Fanfic: Metamorfose [+16] | Tema: Amor Doce
-É só seguir em frente e ir até a porta de madeira no final do corredor.
As instruções de Dimitry foram se tornando cada vez mais distantes à medida que a refulgente porta se fechava atrás de mim.
Sem perder tempo, comecei a caminhar pelo extenso corredor, adornado com uma variedade de porta-retratos que homenageavam antigos grupos de educadores que marcaram a história da Sweet Amoris.
Adiante, o carpete em tom de vinho se fundia à coloração púrpura das paredes, criando um ambiente acolhedor e convidativo.
-Vamos lá, Jessica! -Bufei baixinho, antecipando uma possível distração, o que me levou a apressar os passos até parar diante da sala da diretora.
Apesar de intimidante, um leve empurrão bastou para a porta abrir por completo, revelando, para a minha surpresa, um escritório de aparência simples e comum.
O ambiente era preenchido por diferentes tipos de armários, uma mesa central completamente desorganizada, algumas cadeiras de aparência desconfortável e um computador antigo, que mais lembrava uma máquina industrial do que um equipamento funcional.
Não consegui evitar um suspiro de decepção. Na minha imaginação, a sala de uma Feiticeira tão poderosa como a diretora Shermansky deveria ser, no mínimo, excêntrica, não? Bem…, de qualquer forma, eu tinha uma missão a cumprir.
Com isso em mente, rapidamente afastei os pensamentos intrusivos e comecei a vasculhar o local, em busca de documentos ou pistas que pudessem me fornecer informações úteis sobre Lysandre.
No entanto, a minha extensa busca estava se mostrando improdutiva a todo momento, até que, de repente, os meus olhos se fixaram na fresta de um armário semiaberto.
-Poderia estar aqui? -Acabei indagando em voz alta.
-Por que não tenta o armário de cima? -Uma voz feminina surgiu por trás, causando-me espanto.
-D-Diretora! -Exclamei, com o coração saltando da boca.
Por uma fração de segundos, fechei os olhos, temendo ser atingida por algum feitiço. No entanto, nada disso aconteceu. A diretora permaneceu ali, parada ao meu lado, esperando pacientemente que eu abrisse os meus olhos para, então, encará-la de volta.
-Que tal se sentar um pouco, senhorita Lopez? -Sugeriu, sem expressar qualquer animosidade. -Você parece um tanto… tensa! -Comentou em um tom de voz sereno.
Ainda em choque devido à sua atitude surpreendentemente positiva, cravei os olhos nela, temendo que qualquer movimento meu fosse motivo para ela me transformar em um inseto rastejante.
-D-Diretora! -A minha voz começou a ficar trêmula. -Não é o que parece! Eu juro! Eu posso explicar! E-Eu…
-Aceita um pouco de chá? -A sua pergunta me pegou totalmente desprevenida.
A princípio, não a respondi, apenas a observei agachar-se e retirar de dentro, do que parecia um compartimento de alumínio, um bule de porcelana com estilo caracteristicamente inglês. Em seguida, um par de xícaras foi retirado e colocado, cuidadosamente, sobre a mesa.
-É de erva-doce. -Ela sinalizou, ajeitando os utensílios. -Você gosta?
-E-Eu prefiro com uma pitada de sangue. -Respondi, enquanto ela começava a encher uma das xícaras com chá quente.
-Mas é claro! -Ela sorriu suavemente. -De cervo ou de coelho? -Perguntou.
-Coelho!
A diretora então retirou de um dos bolsos de seu sobretudo cor-de-rosa um pequeno frasco de vidro, que continha uma quantidade razoável de sangue em seu interior.
-Sente-se, por favor! -Pediu a diretora educadamente, após me entregar o chá de erva-doce misturado com sangue de coelho.
-P-Perdão! -Murmurei, nervosa, enquanto me sentava na cadeira mais próxima.
-E então? -A diretora me observou com firmeza. -Você agendou esta reunião por estar com problemas na sua "Mana" ou porque queria surrupiar algo da minha sala?
O seu tom acusativo, sem dúvida, me deixou nervosa. Afinal, ela estava certa.
-E-Eu -A minha expressão aturdida transparecia uma intensidade tremenda.
Ainda que o medo estivesse me consumindo, eu não conseguia, sequer, inventar uma desculpa plausível para o meu comportamento. Logo, restava-me apenas uma única opção: falar a verdade.
A diretora Shermansky manteve-se impassível enquanto eu lhe contava, nos mínimos detalhes, sobre a conversa com Peggy, incluindo todo o seu infundado plano. Relatei também o que havia sido dito a mim sobre a bomba de tinta nos dormitórios dos professores.
-Eu não sei por que fiz o que fiz, mas... seja qual for a minha punição, eu a aceitarei de bom grado, diretora! -Disse, abaixando a cabeça em um gesto de remorso.
A diretora me encarou por alguns segundos, enquanto bebericava o seu chá.
-Por mais inconsequentes que tenham sido as suas ações, a sua honestidade é admirável, senhorita Lopez! -Comentou, parecendo satisfeita por eu ter assumido a minha responsabilidade.
-Eu sei disso! -Com um sorriso triste, levantei a cabeça, apesar da vergonha que ainda sentia.
Após um breve silêncio, a diretora começou a soltar pequenos risinhos, o que imediatamente chamou minha atenção.
-Quando você administra uma escola como esta... -Enunciou a diretora, absorta em seus próprios pensamentos. -A nossa jornada de trabalho se torna uma constante ampulheta de areia. É quase impossível não passar pelas mesmas transformações que a escola enfrenta. As paredes mudam, as salas de aula também. Adaptamos tudo à modernidade, colocamos feitiços por todos os lados para termos eletricidade e internet. Mas os alunos... eles nunca mudam. -Refletiu, dando um último gole em seu chá e parecendo mais perdida do que nunca em seus devaneios. -Não me resta outra decisão senão puni-la com uma detenção, senhorita Lopez! -Afirmou, com seriedade.
-Sim, senhora! -Murmurei, abaixando os olhos.
-E não se preocupe com a senhorita Chandler. Ela receberá uma punição devidamente apropriada -Disse, referindo-se a Peggy. -Ah! E não se esqueça do seu chá! -Lembrou-me, apontando para a xícara que repousava em minhas mãos. -A bebida está esfriando!
-S-Sim! -Sorri educadamente para ela. -Obrigada! -Agradeci, saboreando a minha bebida, enquanto a diretora, por sua vez, massageava o próprio queixo, ainda perdida em pensamentos.
Mais tarde, ao encontrar as minhas amigas jantando no refeitório, não poupei palavras e contei-lhes tudo, sem esconder, inclusive, a minha parcela de culpa e participação.
-Mas por que raios você aceitou ajudar essa tal de Peggy, Jessica? -Priya questionou, claramente indignada. -Estava na cara que era uma cilada!
-E-Eu não sei… -Suspirei, angustiada. -Parecia que eu estava fora de mim, como se não pudesse raciocinar direito…
-Isso é estranho! -Priya pontuou, franzindo o cenho.
-Essa Peggy é uma sem-vergonha, isso sim! -Rosa exclamou, irritada. -Quer brincar na lama e sujar os outros também?!
-Pois é… -Falei, cabisbaixa, enquanto brincava com o espaguete no prato. -Ao menos a diretora, apesar de tudo, não ficou tão brava como eu imaginei que ficaria.
-Isso é um bom sinal! -Iris respondeu com otimismo.
-Bom sinal? -Desta vez, foi Kim quem se manifestou. -A garota vai ter que cumprir uma detenção no final de semana, e você diz que foi um "bom sinal"?!
-Bem… -Iris pareceu ficar sem graça, mas ainda assim defendeu o seu ponto de vista. -Por mais que a Jessica tenha uma detenção a cumprir, poderia ter sido bem pior. Ela poderia ter sido expulsa, não?
-Iris tem razão, Kim! -Rosa disse, concordando com a ruiva. -Além do mais, será somente neste final de semana, né?
-Creio que sim! -Falei, balançando os ombros. -Antes de ir embora, a diretora pediu que eu conversasse com o professor Faraize. Parece que ele é o responsável por supervisionar os alunos que ficam em detenção.
-Eu sinto muito, Jessica! -Violette apertou a minha mão gentilmente.
-Obrigada! -Respondi, sentindo-me um pouco melhor com a sua tentativa de consolo.
Ao perceber o meu desconforto crescendo, Rosa decidiu mudar o foco da nossa conversa para assuntos mais banais, o que ajudou a distrair a minha ansiedade até o final do jantar.
Na sexta-feira, após o término da aula sobre “As Origens do Misticismo Mundano”, procurei o professor Faraize para conversar sobre a detenção. Ele me instruiu a levar alguns materiais comigo, como um estojo e um caderno.
-Esteja aqui às 9 horas, sem falta! -Sinalizou, ajeitando desengonçadamente os seus óculos de lentes circulares.
Na manhã seguinte, acordei bem mais cedo do que o habitual, temendo me atrasar.
Assim que terminei o café da manhã, corri para a sala de aula indicada.
Ao chegar lá, fiquei estarrecida com a quantidade mínima de pessoas. Havia apenas cinco estudantes, que, comigo, totalizavam seis.
“Nenhum sinal de Peggy”, pensei, fitando cada um dos alunos que estavam presentes.
Desde o ocorrido na quarta-feira, ela havia simplesmente desaparecido. Não a encontrei com Dimitry, nem no refeitório, durante o jantar. Era como se ela tivesse evaporado do campus.
A única explicação que me veio à mente foi que Peggy provavelmente fugiu ao perceber que seu plano havia fracassado. Além disso, como ela conseguiu escapar da diretora ainda é um mistério.
De qualquer forma, a diretora garantiu que ela seria punida. Talvez isso explique o seu sumiço. Mas, seja o que for, não é um problema meu.
-Droga, Alexy! -Um grito alto e estrondoso ecoou do fundo da sala, me assustando. -Você me fez perder outra partida!
-Não enche! -Uma resposta afiada ressoou retrucando.
Um tanto quanto curiosa, os meus olhos se voltaram para as duas figuras barulhentas. Prontamente, os reconheci como dois de meus colegas. E se não me falha a memória, os seus nomes são Armin e Alexy.
-Olha o escândalo que você está fazendo! -O de cabelos azuis disparou. -Depois eu que sou uma “drama queen”, né?
-Fica quieto! -O de cabelos pretos resmungou, apertando os dedos na tela do celular.
Sem muita demora, a minha presença foi rapidamente notada pelo garoto de cabelos azulados.
-Peço desculpas pelo meu irmão! -Ele disse, exibindo uma careta.
-Não, tudo bem! -Respondi com uma risada leve.
-Ei! Eu conheço você… o seu nome é… Jessica, certo?
-Isso! -Confirmei com um sorriso. -Acho que nunca conversamos antes. É um prazer! -Acrescentei, estendendo a minha mão.
-Prazer! -Ele apertou a minha mão de volta. -Espero que não tenhamos arruinado a sua primeira impressão sobre nós. -Brincou.
-Claro que não! -Soltei uma risada descontraída, procurando uma mesa próxima para me acomodar.
-Eu sou o Alexy, e esse idiota aqui do meu lado é meu irmão, o Armin.
-Oi! -Armin deu um rápido aceno para mim, mas logo voltou a sua atenção para o jogo que o entretinha.
-Você está na detenção também? -Alexy perguntou, curioso. -Não tem cara de quem apronta!
-É… -Falei, meio tensa. -Digamos que estou aqui por um mal-entendido… e vocês?
-A causa do nosso infortúnio está bem aqui. -Com um gesto dramático, Alexy apontou para o celular do irmão. -Armin se empolgou demais jogando, e a bibliotecária não ficou nada feliz. Eu acabei me envolvendo, e cá estamos.
-Parece ter sido uma grande aventura! -Comentei, tentando fazer graça e ambos deram risinhos silenciosos, concordando.
-Bom dia, alunos! — A voz rouca do professor Faraize ecoou pelo recinto, arrancando suspiros e grunhidos de alguns. -Em cima da mesa, somente o necessário. -Avisou, lançando um olhar despretensioso para Armin.
-Daqui para frente, só piora! -Alexy sussurrou no meu ouvido quando Armin, emburrado, guardou o celular, o que me fez, mais uma vez, rir.
Autor(a): robbiedawson
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No fim das contas, o tempo que passei na detenção não foi tão ruim assim. Por mais entediante que tenha sido escrever uma redação sobre a importância do autocontrole, a companhia de Armin e Alexy tornou aquelas duas horas de punição, no mínimo, suportáveis. No dia seguinte ao meu castig ...
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