Fanfic: A corrida | Tema: Harry Potter, Omegaverse, Darkfic
A virgindade era altamente valorizada nessa sociedade, especialmente para um ômega. Estereótipos culturais insistiam que um ômega deveria representar certas virtudes, e a pureza estava no topo da lista. A Corrida alimentava essa percepção de alguma maneira. A fuga frenética dos ômegas dos alfas era quase como uma dança ritualística para preservar sua "virtude mais sagrada": a castidade. Claro, a ironia era que qualquer ômega que se inscrevesse para a Corrida dificilmente seria casto. No entanto, a ilusão precisava ser mantida.
Essa valorização da virgindade tinha consequências monetárias tangíveis. Muitos ômegas recorriam a leiloar sua primeira vez para alfas e até betas dispostos a pagar um preço elevado. Era uma opção economicamente viável, considerando como a sociedade frequentemente relegava os ômegas à marginalização, limitando suas oportunidades de emprego e pagando-lhes salários notoriamente mais baixos em comparação aos betas e alfas.
Embora estivesse ciente dessa triste realidade, Harry detestava a prática. Não era uma questão de ser conservador, mas de achar repugnante o nível extremo de objetificação ao qual os ômegas estavam sujeitos. A ideia de que sua primeira experiência sexual poderia ser comercializada como um bem precioso era abominável para ele, especialmente quando comparada à falta de importância atribuída a tal evento na vida de outros indivíduos. Harry sabia que os Weasley enfrentavam dificuldades financeiras, o que tornava a decisão de Gina um pouco mais compreensível em sua mente. Mesmo assim, a situação o enchia de uma mistura tóxica de raiva e repulsa.
Ele conhecia Gina. Por ambos serem ômegas, havia uma afinidade natural entre eles, um espaço seguro para trocar confidências. A ideia de que ela pudesse estar pensando em algo tão drástico sem lhe contar o perturbava profundamente. O quanto a situação financeira dos Weasleys tinha se deteriorado para chegar a esse ponto? Harry não pôde evitar sentir uma pontada de culpa; afinal, eles o tinham acolhido quando ele era apenas um órfão.
Absorto em seus pensamentos, Harry mal percebeu a dupla de adolescentes que cochichava próxima a ele enquanto viajava de metrô para a periferia de Londres ao fim do seu turno de trabalho.
"Você fala com ele," insistiu um.
"Não, você fala," retrucou o outro.
Finalmente, um dos garotos reuniu coragem e se aproximou. Harry estava tão concentrado em mensagens que enviava para Ron e Gina que só notou a presença do jovem quando o aroma o atingiu. Era um cheiro doce, rico e amadeirado, a marca distintiva de um alfa.
Inspirando profundamente e expirando longamente, ele ergueu os olhos do celular para o garoto diante dele. Não devia ter mais de 16 anos e usava o uniforme de uma escola privada da elite alfa. O que ele está fazendo aqui?, Harry pensou. Rumo à parte pobre da cidade, o metrô em que se encontrava não era frequentado pela alta sociedade. Harry tinha uma leve ideia do que poderia estar acontecendo, mas preferiu esperar para ver.
"O que você quer?" Harry foi direto ao ponto, sem ter paciência para rodeios. O odor intenso de feromônios começava a deixá-lo levemente nauseado, aumentando ainda mais sua irritação.
"Você é um ômega, está sozinho e também não usa coleira," declarou o adolescente Alfa. Harry percebeu que outro jovem, aparentemente um Alfa como o primeiro, assentia a cada palavra proferida.
"Parabéns pela perspicácia. Alfas continuam a me surpreender com suas descrições do óbvio," respondeu Harry, deslizando a mão em direção ao bolso de sua mochila.
O olhar do jovem Alfa se alterou, e o que antes era castanho agora assumia um tom avermelhado na íris. Para Harry, essa era uma das habilidades mais banais dos Alfas: a capacidade de mudar a cor da íris conforme suas emoções.
"Como ousa falar assim, ômega!" O jovem Alfa praticamente rosnou. "Vou lhe dar uma chance para se retratar."
Harry olhou em volta; o vagão ainda não estava muito cheio, mas havia pessoas ali. Em sua maioria, betas, e, pelo que podia ver, ele era o único ômega. Ninguém parecia disposto a intervir; muitos pareciam propositalmente imersos em seus celulares. Não que Harry realmente esperasse ajuda naquela circunstância.
"Então você quer um pedido de desculpas? Mas por quê, exatamente? Por eu não me curvar e beijar seus pés? Por eu não me jogar no seu pau simplesmente por você ser um Alfa? Não sei o que te ensinam nessa sua escola elitista, mas 'senso comum' claramente não faz parte do currículo," disse Harry, percebendo que alguns betas tiveram que conter o riso ante sua resposta. Outros já preparavam seus celulares, antecipando algum tipo de confronto.
Harry percebeu que havia atravessado um limite perigoso quando o jovem Alfa o agarrou pela camisa, erguendo-o de seu assento com uma força desproporcional à sua estatura e idade. Foi mais um lembrete da força sobrenatural que os Alfas possuíam, uma característica que Harry sempre achou incômoda.
"Vou te fazer se arrepender de falar assim, ômega...Vou rasgar suas roupas e te fazer meu, aqui mesmo, nesse chão sujo desse vagão. Com todos esses caras olhando!" Ele falou, a íris vibrando em um tom vermelho e uma mescla de laranja, a passagem da fúria para excitação. O cheiro que o alfa agora emitia era inebriante, mas Harry resistiu.
"Se lixo atrai lixo, então estou prestes a tornar este chão ainda mais imundo, deixando você caído nele," Harry rebateu. A confusão momentânea que cruzou o rosto do jovem Alfa foi o suficiente. Em um movimento ágil, Harry puxou de sua mochila um spray anti-Alfa.
Ele acionou o mecanismo do spray, liberando um aroma quase imperceptível para os betas, ligeiramente irritante para ômegas, e absolutamente insuportável para Alfas. A repulsão foi tão intensa que o adolescente imediatamente soltou Harry, caindo de joelhos e vomitando no chão do vagão. O outro Alfa, claramente nauseado, fez uma tentativa débil de agarrar Harry, mas foi prontamente neutralizado com um chute na virilha. Justamente nesse instante, o metrô começou a desacelerar, sinalizando a aproximação de uma estação. Assim que as portas se abriram, Harry pulou sobre os Alfas contorcidos e fez sua fuga.
Na estação, Harry puxou rapidamente o capuz de seu moletom sobre o rosto, acelerando o passo. Ele sabia que, apesar de ter agido em autodefesa contra um assédio iminente, a lei frequentemente favorecia os Alfas, especialmente quando o agressor era um ômega. Agradeceu mentalmente pelo fato de estar em uma região menos vigiada da cidade, onde a presença policial era mais escassa.
Ao subir as escadas, ele foi saudado pelo vento cortante da noite londrina. A intervenção dos Alfas adolescentes o havia forçado a descer na estação errada, e agora ele teria que caminhar cerca de dois quilômetros para chegar em casa. No entanto, não podia negar um certo prazer em ter deixado os Alfas incapacitados, caídos literalmente a seus pés, apesar das circunstâncias.
~***~
"Parado aí!" A voz com um tom autoritário reverberou pelas escadas de pedra, fazendo com que Harry hesitasse antes de prosseguir. Mil cenários diferentes surgiram em sua mente em fração de segundos — seria um policial? Qual a rota de fuga mais viável? Seus pensamentos foram interrompidos quando deparou com dois rostos sorridentes e ruivos, praticamente idênticos, surgindo da escuridão da rua mal iluminada.
Ah, Fred e Jorge Weasley. Com eles, 'estar em apuros' ganhava um novo significado.
"E aí, Harry? Como vai?" Fred iniciou, seu sorriso característico iluminando seu rosto sardento.
Jorge completou, com um brilho malicioso nos olhos: "Nocauteando Alfas, pelo visto?"
Um calafrio subiu pela espinha de Harry. Ele olhou em volta e notou que a rua estava quase deserta, envolta em sombras criadas pela iluminação precária — muitos dos postes de luz estavam quebrados ou apagados.
"Do que vocês estão falando?" Harry tentou disfarçar a preocupação, enfiando as mãos nos bolsos de seu moletom e dando um passo em direção à entrada do prédio. No entanto, os gêmeos se adiantaram, bloqueando sua passagem.
"Do que estamos falando? Disso aqui, senhor Potter," disse Fred, exibindo um celular com a tela parcialmente quebrada. Mesmo com o vidro trincado, dava para ver claramente um vídeo sendo reproduzido.
No vídeo, Harry viu a si mesmo: um jovem esguio vestindo um moletom vermelho e amarelo que parecia excessivamente largo, como se tivesse sido comprado em um brechó sem muita atenção ao tamanho. Seus jeans desgastados e os tênis All-Star surrados complementavam o visual despretensioso. Seu rosto era emoldurado por óculos de aro redondo, cuja armação estava remendada. Os cabelos castanhos, indisciplinados, pareciam nunca ter conhecido um pente. Seus olhos de íris esverdeada transmitiam um desinteresse palpável enquanto observavam os jovens Alfas. O vídeo tremido, provavelmente filmado por algum beta no vagão do metrô, capturava o momento em que o Alfa o agarrou e o ergueu do assento. A filmagem também registrava, para o horror de Harry, o instante em que ele disparou o spray nos Alfas, fazendo-os cambalear e cair, nauseados, no chão.
"Onde...?" Harry começou a perguntar, mas Fred o interrompeu.
"Foi postado no TikTok e no YouTube há alguns minutos atrás. Devo dizer que você é bastante fotogênico."
"E quando você ia nos informar sobre o spray? Ele realmente funcionou, não é? Qual é a sua avaliação?" Jorge perguntou, claramente entusiasmado. Afinal, ele e seu irmão tinham sido os criadores do spray anti-Alfa, um produto que certamente não seria comercializado oficialmente, mas que não parecia preocupar muito os gêmeos.
"Funcionou," admitiu Harry, permitindo que um leve sorriso se formasse em seus lábios. "Esta versão é muito melhor que a anterior; não tive nem mesmo um ataque de espirros desta vez."
Fred assentiu, digitando algo rapidamente em seu celular, enquanto Jorge ostentava um sorriso de satisfação evidente. "Com base no vídeo, dá para ver que os Alfas ficaram bastante debilitados," Fred observou. "Isso pode ser um problema. Quero dizer, a intenção é que eles fiquem incapacitados, mas não a ponto de atrair a atenção da polícia e nos acusarem de tentativa de assassinato."
"A questão é que não temos muitos Alfas dispostos a servir como cobaias voluntárias para testar a eficácia de nossa fórmula," Jorge ponderou.
"Se querem a minha opinião, a fórmula está perfeita. Ver os Alfas vomitando é, de certa forma, algo satisfatório," opinou Harry.
Os gêmeos trocaram um olhar cúmplice e depois exclamaram em uníssono, "Eca!"
"Harry, você tem fetiches bem peculiares," brincou Fred.
"Temo pelo Alfa que se envolver com você no futuro," acrescentou Jorge.
"Ele trará um saco de vômito para a noite de núpcias, então?" indagou Fred.
Com um revirar de olhos, Harry sorriu, esboçando um sorriso que se alastrou pelo canto de seus lábios. Por alguns segundos, ele até se esqueceu de seus problemas atuais.
Mas esse momento de alívio durou apenas alguns segundos. Outra figura ruiva se juntou ao grupo, emergindo do prédio. Ele compartilhava a aparência característica dos gêmeos, mas seu corpo era mais desajeitado, quase desengonçado. Vestido com um terno que já vira dias melhores—originalmente preto, mas agora desbotado para um cinza desgastado—Rony Weasley parecia ter acabado de chegar de um longo dia de trabalho no escritório.
"Harry? Já estava ficando preocupado com você... E por que vocês dois estão aqui?" perguntou Rony, franzindo o cenho para os irmãos, que encolheram os ombros em perfeita sincronia.
"E Gina? Como ela está?" Harry foi direto ao ponto, e isso pareceu chamar imediatamente a atenção dos gêmeos.
"O que aconteceu com Gina?" Fred e Jorge questionaram ao mesmo tempo, abandonando seu tom usualmente brincalhão.
Exalando um suspiro cansado, Ron massageou o espaço entre seus olhos. "Podemos conversar sobre isso no apartamento? Aliás, Gina também está lá," informou ele, visivelmente exausto.
Harry assentiu, ajustando a alça de sua mochila nos ombros para aliviar a tensão crescente. O grupo entrou no prédio, visivelmente deteriorado, suas paredes marcadas pelo tempo e negligência. Mantiveram-se em silêncio ao entrarem no elevador apertado, que soltava solavancos inquietantes à medida que ascendiam. Finalmente chegaram ao andar desejado e caminharam por um corredor estreito, com um carpete esburacado em várias áreas, até chegarem ao apartamento que Harry dividia com Ron.
Quando Ron tocou na maçaneta, a porta imediatamente se abriu revelando Gina, com olhos avermelhados. "Desculpe, Harry," ela murmurou, lançando-se nos braços do ômega.
Autor(a): nmcmsama
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
A cozinha e a sala compartilhavam um único espaço, formando um ambiente compacto e aconchegante. Em vez de uma mesa de jantar tradicional, Harry e Ron faziam suas refeições em um sofá antigo, mas surpreendentemente confortável, que ocupava o centro da sala. Enquanto Ron se dedicava a preparar chá na cozinha apertada, r ...
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