Fanfic: Enquanto somos jovens | Tema: Naruto
Ino estava solteira. Ela nem sabia como ser solteira direito, pois havia passado os últimos três anos e meio – a maior parte de sua adolescência – namorando o mesmo cara. Ela e Sai se conheceram no colégio e começaram a namorar ainda no primeiro ano do Ensino Médio. Era bobagem ela acreditar que eles ficariam juntos por mais tempo? Aparentemente, sim.
Sai foi aceito em uma faculdade de artes do outro lado do país e, por mais que eles tivessem prometido que se falariam todos os dias, nem no primeiro mês de separação tinham conseguido manter a promessa. As conversas por telefone e facetime se tornaram semanais aos fins de semana, e então aos poucos se tornaram quinzenais, até que Ino se tocou que eram no máximo eventuais. O término do namoro foi amigável, mas talvez mais porque Sai já não se importava, do que por ser uma decisão tomada em comum acordo. Uma parte de Ino ainda esperava que ele se arrependesse.
Mas essa parte já estava morta e enterrada quando o segundo ano de faculdade começou. Conformada com o fim do relacionamento, ela traçou um projeto para si mesma nesse novo ciclo que começava. Ino havia perdido muito do seu primeiro ano na faculdade preocupada com o namorado distante. Não que ela tivesse deixado de sair com os amigos, mas poderia ter curtido as festas muito mais se soubesse como as coisas terminariam.
Ela também teria mais tempo para estudar, o que era bom, mas não era bem a sua prioridade. Era mais como um efeito colateral de sua nova situação. Na verdade, o que ela queria mesmo, era sair mais com os amigos, conhecer pessoas novas, beijar outras bocas. Ela se perguntava se seria capaz de ficar com vários caras e ter relações casuais. Era uma perspectiva que a assustava e a animava ao mesmo tempo. A única certeza que tinha era que ela não queria, nem estava pronta para outro relacionamento sério. Estava na faculdade, com um milhão de coisas para fazer, e outras milhões de decisões para tomar. Já era difícil decidir o próprio futuro, mas acrescentar outra pessoa à equação era burrice.
Sai não a incluiu na equação quando se matriculou na Faculdade de Artes de Sunagakure. A diferença, claro, é que ele tomou essa decisão enquanto namorava alguém, e Ino estava tomando essa decisão estando totalmente livre.
Ino acordou com Sakura a chamando. Quando abriu os olhos, viu que a amiga já estava vestida e pronta para sair.
— Por que você não me acordou antes? — perguntou, esfregando os olhos e olhando para a janela, como se esperasse ver que horas eram.
— Eu tentei, Ino, mas você me responde como se estivesse acordada, mas volta a dormir logo em seguida — respondeu Sakura, como se pedisse desculpas. — Vai, levanta, você já dormiu demais. Vai atrasar para a aula.
Ino se sentou na cama, para que Sakura visse que ela não voltaria a dormir. Pegou o celular no gaveteiro ao lado da cama. Sete e vinte e cinco da manhã. Com um suspiro conformado, Ino afastou o cobertor e colocou os pés no chão. Isso pareceu deixar Sakura satisfeita e Ino a viu sair do quarto. As aulas já haviam começado há três semanas, mas Ino ainda estava com dificuldade para acordar cedo. Ao se arrastar para fora do quarto, viu Hinata na sala, colocando os sapatos.
Ela dividia um dormitório de dois quartos com mais três meninas. Sakura, sua melhor amiga, que dormia no mesmo quarto que ela. Hinata, uma menina gentil e discreta que era o ponto de equilíbrio do grupo. E Karin, uma garota caótica e hiperativa, de cabelo vermelho sangue, que dormia no mesmo quarto que Hinata.
No dormitório havia um banheiro pequeno, com um boxe apertado. Na sala, um sofá branco com uma mesa de centro de madeira, uma estante velha e capenga, cheia de adesivos colados por alguém que havia morado ali antes delas, e uma mesa de estudos que estava entulhada de livros didáticos da faculdade e artigos de papelaria que nenhuma delas sabia de quem era, então todas deixavam disponíveis para uso comunitário.
— Vocês vão passar no refeitório? — perguntou, comprimentando Hinata com um aceno de mão. Hinata respondeu com um sorriso.
— Você vai demorar para se arrumar? — perguntou Sakura, em pé perto da porta.
— Não precisa esperar por mim — Ino se encaminhou para o banheiro. — A Karin já acordou?
— Já. Ela está se arrumando no quarto.
Ino entrou no banheiro para tomar um banho rápido. Ela tinha colocado o despertador para tocar, mas era a mesma coisa que nada. O celular poderia tocar vinte vezes, sem que produzisse qualquer efeito sobre o seu sono. Por isso pedia para que Sakura a acordasse, o que nem sempre funcionava.
Quando terminou o banho e saiu de toalha para a área comum do apartamento, encontrou apenas Karin, que estava com a bolsa revirada e todo o conteúdo jogado sobre a mesa de centro da sala. Karin vivia perdendo as suas coisas o tempo todo, não tinha um dia que ela não estivesse procurando por algo. Ino se perguntou o que seria dessa vez, mas preferiu não engajar em uma conversa com a colega, com medo que esta lhe pedisse para ajudar a procurar.
Ino vestiu uma calça jeans azul clara, uma baby look com listras horizontais lilás e brancas, e um colete aberto azul que ia até a cintura, e um sapatenis lilás sem cadarço. Amarrou os longos cabelos loiros em um rabo de cabalo e deixou as franjas caírem pelo lado de seu rosto. Com uma última olhada para o espelho, Ino pegou seu material para a primeira aula e saiu do quarto.
— Achei! — exclamou Karin, irritada consigo mesma. — Você já está saindo?
— Já — Ino separou a sua chave do quadrinho que elas tinham ao lado da porta. — Eu te espero — falou, dando uma olhada para a bagunça que Karin tinha feito.
O dormitório delas não ficava longe do refeitório. Dava para sentir o cheiro da comida sendo preparada na cozinha. Elas chegaram em cinco minutos e enquanto Ino passava seu crachá na catraca de entrada, Karin vasculhava novamente a bolsa em busca do dela.
— Vai na frente — disse a menina de cabelo vermelho. — Isso pode demorar. Segura um lugar pra mim.
O refeitório da faculdade era um ambiente bastante espaçoso, cheio de mesas retangulares com lugares para seis pessoas. Era um prédio com estilo antigo, com janelas enormes no lado oeste, com vista para a biblioteca. O lugar preferido de Sakura era na janela que ficava exatamente em frente à porta de entrada da biblioteca, e ela era bem metódica sobre suas preferências, a ponto de preferir chegar cedo no refeitório, para não correr o risco de perder seu lugar para outro estudante faminto.
Àquela hora, o refeitório já estava cheio, barulhento e quase sem comida. Ino pegou um pouco de ovo mexido e cereais suficientes para duas pessoas e duas xícaras de café e se dirigiu para a mesa de Sakura. Ao se sentar, deixou separada a comida de Karin e começou a comer a sua parte. Hinata olhou para a direção da porta, procurando por Karin.
— Ela esqueceu o crachá de novo?
— No tempo entre vocês saírem e eu tomar um banho ela conseguiu tirar tudo da bolsa procurando por alguma coisa, e depois enfiou tudo para dentro de novo. Não me surpreenderia se o crachá estiver no chão da sala.
Sakura balançou a cabeça, rindo.
— Se não me dissessem que ela e o Naruto são primos, eu acabaria adivinhando.
As outras duas riram do comentário. Naruto e Karin eram primos de segundo grau, mas muito parecidos. Ambos eram atrapalhados e hiperativos e viviam deixando os amigos malucos com o excesso de energia que possuíam. Eram o puro caos encarnado.
— Por falar em Naruto… — falou Ino, percebendo que o rapaz, um loiro alto, de cabelo curto e rebelde, vinha na direção da mesa delas. Ele não estava sozinho. Vinha acompanhado de Sasuke, um moreno alto e muito bonito, que era amigo de Sakura desde a infância.
Os dois rapazes se sentaram com elas à mesa, cumprimentando a todas. Naruto se sentou ao lado de Hinata, forçando Sasuke a se sentar perto de Ino. Os dois não se davam muito bem, apesar de estarem longe de se odiarem. Conviviam bem por causa de Sakura, que tinha a ambos como melhores amigos.
Quando Ino conheceu Sakura, algumas coisas ficaram bastante claras logo de início: Um, Sakura era inteligente. O tipo de garota que tira nota alta sem esforço, mas que se esforça mesmo assim; Dois, Sakura era bonita e apesar de saber disso, não era metida, nem usava sua aparência para a conquista. Ela tinha belos olhos verdes, o cabelo na altura dos ombros pintados de rosa claro e sempre hidratado. Não tinha um cara que não olhasse para elas duas vezes quando passava; Três, Sakura estava apaixonada por Sasuke Uchiha.
Qualquer garota que olhasse para Sasuke, sem conhece-lo, entenderia Sakura. Ele era lindo. Um dos caras mais bonitos da faculdade, aliás. Ele era quieto, sempre mal humorado e não tinha muitos amigos. Ino entendia que eles tinham uma história e que pertenciam um ao outro de uma maneira que talvez nem eles mesmos entendessem. O problema era que Sakura o amava além da amizade e não fazia muito esforço para disfarçar. Porém, Sasuke a mantinha na zona da amizade, sem sinalizar que soubesse ou se importasse com os sentimentos da garota. O que mais irritava Ino era a aparente apatia de Sasuke. Qual era o problema dele, afinal?
Os pensamentos de Ino foram interrompidos pela chegada de Karin à mesa e pela voz animada de Naruto.
— Agora que a minha querida prima se juntou a nós — disse ele, rindo do dedo do meio que recebeu de Karin. — eu posso oficializar o meu convite para voês.
— Convite para quê? — Perguntou Karin, sentando ao lado esquerdo de Sasuke.
Ino estendeu para ela a comida que tinha separado, fazendo Sasuke recostar-se na cadeira para que ela tivesse espaço. Karin agradeceu.
Naruto continuou:
— Minha banda vai tocar na festa da Fraternidade Pi Delta Gama nesse fim de semana. Disseram que podíamos convidar algumas garotas.
— Claro que disseram… — falou Sakura, com ironia — Quanto mais mulher, melhor.
— Bom — Naruto deu de ombros. — Para mim, quanto mais público, melhor. E a Karin tinha me dito que vocês queriam uma festa.
Ino se animou.
— Eu não quero uma festa, eu preciso de uma festa — disse ela, virando-se para Sakura. — Por favor, guarde as suas reclamações feministas para segunda-feira.
— Posso só fazer uma última observação antes de me calar até segunda? — perguntou Sakura e, sem esperar por resposta, continuou — Você sabe que as mulheres são chamadas para essas festas para atrair mais homens e que, portanto, estamos sendo tratadas como produtos?
Karin deu risada.
— Amiga, a Ino só quer beijar na boca e recuperar o tempo perdido. Se tem alguém que vai tirar proveito dessa festa é ela.
Ino sinalizou com a cabeça que concordava com Karin. Sakura riu da amiga e cumpriu a promessa de se calar sobre o assunto.
Naruto virou-se para Hinata e Sakura.
— Vocês vão, né?
O rapaz perguntou com tanta sinceridade e interesse, que nenhuma das duas teve coragem de recusar.
— Perfeito! Vejo vocês mais tarde, então.
Com isso, ele e Sasuke se afastaram, pegando o rumo para a faculdade de direito que cursavam juntos.
Poucos minutos depois, enquanto caminhava ao lado das meninas para o prédio da faculdade de medicina, Ino colocava mais um item de metas no seu planejamento para aquele ano: fazer Sakura superar Sasuke e conhecer alguém que a mereça ou fazer com que ele perceba o que está perdendo. Qualquer um dos resultados estaria bom, desde que a situação atual mudasse.
Ino estava no segundo ano de medicina e tinha planos para seguir carreira como psiquiatra, assim como o seu pai. Sua família vinha de uma longa tradição na área da saúde e era natural que ela seguisse pelo mesmo caminho. No entanto, Sai, seu agora ex-namorado, costumava desdenhar quando ela afirmava que queria ser médica. Para ele, que não tinha o apoio da família para seguir a carreira que escolhera nas artes, Ino estava apenas escolhendo o caminho mais fácil.
Às vezes, era difícil evitar o pensamento de que, talvez, Sai estivesse certo. Ino sabia que não era pressionada pelos parentes e sabia que possuía interesse verdadeiro pela profissão, e que cabia a ela tomar as decisões sobre sua própria vida. Porém, por muito tempo foi importante para ela ter a aprovação de Sai. O garoto havia feito parte de sua vida durante toda a sua adolescência, e fazia apenas alguns meses que Ino estava descobrindo como era ser sua própria prioridade. E estava gostando.
Ao final do primeiro período de aulas, Ino guardou rapidamente seu material de estudo na bolsa e aguardou Sakura, para que ambas fossem para o ponto de encontro marcado com Karin e Hinata.
Sakura estava na mesma turma de medicina que Ino, embora almejasse especializar-se em cardiologia. Hinata era estudante de enfermagem e Karin estudava psicologia. Não era uma regra que estudantes de uma mesma faculdade (Saúde) ficassem no mesmo dormitório, por isso todas consideravam aquela uma feliz coincidência, pois acabavam passando muito tempo juntas e coincidindo muitos horários de aulas e intervalos. Principalmente às sextas-feiras, quando conseguiam se encontrar para o almoço no refeitório.
Quando já estavam as quatro amigas sentadas à mesa com seus pratos de comida e uma maçã para a sobremesa, Karin abordou o assunto da apresentação da banda de Naruto na festa da fraternidade Pi Delta Gama. Todas elas conheciam a banda, apesar de Ino não ter ido à muitas apresentações. Sai não era fã. Ino não conhecia muito bem as músicas, mas gostava de Naruto.
— O Naruto disse que vai ser a primeira apresentação da Red Fox com o novo guitarrista — comentou Karin, chamando a atenção de Ino para a conversa.
Ela conhecia os membros da banda, Shikamaru e Chouji, mas não gostava do outro garoto, chamado Kazuo. Ele era estranho e sempre parecia inadequado. Não foi com surpresa, portanto, que meses atrás Ino recebeu a notícia de que ele não fazia mais parte da Red Fox.
— O que aconteceu com aquele outro cara? — perguntou.
— Brigou com todo mundo — respondeu Karin, dando de ombros. — Surtou um dia, durante um ensaio — Karin falava com elas, remexia no prato de comida e mexia no celular ao mesmo tempo. — O Naruto finalmente se cansou e mandou ele embora.
— Que bom — opinou Ino, sentindo um certo alívio com a notícia. — Ele era estranho.
— Sim — concordou Hinata, o que fez com que as outras três olhassem para ela. Hinata não costumava falar mal de ninguém, nem emitir opiniões - negativas - sobre pessoas, a menos que fosse diretamente questionada e sua opinião fosse relevante para o assunto. — Ele era muito inconveniente - disse ela, simplesmente.
— Era mesmo — concordou Karin.
Nenhuma delas entrou em detalhes, mas todas sentiam a mesma coisa em relação a Kazuo. Ino tinha certeza que, se perguntasse às amigas se elas se sentiriam seguras em ficar sozinhas em um ambiente com aquele cara, todas responderiam que não.
— Quem é o novo cara? — perguntou, mudando o rumo da conversa.
— Naruto não disse o nome – respondeu Karin dando de ombros. — Mas disse que o cara é bom. Eles estão nervosos porque vai ser a primeira vez que vão se apresentar com a nova formação.
— Imagino — interveio Sakura, com um sorriso animador. — Se eles estiverem ensaiando, vai dar tudo certo.
— Espero que estejam — respondeu Karin, rindo. — A última coisa que eu quero é passar vergonha na festa, por causa do Naruto.
As meninas riram e continuaram a refeição sem falar por um momento. Ao olhar ao redor no refeitório, Ino reparou que Naruto estava sentado em outra mesa, com Sasuke e dois membros da banda, que ela já conhecia. Eles estavam conversando e rindo.
— O Naruto não parece muito preocupado — comentou, apontando para a mesa dele.
Karin e Hinata, que estavam de costas para a direção em que Ino apontava, se viraram para olhar. Karin logo perdeu o interesse, respondendo:
— Ele não leva nada a sério, até que seja tarde demais.
— Deve estar tudo bem — comentou Hinata, otimista. – Tenho certeza que vai ser uma ótima apresentação.
Karin já havia perdido o interesse no assunto e mudou o rumo da conversa para outro tópico.
No sábado, Ino era uma garota com uma missão. Vestiu uma calça jeans com rasgos nos joelhos e um cropped branco de um ombro só. Nos pés, colocou uma bota preta de salto fino e cano curto. Como acessórios, colocou um colar de couro falso, que na parte da frente tinha uma corrente de aros pretos, segurando um coração vazado; no pulso, colocou várias argolas prateadas. Após fazer escova no cabelo para deixar as pontas onduladas, prendeu algumas mexas para trás da cabeça, deixando seu rosto livre. Passou lápis nos olhos para realçar o azul das íris, um batom vermelho não muito vivo, e de resto optou por não pesar demais. Separou um cardigã preto, curto, indo apenas até a cintura, para usar apenas se fizesse uma brisa mais gelada mais para o fim da noite. Ao terminar, ela se concentrou em Sakura.
Sakura era uma menina muito bonita, sabia se vestir de forma elegante e de acordo com a idade. Porém, Ino queria que a amiga ousasse um pouco mais. Como parte de sua missão de libertar Sakura de sua paixão infrutífera por Sasuke Uchiha, Ino queria deixa-la deslumbrante, de tirar o fôlego de qualquer um que a visse na festa. Por isso, após alguma consideração, sugeriu que a amiga usasse uma saia branca justa, uma blusa com listras branca e rosa de estilo ombro a ombro com mangas longas. Para os pés, Ino emprestou uma sandalha com salto grosso – pois Sakura não estava acostumada a andar com os saltos finos de Ino. Enquanto cuidava da maquiagem de Sakura, Karin foi terminar de colocar o calçado na sala.
Karin estava com um vestido preto, bastante curto e apertado. Ela tinha um corpo deslumbrante e a atitude certa para aquele visual. A maquiagem era pesada, dando a ela a aparência de quem estava pronta para caçar. E provavelmente era isso mesmo o que pretendia. Apesar de ter planos para arranjar um cara para Sakura, Ino planejava também se juntar a Karin e encontrar um cara gostoso para se divertir um pouco.
Quando as três já estavam quase prontas, Hinata saiu do quarto. Ela era uma garota modesta e tímida e sempre se vestia de acordo. Estava de calça jeans preta, uma blusa lilás sem decote e uma blusinha por cima. Ela tinha seios grandes e bonitos, que Ino, no lugar dela, não hesitaria em evidenciar com uma roupa mais provocante. Se Hinata fosse menos tímida e se vestisse com mais ousadia, nenhuma garota no campus seria páreo para ela. Ino trocou um olhar com Karin e sabia que estavam pensando a mesma coisa: se Hinata deixasse que elas a arrumassem…
As quatro chegaram à fraternidade quando a festa já havia começado há pouco mais de uma hora. Havia música alta e muita gente já mostrava sinais de embriaguez. A princípio, elas encontraram um lugar para se reunir no quintal, onde haviam sido colocadas algumas cadeiras de plástico e de praia, sem muito critério estético. Conversaram um pouco enquanto bebiam o primeiro copo de cerveja, e logo Karin se afastou para conversar com outras pessoas. Ela era popular e conhecia estudantes de outros cursos, graças às muitas festas que frequentava. Ino decidiu que pediria para ser incluída na próxima.
Naruto foi até elas com um prato de salgados e entregou à Hinata.
— Separei um pouco pra vocês, a galera estava indo em cima da comida como se não comessem há um mês.
— Obrigada, Naruto — agradeceu Hinata, fazendo o rapaz abrir um sorriso satisfeito.
Ele estava vestindo um tênis de marca, uma calça jeans surrada, uma camiseta vermelha com a logo e o nome da banda em amarelo e laranja, com efeitos de brasa.
— Vamos começar daqui a pouco — disse ele, apontando para o pequeno palco colocado no jardim. Os instrumentos já estavam montados. Shikamaru estava ali ajeitando os últimos detalhes.
— Estamos ansiosas — respondeu Sakura, com um sorriso sincero.
— O Sasuke ainda não chegou — comentou Naruto, olhando ao redor e depois para Sakura, como se precisasse explicar alguma coisa.
— Ah, tudo bem — disse Sakura, parecendo sem jeito. — Ele deve estar vindo.
Ino não disse nada, pois sabia que nem eles acreditavam nisso. Nunca dava para saber quando Sasuke daria o ar da graça ou não. Ele podia estar com alguma garota, podia estar no dormitório fazendo nada, ou sentindo tanta pena de si mesmo que não importava que os amigos precisassem dele. Sasuke simplesmente não se importava.
Ao se despedir das meninas para se reunir com seus colegas de banda, Naruto lançou um olhar demorado para Hinata, que estava pegando um salgado e passando o prato para as amigas. Ino reparou nesse detalhe e abriu um sorriso. Já fazia algum tempo que ela estava desconfiada do interesse de Naruto por Hinata. O jeito como ele sempre fazia questão de incluí-la em tudo, como se importava com sua opinião e tentava agradá-la, mesmo tentando disfaçar fazendo parecer que fazia pelas outras pessoas também. Hinata, porém, era alheia a tudo isso e seguia sendo apenas simpática e distante com o garoto.
Quando Naruto se afastou, Ino não perdeu tempo. Se inclinou na cadeira na direção da garota e a chamou para perto, num tom de confidência.
— Hina… — começou, sondando. — O que você acha do Naruto?
A princípio, a garota não entendeu a pergunta. Ino continuou.
— O que você acha dele? Acha ele legal?
— Claro.
— E bonito? Você acha ele bonito?
As bochechas de Hinata ficaram coradas e ela desviou o olhar para Sakura, como quem procura por ajuda para a questão.
— Eu acho ele bonito — disse Sakura, dando de ombros. — Ele tem olhos bonitos.
— Ele é bonito — admitiu Hinata, falando baixo.
Ino olhou para Sakura. Talvez ela também tivesse percebido.
— Você ficaria com ele? — perguntou, voltando-se para Hinata e a pegando de surpresa.
— Ah — a garota recuou, sem saber o que responder. Seu rosto ficou ainda mais vermelho. — Eu não sei. Nunca pensei nisso.
— Ele é um cara muito fofo — emendou Ino, incentivando. — Vocês ficariam tão lindos juntos.
Sakura riu, tocando no ombro de Ino.
— Para, Ino. Ela está ficando sem graça.
Hinata se retraiu completamente com aquela conversa. Ela voltou a se recostar na cadeira, olhando para as próprias mãos, sem dizer nada. Ino parou de sorrir, preocupada que tivesse passado dos limites.
— Desculpa, Hina — falou, com sinceridade. — Não quis te deixar com vergonha. É que pelo jeito que o Naruto te olha e fala com você, eu acho – de verdade – que ele está afim, só não sabe como chegar em você.
— Não acho que ele esteja afim de mim — foi a resposta sem jeito da garota.
— Hinata, você é linda - interveio Sakura. — É claro que o Naruto notaria isso. Se não notasse ele seria louco.
Ino pensou em Sasuke e em como ele não notava o quanto Sakura era linda. Mas ficou quieta e se concentrou em Hinata.
— Você ficaria com ele, se ele pedisse?
Hinata não respondeu, apenas abaixou a cabeça, provavelmente desejando sumir dali. Sakura olhou feio para Ino, que entendeu que era hora de parar.
Depois disso, Hinata foi deixada em paz, mas uma vez que Ino notou o interesse de Naruto na garota, ela não conseguiria deixar o assunto morrer. Estava decidida que os dois fariam um casal lindo e fofo. Sendo assim, Ino decidiu falar com Naruto na primeira oportunidade que tivesse. Porém, teria que esperar, pois a Red Fox subiu ao palco logo depois.
Os membros da Red Fox eram Shikamaru na bateria, Chouji no baixo, Naruto na guitarra e no vocal, e um cara novo também na guitarra. Ele fazia o vocal de apoio, junto com Chouji, e parecia estar se divertindo com os meninos no palco. Apesar do pouco tempo juntos, eles pareciam bem integrados.
Ino olhou para ele com curiosidade. Era um rapaz alto, de cabelo curto e bagunçado, a barba rala por fazer. Vestia uma calça cargo preta, uma camiseta vermelha igual à dos outros membros, mas que nele ficava apertada. Dava para ver os músculos dos braços e as veias saltadas enquanto tocava a guitarra.
Ino chegou à conclusão de que o cara novo tinha um corpo esplêndido, era forte e magro na medida certa, passava um ar de rebelde sem causa, o tipo de cara que arrumava problema por diversão. Porém, para o seu rosto, Ino não deu muita atenção. Havia conhecido centenas de caras mais bonitos. Sakura e Hinata, com quem dividiu sua opinião, discordaram.
— Para, Ino, ele é bonito, sim — disse Sakura, avaliando o cara novo. — Ele tem o maxilar bem definido, olha. Parece o tipo de cara com quem a Karin sai.
Ao dizer isso, Sakura começou a rir, o que fez Ino perceber que a amiga já estava um pouco alcoolizada. Ela riu também, admitindo que, mesmo bêbada, Sakura estava certa. Virando-se para Hinata, ela perguntou:
— E ele, Hina... acha ele bonito?
A resposta de Hinata surpreendeu:
— Tem como não achar?
Ino riu alto e apontou para os copos de cerveja nas mãos das amigas.
— Eu tenho que encher vocês de bebida com mais frequência.
Ao final da apresentação, as três se juntaram aos demais convidados da festa e bateram palmas entusiasmadas, regadas a álcool. Por não ter ido à muitas apresentações da Red Fox, Ino tinha quase se esquecido de como eles eram bons. Após agradecer todo mundo, Naruto e os colegas soltaram os instrumentos e desceram do palco (que era só um degrau acima do solo do quintal), para se juntar aos amigos. Naruto liderou eles até onde estavam as meninas.
— Gente, quero apresentar a vocês o novo membro da banda — disse, trazendo o rapaz para a frente. — Esse é o Kiba.
Kiba, o guitarrista novo, sorriu para as três do jeito que Ino sabia que ele faria. Era um sorriso sexy, malandro, olhando para elas como se soubesse o que estavam conversando minutos antes. Ino estendeu a mão.
— Prazer, eu sou a Ino — disse, olhando-o no olho, em desafio. Não sabia do que ele era capaz, mas queria mostrar que era esperta. Fosse ele atrás dela, ou de suas amigas, Ino estaria preparada. Virou-se para Sakura, que estava ao seu lado direito e a apresentou: — Essa é a Sakura.
Sakura estendeu a mão para ele, sorrindo com simpatia. Em seguida, Ino virou-se para Hinata, à sua esquerda.
— E essa é a Hinata. Elas são minhas colegas de quarto — explicou.
Kiba foi bastante simpático com as três, mantendo uma distância educada, apesar de Ino reparar que seu olhar passeou pelo corpo delas discretamente. Ele avaliou uma por uma, até encontrar com o olhar inquisidor de Ino e pelo menos teve a decência de parecer sem graça por ser "pego no flagra".
Ino sentia o rosto doer do tanto que estava rindo com as histórias de Naruto. Ele e o resto da banda havia se sentado com as meninas no jardim da casa e ele contava as histórias sobre o que tinha feito durante as férias, os primeiros ensaios com Kiba e outras histórias antigas que Ino já conhecia, mas ainda a faziam rir muito.
A festa estava cheia de gente, a música de fundo quase sufocada pelo som de conversa. Não havia sinal de Karin desde que ela se afastou do grupo na chegada. Mas as amigas não estavam preocupadas, Karin aproveitava as festas para se divertir com outros amigos que não tinha convivência diária. Ino tentava não pensar que isso significava que Karin não gostava de se divertir com elas, mas considerando tudo – seu antigo namoro, a discrição de Sakura e a timidez de Hinata –, Ino não poderia culpa-la de todo.
Enquanto Chouji contava a sua versão de uma história anteriormente contada por Naruto, Ino notou um rapaz que ela não conhecia se aproximar do grupo. Ele parecia desconectado do ambiente, a começar pela roupa. A noite estava quente e o céu estava limpo, mas ele vestia um sobretudo comprido e uma boina estilo militar. Seu rosto estava sério e desinteressado, mas se aproximava com propósito. Ao chegar perto o suficiente, tocou o ombro de Kiba.
— Ah, oi Shino! — cumprimentou Kiba, se levantando para cumprimenta-lo. Virando-se para o grupo, ele apresentou: — Pessoal, esse é meu colega de quarto, Shino. A gente vai dar uma volta.
Kiba se afastou com o amigo para dentro da casa.
— Que cara estranho — comentou Ino para Sakura, mas Shikamaru, ao lado delas, ouviu.
— Quando eu o conheci também achei, mas ele é gente boa — comentou ele.
— Ele está de sobretudo — comentou Ino, como se isso fosse argumento contrário ao comentário de Shikamaru.
— Ele geralmente está de sobretudo. E coturno.
— Por quê?
— Ele gosta — Shikamaru levantou os ombros. — Deixa o cara usar o que ele quiser.
— E morrer de calor? — perguntou Ino, ironicamente. — Claro.
Shikamaru apenas olhou para ela, com uma expressão que parecia repetir “deixa o cara” e Ino resolveu deixar o assunto morrer. Afinal, não era da conta dela a roupa que os outros usavam. Ela se voltou para Chouji, que terminava de contar a versão dele.
À certa altura, o grupo acabou se espalhando. Naruto saiu para beber alguma coisa e desapareceu. Sakura acabou engatando uma conversa intelectual com Shikamaru, Chouji e Hinata. Ino tentou acompanhar por um tempo, mas se perdeu no raciocínio e enfim percebeu que não estava interessada. Com uma desculpa, ela se afastou, optando por dar uma volta pela festa.
Dentro da casa, havia vários estudantes dançando e vários grupos de conversa atravancando a passagem. Ino se misturou na multidão, sentindo-se um pouco incomodada. Ela não estava acostumava com essas festas. Por mais que, durante o ensino médio, ela e Sai tivessem comparecido a várias festas, o ambiente era outro. A situação também.
Ela detestava admitir, mas sentia falta de Sai, sentia falta da voz dele e da companhia dele. Sentia falta das conversas intelectuais sobre arte e dos momentos em que ela o pegava fitando-a em silêncio. Sai sabia ser gentil quando queria, sabia faze-la se sentir a garota mais bonita do ambiente. E, querendo ou não, desde que o namoro havia acabado, Ino não conseguia se sentir bonita ou interessante.
Desde o início desse ano letivo na faculdade, Ino havia se convencido de que queria sair mais, conhecer caras legais, ficar com quem quisesse. Mas a verdade é que ela não conseguia se convencer a, de fato, fazer essas coisas. Sair com os amigos era bom, estava gostando de estar ali com todos eles.
Até aquele momento, pelo menos. Agora, ela se via sozinha no meio de tanta gente e a saudade do antigo namorado fazia seu coração apertar. Ela atravessou a casa e saiu pela porta da frente. Havia vários carros estacionados na rua e algumas pessoas reunidas aqui e ali.
O olhar de Ino foi atraído para o outro lado da rua, onde Naruto, Kiba e Shino estavam reunidos, perto de um carro preto. Kiba brincava com Naruto, que parecia estar bastante sem jeito com a situação. Shino estava encostado no carro, de braços cruzados e a cara fechada. Ino atravessou a rua com cuidado. Kiba notou sua aproximação e levantou os braços para o alto. Ele parecia estar já bastante bêbado.
— Ino — chamou Kiba, gesticulando para ela. — Coloca um pouco de juízo na cabeça do nosso amigo.
Ino olhou para Naruto, que não sustentou o olhar dela.
— Kiba — disse ele, as bochechas começando a ficar vermelhas.
Ino olhou dele para Kiba, sem entender. Não se lembrava de ter visto Naruto ficar com vergonha de alguma coisa. Ele geralmente era alegre e hiperativo, e sempre seguro de si.
— Explique — pediu.
Kiba pôs as mãos sobre o ombro de Naruto, mantendo-o no lugar.
— Nosso amigo aqui, está apaixonado — explicou Kiba, falando alto.
Naruto pareceu se contorcer e olhar ao redor, nervoso. Ino fez um gesto para que Kiba falasse mais baixo. Mas o rapaz continuou:
— Mas — enfatizou a palavra — ele não tem coragem de chegar na mina.
Kiba se inclinou um pouco na direção de Ino, trazendo um atormentado Naruto junto consigo.
— E eu estou tentando explicar para ele que ela é bonita demais para ficar sozinha por muito tempo.
Ino observou Naruto, sorrindo. Ele não sabia onde enfiar a cara.
— É a Hinata? — perguntou ela, vendo o rosto de Naruto empalidecer enquanto olhava para ela assustado. — Você não disfarça tão bem quanto pensa, Naruto. — disse, rindo da reação mortificada do garoto.
Kiba riu e soltou Naruto, indo perturbar a calma de Shino. Ino tocou o rosto de Naruto.
— Ei… — falou, num tom de voz baixo, tentando ignorar a alegria embriagada de Kiba. — Por que você não fala com ela?
— Ela não está nem aí para mim — confessou Naruto, dando de ombros. — Eu sei disso, não me importo.
Ino preferiu não comentar sobre a desastrosa conversa que ela e Sakura tiveram com Hinata, no começo da festa.
— Ela acha você legal — disse. — e acha você bonito. Aliás, é um consenso entre a gente — emendou Ino, fazendo Naruto sorrir. — Não é uma causa perdida.
Depois de um tempo, Kiba deixou seu amigo em paz e se aproximou de novo de Naruto e Ino. Colocou os braços ao redor deles e Ino sentiu seu perfume, agora misturado a bebida e cigarro. Ela decidiu ignorar por hora, mas lhe lançou um olhar irritado, que o fez arquear a sobrancelha e se afastar um pouco. Kiba se virou para Naruto.
— Está fazendo o que aqui com a gente, Uzumaki? — perguntou, dando uma palmada no peito de Naruto. — Vai lá falar com ela — incentivou. — Vai lá ou vou eu. Ela é bem gata!
Isso fez Naruto se empertigar. Talvez a ideia de ver Kiba dando em cima de Hinata fosse tão estranha para ele quanto era para Ino.
— Não sei como chegar nela — confessou Naruto, olhando para Ino. — Ela é muito séria e tímida.
— Por que você não começa só conversando com ela — disse Ino. — Ela está lá atrás, no meio de uma conversa chata com Sakura, Shikamaru e Chouji. Vai lá salvar ela.
Naruto riu disso, conhecia bem esse tipo de conversa e sabia que eles podiam ficar horas em uma discussão intelectual que invariavelmente terminava em opiniões divergente sobre política. Kiba lhe ofereceu uma latinha de cerveja, que Naruto aceitou e bebeu com avidez. Aproximando-se de Ino, ele lhe deu um beijo na bochecha e entrou na casa. Ino torceu para que desse tudo certo.
No entanto, ela ficou ali, com um Kiba bêbado e seu amigo estranho, que tinha permanecido em silêncio aquele tempo todo. Ino pensou em entrar também, mas outra latinha de cerveja apareceu na sua frente, oferecida por Kiba. Ela rejeitou, preferindo se manter sóbrea.
Kiba apenas inclinou a cabeça, sem insistir. Ele se encostou no carro, pegou um maço de cigarro do bolso da calça, ofereceu um para Shino, que aceitou, e outro para Ino. Ela também rejeitou essa oferta.
— Eu não fumo — disse, em tom de desculpa.
— Você se incomoda com a fumaça? — perguntou ele, com o isqueiro já aceso.
— Não — respondeu ela, sem saber muito bem o porquê. Era mentira. Claro que se incomodava com a fumaça. No entanto, ela ficou quieta, observando Kiba acender o cigarro e entregar o isqueiro para Shino. — Eu nunca te vi no campus — falou, de repente. — O que você estuda?
— Veterinária — respondeu Kiba. O Shino aqui estuda biologia. O Naruto disse que todas vocês estão na faculdade de Saúde.
Ino sorriu.
— É. Eu e a Sakura estudamos medicina. A Hinata faz enfermagem e a Karin psicologia.
— Karin é a prima do Naruto, né?
— Prima de segundo grau — concordou Ino. — Ela é prima da mãe do Naruto.
— Ela não veio? Eu não vi ela por aí.
Ino deu de ombros, olhando ao redor, como se tivesse alguma esperança de ver a amiga por ali.
— Ela veio, mas está com os amigos dela.
Kiba ia falar alguma coisa, mas Shino se mexeu e chamou a atenção deles. Com um olhar apenas, Shino apontou para a casa e saiu de perto. Ino o acompanhou com o olhar, observando-o se afastar. Kiba não pareceu se importar com a saída do amigo. Ele se encostou no carro e tragou o cigarro.
— Ele é sempre tão quieto? — perguntou Ino, gesticulando na direção de Shino.
— Ele não gosta de socializar — respondeu Kiba, com um suspiro. — Shino é um cara legal, mas gosta de ficar na dele.
Sem ter o que responder a isso, Ino aproveitou para prestar atenção ao carro. Ela não entendia de carros, mas dava para saber que era um modelo antigo, preto, bancos baixos de couro, sem encosto para a cabeça. Estava limpo e a lataria brilhava sob a luz dos postes da rua.
— É seu? — perguntou.
— É.
— Bem bonito — comentou, abaixando-se um pouco para ver o interior.
Kiba se afastou do carro e pegou a chave. Tocando o ombro de Ino, ele a fez se afastar com delicadeza e destrancou a porta. Ino achou que não precisava disso, mas Kiba fez um gesto para ela e falou:
— Pode entrar — convidou ele, abrindo a porta para ela. — Não permito que muitas pessoas entrem nele. Em geral, só garotas bonitas.
Ino revirou os olhos para isso, mas sorriu para ele. Decidindo não responder, ela fez conforme Kiba sugeriu. Entrou no carro e se sentou no banco do motorista. O carro tinha o cheiro do perfume dele, mas sem o cigarro. Kiba abaixou-se ao lado dela, apontando para o painel.
— Tudo nele é original de fábrica — comentou, orgulhoso e animado. — Está na família tem mais de trinta anos.
— Eu não entendo nada de carro — confessou Ino. — Você poderia inventar qualquer coisa sobre ele, que eu acreditaria.
— Eu jamais faria isso — respondeu ele, sorrindo.
Eles se olharam em silêncio por um momento. Ino reparou nos olhos pretos dele, intensos e selvagens sobre ela. Mais cedo, ela o tinha achado atraente, mas não bonito. Agora, tão perto assim, ela admitia que era também charmoso, o que poderia ser ainda mais eficiente. Beleza é relativa e passageira. Quem realmente faz o truque é o charme. E por mais que Ino não estivesse acostumada com paqueras, podia notar que, naquele momento, Kiba estava jogando charme para ela. E estava funcionando.
Kiba desceu os olhos pelo rosto de Ino, parando um momento sobre seus lábios e depois descendo mais pelo seu corpo. Ela ficou parada, deixando-o olhar. Sentia-se viva, desejada, bonita. Seu coração deu um salto no peito e ela de repente se sentiu híper consciente de cada parte de seu corpo e da presença masculina perto dela.
— Você quer dar uma volta? — perguntou ele, os olhos de volta nos dela, de repente.
— Você está bêbado - disse Ino, rindo.
— Você tem carteira? - perguntou ele, levantando uma sobrancelha.
— Tenho — respondeu —, mas eu não dirijo com frequência. E você nem sabe se eu dirijo bem.
— Você está bêbada? — perguntou Kiba, rindo para ela.
Ino revirou os olhos, mas não se sentia irritada. Não, a palavra certa seria descrente. Descrente de que ele estava mesmo oferencendo o carro dele para uma garota que ele tinha acabado de conhecer.
— Vai deixar uma desconhecida dirigir o seu carro?
Kiba sorriu, sem responder. Ao invés disso, ele se levantou, deu a volta no carro e sentou no banco do carona, oferecendo a chave para ela. Ino fechou a porta do carro, pegou a chave e colocou na ignição.
— Coloca o cinto, por favor.
— Mandona — comentou Kiba, num tom divertido. Olhando-a nos olhos, desafiou — gosto de me arriscar.
Ino encarou-o. Colocou o cinto. Deu partida no carro e eles saíram para uma volta rápida. Kiba ligou o rádio em uma estação de rock, abriu as janelas e jogou o cigarro fora. Ele apoiou um braço na janela e o outro sobre o banco do motorista.
Ele não fez comentários quanto à direção de Ino. Ele parecia relaxado. Ino lembrou-se de Sai, em como ele detestava deixa-la dirigir o seu carro, como ele sempre tinha uma opinião sobre como ela mudava as marchas, como fazia as curvas e sobre quando ela deixava morrer o carro. Quase sempre, ele pedia para trocar de lugar. A lembrança fez ela suspirar e fechar a cara. Kiba percebeu.
Ino se xingou em pensamento por ter deixado aquelas lembranças arruinarem o momento. Ela não tinha certeza se Kiba fazia o tipo dela, nem mesmo se estava lendo os sinais de forma correta. Mesmo assim, a lembrança evocada de Sai estragou tudo.
Kiba abaixou o som do carro e voltou a atenção para ela.
— O que foi?
— Não é nada — disse, torcendo para que ele não insistisse.
Kiba, no entanto, fez exatamente o contrário.
— Pode falar — disse, num tom de voz tranquilo. — Você estava bem a um segundo e agora...
— Desculpa — pediu Ino, sentindo-se inconveniente. — É que eu terminei meu namoro há pouco tempo.
— Hum... Entendi.
— Não — falou Ino, depressa. — Você não entende. O caso é que ele era péssimo.
Se antes Ino estava lendo a situação da maneira correta, era certo que Kiba - e qualquer outro cara no lugar dele - não estava feliz de saber que a garota que estava tentando paquerar estava pensando no ex namorado. Ino se sentiu ainda pior.
— Ele achava que estava certo sobre tudo e que a opinião dele estava acima de todas as outras — ela se apressou a explicar.
— Então por que você pensou nele agora?
— Bom... Por que ele não me deixava dirigir — respondeu ela, olhando-o rapidamente, com um sorriso. — Ele ficava falando o tempo todo, reclamando de tudo. Ele me deixava nervosa. Até que me fazia trocar de lugar com ele.
— Que babaca.
— É — concordou. — Ele era um babaca.
Eles ficaram em silêncio, apenas o som do motor e das rodas no asfalto. Ino não estava dirigindo para nenhum lugar em particular, apenas virando ruas e sentindo a brisa noturna.
— Faz tempo que vocês terminaram? — perguntou Kiba, num tom neutro, que deixou Ino um pouco decepcionada.
— Terminamos nas férias — respondeu.
— É recente, então.
Kiba olhou para a janela do carro, deixando o silêncio gritar na consciência de Ino.
— Sim, mas — Ino pensou no que dizer. Estava arrependida de ter começado aquele assunto, mas era difícil não pensar em Sai em cada aspecto de sua nova vida e em como tudo estava diferente. — Cada dia que passa, mais eu percebo que ele não era bom para mim.
Kiba tocou a sua mão, que segurava o câmbio para mudar de faixa.
— Não pensa nele, agora. — disse, com um leve aperto encorajador. — Dirigir é uma terapia para mim, gosto de pegar o carro e dirigir por aí. Isso me acalma. Experimenta. — Sugeriu, soltando-a e aumentando o som do rádio novamente. Ele recostou-se no banco, os braços atrás da cabeça.
Ino sorriu, agradecida. E por mais alguns minutos ela apenas dirigiu. A direção desse carro era um pouco mais dura do que ela estava acostumada, porém ela não se importou, grata por poder se concentrar apenas nisso.
Depois de meia hora, eles concordaram em voltar para a festa. A vaga onde Kiba havia estacionado antes não estava mais disponível, por isso Ino precisou parar bem mais atrás, e eles teriam que andar um pouco para voltar para a festa.
Antes de sair do carro, no entanto, ela olhou para Kiba.
— Obrigada por me deixar dirigir — falou, com sinceridade. — Eu gosto muito, mas não tenho muitas oportunidades, porque não tenho carro.
— Não precisa agradecer — disse Kiba, sorrindo. — Você dirige muito bem.
Isso fez Ino sorrir.
— E me desculpa por ter pesado o clima falando do meu ex.
— Está tudo bem — respondeu ele.
Kiba pareceu que ia falar alguma coisa, mas desviou o olhar para a frente, parecendo ter mudado de ideia. Ele abriu a porta do lado do passageiro e Ino entendeu a deixa e saiu do carro. Kiba deu a volta por trás, pegando a chave que Ino lhe devolvia. Sem falar nada, ele colocou o braço direito sobre o ombro dela e assim, eles voltaram para a festa.
Autor(a): Doddy
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
No domingo, quando acordou, a cabeça de Kiba ameaçava explodir com o mínimo de esforço. Quando conseguiu abrir os olhos, notou que não estava na sua cama, mas jogado no sofá, como um amontoado de roupa suja. O cheiro de café enchia o ambiente, mas quando olhou para a pequena cozinha do apartamento, não havia sinal de Sh ...
Próximo Capítulo