Fanfic: Metamorfose [+16] | Tema: Amor Doce
No sábado seguinte, aproveitei o clima outonal para relaxar nos jardins da escola. Apesar dos ventos frios, encontrei um recanto sereno onde pude observar a natureza do campus enquanto descansava sob os galhos de uma árvore alta.
Ao meu lado, Iris, Priya, Rosa e Alexy conversavam animadamente sobre a iminente chegada do Halloween, um feriado muito importante para nós, humanos-mestiços.
-Eu ouvi falar que os veteranos costumam duelar no ginásio. -Priya comentou, deslumbrada com o rumor.
-Mas isso não é perigoso? -Rosa indagou, claramente apreensiva com a possibilidade de algo tão arriscado acontecer.
-Hmm…, não deve ser tão perigoso assim. -Priya ponderou, embora soasse incerta.
Iris, que folheava rapidamente o livro que havia trazido consigo, buscava uma explicação mais detalhada, tentando apaziguar o desconforto que pairava no ar devido à incerteza sobre o evento mencionado.
-Escutem só… -Iris chamou a atenção de todos antes de iniciar a sua leitura. -Aqui diz o seguinte: “...O Halloween é uma antiga tradição celta, associada ao período dos mortos e ao enfraquecimento das barreiras entre o mundo dos vivos e dos espíritos. No entanto, foi com a migração irlandesa para a América do Norte, durante o século XIX, que o Halloween passou a ser moldado e popularizado como o conhecemos hoje. Para os humanos-mestiços — aqueles dotados de habilidades sobrenaturais ou de linhagens místicas — essa época do ano adquiriu um novo significado. Após os tempos de perseguição da Inquisição, quando qualquer traço de ‘anormalidade’ era reprimido e severamente punido, o Halloween surgiu como símbolo de liberdade e renovação. Atualmente, o Halloween é mais que um simples feriado: é uma ocasião sagrada para os mestiços, uma celebração da liberdade e da aceitação conquistada. Nesse dia, práticas e rituais são realizados para reverenciar a energia conhecida como ‘Mana’, a força vital que permeia e conecta todos os seres místicos...".
Quando Iris terminou de ler, não pude evitar e acabei proferindo um questionamento em voz alta, ao reconhecer uma palavra que soava estranhamente familiar para mim. -Você disse "Mana"? -Falei, curvando-me para frente.
-Sim! -Iris assentiu, direcionando o livro em minha direção e apontando para o trecho em questão. -De acordo com essa autora, o termo "Mana", além de ser uma energia vital, é o que sustenta a manifestação das nossas habilidades sobrenaturais. Caso não estejamos suficientemente conectados com a nossa própria essência, podemos apresentar um grau de "insuficiência energética", o que significa que ficamos inaptos a desenvolver ou manifestar aquilo que faz parte da nossa natureza particular.
-Então... isso significa que podemos perder as nossas habilidades? -Priya perguntou, intrigada com o assunto.
-Sim, mas apenas de forma temporária. -Iris esclareceu. -Normalmente, estímulos sensoriais ajudam a recuperar a ‘Mana’ perdida. Porém, em casos mais graves, somente com uso de Magia.
-Chocante! -Priya exclamou, mantendo uma expressão enigmática.
-Ei! -Rosa, que estava com o cabelo sendo trançado por Alexy, chamou a atenção de todos com um ligeiro aceno de mão. -Daqui a pouco o almoço será servido. É melhor nós irmos, não?
-Concordo! -Falei, massageando o meu estômago ao senti-lo roncar.
-Vamos, Alexy? -Rosa, pronta para se erguer, notou uma distração incomum em Alexy, que pareceu despertar de seus profundos pensamentos quando Priya foi até ele, balançando-o pelo ombro.
-V-Vamos! -Alexy se levantou apressadamente, quase perdendo o equilíbrio no processo, mas ainda assim conseguiu finalizar o penteado de Rosa, que saiu apressada, determinada a chegar o mais rápido possível ao refeitório.
Logo atrás, Priya e Íris foram discutindo as questões levantadas pelo livro que foi lido, enquanto eu, deliberadamente, desacelerei a minha caminhada para ficar ao lado de Alexy, que trazia consigo um olhar vazio, o que me fez estranhar o seu comportamento.
-Ei! -Sussurrei para ele, colidindo amigavelmente os nossos ombros. -Você está bem? -Perguntei, em um tom preocupado.
-Estou! -Alexy respondeu, forçando um sorriso. -Por que não estaria?
-Bem.. é que… você parece distraído. -Comentei, de forma cautelosa. -Então…, fiquei apreensiva caso tenha acontecido alguma coisa. -Acrescentei olhando para ele com ternura.
Ao me ouvir, Alexy abriu um segundo sorriso, mas desta vez, genuíno.
-Obrigado! -Ele agradeceu caminhando com um pouco mais de leveza. No entanto, apesar de Alexy se esforçar para parecer bem, o seu olhar ainda transparecia inquietação. Eu não conseguia compreender o que poderia estar lhe afligindo tanto. Talvez Armin soubesse de algo, mas eu só conseguiria falar com ele no final da tarde, após o meu encontro com o Clube de Teatro, que aconteceria no anfiteatro, após o almoço.
Durante a semana, fomos informados sobre o local de encontro e avisados sobre a necessidade de respeitar rigorosamente os horários dos ensaios.
Aparentemente, todos os anos, os integrantes do Clube promovem uma peça teatral no encerramento do ano letivo, geralmente após a conclusão das provas e demais atividades avaliativas. Esse evento é considerado um dos maiores programas culturais da Sweet Amoris. Pelo menos, foi o que ouvi dizer. Parece que a diretora Shermansky é uma grande apoiadora desses eventos, o que me deixa muito empolgada.
Portanto, após o almoço, despedi-me de Iris e Priya e segui acompanhada por Rosa e Alexy. Fomos para o anfiteatro, que já estava relativamente cheio. Lá, avistei rostos conhecidos, entre eles o de Peggy, que conversava com uma garota desconhecida, provavelmente de uma série mais avançada que a minha.
Quase imediatamente, senti Rosa agarrar o meu pulso quando Peggy deixou a sua posição do outro lado do recinto e começou a caminhar em nossa direção.
-Olá! -Peggy sorriu, tentando soar amigável. No entanto, o olhar que ela recebeu tanto de mim quanto de Rosa foi suficiente para deixá-la constrangida. -Er… será que poderíamos conversar um pouco, Jessica? -O seu tom de voz mudou, agora ela soava insegura e hesitante, completamente diferente de como a conheci no dia do ginásio, quando ela me manipulou a invadir a sala da diretora.
Embora eu não quisesse ceder de novo, uma parte de mim não suportava a sensação de ter problemas mal resolvidos. Sendo assim, decidi ouvi-la.
Ao fazer isso, Rosa não escondeu o seu descontentamento comigo. Ainda assim, ela respeitou a minha decisão, afastando-se para que Peggy e eu pudéssemos conversar a sós.
Alexy, percebendo o clima de tensão no ar, se juntou a Rosa, que o conduziu até algumas cadeiras vazias, perto de onde estávamos parados.
Enquanto a maioria dos representantes debatia entre si e se organizava para receber os novos integrantes, Peggy me conduziu a um canto mais reservado, onde teríamos mais privacidade e ficaríamos afastadas do vozerio dos outros estudantes. Apesar de resistente, acabei acatando ao seu pedido.
Assim que nos acomodamos, não lhe dei chance de começar a falar.
-Eu sei das suas tramoias, Peggy! -Falei, sentindo uma raiva crescente tomar conta de mim. -Você me manipulou! -Afirmei, com os lábios trêmulos. -Por quê?
-Eu... reconheço o meu erro, está bem? -Peggy respondeu pausadamente, como se escolhesse cada palavra com extremo cuidado. -Eu sei que me aproveitei de você buscando um benefício pessoal, mas... era um plano perfeito, Jessica!
-Você realmente acreditava nisso? -Indaguei, com frieza na voz. -Nós duas fomos punidas, Peggy... tivemos sorte de não sermos expulsas! -Declarei, revoltada. -E, só para você saber, eu nem sequer contei aos meus pais sobre o ocorrido, tamanha a vergonha que senti. O que você esperava ganhar com isso? -Finalizei, soltando uma risada fraca e amarga, carregada de raiva.
-Notoriedade. -Peggy admitiu, encolhendo os ombros. -Achei que, se conseguisse desvendar algum segredo que a diretora estivesse guardando, isso me daria um status de mais respeito.
-Quando você ultrapassa certos limites, não há como conquistar respeito de verdade. -Retruquei, com um tom de rancor.
-Você tem razão! -Peggy assentiu rapidamente. -Talvez a minha ambição tenha me levado a um caminho desfavorável. Ainda mais porque me aproveitei de você, uma pessoa que estava vulnerável.
-Você quis dizer “fraca”, não? -Rebati com ferocidade.
-Hã? -Peggy me olhou, confusa.
-Você disse “vulnerável”, mas na verdade quis dizer “fraca”. Foi o que você falou para aquele recepcionista de nome Dimitry. Lembra?
-Eu nunca disse isso! -Peggy respondeu, agora na defensiva.
-Claro que sim, afinal, eu tenho uma “dificuldade” com a minha própria ‘Mana’, não é? -Pontuei, cruzando os braços.
-A-Ah! -Peggy mordeu o lábio inferior, desconcertada. -Está bem... eu admito... eu sabia que, por ser uma aluna do primeiro ano, você não teria conhecimento suficiente sobre como funciona a ‘Mana’ em cada um de nós. Além disso, a sua queda por Lysandre só facilitou o meu acesso à sua mente. Foi por isso que mencionei a questão da sua vulnerabilidade. As emoções têm uma grande influência nisso. -A cada palavra dita por Peggy, o meu corpo se contorcia de revolta, e a minha respiração se tornava mais pesada e arfante.
Aquilo era completamente revoltante. E ela, repugnante.
-Aliás, como foi que você descobriu que eu tenho sentimentos por Lysandre? Você disse que “observou”, mas... como você, efetivamente, fez isso? -Murmurei, temendo, de certa forma, ser ouvida pelas pessoas ao nosso redor.
-Uma jornalista nunca revela os seus segredos. -Peggy sorriu, com malícia. -Fora que, tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Jessica. Eu sou muito mais do que uma Basilisco. E… -Ela, novamente, sorriu, redirecionando o meu queixo para a porta do Anfiteatro, de onde Lysandre apareceu, sendo seguido por seu irmão, Leigh. -Tem muita coisa que você não sabe sobre ele também. O seu "príncipe encantado" está escondendo algo, e a diretora está acobertando-o. Se as minhas suspeitas estiverem corretas, as coisas por aqui vão ficar realmente interessantes.
-Por favor! -Balancei o rosto, tentando ignorar a energia caótica de Peggy, que parecia pesar sobre os meus ombros. -Você está inventando um tipo de conspiração para beneficiar a si mesma e o seu jornal fajuto.
-Pode até ser… -Peggy reconheceu, se mostrando perseverante. -Mas, se eu fosse você, ficaria de olhos bem abertos, porque esse garoto não é quem ele diz ser. E, mais cedo ou mais tarde, essa fachada que ele criou vai desmoronar e nos colocar em grande perigo.
-Como assim? -Olhei para ela, assustada. -Peggy, você está exagerando!
-Será? -Questionou, com um sorriso astucioso, causando uma onda de calafrios em mim.
Por mais que eu a odiasse naquele momento, seria possível que Peggy estivesse, de alguma forma, certa? Ou seria esse mais um plano repleto de manipulações?
Autor(a): robbiedawson
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