido contrariada.


Daphne: Como você sabe que isto é o cartão de uma loja de games? E não é uma pista para tudo isso que acabamos de achar?


Shaggy: Pelos símbolos! Tipo, olha só, não lembra o controle do Playstation? É um típico cartão de uma loja de quadrinhos e games… não é uma pista… e já que não é uma pista, tipo, será que eu posso ficar com ele? Tipo, quando eu estiver livre eu vou tentar ir lá…


Não foi uma atitude muito legal da minha parte, mas eu ri com a resposta de Shaggy, que desacreditou totalmente a teoria de Daphne de que aquilo era uma pista. Daphne ficou furiosa e segurou o saco plástico com força, mostrando que ninguém iria tirar a “pista” de suas mãos. Shaggy percebeu que causou a fúria de Daphne e tentou consertar as coisas.


Shaggy: Tipo, você pode ir junto também, Daph! Pode ser que a loja tenha vendido as máquinas caça-níquel, ou os Frostbits que eu e Velma achamos… você não acha? E se eles venderam, eles devem saber alguma coisa sobre esse lugar, não acha? Tipo, a gente tem que ir então, eu levo o Scoob e ele vai nos dizer se há algo suspeito lá, e se não tiver nada suspeito a gente chama a Suggie e dá uma olhada nos jogos!


Daphne não percebeu que Shaggy estava apenas tentando ser legal e cantarolou vitória como se tivesse conseguido um aliado. Quando o resto da equipe terminou de coletar todas as máquinas e provas, deixamos o prédio. Do lado de fora, combinei horários e exames das amostras com a minha equipe, Daphne se afastou para atender uma ligação e Fred reuniu todo mundo para repassar as conclusões da perícia.


Fred: Bem, parece que nossas suspeitas iniciais de atividade ilegal e desvio de dinheiro se confirmaram após essa perícia. Visivelmente não há uma empresa funcionando aqui, esse prédio é apenas uma fachada para encobrir um cassino ilegal e máquinas de bitcoins. Então, após essa denúncia, daremos continuidade a essa linha de investigação para achar os responsáveis e…


Velma: E a perícia irá determinar se, além de tudo isso, o local também foi palco de um crime…


Fred: Muito bem lembrado, Velma, também temos essa questão a resolver. Pode ser que um assassinato tenha ocorrido naquele local, e sabendo que o Sr. Cho, responsável pelos desvios de dinheiro, está desaparecido, pode ser que a vítima seja ele.


Velma: Então o próximo passo é verificar a atividade das máquinas coletadas, analisar as amostras e aguardar o laudo do departamento de crimes cibernéticos sobre as atividades financeiras da Liberty…


Fred: E com tudo em mãos teremos certeza sobre as denúncias de Alan Mayberry. Muito bem, equipe, declaro nossas atividades encerradas por hoje. Apesar das excentricidades que vimos, creio que não há mistério nenhum aqui, todas as evidências se encaixam em um típico crime financeiro e…


Shaggy: Tipo, a única coisa que eu não consegui entender, Fred, é por que Scooby-Doo se comportou de maneira tão estranha aqui e no restaurante também… eu nunca vi ele se comportar assim!


Fred: Ora, Shaggy, não podemos nos basear no comportamento duvidoso de um cão…


Daphne: Shaggy tem razão, Fred. Scooby invadiu o restaurante da mesma maneira que invadiu aquela geladeira. E avançou para o Alan, não parece suspeito? Eu confesso que confio ainda menos nele depois disso, é como se Scooby estivesse nos dizendo que Alan tem algo a ver com o que achamos na passagem secreta.


Ao ouvir “eu confio ainda menos nele”, Fred se animou e pareceu mudar de ideia.


Velma: Bem, ainda temos uma cena de crime suspeita, Fred. E uma pessoa desaparecida após um roubo. E uma pessoa que queria muito que a pessoa que lhe roubou pagasse pelo que fez. Assim como esse prédio não é o que parece ser, talvez Alan não seja tudo o que parece ser. Talvez ele mesmo tenha sumido com Sang-woo após o roubo, e forjou essa denúncia para não parecer suspeito.


Fred: É, turma, parece que temos mesmo um mistério em nossas mãos…




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Autor(a): kendrakelnick

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