Fanfic: Metamorfose [+16] | Tema: Amor Doce
Assim que Pietro foi embora, eu e meus pais seguimos adiante e fomos para a estação King Bellingham, a única estação de trem em toda Collingwood.
Chegamos lá em torno das oito e meia da manhã.
Por sorte, o trajeto alternativo que havíamos escolhido não estava tão engarrafado quanto a via principal. Sendo assim, a nossa chegada foi relativamente rápida.
Logo, nos restava apenas aguardar na plataforma de nome North Line até começarem o embarque dos passageiros.
-Jess! -O meu pai discretamente me chama pelo canto do ouvido.
Ao me virar para ele noto que o mesmo está apontando para uma sacola plástica pendurada em seu antebraço.
-O que é isso? -Pergunto, curiosa.
-É sangue de coelho. -Ele murmura enquanto verifica os nossos arredores para garantir que ninguém estivesse escutando.
-Obrigada! -Agradeço ao receber a sacola plástica.
Dentro dela verifico que há uma garrafa de alumínio cor verde-musgo que está transportando um líquido pesado em seu interior.
-É o que sobrou da nossa última caçada. -A minha mãe explica se comunicando tão baixinho quanto ele.
-Eu vou mantê-la escondida dentro da minha bolsa. -Aviso aos dois com um sorriso no rosto, porém, antes que eu pudesse guardá-la, acabo me dando conta de que a minha bolsa não está nem comigo ou sequer com eles.
-A minha bolsa! Onde ela está? -Um pouco assustada pela situação, acabo me levantando do banco em que estava sentada, quase derrubando a minha mala no processo.
-Calma, filha! Eu tenho certeza que avistei a sua bolsa lá no carro. -A minha mãe tenta me tranquilizar, apoiando uma de suas mãos nas minhas costas. -Amor, me passa a chave. Eu terei que ir lá verificar.
Sem muita demora, o meu pai entrega a chave para a minha mãe que prontamente sai em passos rápidos e some entre o aglomerado de pessoas.
-E se a bolsa não estiver lá? -Suponho bastante preocupada.
-Eu tenho certeza que está, filha. A sua mãe lembra de ter visto.
-Eu sei. Mas e se não estiver? -Pergunto novamente, insistindo na possibilidade de realmente ter esquecido.
-Não tem problema. -O meu pai me orienta a me sentar novamente. -A sua prioridade hoje é embarcar no trem e chegar em White Castle em segurança.
-É… você tem razão. -Dou um sorriso desanimado enquanto finjo estar sendo convencida por suas palavras.
-Uma bolsa não é o fim do mundo, filha. -Ele comenta em um tom de brincadeira, o que me arranca um leve sorriso de lado.
-É sim quando o seu carregador está dentro dela. Ainda mais que eu preciso usar o meu… Ah! Meu Deus! Pai! Cadê o meu celular? -Dou um grito quando passo a mão no bolso da minha calça e não sinto o aparelho comigo.
-Não está com você? -Ele pergunta, mas desta vez, um pouco mais sério.
-Não! -A minha resposta soa como um guincho alto, o que faz com que muitos olhares se voltem para mim.
-Calma, filha! Não adianta se desesperar desse jeito!
-Como não? -Imediatamente começo a roer uma das minhas unhas. -Como vou embarcar agora? A passagem está no meu e-mail.
Antes que o meu desespero piorasse, a imagem da minha mãe ressurge entre os desconhecidos ali presentes. O seu cabelo cor de rosa é a primeira coisa que se sobressai entre todos e isso faz com que o meu coração rapidamente se apazigue.
-Eu achei! -Ela balança o aparelho celular no ar enquanto carrega a minha bolsa em seu ombro esquerdo.
-Graças a Deus! -Vou até ela com um sorriso enorme e praticamente me jogando em seus braços.
-Você deixou a bolsa e o celular caírem debaixo do seu assento. -Ela conta enquanto me entrega os respectivos objetos. -Sinceramente, Jess… você precisa ser mais atenta.
-Eu sei, é que… -No instante em que eu iria me justificar, sou surpreendida por uma mensagem automática que sai de um alto-falante próximo.
-Atenção passageiros. O embarque com destino a White Castle começará em instantes. Todos se direcionem para a plataforma North Line. Obrigada!
Uma voz feminina ecoou reverberando por toda a estação, e com isso, vários indivíduos começaram a se movimentar e a se deslocar até irem de encontro com a porta de entrada do trem.
-É a minha hora de ir…
Um pouco insegura por ter que embarcar sozinha pela primeira vez na minha vida, concentro meu olhar em meus pais que logo me puxam para um abraço coletivo.
-Nós te amamos muito, filha! -O meu pai declara antes de depositar um beijo em minha testa.
-Eu também amo muito vocês! -O nosso abraço perdura por mais alguns instantes e antes de me separar deles, dou um beijo na bochecha de cada um.
-Não se esqueça de mandar mensagem! -A minha mãe pede começando a ficar com os olhos marejados.
-Não se preocupem! Eu irei! -Sorrio para cada um dos dois, também me sentindo emocionada.
Em seguida, viro-me para encarar o extenso comboio ferroviário, agora, na minha frente.
Eu sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo. Esse é o momento pelo qual eu aguardei todos esses anos. Eu finalmente estarei frequentando a ‘Sweet Amoris’. A famosa escola no qual toda a minha família sente orgulho de ter estudado.
Apesar do medo e da ansiedade que embrulha o meu estômago, eu estou feliz, pois eu estou respondendo ao meu chamado mais íntimo.
Eu entendo que as despedidas são difíceis, mas o meu destino clama por uma transformação e eu não posso deixar essa oportunidade escapar de mim.
Eu sou uma vampira e eu jamais devo me acovardar diante do desconhecido.
A minha hora de ir embora chegou.
[...]
No decorrer da viagem as coisas ocorreram tranquilamente bem.
Os funcionários do trem são muito gentis e atenciosos, até me ajudaram com a minha bagagem.
Além disso, eu tive a sorte de ser realocada para um vagão individual, portanto, nas horas subsequentes, aproveitei a minha privacidade para admirar o cenário e a natureza à minha volta, além de matar a minha fome com o sangue de coelho que eu trazia comigo na minha bolsa.
Depois de aproximadamente quatro horas de viagem, cheguei em White Castle por volta do meio-dia. Apesar do cansaço, não medi esforços e continuei a andar pelo lugar, lembrando-me das orientações que os meus pais haviam me passado.
Eu sabia que deveria procurar um homem que estivesse segurando uma placa que continha o meu nome e sobrenome nela, e isso não foi uma tarefa difícil, pois ao lado do banheiro masculino e colado numa pilastra de concreto, encontrei o tal cujo me esperando.
O homem em questão usava uma camisa cinza com estampa xadrez, além de um colete amarelo por cima. Os seus curtos cabelos grisalhos o faziam parecer aqueles atores que participavam daquelas antigas sitcoms dos anos 80.
-Sr. Louis? -Me aproximo dele um pouco introvertida.
O homem, ao ser chamado por mim, ergue a cabeça e me direciona um sorriso amigável.
-Jessica Lopez? Filha de Lucia e Phillipe?
-Eu mesma.
-É um prazer conhecê-la, senhorita. -Ele estende a sua mão para me cumprimentar. -Sou um amigo de longa data da família Lopez.
-Prazer em conhecê-lo, senhor. -Sorrio para ele, educadamente.
-Eu imagino que a senhorita deve estar bem cansada, porém nós temos ainda uma estrada para enfrentar. Vamos?
-Sim! Sim!
Eu o sigo atentamente até sairmos da estação de trem.
Do lado de fora, vamos na direção de um veículo bem semelhante ao modelo Monza da Chevrolet.
Embora o carro não parecesse muito espaçoso, ele conseguiu comportar perfeitamente todos os meus pertences.
Após guardarmos tudo, me acomodei na parte de trás do carro, e em instantes, o senhor Louis deu partida na ignição e nós caímos na estrada.
O senhor Louis é definitivamente uma figura peculiar. Ele demonstrou que conhece tanto a minha família quanto os meus pais. Talvez eu deva aproveitar essa oportunidade para tentar arrancar algumas informações dele, já que os meus pais sempre me deixaram alheia a todo esse universo.
-Estamos muito longe da escola? -Início um papo a fim de quebrar o silêncio mortal que a princípio se instaurou.
-Não é tão longe quanto parece. -Ele esclarece sem tirar os olhos da estrada.
-E ela fica aqui na cidade? Não é meio perigoso, não?
-Então, White Castle não é um lugar muito grande nem populoso como as outras cidades. Ela não tem muita poluição e possui uma conexão além da nossa compreensão com a natureza. É o lugar ideal para o desenvolvimento de magia.
-Magia? -Nem um pouco discreta, eu dou um salto para a frente.
-Sim! Magia! -Ele reitera com um brilho nos olhos. -A ‘Sweet Amoris’ foi fundada há mais de 100 anos atrás. Depois que o movimento da Inquisição foi abolido, a nossa vida tornou-se relativamente mais fácil. Infelizmente tivemos perdas irreparáveis na nossa história. Muitos foram perseguidos e mortos pela Igreja Católica. Então, o desenvolvimento de magia é algo relativamente “novo”, já que muitos Feiticeiros foram acusados de bruxaria e acabaram sendo mortos durante o período de “caça às bruxas”. Consequentemente, muitos estudos foram perdidos por terem sido destruídos.
-Sim... os meus pais me falaram um pouco sobre as perseguições dessa época. Os mundanos também estudam sobre a Inquisição. Eu estudei isso com eles. Mas claro… sem os detalhes mais específicos que envolvem o nosso mundo... ou magia. -Comento com as minhas próprias reflexões, afinal, nem mesmo os meus pais haviam me contado sobre a existência de magia.
-É interessante você pontuar isso, Jessica. -O senhor Louis diz. -Você foi acostumada, sobretudo, com a visão mundana sobre os eventos da Inquisição. Então é natural que você tenha uma determinada percepção sobre o que foi a época de “caça às bruxas”.
-É… acho que o senhor tem razão. -Falo me sentindo envergonhada. -Tem muita coisa que eu desconheço.
-E isso é ótimo! -Ele afirma com um sorriso otimista. -Por isso, Lucia e Phillipe não lhe falaram muita coisa. É exatamente esse o objetivo da ‘Sweet Amoris’. Você estará sob o ensino de grandes mestres. E não se sinta mal por não saber dessas coisas. Muitos dos outros calouros também desconhecem. E isso é o que torna o desconhecido mais empolgante, não acha?
-É... olhando por esse lado… -Eu deixo escapar uma risada de leve ao sentir um peso cair dos meus ombros.
Acho que fiquei tão angustiada por me sentir uma ignorante nesses assuntos que nem ao menos considerei a hipótese de que muitos outros, além de mim, estão passando exatamente pela mesma crise existencial.
-Eu tenho certeza que você carrega muitos questionamentos e dúvidas. -O senhor Louis pontua.
-Você nem imagina. São quase do tamanho de um dicionário. -Admito um pouco mais empolgada para conversar. -Aproveitando o assunto. Eu fiquei curiosa com uma coisa. Os vampiros também podem produzir magia? Desculpe se essa pergunta soar idiota.
-Não precisa se desculpar, Jessica. -Ele sorri de um jeito sereno. -Nenhuma pergunta é idiota. E sobre isso, infelizmente, não. Somente quem nasceu como feiticeiro pode produzir e desenvolver magia.
-É sério? Poxa! -Falo me sentindo um pouco decepcionada.
A ideia de poder usar magia parece tão interessante, mas infelizmente terei que lidar com as minhas próprias limitações.
-Não fique assim! -Ele fala tentando me consolar. -Os vampiros também carregam muitas surpresas.
-Bem... sejam quais foram elas, eu espero não ter que esperar muito tempo até descobrir.
-Não se cobre tanto. As coisas acontecerão no momento certo.
Ele profere antes de se manter em silêncio mais uma vez.
Depois de alguns minutos sem falarmos nada, ouço o senhor Louis me chamar assim que viramos uma curva feita de terra.
-É por aqui!
Ele anuncia conforme nos infiltramos nas profundezas de uma densa floresta.
O carro inteiro chacoalha devido ao atrito entre os pneus com o solo, o que me causa uma terrível dor de cabeça, entretanto, toda a dor que eu senti foi substituída pelo choque do que estava diante dos meus olhos.
Autor(a): robbiedawson
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A cada minuto que passava, a Sweet Amoris surgia no horizonte, por trás das várias copas de árvores, enquanto o trajeto pela floresta se tornava cada vez mais plano e vasto, dando a impressão de que a própria natureza ao nosso redor se abria para nos receber. À medida que avançávamos, uma aglomeração de v ...
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