Fanfics Brasil - Parte I: Amor Depois da Morte Bravo Mundo Morto

Fanfic: Bravo Mundo Morto | Tema: Original


Capítulo: Parte I: Amor Depois da Morte

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BRAVO MUNDO MORTO


Parte I – Amor Depois da Morte –


 


 


[???] - Um homem pode durar para sempre, se souber enfrentar um desafio.


Quando a realidade é cruel, você tem que imaginar um mundo só seu. O importante é saber deixar os minutos passarem.


Se eu conseguisse parar de pensar nos minutos que passam, poderia retirar o significado do tempo. Eu poderia parar o relógio.


Foi o que aconteceu. Perdi a noção do tempo. Para mim, essa palavra não significava mais nada.


 


Eu só tinha duas prioridades. Continuar vivendo... e não se entregar ao pânico. Passar de um dia para o outro pensando o mínimo possível.


Continuo dizendo a mim mesmo que os mortos eram estúpidos, que eram lentos. Que eles nunca me pegariam.


Não sei nada sobre zumbis. Quer eu quisesse ou não, tive que tomar uma decisão. Muitas pessoas deixaram a cidade tentando chegar a centros populacionais maiores e mais seguros. Continuei trabalhando normalmente, mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que decidir o que fazer.


E ainda assim, continuei esperando.


Bem fora da cidade havia um morto que estava sentado em algumas pedras há dias. Ninguém tocou nele. Nem mesmo os ceifadores.


Os ceifadores diziam que o cérebro dele estava uma geleia, e que não valia a pena desperdiçar uma bala por uma cabeça podre.


Acho que o colocaram lá para nos desencorajar de sair. Para nos fazer pensar que, talvez, houvesse outros como ele por perto.


Pelo menos, foi o que pensei. E, comigo, estava funcionando.


 


Não pensei que fosse fraco ou covarde. Eu estava apenas tentando acompanhar o medo de todo mundo, sem levantar um dedo para tentar mudar as coisas.


Tudo se resumiu a isso. Conforme-se ou morra.


Esse mundo tinha ido a merda, e a única coisa que eu queria fazer era continuar consertando casas. Isso manteve minha mente longe da passagem do tempo. Eu pensei que poderia sobreviver.


Mas aquela sexta-feira, trabalhando com Martin na casa do Newbon, foi o último dia da minha vida...


 


Alex: - Eu entendo, Martin, não sou idiota! É que se eu pensar muito nisso, vou enlouquecer, né? Eu sei que ninguém mais fala sobre isso, mas o que devemos fazer? Sentar em um canto, assustados, fazendo xixi nas calças? Não, valeu. Prefiro pensar em outra coisa. Se eu tiver que me enganar e pensar que está tudo bem, e que as coisas vão ficar normais. De novo um dia, então eu farei isso. Você pode apostar que sim.


 


Martin parecia distante naquela conversa, mas ele por enquanto ficou calado apenas ouvindo, mexendo na sua maleta de ferramentas. Alex estava no último degrau de uma escada que abre e fecha, posta à beira da escada de acesso ao andar debaixo da casa. Alex ajeitava um painel na parede.


 


Alex: - Você quer saber o que eu realmente acho? Acho que deveríamos seguir todos que deixaram essa porra de cidade. Correríamos o risco de morrer e voltar como zumbis, mas pelo menos teríamos tentado. Mas a verdade é que estou com muito medo. Então continuo o que sempre fiz, com a ilusão de que a situação vai mudar. O que você quer que eu diga? O mundo inteiro mudou tão rápido. Disseram que poderiam deter o vírus, que haviam restringido a área ao redor da explosão. Besteira. Agora nos dizem que os ceifadores resolverão o problema rapidamente, mas como podemos confiar neles? Eles os criaram usando o mesmo vírus que deixaram escapar. Eles saem, matam zumbis e voltam. E ficamos aqui, sem que ninguém nos diga mais como vão as coisas.


Martin: - Se quiséssemos partir, deveríamos ter feito isso há um ano com os outros. Agora está muito mais complicado. Entrar nas grandes cidades é difícil, o processo seletivo ficou muito rígido. Nova Iorque é o centro mais seguro no momento, mas é uma longa viagem. Além disso, Anelise e eu teremos outra coisa para resolver em breve.


Alex: - O bebê?


Martin: - Sim. Amanda nascerá em algumas semanas. Uma garota. Estamos desesperados, mas decidimos continuar aqui. O Sr. Cain morreu ontem. Ataque cardíaco. Ele estava trabalhando na casa em frente à minha. Ninguém teve coragem de eliminá-lo... coitado.


Alex: - Quem fez? Os ceifadores?


 


Martin ajeitou sua maleta de ferramentas. A fechou e se levantou em direção a porta da frente da casa.


 


Martin: - Sim. Sangue por toda parte. Foi horrível. Se eu tivesse que morrer, gostaria que um amigo explodisse meus miolos. Ainda assim... bem, você sabe como eles são tipo sem muitas palavras. Todos nós sabemos.


 


Martin saiu pela porta da frente, mas antes ele voltou e olhou para Alex.


 


Martin: - Os ceifadores também me assustam. Não consigo nem olhar nos olhos deles. Mas o que quer que façam, devem estar fazendo bem, e isso é bom o bastante para mim. Talvez no final não resolvam nada, mas sem eles a situação ficaria ainda mais descontrolada. Escuta, terminei por aqui. Vou buscar mais coisas para você.


 


Martin saiu para o seu carro enquanto Alex ficou trabalhando no alto daquela escada. Ele acabará de montar a peça no painel, só precisaria apertar bem um parafuso. Alex levou uma das mãos para pegar a ferramenta em um dos bolsos traseiros de sua calça, quando a ferramenta escapuliu do bolso.


Na tentativa rápida de pegar a ferramenta, Alex desiquilibrou-se e despencou juntamente com a escada de alumínio ao qual estava sobre. Ele caiu rolando pela escada da casa e nisso seu pescoço quebrou chegando no chão já sem vida. Como se não fosse muito, a mesma escada de alumínio decepou sua mão esquerda. Alex estava morto por um acidente descuidado.


 


[Alex] - Não foi como eu pensei que seria. Eu estava esperando uma grande luz, ou algo parecido. Não me lembro quanto tempo passou. Quando reabri meus olhos, eu estava morto.


Sem cabeça pesada, sem pensamentos confusos. Eu sabia exatamente o que tinha que fazer. Eu tinha que sair de lá e rápido. Eu precisava de um carro. Então esperei que Martin voltasse.


 


Martin: - Alex! Não consegui achar... – Ele viu muito sangue no chão ao abrir a porta. – O que...? Alex?


 


Tinha sangue no chão e a mão decepada do Alex estava lá também. Não muito longe estava a escada de alumínio e uma ferramenta. Martin subiu a escada procurando Alex, mas tudo que viu ao chegar no final dela no andar de cima, foi um corredor quase escuro com a luz do dia entrando pela janela. De repente, ouviu-se o barulho do carro lá fora.


 


Martin: - Não.... Não! – Ele desceu rapidamente para fora.


 


Mas no caminho ele reparou em outra coisa pelo chão.


 


Martin: - A mão... sumiu. Ah, merda!


 


Martin saiu somente para ver seu carro sendo roubado...


 


Martin: - ALEX! NÃO! Pare!


 


Ele correu atrás do carro, mas desistiu no meio da rua. Foi então que ele pegou o rádio na cintura.


 


Martin: - É o Martin. Dois zero um. Está me ouvindo?


- .... Eu te ouço, Martin. Vocês já terminaram?


Martin: - Alex... ah, merda, Jack... eu acho... acho que Alex está morto.


 


Dirigindo um conversível Escort XR3, uma dupla se movia pela autoestrada no deserto para um lugar chamado Willow. Uma cidadezinha ala filmes de faroeste de 1946. O carro parou em frente a um bar, uma mulher que mora em um hotel velho em frente ao bar, viu a chegada daquele carro pela janela. Discretamente os viu, discretamente saiu da janela, sentando-se numa poltrona. Ela estava preocupada e com medo, e ela é um zumbi.


A dupla entrou no bar, eram dois homens vestidos como cowboys modernos de sobretudo e chapéu. O rosto deles era horrível, para todos os efeitos, eram algum tipo de zumbis de olhos vermelhos.


Eles escolheram uma mesa e lá ficaram. O bar era gerenciado por um zumbi para zumbis. A cidadezinha parecia ser o lar para aqueles que não pertenciam mais aos vivos.


 


- Isso aí! Você não encontra cerveja assim em lugar nenhum, meu jovem!


 


O rapaz que parecia ter morrido bastante jovem, na casa dos vinte, entornou a garrafa goela abaixo. Bem abaixo mesmo. A bebida saiu toda pela abertura no pescoço dele, o que indica que ele poderia ter morrido por um corte no pescoço.


O outro zumbi, um velho, sentado ao lado dele começou a rir. Larvas saiam de sua boca enquanto sorria.


 


- Ei, calma, cara! Essa cerveja me custou uma fortuna! – Disse o dono do bar.


 


A garçonete, também um zumbi putrificado, se aproximou da dupla esquisita para atendê-los.


 


- O que posso trazer para vocês?


- Sua cabeça seria perfeita, querida.


 


Eles levantaram a cabeça revelando seus rostos de olhos vermelhos.


 


- Na verdade, vamos levar todos os quatro. – Um deles revirou a mesa para cima da garçonete.


 


- Ceifadores!!! – Ela gritou largando a bandeja no chão.


 


Os ceifadores puxaram suas armas apontando para ela e os outros três logo atrás.


 


- Você deveria ter nos reconhecido imediatamente, mas você não se lembra mesmo, né? Quando teu cérebro começa a apodrecer, você não se lembra de nada.


- Limpamos esse lugar há apenas alguns dias. Que trabalho árduo. E ainda assim vocês voltam. Vocês sempre voltam.


- Bem, nós também. – Ele apertou o gatilho.


 


O tiro acertou bem entre os olhos da garçonete zumbi, estourando seus miolos. O mesmo aconteceu com os outros naquele bar.


 


13 de julho de 2020. Vídeo # ZC-15/9. Antes dos Zumbis.


 


Três doutores em uma sala branca, olhando para seu experimento na maca.


 


- Bom dia, professor.


- Bom dia, dr. Marshall. Está tudo pronto?


Marshall: - Estamos agora no nível 5. A próxima dose o levará ao nível 1. – Ele preparou uma seringa.


- Perfeito.


Marshall: - Daqui a 15 minutos. – Ele injetou a dose na cobaia.


- Prepare-se para gravar. Agora.


Marshall: - A gravação começou. Ressurreição do paciente em 14 minutos e 45 segundos. 14 e 29... 11 e 47...


 


Um outro experimento. Um outro dia. Paciente, uma mulher de trinta e poucos anos. Em uma maca com pernas e braços presos na mesma, e vários tubos inseridos em cada parte do corpo ligados a uma máquina no teto.


 


Marshall: - Bom dia, professor Levis.


Levis: - Dr. Marshall. Nível do paciente?


Marshall: - Nível 2. Deve ser o suficiente. A resposta é excelente.


Levis: - Bom.


Marshall: - Ressureição em 15 minutos.


Levis: - Comece a gravar. Agora.


 


Outro experimento. Um homem de cinquenta anos. Cabos inseridos em sua cabeça. Estado de decomposição reduzido, corpo ainda em preservação.


 


Marshall: - Bom dia, professor Levis. Hoje definitivamente está indo melhor. Nível 7. Isso já é o suficiente. Estamos quase lá. Ressurreição em andamento. Aqui vamos nós.


Levis: - Marshall, ajuste os primeiros 5 níveis. Deveria ser.... isso. Bom.


Marshall: - Atividade muscular aumentando nas 2 primeiras linhas. 15 e 27 encerrados. Desconectando o número 9. Ele está resistindo. Atividade cerebral aumentando em 18 pontos.


Levis: - Hoje foi um grande dia, Marshall.


Marshall: - Ah, professor... estamos só começando.


 


Local desconhecido. Uma velha cabana em um pântano. Alguns homens em traje de contenção e armados. Mais uma experiência, só que “viva”, presa em cabos inseridos no corpo. Um homem em estado controlado de decomposição, rastejando e gritando por um pedaço de carne, o cheiro o atraia.


 


Marshall: - Ele caminhou por quase uma hora. Removemos a parte inferior das pernas há apenas 10 minutos.


Levis: - Níveis?


Marshall: - Ele começou a cair aos 9 e 14, mas eu diria que não está tão ruim, no momento.


Levis: - Excelente.


Marshall: - Ele está chegando na cabana agora. Eu não acho que ele possa ver. Seus olhos estão cheios de pus. De qualquer forma, a reação olfativa dele é muito boa. Brian está a 5,5 metros dele e ele está cada vez mais perto.


Levis: - Faça-o recuar mais 2,7 metros. Grave os níveis 21 e 22.


 


Mais um experimento, mesmo local. Outra cobaia reanimada e presa a cabos.


 


Marshall: - Bom dia, professor Levis.


Levis: - Marshall, o que.... Quem removeu essas pernas?


Marshall: - Selina. É que tivemos um problema.


Levis: - Ele está deixando para trás um fluxo de intestinos!


 


A cobaia rastejava seu torço pelo chão. Deixando um rasto de sangue e tripas.


 


Marshall: - Esse sujeito reagiu melhor e é mais rápido do que esperávamos. Selina teve que operar o melhor que pudesse, o mais rápido que pudesse. Os níveis estão diminuindo rapidamente. Temos 16 críticos. E ainda assim, ele continua.


Levis: - Isso, dr. Marshall. É ótimo.


 


E de novo, mais um dia, com aquele mesmo sujeito que Selina operou. Barulhos de tiros de metralhadora ecoavam naquele pântano.


 


Marshall: - É incrível. Ele continua se mexendo. Parem de atirar. Comece a gravar o fluxo número 7. Ah, professor. Bom dia. Estamos quase lá. Veja nosso sujeito. Bem, seu braço direito também caiu, logo abaixo do cotovelo. Os fluxos são todos críticos, mas as condições de resposta não mudaram.


Levis: - Muito bem.


Marshall: - Como se sente, professor?


Levis: - Estamos mudando o mundo, Marshall. O homem irá viver para sempre. Eu me sinto como um Deus.


 


No dia seguinte.


 


Marshall: - Bom dia!


Levis: - Bom dia! Estamos quase prontos?


Marshall: - Sim, ele está chegando ao fim agora.


Levis: - Mire na cabeça dele.


 


O soldado não só mirou como atirou no reanimado.


 


Levis: - Mas que diabos.... Merda, Marshall! Seus assistentes são incompetentes!


Marshall: - Professor, eles têm medo que...


Levis: - Há matéria cerebral por toda parte! Limpe aquela maldita câmera de vídeo. Mude para o número 4. Atividade do paciente?


Marshall: - Nenhum. Ele não está mais se mexendo.


Levis: - Perfeito. Desligue tudo e limpe. Começaremos de novo amanhã.


 


Voltando para o presente. No deserto dos zumbis. A caminhonete que Alex roubou do Martin estava capotada em umas rochas, Alex certamente havia perdido o controle do carro em algum momento. Um grupo de ceifadores estavam no local a procura de Alex.


 


- É a caminhonete do Martin, mas encontrá-lo não resolve o nosso problema, já que o que procuramos não está aqui. É recente, no entanto. Não há mais de duas horas. Talvez menos.


- Provavelmente uma de suas articulações entrou em colapso e ele perdeu o controle da caminhonete.


 


Enquanto os ceifadores discutiam sobre Alex e seu paradeiro, o próprio Alex estava em algum lugar dos rochedos em um ponto alto distante do local do acidente, observando-os escondido.


 


- Ele não pode estar muito longe. Está muito quente hoje. Provavelmente procurou abrigo atrás de uma rocha para esperar o anoitecer. Não vamos perder mais tempo aqui. A cidade mais próxima é Willow, e outros ceifadores já estão cuidando disso. Se ele não derreter ao sol antes de chegar lá, estará ferrado do mesmo jeito. – Disse o líder daquele grupo.


 


Os ceifadores entraram no carro e foram embora pela autoestrada. Vendo que já era seguro sair, Alex pegou sua mochila e saiu para fora das rochas. Arriscando seguir em frente debaixo de um sol escaldante até para os vivos, tentando chegar em algum lugar.


 


[Alex] - Ceifadores. Eu só os encontrei uma vez antes. Eles vieram à cidade buscar uns zumbis que estavam escondidos. Mortos caçando mortos.


A bagunça tinha acabado de começar e eu nunca tinha visto um zumbi antes. Eu pensei que eles eram todos idiotas. Idiotas e lentos... incluindo os ceifadores. Olhei uma vez em seus olhos vidrados e descobri que não eram tão vazios quanto eu pensava.


Algo ainda me dizia que estava longe de eu ter um novo lar... alguma coisa má... e desagradável.


Cheguei a Willow vários dias depois, à noite. Foi a cidade mais próxima de que ouvi falar, onde alguns mortos ainda "sobreviviam". Mas quando finalmente conheci outros como eu, percebi que a situação era ainda pior do que eu pensava.


Os ceifadores não eram o único perigo nessa nova “vida”.


Eu vi um zumbi rastejando no chão, ele era apenas um torso com braços e a cabeça, implorando ajuda. Eu vi sua cabeça podre explodir na minha frente. Eu me escondi na hora, ainda consegui ver um caminhão cheio de zumbis “caipiras” passar por cima dele.


Esses zumbis “caipiras” atiravam nos outros zumbis como se estivessem em um tiro ao alvo, ou coisa do tipo. Eles não eram apenas zumbis, eram monstros. Aqueles que não tinham propósito ou significado em suas vidas reais ficaram ainda piores após a morte.


 


- YEE-HÁ! Dez para seis! O que posso dizer. Como um bom vinho, eu fico melhor e com o tempo!


- Cala a boca. Ainda temos a noite toda.


 


Esses zumbis de personalidade ruim, que só piorou na morte, comemoravam a cada morte dos zumbis que eles brincavam de tiro ao alvo.


 


- Isso aí! Mais um! Onze para seis! O que você diz, perdedor?


- Eu digo que você é um idiota! Atira neles no cérebro, ou não vai matá-los! – Ele atirou em outro alvo na cabeça. – Desse jeito! Onze para sete! Vamos embora! Tem mais lá na frente!


 


A mulher zumbi caiu perto do Alex, de olhos abertos olhando para ele, como se estivesse pedindo ajuda. Mas Alex permaneceu escondido, sem um sutil movimento sequer.


 


[Alex] - Como se suas almas estivessem apodrecendo junto com seus corpos. Foi estranho como a garota gritou antes de morrer pela segunda vez. Afinal, ela não poderia ter sentido nenhuma dor. Então eu entendi. Percebi que ainda estávamos ligados a esse mundo e que, se eu estivesse no lugar dela, também teria gritado.


Eu não teria feito isso pelo meu corpo, mas pela minha vida. Sim, a dor estava lá. Dentro dos olhos dela.


Eu estava ferrado. Eu sabia disso. Apenas uma questão de tempo. Agora essa palavra estava começando a ter significado.


Eu estava procurando a igreja. Eu havia trabalhado em uma casa próxima, anos antes. Música. Era muito alto. Mas não era música divina.


Não, esse não era mais o reino dele há muito tempo. Quando entrei na igreja, havia uma pintura na parede do altar, uma caveira com um dizer “os mortos dança”, ali antes costumava ter uma enorme cruz. Logo abaixo uma cabine com um zumbi lá dentro, vendendo tickets.


 


- Olá, gracinha. Você é novo aqui, né? A cobertura custa 15 dólares ou meio quilo de carne fresca.


Alex: – Eu tenho grana.


- Certo. 15 dólares, por favor. Divirta-se, amigo!


 


[Alex] - O mundo já era. Mas o dinheiro continuava a ser cobiçado até pelos mortos. Quando passei pela entrada, dentro, o inferno governava agora.


Zumbis de todos os tipos estavam lá. Dos menos podres ao mais estragados. Dos mais inteiros aos que foram reduzidos a um cotoco. Até zumbi stripper tinha. Algumas dançavam tanto que partes de seus corpos se soltavam, era estranho. De todo modo, eles agiam como se estivessem vivos de novo. Talvez era um jeito de sentir que poderia haver vida dentro de suas cascas vazias.


Mesmo morto senti que aqueles jogos de luzes coloridas me ofuscavam como quando faziam quando eu era vivo.


 


- Ei, cuidado onde pisa! – Disse um homem pela metade no chão. – Tira o pé de cima da minha tripa, porra! Tire seu pé agora, ou vou pedir para o meu amigo arrancá-lo com uma mordida!


- Ah, foi mal... eu não te vi.


- Vai... grr... se.… foder! – Ele puxou parte de seu intestino delgado de volta.


 


Perto dali, encostada em uma grade, estava uma mulher sendo incomodada por um zumbi sem pernas e sem roupas.


 


- Você tem um par de pernas lindas, sabia? Você quer... dançar comigo? – Ele era do tipo chato insistente.


 


Ele tocava muito nas pernas dela.


 


- Não.


 


Nicolas: - Por que não? Eu sou Nicolas. Qual é o seu nome? – Ele tinha um dos olhos pendurado.


- Pare... para de me tocar. – Ela estava séria.


Nicolas: - Tua carne ainda está fresca? – Ele deslizou uma das mãos em uma das pernas dela. – Me beija.


Alex: - Escuta aqui cara.


Nicolas: - Hem? - Ele olhou para trás.


Alex: - Ela disse para deixá-la em paz.


Nicolas: - Carne nova, entendi.


 


Nicolas saltou enfurecido para cima do Alex.


 


Nicolas: - CARNE IDIOTA!


 


De repente um zumbi alto e forte agarrou Nicolas pelo pescoço antes que pudesse chegar no Alex.


 


- Corta essa, Nicolas. Essa é a última vez que você incomodou os clientes. Estou cheio de você! Eu já te avisei uma vez. – Ele apertava o pescoço do Nicolas.


Nicolas: - Aggghk... me desculpa.... Travis... eu não.... Eu vou ficar de boa, Travis.


Travis: - Agradeça a Deus, que~


 


Travis é o segurança da balada zumbi. Um zumbi alto e forte, bastante mal-encarado. Ele tinha placas de metal enfiadas no pescoço dele como lâminas. Talvez para deixá-lo mais intimidador, ou simplesmente um tipo de adorno.


Travis apertou com tanta força o pescoço dele que separou a cabeça do Nicolas do corpo.


 


Travis: - Não, foi mal.... Ah, dane-se! Tudo o que vocês fazem é fazer uma bagunça em todos os lugares! E então sou eu quem tem que limpar essa porra de lugar!


Nicolas: - Por favor~~


 


Travis chutou a cabeça do Nicolas para longe como uma bola de futebol. A mulher que Nicolas incomodou pôs a mão direita na boca e começou a rir do modo que o segurança despachou o Nicolas.


 


- Eu não deveria estar rindo, mas isso foi bem engraçado.


 


Alex ficou ali parado por um momento olhando para ela, como se ele tivesse sido enfeitiçado.


 


[Alex] - Mas ela me disse isso timidamente. Ela tinha perdido um olho e quase todo o braço esquerdo. Seu corpo estava coberto de feridas abertas. Mas ela ainda tinha todo o cabelo. Cabelo lindo. Ela era linda.


 


- Obrigada por fazer se livrarem daquele cara.


Alex: - Tudo bem. Você tem certeza de que não quer dançar?


- Hm.... talvez eu queira. – Ela sorriu para ele.


 


[Alex] - Nós dançamos e conversamos. Depois ela me chamou para ir à casa dela. Tudo nela parecia pertencer a outro mundo. Um mundo do qual mal me lembrava...


Ela pôs a mesa. Sua casa era organizada e bastante limpa. Enlatado de comida de gato, era o que iriamos jantar.


 


- Podemos sobreviver, sabe? Claro, o estômago continua roncando, mas você não precisa se tornar como aqueles... aqueles monstros lá fora. Infelizmente, não tem gosto de nada. Eu já tive um gatinho antes... enfim.


Alex: - Sempre gostei mais de cachorros. Mas nunca tive um animal de estimação.


- Eles têm personalidades diferentes. Para mim, os gatos sempre pareceram menos exigentes. Vamos lá, prove. – Ela ofereceu comida de gato.


Alex: - Não, valeu. Não estou com fome...


 


Alex viu uma revista na mesa, a revista era velha com ilustrações que remetiam a uma época a muito distante, quando o mundo era colorido e cheio de vida. Havia uma modelo na capa da revista.


 


- Você vai ficar faminto, cedo ou tarde, certeza. Todos nós ficamos.


Alex: - Essa é você, né?


- Sim, sou eu.


Alex: - Nossa. É uma linda fotografia.


 


A revista era sobre moda. A mulher que já foi considerada a “deusa das modelos” em vida como diz na capa, deitada na grama rodeada por flores, hoje em dia é um cadáver ambulante.


 


- É uma das últimas fotos que fiz. Ainda consigo lembrar do cheiro daquelas flores perfeitamente. Sinto muita falta disso. Eu sinto falta do mundo como costumava ser, Alex. Eu sinto falta da beleza. Sinto falta do amor.


Alex: - Eu sei que soa brega, mas... parece que sempre te conheci, Lena.


 


Alex pegou na mão direita da Lena e os dois trocaram olhares solitários.


 


Lena: - É errado sentir falta de todas essas coisas? Você acha que é errado? Essa noite foi a primeira vez que fui àquele lugar. Fiquei indecisa até o último minuto. Eu estava esperando... não sei. É que me sinto tão solitária.


Alex: - Não. Não é errado.


 


[Alex] - Eu entendia ela. Eu entendia seu desespero. Talvez tenha sido essa consciência que nos uniu desde aquele primeiro momento.


Sim, estávamos desesperados, mas estávamos juntos. Naquele mundo morto onde amor era um palavrão, nenhum de nós aguentaria ficar sozinho nem por mais um segundo.


Estávamos juntos e eu estava pronto para voar, para enfrentar a tempestade com ela.


Senti seu corpo, leve como um feixe de galhos secos, prestes a quebrar, tremendo como a última folha de uma árvore que, para nós, foi mais uma vez a árvore da vida.


 


27 de julho de 2020. Ainda no Início da Praga Zumbi.


 


Militares estavam em uma missão de extermínio em um vilarejo em uma floresta. As informações diziam que todos eram cadáveres ambulantes. Um soldado novato estava hesitando em atirar em uma criança, ela devia ter no mínimo uns oito anos, mas agora era um zumbi.


Ele olhava para os olhos daquela criança travado pelo pensamento de matá-la. A criança andava devagar em sua direção, o soldado apontando a arma para ela com a mão tremendo. Os outros soldados sequer estavam “travados” em matar aquelas coisas. Tanto faz se era jovem, velho, criança, homem ou mulher. Eles eram zumbis e a missão deveria ser comprida.


 


- ATIRA NELA! – Disse um dos soldados.


- Não. Eu não~


- ATIRA NELA! Ela já está morta! Atire!


 


O soldado que mandava seu amigo matar de vez a criança não via problema algum em eliminar aquelas ameaças. A criança já não estava mais viva, não era problema algum matá-la –de novo-, uma vez que ela já morreu pela infecção que a transformou em zumbi. Ele queria que seu amigo percebesse e visse isso.


 


- .... Quantos tem aqui!? Quantos tem aqui porra!?


- Grupo delta, na escuta? Temos sérios problemas aqui!


- .... Atira, porra!


- É~~ é só uma criança!


 


O cerco zumbi estava se fechando aos poucos, os soldados estavam rodeados pelos zumbis. O mais desesperado dos soldados que atirava feito louco nos zumbis, era aquele mesmo que mandava o amigo matar a criança.


 


- Vamos todos morrer... vamos todos morrer! – Disse o soldado apontando a arma para a criança.


 


A criança chegou perto dele como se estivesse sorrindo, e de repente mordeu a perna do soldado covarde.


 


- .... AAAAHHHHH!!! TIRA ELA DE MIM!


- JÁ CHEGA!!!! – Ele abriu fogo contra o amigo e a criança zumbi. – MORRAM TODOS VOCÊS!! AAAAHHHH!


- Larry, pare!


 


Larry continuou atirando até o amigo e o zumbi terem virado um monte de carne cheio de buracos.


 


Larry: - Eles ainda são um bando de zumbis, né? É só carne morta. Então façam o que eu digo, porque estou cansado e quero voltar para casa... vivo.


- Ok, mas... Larry.... A situação é totalmente diferente daquela que nos informaram.


- Essas coisas não ficam vagando por aí como se estivessem com morte cerebral! Se eles mantiverem sua inteligência após a morte, estaremos na merda até o pescoço. Os chefões terão que inventar alguma coisa se quiserem detê-los. Com todo o respeito, senhor... não podemos fazer mais nada a respeito. Há mais e mais deles todos os dias. Se quer minha opinião, senhor, isso é o fim do mundo, e acho que todos deveríamos começar a orar.


 


Voltando para os eventos atuais. Alex olhava da janela do segundo andar, no quarto da Lena, o movimento do lado de fora do bar onde os ceifadores estavam. Eles tinham escutado tiros lá dentro, e Alex observava pela janela discretamente. Nesse tempo, Alex e Lena estavam conversando sobre coisas. Até mesmo como um grupo ao qual Lena pertencia antes, havia eliminado alguns ceifadores.


 


Alex: - .... Pulei do caminhão e o deixei bater. Eles pensaram que eu tinha quebrado meu tornozelo. Então eu andei até aqui. Como eles eliminaram os ceifadores?


Lena: - Foi uma armadilha. Quatro mortos estavam dentro do bar como iscas, enquanto os demais se escondiam na sala ao lado. Uma dúzia de armados cercou o bar. Tudo acabou em cinco minutos.


Alex: - Então, eles podem morrer. Ainda assim, eles são difíceis. Tem certeza que podemos usar o carro deles?


Lena: - Os ceifadores sempre mantêm o tanque cheio. As chaves ainda estão no painel. verifiquei antes.


 


[Alex] - Lena me contou um pouco de suas aventuras enquanto esperávamos quietos naquele quarto. Ela contou sobre como seu antigo grupo ocasionalmente eliminavam ceifadores. Então, ela sabia como lidar com eles. Talvez metade de um braço faltando e um olho perdido tenham sido resultados desses confrontos antes dela vir parar em Willow, mas não perguntei. Então, decidimos que iriamos deixar Willow juntos. Mas iriamos precisar de um carro, que por acaso tinha um nas ruas. Com um pouco de ousadia e sorte, um carro para a fuga não seria um problema. Mas a ideia de roubar ceifadores não incomodava tanto, mas sim o que ela me disse o que acontece com os mortos.


 


Alex: - Quanto tempo temos, Lena? Quanto tempo resta?


Lena: - Acabou de acontecer com você, então você deve ter mais alguns meses. É diferente para todos. Então seu corpo começa a desmoronar e será apenas uma questão de horas. Ainda tenho duas semanas, talvez três.


 


Alex se afastou da janela e pegou sua mochila no sofá.


 


Alex: - Eu não entendo. O corpo devia começar a decair imediatamente.


Lena: - Eu sei, mas... parece que o vírus está em mutação. Quero dizer... quero dizer, a forma como age nos cadáveres. Não sei por que, mas é assim que as coisas são. O cérebro resiste por mais tempo e o corpo não fica tão rígido, está mais próximo do normal. O calor acelera o processo de decomposição, mas não tanto como antes. Os ceifadores não sabem disso, pois nunca encontram os mesmos zumbis duas vezes...


Alex: - Duas ou três semanas... você tem tão pouco tempo. Tão pouco tempo. Vamos embora. Agora. Quanto mais cedo chegarmos a Heatherfield, melhor.


Lena: - O que você acha que encontrará lá? Não sabemos nada sobre o lugar.


Alex: - Quando eu ainda estava vivo, ouvia falar dos ceifadores tentando chegar perto de Heatherfield para destruí-la, porque naquela cidade os mortos não desmoronam. Deve ter algo, ou alguém, que descobriu um jeito de nos fazer “viver” mais. Talvez seja esse o lugar onde de alguma forma modificaram o vírus.


 


Alex se virou para a janela de novo e viu os ceifadores se distanciando do carro procurando mais zumbis.


 


Alex: - É uma viagem longa, mas vale a pena arriscar. Não vou ficar sentado aqui vendo nossos corpos apodrecerem.


 


Lena sorriu discretamente quando Alex deu as costas para ela indo para a porta. Talvez ela só quisesse ver até onde Alex poderia chegar, ou se ela poderia ver até onde poderia chegar, mas Lena pegou sua mala disposta a segui-lo.


 


Lena: - O que você tem na mochila?


Alex: - Eh... minha mão. Me chama de idiota se quiser, mas estou de boa com isso. E então... bem... isso me lembra que estou morto, como se não bastasse o som ridículo que meu pescoço faz toda vez que viro a cabeça! Se eu te contasse como foi que isso saiu, você não acreditaria em mim...


Lena: - Parece que vai ser uma história legal para a viagem. – Ela sorriu.


 


[Alex] - Fora daquele hotel, andamos sorrateiramente. Os ceifadores pareciam estar bem longe do carro, pois não havia sinal algum deles por perto. As chaves estavam mesmo no painel, assim como Lena disse que estariam. Pegamos o carro e caímos na estrada para Heatherfield.


Se eu soubesse o que nos esperava naquela cidade, nunca teria trazido ela comigo. Mas não havia como saber.


Depois de algumas horas rodando pela estrada no deserto o carro deu problema, um dos pneus furou. Tinha um outro no porta-malas, os ceifadores são preparados para esse tipo de situação. Então fizemos uma pausa no meio do nada, enquanto eu trocava o pneu.


 


Alex: - .... Devemos chegar lá em no máximo alguns dias, desde que não tenhamos outros problemas. E você deveria vestir alguma coisa. Você está seminua! Se você continuar assim, não vai durar muito nesse calor. Não vamos a um desfile de moda, pelo amor de Deus!


Lena: - Tem certeza que a razão é essa? Você não está com ciúmes está? – Ela sorriu.


Alex: - Há. Que engraçado! De quem eu deveria ter ciúmes, hein? Me diz essa. Acho que a situação atual é bastante clara. Ou talvez quando você se olha no espelho, você se acha mais atraente do que eu sou hoje em dia.


Lena: - Não. É só a única maneira que conheço de continuar acreditando que ainda estou viva.


Alex: - Desculpa.


 


Lena sorriu, mas não estava chateada com o Alex. Mas seu semblante mudou assim que avistou algo.


 


Lena: - Alex.... Alex... estamos mortos.


Alex: - Boa observação. Eu realmente não quis dizer o que eu disse, Lena. Pelo menos não sobre você. Você está linda como sempre, e eu estou cada vez mais feio do que antes.


Lena: - Estamos mortos. Aqueles ceifeiros são os espinhentos.


 


Alex terminou de ajeitar o pneu quando se levantou e olhou para frente. Um carro militar se aproximava deles em alta velocidade, mesmo se tentassem fugir, não teriam chance de evitar um confronto.


 


Lena: - Acho que você não ouviu falar deles. Eles os mantêm longe, escondidos das cidades habitadas pelos vivos. São criaturas monstruosas. Praticamente invulneráveis. Não há esperança de escapar deles. Não de um *Hummer. Não com esse carro.


 


Ceifeiros espinhentos, ou espinhentos, são zumbis altos. Usam apenas jeans e casacos pretos e têm vários furúnculos pelo corpo. Sua característica mais notável é as moscas que atraem e ficam em volta da cabeça e pescoço. Eles têm olhos vermelhos e são extremamente fortes.


 


Alex: - Ceifadores espinhentos...


Lena: - Já era.


 


O carro freio bruscamente na frente deles, Lena e Alex estavam tensos. A porta do condutor dos espinhentos se abriu e uma mão com dedos largos e unhas grandes saiu para fora. Moscas saíram como um enxame de abelhas de dentro do carro e foi quando um espinhento saiu logo depois, alto e imponente olhando direto para Lena e Alex.


 


Lena: - Eu acho que te amo, Alex. – Ela exclamou com um rosto assustado.


 


 


// Continua.


 


Nota * Hummer era uma marca de veículos SUV’s.



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Autor(a): mika_vienna69

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