Fanfics Brasil - 29 - Equinócio de Primavera I A Espada do Destino

Fanfic: A Espada do Destino | Tema: The Witcher


Capítulo: 29 - Equinócio de Primavera I

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É possível que queiramos o bem daqueles que amamos com o ciúmes,


por medo de perder aquilo que não temos certeza que conquistamos,


ainda que pela ausência da confiança ou excesso de cuidado.


Mas este nunca deixara de ser um mero guerreiro,


mortal e a serviço do mal comum.


“O Mal dos Corações – Trecho do soneto de um poeta desconhecido”


 


O tão esperado dia do festival de Birke, que marcava o equinócio da primavera, havia finalmente chegado e apesar de não ter se passado considerável tempo desde a batalha de Loc Muinne, o povo finalmente parecia ter superado parte do luto e recuperado sua vontade de celebrar o novo recomeço de suas vidas.


Doretarf saiu de seu casebre devidamente trajado para a celebração, vestia um gibão simples de tom verde musgo com alguns poucos detalhes bordados em fios dourados que lhe fora emprestado por Ellando’r, calças de malha pretas e botas de cano alto da mesma cor, pois não queria chamar muita atenção com seu vestuário. Observou as demais moradas enfeitadas com arranjos de flores das mais diversificadas cores e espécies. Rumou em direção ao pátio central onde ocorria o grandioso festejo e logo foi recepcionado por Medina que veio a seu encontro presenteando-o com uma coroa de flores coloridas, ele aceitou de bom grado e sorriu em agradecimento a gentileza, pendurando o adorno sobre a cabeleira. Elogiou a beleza da elfa naquela noite. Todos ao redor estavam com uma coroa ou um colar de flores.


Direcionou-se até uma enorme mesa de madeira repleta dos mais diversos quitutes e bebidas, parou abruptamente após algumas crianças-elfas passarem correndo ao seu redor, saltitantes. Então avistou o rei erguendo seu caneco em um brinde ao lado de seus dois filhos, Chireadan e Triss Merigold na mesa principal, rodeada por inúmeras outras. Cruzou olhares e trocou sorrisos discretos com sua amada, que estava ainda mais deslumbrante do que naturalmente já era, trajando um vestido azul-cobalto sem mangas com detalhes bordados em prateado e uma coroa de variadas flores em diferentes tons de azul e branco, assim como a de Filavandrel e Elden que combinavam as flores conforme as cores de seus trajes. Aproximou-se com confiança e fez uma breve reverência aos presentes na grande mesa.


— Seja bem-vindo, Doretarf de Kovir e Poviss. Coma e beba a vontade — convidou Filavandrel já balbuciando por conta da bebida a medida que entornou um pouco de vinho sobre a mesa. — És meu convidado, apesar de tudo. — deu uma golada em seu caneco.


— Agradeço o convite e a hospitalidade, majestade — agradeceu o koviriano fazendo uma breve mesura com a cabeça.


— Meu rei... Não achas melhor ir um pouco mais com calma com a bebida? — indagou Chireadan apoiando as costas do rei, um pouco preocupado que o mesmo pudesse fazer algo impensado por conta da embriaguez, mas já ciente que suas recomendações seriam em vão. — Não queremos que tenha um mal-estar por conta de excessos, sem contar a ressaca e o festival mal começou...


— Pare de ser tão estraga prazeres, Chireadan. Hoje é o festival de Birke, devemos comemorar, comemorar que podemos estar aqui para festejar este glorioso dia. Celebrarmos até não nos aguentarmos mais sobre nossos próprios pés em nome daqueles que não estão mais aqui — retrucou o rei servindo-se novamente.


Ellinfirwen não conseguiu segurar o riso diante do debate entre o rei e seu conselheiro, tomando partido logo em seguida a favor dos argumentos de seu pai, ainda que não desejasse que o mesmo passasse mal, ordenando que Chireadan deixasse sua compostura de conselheiro do rei apenas por esta noite e aproveitasse os festejos assim como todos.


Doretarf avistou Cerys sentada na mesa próxima ao dos anfitriões e decidiu juntar-se a ela.


— Cerys... Como está? — indagou o príncipe de forma cortês. — Soube que também partirá em poucos dias.


— É verdade, por isso tomei a liberdade de usar este vestido de merda — confirmou a skelligana mordendo um pedaço do cervo assado. — Odeio essas saias longas — remexeu um pouco as barras do vestido em tom bordô que a incomodavam. — Não entendo como as mulheres conseguem usar trajes que mal se pode mover-se livremente...


— Mas está belíssima — elogiou ele com o habitual sorriso galante. — A trança também lhe cai muito bem — fitou a extensão dos cabelos ruivos trançados com algumas flores ao longo do comprimento. — Um deleite aos olhos de muitos — declarou observando alguns elfos que a olhavam com admiração por tamanha beleza.


— Puff — suspirou ela bebericando sua cerveja e expressando uma careta pelo gosto nada agradável. — Não tenho este tipo de interesse nestes elfos. Eu os admiro e respeito por Filavandrel ter me acolhido entre seu povo e por toda sua luta pela sobrevivência, mas nada além disso.


— Verdade seja dita, nenhum homem ainda capturou seu interesse, nem mesmo eu com todo meu charme — brincou o koviriano soltando um sorriso convencido.


— Verdade seja dita... — rebateu Cerys após mastigar mais um pedaço de carne. — Almejo planos muito maiores para meu futuro do que homens em meu encalço e tornar-me um simples enfeite ao lado de um suposto marido. Não pretendo dividir a regência de Skellige com qualquer um tão cedo.


— Um brinde a sua liberdade, então — ergueu o caneco.


— A nossa — ela fez o mesmo gesto e chocou levemente com o dele.


— E a sua independência — complementou o homem antes de tomar um gole generoso de vinho.


— Se bem que sua liberdade não durará por muito tempo. Soube que rendeu-se aos encantos da princesa elfa... Que ironia do destino — a ruiva sorriu com sarcasmo pela extremidade dos lábios róseos. — Mas desta vez se prenderá a alguém por escolha própria ao menos.


Doretarf não conseguiu conter um riso com o comentário.


— Acredite, não me importo nem um pouco de estar preso a alguém se for por minha livre e espontânea vontade. Quando chegar o momento em que precisaremos assumir nossos deveres de constituirmos família para garantir que nosso legado continue, que seja com alguém escolhido por nosso coração. É o mínimo que merecemos, embora saibamos que, na prática, não seja assim na grande maioria das vezes.


— Infelizmente a vida em sua grande parte não é justa, principalmente para pessoas como nós, herdeiros de reinos e clãs. Mas saiba que desejo o melhor para você, espero realmente que consiga ser feliz ao lado de quem quer que escolha.


— E por mais que isto não faça parte de seus planos a curto prazo, saiba que também lhe desejo o mesmo.


Ambos brindaram novamente e o príncipe de Kovir não pôde evitar observar a família real. Ellinfirwen, que gargalhava em uma prosa descontraída com Triss e Chireadan olhou em sua direção discretamente e sorriu-lhe quase imperceptivelmente, desviando o olhar logo em seguida. Doretarf notou que Filavandrel conversava a respeito do festival com Neldor, que havia juntado-se a mesa a pouco. Então avistou Elden, que veio correndo em sua direção e jogou-se em seus braços antes que pudesse levantar-se.


— Doretarf! — chamou o garoto sorrindo — Tenho um segredo para lhe contar. Foi Ellin quem fez sua coroa de flores, mas pediu a Medina que lhe entregasse — revelou animadamente.


Cerys não conseguiu conter um sorriso singelo pela cena. A princesa fuzilou com o olhar em repreensão o irmão mais novo. O koviriano voltou-se para sua elfa, sorrindo abertamente em satisfação, exibindo seus dentes brancos, o que a fez imediatamente desviar o olhar encabulada pela situação constrangedora.


— Diga-a que agradeço pela gentileza e que ela está mais que deslumbrante — sussurrou ele ao ouvido do pequeno príncipe, em seguida bagunçou-lhe as madeixas aloiradas.


Com um pulo, o garoto já estava no chão e correu em direção da irmã há poucos metros de distância para transmitir-lhe a mensagem.


— Crianças... — pronunciou-se Triss que surgiu como em um passe de mágica. — São os seres mais puros e sinceros que existem — sorriu em saudação e sentou-se a frente de Doretarf e Cerys na mesa.


— Senhorita Merigold — cumprimentou o príncipe fazendo uma breve mesura com a cabeça. A skelligana fizera o mesmo em respeito. — A que devemos a honra de vossa presença?


— Apenas queria socializar com vossa alteza já que soube que partirá ao amanhecer. Então sugiro que não exagere na bebida se não quiser cair de sua sela — aconselhou-o descontraidamente com os presentes a rirem. — A propósito, pode chamar-me apenas de Triss, não há necessidade de tantas formalidades para com minha pessoa.


— Como queira senhorita Triss e agradeço a preocupação. Algum outro conselho que acredita ser importante?


A feiticeira adotou então um tom mais sério, fitando ambos igualmente.


— Acessórios são fáceis de rastrear, se Terorah estiver atrás de vocês precisam livrar-se de qualquer adorno que carreguem consigo como brincos, pulseiras e colares que possuam anterior a sua chegada as montanhas. Se o fizerem, isto não o impedirá de lhes encontrar, mas dificultará muito, deixando de ser alvos fáceis. Eu gostaria de poder ajudar mais, porém estou sem amuletos e sem materiais para fabricação. Então tudo o que me resta é alertá-los.


Tanto Doretarf quanto Cerys assentiram em afirmativa com um meneio de cabeça entendendo as instruções que lhes foram passadas.


— Agradecemos a preocupação e o conselho — declarou o koviriano.


De repente os músicos começaram a tocar uma balada mais animada. Triss fora tirada para dançar por um elfo de cabelos negros e irises de oliva, Cerys foi convidada por um de madeixas castanhas e orbes do mesmo tom. Embora resistente em aceitar o convite inicialmente, Doretarf incentivou-a a aproveitar os festejos já que partiriam em breve e esta seria provavelmente a última celebração que poderiam desfrutar por certo tempo. A skelligana por fim cedeu aos argumentos do príncipe de Kovir indo em direção da fogueira com seu acompanhante de dança, o koviriano por sua vez seguiu-os com o olhar e lá avistou Medina e Elland’or dançando animadamente sincronizados. Voltou seu olhar para Filavandrel, que divertia-se dançando com alguns de seus confrades em meio a grande roda de dança ao redor da fogueira.


Ellinfirwen observava discretamente seu amado sentada em seu lugar a mesa planejando com seus botões como faria para ficar a sós com ele, necessitava terminar a conversa que não tiveram a oportunidade antes e esclarecer de uma vez por todas seus sentimentos a ele antes que fosse embora. Esperaria o momento certo para tirá-lo dos festejos, no ponto da festa onde a maioria já estivesse demasiadamente embriagada e não notassem sua ausência. Doretarf passou a maior parte do festival observando. A alegria dos Aen Seidhe era contagiante, volta e meia se via ao redor da fogueira acompanhado de belas elfas que lhe tiravam para dançar. Havia quase um mês que estava nas Montanhas Azuis e nunca vira um povo tão enérgico.


Após longas horas de intensas comemorações, o rei dos elfos recolheu-se depois dos argumentos nada sutis de sua filha ao constatar que o mesmo já não possuía mais condições de manter-se nos festejos por conta da extrema embriaguez, que desta vez foi auxiliado por seu conselheiro para dirigir-se a seus aposentos. Toruviel e Dalran disputavam a velha e tradicional queda de braço que costumavam apostar em todos os festejos, enquanto Lyraesel bebericava sua bebida jogando conversa fora com Triss ao mesmo tempo que vigiava Elden e suas gêmeas protegidas para garantir que não fizessem nenhuma traquinagem e sumissem de vista. Cerys por sua vez, competia com o elfo de madeixas ruivas trançadas quem conseguia ingerir mais canecos de bebida em menos tempo.


Doretarf avistou então a princesa aproximar-se da fogueira. As belas irises esmeraldas dela em contraste com o amarelo-alaranjado das chamas crepitantes faziam as orbes fulgurarem hipnoticamente. Desta vez estava mais que determinado, tiraria sua elfa para dançar ainda que Neldor resolvesse interferir. Aquele seria o melhor momento, pois o elfo não estava por perto rondando-a como um gavião vigiando sua presa, afinal não queria estragar o festival com uma discussão com seu rival.


Porém, seus planos caíram por terra quando justamente seu adversário juntou-se inesperadamente a ela na roda de dança e a conduziu girando-a, fazendo seu belo e adornado vestido azulado reluzir com a luminosidade das labaredas da fogueira. O príncipe resignou-se a fitá-los enquanto entrelaçavam seus braços sabiamente coreografados de acordo com o ritmo da música, a medida que um intenso incômodo percorria-lhe a espinha, a respiração ficou desregular de modo que seus pulmões inspiravam e expiravam o ar pesadamente. Observou-os por mais algum tempo, desta vez a música agitada fora substituída por uma mais lenta. Neldor passou suas mãos, lentamente, pela cintura da loira trazendo-a para mais perto de si e esboçou largo sorriso, ela devolveu-lhe o sorriso em um tom mais discreto enquanto rodopiavam em meio a outros elfos dançantes. Ellinfirwen então direcionou-se para o koviriano e passou a trocar olhares significativos com o mesmo quando percebeu que ele a observava ao longe sentado à mesa.


Neldor ao perceber tal interação de ambos, virou-a de modo que a mesma ficasse de costas para o príncipe. O elfo encarou-o de forma altiva e baixou as mãos até as nádegas da princesa, que rapidamente as levantou de volta a cintura. Doretarf empertigou-se e bufou pesadamente tomado completamente pelo ciúme, apertando seu caneco com imensa força, quase partindo-o ao meio. Engoliu em seco, lutando arduamente em seu íntimo para não cometer uma cena, permanecendo a observá-los. Desta vez o Aen Seidhe fora mais ousado, inclinou-se para beijá-la nos lábios, fazendo o koviriano não conseguir conter seu ciúme. O homem caminhou a passos pesados em direção a ambos, no entanto, antes que chegasse até os mesmos para intervir, Ellin impediu Neldor de prosseguir com seu objetivo colocando a mão sobre os lábios do mesmo e afastando-o de si calmamente.


— Já conversamos sobre isso, ainda que não queira entender terá de respeitar — repreendeu ela em murmúrio de forma respeitosa, porém firme.


— Certo, foi perfeitamente clara. Perdoe a minha ousadia, não era minha intenção desrespeitá-la. — desculpou-se, porém visivelmente frustrado pela rejeição, sentimento esse intensificado pela bebida em seu sangue. — Mas ainda assim, tenho esperanças que em algum momento se dê conta que apenas desejo o seu bem e que está sendo usada por este humano aproveitador...


— Neldor, por favor, não dificulte mais as coisas, eu...


Porém, antes que a loira pudesse prosseguir com seu argumento, ele deu-lhe as costas, retirando-se da roda de dança sem dizer mais nada e rumou em direção dos barris de bebidas para embebedar-se ainda mais na tentativa de amenizar a situação vergonhosa. Vendo-a também deixar a fogueira logo em seguida, Doretarf não perdeu tempo e colocou-se rapidamente a frente de Ellinfirwen impedindo-a de prosseguir.


— Me concederia esta dança? — despejou o convite impulsivamente, estendendo a mão.


A Aen Seidhe encarou-o surpresa por um momento pela ação repentina do mesmo, mas logo colocou a mão sobre a dele, aceitando o convite sem hesitação. Porém, assim que encaminharam-se de volta a fogueira, ambos notaram os olhares curiosos, surpresos e até de reprovação sobre si.


— Todos estão olhando para nós... — constatou Doretarf em murmúrio observando discretamente ao redor enquanto executavam passos sincronizados.


— Eu sei — declarou Ellinfirwen sem fazer questão em desviar o olhar das írises magnetizantes de seu parceiro de dança.


— Quer parar? — indagou o koviriano com certa preocupação de que sua interação com ela trouxesse mais consequências para a mesma.


— Não — respondeu a princesa com convicção sem cessar a dança. — Apenas continue olhando para mim, ninguém mais importa agora — alegou fazendo um sorriso de satisfação brotar nos lábios do moreno, após ser girada, sentindo a mão dele encaixar-se em sua cintura e trazê-la para mais próximo de si, quase colando seus corpos.


Dançaram ao ritmo da música agitada a passos animados, ambos a gargalharem com toda a diversão, tendo que segurarem as coroas em suas cabeças para não caírem quando rodopiavam freneticamente. Há meses Doretarf não sentia-se tão bem, todos os momentos de sofrimento pelos quais passara não significavam nada naquele momento em que estava tão a vontade com sua amada.


Ellin... é você... a mulher que consegue tirar o fardo de meus ombros, trazendo-me uma indescritível felicidade. Como isso é possível? — pensou consigo mesmo com largo sorriso.


Separaram-se quando a roda de dança tornou-se coletiva, com Medina e Nimra puxando Ellin para junto de si, que por sua vez avistou Tanira sentada em uma das mesas mais próximas um pouco reclusa e correu em sua direção puxando-a pela mão, convidando-a para a roda junto das amigas. Doretarf aproveitou-se e retirou-se para recuperar o fôlego. Aproximou-se dos barris de vinho dispostos enfileirados e colocou seu caneco em direção da pequena torneira, enchendo-o até a borda. Sabia que Triss estava certa em seu conselho para conter-se em relação à bebida, mas queria aproveitar ao máximo seu último dia nas Montanhas Azuis. Então tomou seu vinho sentado à mesa que estava outrora. Observou a princesa dançando alegremente com seu povo e acenou em direção a ela, que sorriu-lhe puramente e meneou a cabeça sem cessar os passos. Entretanto, fechou a feição ao avistar o Aen Seidhe de cabelos castanhos e olhos cor de mel, aproximando-se confiante, sem qualquer cerimônia.


— Ela não foi feita para você — despejou o elfo extremamente embriagado, sentando-se a frente do koviriano sem esperar qualquer convite. — Ela merece coisa muito melhor do que um reles humano.


— Quando penso que terei um momento de paz, aparece-me esse palerma... — murmurou o príncipe para si, revirando os olhos.


— O que pode oferecê-la, estrangeiro? Uma promessa vazia de que virá buscá-la para reinar ao seu lado? — questionou enrolando a língua. — Não me faça rir, está estampado em sua face que está apenas brincando com ela como um objeto qualquer de diversão.


— Escute com atenção Neldor — falou dessa vez em alto e bom-tom para o elfo ouvir. — Você não faz ideia do que é melhor para Ellin. Crê que pode protegê-la dos exércitos do Norte? Acha que tem poder para influenciar no destino que nos entrelaça? Você é quem não me faça rir.


O Aen Seidhe cerrou os punhos enervado pela afronta.


— Sobrevivemos muito bem sem um monarca nortenho. A propósito, como você acha que irá protegê-la? Com seu reino? Com seus recursos? — o rival soltou um sorriso debochado. — Um estrangeiro que não tem nem onde cair morto e que nem em seus próprios confrades de monarquia pode confiar. Não passa de um principezinho de merda que se não fosse por nós, já estaria a sete palmos debaixo da terra há muito tempo.


Doretarf empertigou-se cerrando os punhos igualmente em revolta, já sem qualquer pingo de paciência para os insultos do adversário.


— A propósito, eu pagarei esta dívida muito em breve. Então não terão que se esconder nestas montanhas, poderão viver suas vidas pacificamente em meu reino, se assim o desejarem.


Neldor gargalhou em zombaria.


— Uma mentira atrás da outra. Diga-me príncipe do grandioso reino de Kovir e Poviss — ironizou com desfeita. — Já falou alguma verdade em sua vida? Pelo que sei, reis, rainhas, príncipes e princesas contam mentiras por sobrevivência se engalfinhando em suas teias de inverdades até que sejam consumidos por elas. Por isso eu acredito que cedo ou tarde Ellin perceberá suas mentiras deslavadas.


— Não estou sendo manipulador se é isso o que está insinuando. Tudo o que sai de minha boca é a mais pura verdade. Reis e rainhas contam mentiras, assim como elfos, anões e qualquer outro ser deste Continente.


— Você se acha muito esperto, não é mesmo? — indignou-se o elfo jogando alguns utensílios dispostos na mesa ao chão com ira chamando a atenção de alguns que estavam mais próximos. — Saiba que essa sua compostura soberba é desprezível e digna de perder a língua. Pergunto-me o que diabos Ellin viu em você. Foi a mediocridade que a interessou? Ou foram as mentiras deslavadas? Tanto faz, esse caso será passageiro e no final ela virá até mim, como fomos prometidos um ao outro.


Doretarf franziu o cenho indignado com o que acabara de ouvir.


— O que disse?


— Exatamente o que ouviu — sorriu Neldor de maneira provocativa. — Somente a verdade, que você não passa de um caso passageiro, uma curiosidade repentina que ela enjoará e jogará fora quando perceber que foi perda de tempo gastar com... — ele fitou o príncipe dos pés a cabeça desdenhosamente. — Um homem sem nada. O rei é a favor de nossa união, é só questão de tempo para que Ellin se permita ser feliz ao meu lado. Então peço-lhe que tenha a bondade de se afastar, pare de atrapalhar a vida dela. Em poucas palavras, que vá para o inferno, caso contrário eu mesmo o mandarei para lá. Não permitirei que brinque com ela como bem entender.


Doretarf cruzou os braços altivamente.


— Sou um homem sem nada que retém toda a atenção dela, todas as carícias e sorrisos. Já viu como ela é belíssima ao amanhecer? Ah, que cabeça a minha, você nunca teve a chance de se aproximar dela desta forma. — desafiou Doretarf colocando os punhos cerrados sobre a mesa. — A melhor parte é saber que ela corresponde com a mesma intensidade — soltou um sorriso convencido. — Meus sentimentos e intenções com ela são mais que verdadeiros. Se você não conseguiu conquistá-la, isto não é problema meu — concluiu levantando-se sem desviar os olhos do rival.


Neldor sorriu soturnamente, farto do desrespeito do koviriano, então com habilidade saltou subitamente sobre a mesa e esmurrou o humano no rosto. Doretarf fora pego desguarnecido e foi de encontro com um dos barris em sua retaguarda, porém em um pulo já estava de pé novamente e com ímpeto desequilibrou o oponente acertando-o um soco na panturrilha, que despencou de costas com grande impacto contra o chão. Os músicos pararam de tocar no mesmo instante, enquanto o meio-elfo e o humano se atracavam trocando socos vorazes. Ellinfirwen assim que percebeu a confusão, tratou de ir em direção das mesas para ver o que se passava seguida pelas amigas e pela multidão de curiosos que anteriormente dançavam ao redor da grande fogueira, juntado-se aos demais que já haviam se aglomerado em círculo no entorno. Com a intervenção de Dalran e Ellando’r ambos foram separados.


— O que diabos pensam que estão fazendo?! — interrogou a princesa após esforçar-se para criar uma passagem entre a concentração de bisbilhoteiros, inconformada com a cena que presenciava.


Assim que ouviram a voz dela, ambos pararam instantaneamente de debaterem-se nos braços de quem os continham. Por fim, Dalran soltou Doretarf, e Ellando’r fez o mesmo com Neldor quando tiveram certeza que não voltariam a se enfrentar.


— Nós... — o Aen Seidhe tomou a frente espanando a sujeira e poeira do traje, ajeitando o tecido amarrotado. — Perdemos o controle. Perdoe-me Ellin, não queria de forma alguma envergonhá-la.


— Não queria envergonhar-me? — indagou ela com o cenho franzido. — Olhe em volta, estão todos assistindo a este vexame.


Neldor observou ao redor e deparou-se com o olhar de incredulidade na maioria dos rostos e as fofocas logo começaram entre os inúmeros murmúrios.


— Não era minha intenção...


— E você, não irá dizer nada? — questionou Ellinfirwen para o koviriano.


— Eu me excedi e sinto muito — desculpou-se ele em uma mistura de vergonha e irritação. — Jamais desrespeitaria sua hospitalidade desta forma propositalmente. Perdoe-me... E não se preocupe, não voltará a acontecer já que partirei ao amanhecer. Com vossa licença, alteza...


Doretarf caminhou através da muvuca, que deram-lhe passagem com uma mistura de temor e indignação entre os muitos olhares a medida que ele sumia na penumbra.


— É melhor recolher-se, já fez o suficiente — aconselhou para Neldor com severidade.


Ele obedeceu sem questionar, sentindo-se extremamente encabulado por toda a confusão gerada por seu ciúme. A princesa por sua vez ordenou que os músicos voltassem a tocar e retirou-se imediatamente dos festejos sem maiores explicações. Chireadan tratou de dispersar o enxame de fofoqueiros com a ajuda de Dalran, Ellando’r e Toruviel.



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Autor(a): bianav

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

 Mergulhei em teu olhar, me afoguei em teus braços. Desejos incontroláveis de que não quero me salvar, vontade absurda em querer te tocar. Suave som de voz que hipnotiza e acalma, me perco sem medo em teus beijos que fascinam. Zona de conforto, tuas caras e bocas é tudo o que vejo, tudo que quero e desejo. Necessitar ter o teu corpo junto ...


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