Fanfics Brasil - Capítulo 01 - Despedidas Metamorfose [+16]

Fanfic: Metamorfose [+16] | Tema: Amor Doce


Capítulo: Capítulo 01 - Despedidas

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A manhã de sábado chegou acompanhada de uma brisa reconfortante. Diante disso, fiquei parada em frente à janela do meu quarto, sentindo o vento soprar em meu rosto enquanto observava a rua movimentada abaixo.


Eu não consegui evitar de soltar um longo suspiro melancólico, pois, para mim, lidar com despedidas era muito difícil. Na verdade, sempre foi.


Digo isso, pois, durante uma boa parte da minha vida, eu tive que me despedir de pessoas à minha volta. 


Todos tiveram as suas razões para partir. Ainda assim, eu me perguntava constantemente: "Quem sofre mais? Quem vai ou quem fica?". Até hoje, eu não consegui uma resposta para essa pergunta.


Eu costumava debochar, dizendo que Collingwood era uma cidade de pouca permanência. Ninguém conseguia ficar aqui por muito tempo. E, ironicamente, depois de todos esses anos de zombaria, quem estava indo embora, por fim, era eu.


Mesmo que não fosse para sempre, ainda assim, eu estava indo estudar em uma escola no norte do país até completar a maioridade. Além disso, serão três anos longe de casa, e isso não será uma tarefa fácil. No entanto, eu tinha consciência de que frequentar a Sweet Amoris seria importante para o meu crescimento pessoal. Afinal, ela não é uma escola comum.


E quando digo que ela não é uma "escola comum", não estou exagerando.


Por muitos anos, a minha família escondeu da comunidade de Collingwood um segredo que ameaçaria completamente a nossa segurança por aqui. 


À primeira vista, poderia parecer uma piada, mas eu juro que não é. 


A verdade é que... nós somos uma família de vampiros.


E não, os vampiros não são aqueles clichês que foram falsamente propagados pela cultura mundana. 


Para você ter ideia, até hoje acreditam em algumas falácias sobre nós, como a de que o uso de alho pode nos "afastar", que precisamos dormir em caixões e até mesmo evitar o sol. 


Tudo isso, e muito mais, não passam de mentiras para zombar de nossa existência.


A única verdade que foi passada adiante é o fato de nos alimentarmos de sangue, mas não necessariamente de sangue humano. E, como você deve imaginar, o que se popularizou foi a nossa pior versão. Por esse motivo, precisamos viver em segredo, pois corremos risco de vida o tempo todo.


E, se já não bastasse todo esse caos relacionado à nossa existência, desde que me conheço como vampira, os meus pais nunca quiseram me explicar, detalhadamente, o que é, de fato, ser um vampiro. Contudo, há um motivo pelo qual eles nunca quiseram se aprofundar sobre esse assunto comigo.


Acontece que uma boa parte da minha família estudou na Sweet Amoris, isso inclui os meus próprios pais, que inclusive se conheceram lá. Logo, para ambos, a referida escola é o ambiente perfeito para que eu possa compreender melhor o mundo vampírico. 


Inclusive, devo admitir que estou bastante empolgada de ir para lá, pois estarei vivendo uma experiência de autoconhecimento, assim como de desenvolvimento pessoal. Além disso, terei a oportunidade de conviver com outros humanos-mestiços como eu, afinal, existem fadas, sereias, minotauros, dragões… uma variedade infinita de seres-místicos para serem desvendados.


Um mundo inteiro estará à minha disposição.


Um mundo que mal posso esperar para explorar e desbravar.


                                                              [...]


-Pronto! Conseguimos! -Assim que desci do segundo andar, joguei o meu corpo para trás, mantendo a minha coluna o mais ereta possível. Em seguida, encostei-me na parede, buscando um pouco de ar para respirar.


-Eu sabia que uma mala tão grande assim podia ser um problema. Deveríamos ter escutado a sua avó e não tê-la comprado -Ouvi a minha mãe reclamar, tão ofegante quanto eu. 


-Pelo menos tudo que é essencial está guardado aqui dentro. -Brinquei, dando uns tapinhas de leve na espaçosa mala de viagem.


-Como assim “tudo que é essencial”? -Minha mãe esbravejou, colocando as duas mãos na cintura. -Filha, você enfiou praticamente todo o seu guarda-roupa aí dentro. Eu ficaria surpresa se você tivesse esquecido alguma coisa. -Comentou, enquanto limpava a trilha de suor que pingava de sua testa. -Mas, pelo menos, estamos prontas. Agora é só esperar o seu pai chegar da padaria e irmos até a estação de trem.


-Sim! -Concordei, arrastando-me para o velho sofá estagnado na sala de estar, jogando-me sobre ele, e afundando, exageradamente, entre a montanha de almofadas.


-Como você está se sentindo em relação à mudança, querida? -Perguntou minha mãe, sentando-se ao meu lado e me encarando com os seus grandes e intensos olhos amarelos.


-Olha, eu estou me sentindo… ‘tristemada’. 


-Você está o quê? -Minha mãe indagou, arqueando as sobrancelhas. 


-Eu estou triste e animada, mãe. -A minha resposta soou um tanto ríspida. Contudo, a minha mãe, aparentemente, preferiu ignorar meu momentâneo lapso de rebeldia. A única coisa que saiu de sua boca foi uma ofegante respiração. 


Honestamente, eu não sabia dizer se ela compreendia totalmente o que eu estava sentindo naquele momento, mas talvez, no fundo, bem no fundo, ela soubesse como era experimentar esse sentimento tão ambivalente. Afinal, ela já esteve na minha posição antes, quando tinha a minha idade.


-E você conseguiu se despedir das meninas? -Ela perguntou, referindo-se a Isabela e Cindy, minhas duas melhores amigas. 


-Até que sim… ontem à noite fizemos uma chamada de vídeo, e na quinta-feira fui ao cinema com Isabela.


-Cindy ainda não voltou da Austrália?


-Ainda não. -Contei, me sentindo péssima por saber que não conseguirei dar o meu abraço de despedida à Cindy. -Ela volta amanhã à tarde, já que as aulas na Beverly High só começam na terça-feira.


-E o Pietro… vocês dois já se falaram? -A entonação de sua voz transparecia exatamente o que eu mais temia. É aquele tipo de pergunta que você faz de tudo para fugir, porque os seus pais adoram bisbilhotar a sua vida amorosa.


-Ah, mãe! -Coloquei a mão no rosto, envergonhada. 


Conseguindo arrancar uma reação de mim, minha mãe abriu um sorriso animado e soltou uma risada calorosa.


-Estou apenas curiosa… -Disse em um tom brincalhão. 


-Eu e ele conversamos ontem à noite. Logo depois que terminei a ligação com as meninas.


-E aí... qual foi o teor da conversa? -Ela me inquiriu, mantendo aquela maldita entonação de novo.


-Ah! Nós falamos apenas sobre coisas banais, mãe! -Respondi, impaciente, o que parecia estar divertindo-a.


-E ele está bem? Digo... quando soube que você ia embora para terminar o ensino médio em outro lugar, achei que ele parecia bastante abalado com a notícia.


-Sério? Eu não percebi nada além de uma tristeza comum. Por quê? Você notou algo mais? -Ela assentiu, com uma expressão que parecia dizer: "Vou pegar uma lupa para você enxergar melhor."


-Por mais que Pietro não demonstre abertamente o quanto está triste, dá para reparar pelo olhar que… ele gosta de você, filha!


O comentário da minha mãe me fez ficar completamente vermelha de vergonha. 


Por mais que eu tentasse negar, sabia que Pietro tinha sentimentos por mim. No entanto, eu nunca o vi de outra forma. Então, para tentar protegê-lo, resolvi fingir que não percebia as suas intenções. 


Eu sei que isso pode me fazer parecer uma completa babaca, mas a nossa amizade é tão importante que tenho medo de perder essa conexão especial.


-Eu nunca entendi por que você nunca deu uma chance a ele. -Minha mãe continuou, deixando transparecer os seus pensamentos. -Ele é um bom garoto.


-Mãe, será que você poderia parar de… -De repente, minha resposta foi interrompida pelo som alto da campainha.


-Deve ser o seu pai. Provavelmente esqueceu de levar as chaves de novo.


Apesar do cansaço, minha mãe se levantou e foi em direção ao hall de entrada. Enquanto isso, eu permaneci sentada, deixando a preguiça dominar totalmente o meu corpo. 


Nos poucos segundos em que fiquei estática, esperando ver a figura do meu pai aparecer carregando aqueles típicos sacos largos cheios de pães frescos, foi o suficiente para eu perceber que não era ele quem estava na porta de casa, mas sim Pietro.


-Jessica, tem uma visita para você! -A minha mãe anunciou, com um olhar levemente espirituoso.


Apesar de estar completamente tomada pela ociosidade, não tive escolha a não ser me levantar e ir até o hall de entrada para receber Pietro.


Assim que me aproximei da porta, vi Pietro parado ali, olhando para o chão.


O seu cabelo castanho estava desarrumado como sempre, enquanto os seus olhos azuis pareciam ainda mais intensos. Já os seus lábios carnudos, estavam um pouco rachados, dando a impressão de que ele estava se recuperando de um forte resfriado.


-Oi! -Falei, dando-lhe um gentil aceno. Após isso, Pietro pareceu despertar de seus devaneios e exibiu um sorriso tímido.


-Achei que tinha perdido a hora. -Ele murmurou para si mesmo, o que me deixou um pouco confusa.


-Hã?


-Nada não. -Ele sorriu novamente. -Estou apenas aliviado por ter chegado a tempo de te ver.


-Bem, você realmente teve sorte, porque estamos só esperando o meu pai voltar da rua.


-É… eu notei. -Ele apontou para a mala que eu e minha mãe tínhamos acabado de trazer do andar de cima. 


-Você… quer uma xícara de chá? 


-Não! Não! -Pietro respondeu, ruborizando. -Eu vim aqui porque… eu queria... te dar um presente antes de você ir embora.


-Ah! Que fofo! -Respondi, grata e surpresa. -Venha! Entre! Podemos conversar melhor no jardim. -Falei ao notar, pelo canto do olho, que minha mãe nos observava atentamente.


Será que ela não percebia que todo esse papo sobre o Pietro gostar de mim me deixava sem jeito? Eu mal conseguia conversar com ele sem me sentir pressionada de alguma forma. Ao menos, no jardim, eu conseguia me sentir menos tensa com todos aqueles olhares indiscretos.


-Eu vou deixar vocês dois… a sós. -Ouvi a minha mãe falar, com alguns risinhos


Naquele momento, eu me esforcei para não bufar de irritação. Logo, e sem hesitações, puxei Pietro pela manga de seu casaco e o arrastei até o jardim, onde nos sentamos confortavelmente debaixo da sombra de uma árvore.


-Me desculpe pela minha mãe! -Falei, quando, por fim, nos acomodamos na grama seca. 


-Tudo bem. Ela é engraçada! -Pietro respondeu, soltando um riso acanhado. 


-E então? -Iniciei a conversa balançando a ponta dos meus pés animadamente. -O que você me trouxe? 


-Caramba, você não se aguenta, não é? -Pietro fingiu-se de bravo. -Eu ia fazer todo um suspense, mas já que você está ansiosa demais para esperar…


-Ei! Corta essa! -Dei uma leve risada. -Isso é jeito de me tratar sabendo que estou indo embora?


-Peço perdão por isso, madame Lopez! -Ele fez uma reverência exagerada, o que me fez sorrir mais ainda.


-E aí… vai me mostrar ou não? -Perguntei, não escondendo a minha curiosidade.


-Tudo bem! Tudo bem! Eu vou mostrar. Mas você tem que fechar os olhos primeiro. É uma surpresa. E nada de espiar, heim?! -Ele disse em um tom alto assim que me viu fechar os olhos.


-Ei! Não precisa se preocupar! -Falei, achando graça em toda aquela situação. -Tudo bem. Estou de olhos bem fechados. -Avisei a ele, que por alguns segundos, ficou em silêncio.


Com o breve silêncio que se instaurou, várias ideias sobre possíveis presentes começaram a borbulhar na minha mente. O que será que Pietro ia me dar? De qualquer forma, logo eu descobriria, pois não demorou muito para que eu sentisse um pequeno objeto cair sobre mim.


Ao abrir os olhos, vi uma pequena caixa preta com um laço cor de rosa sobre a minha barriga. Na parte de cima, o logotipo da loja indicava que era algum tipo de joalheira. 


-O que é isso? -Questionei entre um sorriso e outro, analisando a caixa. 


-Abra e veja! -Ele respondeu, evidentemente empolgado. 


Com a sua permissão, eu segurei a caixa em questão e fui retirando cuidadosamente o laço que compõe ela. Ao abri-la, pude notar, no seu fundo, que havia um colar dourado contendo as iniciais do meu nome.


-Pietro! O que é isso? -Indaguei, um pouco emocionada. 


-Bem… você sempre disse que nunca foi boa em lidar com despedidas, então… eu quis lhe dar um presente que resplandecesse não apenas a sua beleza, mas também que, ao olhá-lo, você pudesse se lembrar de nós que continuamos aqui em Collingwood.


-Eu… estou sem palavras! -Afirmei, analisando apaixonadamente o colar. -Esse colar é tão… lindo! Obrigada mesmo!


-Fico feliz que você tenha gostado! -Ele acrescentou com as bochechas mais rosadas do que antes. 


-Eu amei! Obrigada por isso, Pietro! -Agradeci, inclinando-me em sua direção e entrelaçando os meus braços nos seus ombros, o que nos uniu em um abraço quente e caloroso.


-Quer ajuda para colocar o colar? -Quando nos separamos, ele me fez a pergunta, e eu, bastante emocionada, concordei com um sorriso. 


Em seguida, virei-me de costas para ele, que, com a sua habitual delicadeza, colocou o colar em meu pescoço e o ajustou, cuidadosamente, para que o pingente caísse perfeitamente em mim.


-Obrigada! -Agradeci pela milésima vez. No entanto, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, os meus pais apareceram no jardim.


-Filha! Pietro! -Meu pai surgiu, ajustando os seus óculos de grau, enquanto caminhava em nossa direção para nos cumprimentar.


-Olá, Sr. Lopez! -Pietro imediatamente se levantou e ofereceu um aperto de mão ao meu pai, que lhe retribuiu.


-Olá, Pietro! Tudo bem? E a família? Como vai?


-Estamos bem. E e a do senhor?


-Nós também estamos bem, apesar de que hoje é o último dia da nossa princesinha conosco! -Meu pai disse, me puxando para um abraço desengonçado.


-Ah, Pai! -Fingi resmungar um pouco, mas acabei caindo na risada com ele.


-Mas não se preocupe, Pietro. A Jessica estará de volta nas férias. -Minha mãe fez questão de mencionar, e isso fez com que nossos olhares se cruzassem. 


Sem qualquer discrição, ela me deu uma piscadela.


-Já não está na hora de irmos? -Com medo de que minha mãe criasse mais alguma cena constrangedora, fiz questão de lembrar que temos um horário programado para chegarmos à estação de trem.


-Ah, é verdade! -O meu pai se separou de mim, passando a analisar o seu relógio de pulso. -Vamos, Lucia, Jessica precisa chegar a tempo em White Castle para que o Sr. Louis possa levá-la de carro. A mala já foi colocada no porta-malas?


-Claro que não! Você já viu o tamanho daquele trambolho? -Minha mãe fez questão de enfatizar a dificuldade que tivemos de lidar com o peso da mala.


-E esse treco não tem rodinhas, não? -Meu pai questionou, indignado. 


-E eu vou saber? Ficou guardado por muito tempo! 


-Ora, como você não viu isso antes, Lucia?


E assim os meus pais foram discutindo sem parar, deixando eu e Pietro, mais uma vez, sozinhos. 


-Acho que agora é o momento em que nós dois nos despedimos, certo? -A tristeza evidenciada na voz de Pietro, me partia o coração.


-No final do ano eu estou de volta. Daí, eu, você, Isabela e Cindy podemos combinar de beber aquele milkshake de marshmallow que você tanto gosta.


-Sim! Isso seria legal… -Pietro murmurou, ainda abatido.


-Sim! -Foi tudo o que consegui dizer antes de sermos tomados por um silêncio constrangedor, sendo este, quebrado, por mais um abraço.


Porém, aquele segundo abraço foi diferente dos anteriores. Eu senti que tantas emoções estavam sendo transmitidas por meio daquele gesto que não tive coragem de rompê-lo tão cedo. Ficamos ali, abraçados por um longo tempo, até que ele, finalmente, se afastou de mim.


-Até um dia, Jess!


-Até um dia, Pietro! 


Mais uma vez, aquele mesmo questionamento ressoou em meu coração: “Quem sofre mais? Quem vai ou quem fica?”


E eu lhes digo…


Às vezes, o sofrimento é mútuo.



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Autor(a): robbiedawson

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