Fanfic: Enquanto somos jovens | Tema: Naruto
Quando Ino chegou em casa, Sakura e Karin estavam reunidas na sala, assistindo The Voice. Já passava das nove da noite, ainda chovia e sua roupa estava toda molhada. As duas meninas olharam na direção dela, com um misto de surpresa e curiosidade. Ino parou na entrada para tirar os tênis e pendurar a bolsa no suporte da parede.
— Onde você estava? — perguntou Sakura, no seu usual tom de irmã mais velha.
— Eu estava com o Kiba — respondeu Ino, sabendo que isso iria despertar mais a curiosidade das duas.
— Hm… com o Kiba, é? — disse Karin, com um sorriso malicioso.
— Cadê a Hina? — perguntou, mais para ganhar tempo e desviar o assunto. Ela sabia que era aniversário da irmã de Hinata e que ela tinha saído com a família.
Fez isso porque Karin sempre agia como se fosse impossível para um homem e uma mulher ficarem sozinhos sem acabar se envolvendo em algum ato libidinoso. Ino e as outras meninas acabaram desenvolvendo uma espécie de escudo para esse tipo de provocação da colega de quarto, optando por evitar dar a ela muitos detalhes sobre o que acontecia em suas vidas pessoais, quando envolvia uma pessoa do sexo oposto.
— Por que a sua roupa está suja de graxa? — perguntou Sakura, fazendo Ino olhar para a própria roupa pela primeira vez.
— Ah, que droga! — reclamou Ino, lembrando que Kiba estava com as mãos sujas quando a abraçou.
— Bom, deixa eu tirar essa roupa primeiro e já volto.
Ino atravessou a sala e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Ela tirou a blusa e a calça e jogou em um cesto de roupa suja, já cheio, que ela e Sakura dividiam. Colocando um roupão de banho, ela prendeu o cabelo e calçou um chinelo. Quando saiu, queria seguir para o banheiro para tomar um banho, mas foi recebida pelos olhares curiosos das amigas.
— O que foi?
— Por que a sua roupa está suja de graxa? — Karin repetiu a pergunta de Sakura.
— Na saída do shopping o carro do Kiba não queria pegar — respondeu Ino, evitando encontrar os olhos delas. — Eu devo ter encostado em alguma coisa, sem querer.
— Hm…
— Eu preciso tomar um banho — disse Ino, ignorando o olhar desconfiado de Karin. — Sakura, o nosso cesto está cheio. Vamos levar para lavar?
— Claro.
— A gente vai assim que eu sair do banho.
— Tudo bem.
Depois disso, Ino entrou no banheiro o mais rápido que pôde, sem dar na cara que estava tentando fugir da conversa. Não havia nenhum motivo especial para esconder das amigas o que tinha acontecido, mas ela não queria entrar no assunto agora. O que tinha acontecido naquela noite era o resultado de várias semanas dançando em torno da atração que um sentia pelo outro. Em alguns momentos, Ino tinha chegado a pensar que Kiba tinha seguido em frente, encontrado outras garotas mais interessantes e perdido seu interesse inicial nela. Aparentemente, esse não era o caso, pelo quê Ino sentia-se envaidecida.
Porém, ela não se arrependia de ter dado aquele tempo para si mesma. Ino tinha sido apaixonada por Sai por três anos e, quando terminaram, não foi por falta de amor da parte dela. Ino provavelmente teria se sujeitado a ficar esperando por ele eternamente, se Sai tivesse demonstrado ainda gostar dela. O fim do relacionamento tinha representado o fim de quem Ino achava que era, de quem ela tinha se tornado durante daqueles três anos, de menina à mulher.
Agora, ela se sentia pronta para o próximo passo, conhecer pessoas novas e a vida de uma mulher solteira, dona do próprio nariz. Tudo o que ela precisava era de tempo e espaço para descobrir quem ainda podia se tornar, sem um homem para influenciar suas decisões. Esse era o problema daquele beijo – e dos que vieram depois. Kiba era seu amigo, era alguém por quem se sentia fortemente atraída, mas também era alguém que poderia bagunçar a sua vida.
A área da lavanderia no prédio delas tinha cinco máquinas de lavar e cinco secadoras. Não era uma sala muito ampla, tinha piso e azulejos brancos e uma luz forte refletia por toda parte. Elas pegaram uma lavadora no canto da sala, encheram com a quantidade de roupa recomendada e fizeram o pagamento. A máquina começou a trabalhar em silêncio. Havia outras pessoas na sala, por isso elas se sentaram no chão mesmo, uma do lado da outra, de pernas cruzadas. Sakura costumava levar um livro para ler enquanto esperava, mas Ino reparou que ela não trouxe dessa vez, o que era bom. Ino precisava conversar. Talvez Sakura soubesse disso.
— Eu e o Kiba ficamos, hoje — contou, com a voz baixa, para que as outras pessoas não a ouvissem. — Eu não queria falar na frente da Karin, você sabe como ela é fofoqueira.
— Eu sei — concordou Sakura. — Mas e aí, como foi?
— Foi bom — respondeu Ino, sorrindo, e contou o que tinha acontecido, ocultando os detalhes que envolviam o presente e a festa do dia seguinte.
— Um beijo na chuva? — Sakura riu. — Que intenso. Agora entendi aquelas marcas de graxa na sua roupa.
— O desgraçado fingiu que o carro ainda estava quebrado, para me assustar — comentou Ino, fingindo-se de ressentida. — Ele me ludibriou para conseguir ficar comigo.
— Ah, sim, como se você não quisesse ficar com ele — respondeu Sakura, olhando-a com ironia. — Vocês vão ficar de novo?
Ino deu de ombros, ficando séria de repente.
— Eu não sei — disse ela. — Foi uma coisa de momento, não houve muita conversa, sabe?
— Mas você não quer?
Ino fez uma pausa, suspirando.
— Eu quero… seria maluca se não quisesse. Ele mexe comigo — confessou, sentindo-se um pouco boba. — Eu gosto da companhia dele. Mas eu estava quase torcendo para que o nosso beijo não tivesse química.
— Por quê? Qual o problema?
— Eu não sei porquê, mas não consigo ver a gente em um relacionamento — explicou Ino. — Não sei se é porque ele é muito diferente do referencial que eu tenho de namorado, ou se eu simplesmente não consigo imaginar o Kiba se sentindo tentado a entrar em um relacionamento sério e se comprometendo com isso, sabe?
— Sei, mas Ino… — Sakura buscou seus olhos. — Isso tem mais a ver com ele ou com você? — perguntou, séria. — Por que, antes, você não queria ficar com ele porque você não estava pronta para seguir em frente.
— Sim.
— Pois é — retomou Sakura. — Você mesma disse que vocês não conversaram sobre o assunto. Quando você o vir de novo, conversa com ele. Veja se vocês estão na mesma página.
— Eu sei — respondeu Ino, cabisbaixa.
— Não precisa ser tão complicado, se vocês conversarem a respeito.
— Eu acho que estou exagerando sobre tudo isso — disse Ino, depois de um tempo. — Pode ser que ele nem queria ficar comigo de novo e eu toda preocupada.
— Acho que os homens não se preocupam com essas coisas — comentou Sakura. — Acho que eles só vivem um dia após o outro e vão tomando decisões conforme a vida vai acontecendo.
Isso fez Ino rir e as duas acabaram enveredando por outros assuntos. Quando voltaram para casa, foram direto para a cama, mas continuaram conversando bobagens até pegarem no sono.
*
No dia seguinte, Sakura recebeu uma mensagem de Sasuke, conviando-a para ir à livraria. Segundo ele, estava indeciso sobre qual livro dar para ela esse ano e queria que ela escolhesse dessa vez. Ela aceitou a proposta, mas, quando estava lá, olhando para os títulos disponíveis para compra, nada chamava a sua atenção. Havia muitos livros para adolescentes, muitos romances eróticos, muita fantasia genérica tentando recriar o fenômeno editorial de anos anteriores. Mas ela não gostava de nada daquilo e os poucos livros clássicos que havia na estante, ela já tinha lido.
Sakura olhou ao redor, procurando por Sasuke. Ele estava a alguns passos de distância, na seção de livros de terror, concentrado na leitura da contracapa de um livro.
Quando eles se conheceram, no colégio, Sasuke não era fã de leitura. Sakura tentou fazê-lo ler os livros que gostava, mas ele se recusava, preferindo livros. Depois de um tempo, ela reparou que entre os filmes preferidos dele, estavam três adaptações de livros do mesmo autor. Por isso, no aniversário dele, ela deu o livro “Quatro estações”, do Stephen King, e Sasuke leu em duas semanas. No aniversário dela, no ano seguinte, ele lhe deu “Orgulho e preconceito”, de Jane Austen, que era o livro do qual o seu filme preferido tinha sido adaptado. Claro que, à época, Sakura já tinha lido, mas não contou isso a ele. Tinha achado o gesto dele muito fofo e a partir daí, tinha se tornado a tradição deles. Sasuke não era muito eclético nos seus gostos. Ou lia King, ou outros clássicos de terror. Sakura gostava de clássicos da literatura e tragédias familiares.
Sakura o olhou por mais tempo do que deveria, nunca cansando de observa-lo quando ele estava distraído. Era apaixonada por ele desde sempre, ela nem se lembrava quando tinha acontecido. Um dia simplesmente olhou para ele e seus olhos se cruzaram e seus sentimentos surgiram, assim, sem aviso.
Ela nunca tinha falado sobre os seus sentimentos para ele, mas achava que ele sabia. Todo mundo sabia. Sasuke era sempre cuidadoso para dizer que estava saindo com alguém, mantinha a vida amorosa bem distante dos olhos de Sakura. Pelo o que ela era agradecida. Sabia que um dia aconteceria dele estar realmente apaixonado e ela não sabia como seria. Ele a apresentaria para a namorada? Ou teriam que se separar?
Sakura sabia que precisava deixar aquele sentimento para trás e abrir o coração para outra pessoa. Karin sempre a chamava para ir na balada, dizia que tinha uma fila de caras legais esperando para conhece-la, que fariam ela esquecer Sasuke em um piscar de olhos. Sakura tinha suas dúvidas.
O que ela sabia, cada vez com mais certeza, era que se quisesse realmente seguir em frente, precisava se afastar um pouco. Deixar Sasuke ir.
Seu coração protestava veementemente e Sakura lutava para silencia-lo. Sabia o que precisava fazer. Só que não hoje. Hoje era o seu aniversário, Sasuke era o seu melhor amigo e ela aproveitaria aquele dia, deixando para tomar uma decisão em outro momento. Enquanto pensava isso, viu Sasuke indo na sua direção.
— Achou alguma coisa? — perguntou ele.
— Nada — respondeu, olhando novamente para a estante. — É isso. O encanto acabou. Depois de anos de um relacionamento belo e saudável com os livros, a paixão acabou! — brincou, fazendo uma voz dramática. — Metade dos títulos não me interessa e a outra metade eu já li.
Sasuke a olhou, com ironia.
— Você ainda ama os livros, Sakura — disse ele. — E você não leu nem um terço dos livros daqui.
— Tem certeza? Por que eu não estava contando os livros didáticos.
Sasuke revirou os olhos, mas estava sorrindo. Ele deu a volta em torno dela e começou a empurrá-la para a seção de terror.
— Bom — começou — parece que chegou a hora de você experimentar ler algo fora da sua zona de conforto. As opções são high fantasy, terror e ficção científica.
— Eu não sei, não…
— Não diga não, ainda — continuou ele, pegando um box preto com detalhes em verde e roxo em tom neon. — Você pode começar pelos clássicos — disse, enfatizando a última palavra.
— O que você tem em mente? — perguntou Sakura, pegando o box da mão dele. Tratava-se de uma edição especial de clássicos do terror, como “Dracula”, “Frankenstein” e “O médico e o monstro”.
Ela levantou os olhos para Sasuke, achando graça da expressão dele. Antes que dissesse alguma coisa, ele se adiantou.
— Frankenstein foi escrito por uma mulher, saia?
— Sabia. Mary Shelley.
— Isso. E eu já mencionei que esses livros são clássicos do gênero e que toda a Cultura pop faz referência a essas histórias?
Sakura riu, cedendo.
— Você me conhece mesmo.
— Conheço — concordou Sasuke, parecendo satisfeito.
— Mas tecnicamente, são três livros.
— Não tem problema, conta como um só.
— Não é “O senhor dos anéis”, Sasuke. Não são um livro dividido em três volumes.
— Sakura, é o seu presente, sou eu quem está pagando e eu digo que que vale como uma unidade de presente.
Sakura o fitou por um momento. Sasuke estava de bom humor, leve, bem disposto. Queria saber se o motivo era apenas por ser aniversário dela ou se tinha outra razão para isso. Com ele era difícil saber. Desviando o olhar para o box que ainda segurava, disse:
— Parabéns para mim, então.
*
Enquanto esperavam Sasuke chegar com Sakura, Naruto tentava ajudar a arrumar as últimas coisas para a festa. Chouji e Shikamaru tinham ido pegar o bolo que Ino tinha encomendado. Ele e Hinata enchiam as bexigas com uma ferramenta que o restaurante tinha emprestado para eles. Naruto trabalhava naquele restaurante desde a metade do ano anterior. Eles tinham uma área reservada para festas e ofereciam um desconto para funcionários que desejavam alugar o espaço. Era perfeito para reunir todo mundo, mais alguns colegas da turma de medicina. Karin tinha saído para buscar os pais de Sakura, uma surpresa adicional que Ino tinha conseguido acertar quase de última hora. O casal Haruno estava animado com a atenção que os amigos da filha estavam dando para o aniversário de Sakura. E não era para menos. Tudo estava bastante caprichado e todos estavam empenhados.
Enquanto enchia a que parecia ser a centésima bexiga, ele comentou com Hinata:
— Ainda bem que não estávamos enchendo isso com o ar dos nossos pulmões.
A garota sorriu, jogando para o lado a última bexiga que tinha enchido.
— Quantas ainda precisamos encher?
Naruto olhou para o chão, onde as bexigas começavam a se acumular.
— Acho que já temos o bastante — respondeu, num tom esperançoso. — Será que a Ino nos libera?
Hinata olhou dele para as bexigas e então pegou o celular para tirar uma foto.
— Vou mandar para ela — explicou Hinata, concentrada na mensagem.
Naruto aproveitou que ela estava ocupada, para observá-la. Hinata era tão bonita. Ele não se cansava de olhar para ela. Às vezes, ela percebia e ficava envergonhada, virava o rosto, mudava de assunto. Naruto lamentava esses momentos, porque ele só queria ter permissão de olhar para ela por um segundo a mais que as outras pessoas. Ela, no entanto, havia deixado claro, meses atrás, que não estava interessada em ser nada além de amiga dele. Naruto respeitava isso, estava tentando. Pior do que não ter chance com ela era não poder estar perto dela e disso ele não queria abrir mão.
Em momentos como aquele, quando eles ficavam perto um do outro, sozinhos, era quando ele achava mais difícil disfarçar seus sentimentos. Geralmente, Hinata era a melhor visão em um ambiente cheio de alunos. Agora, eram só os dois, ela parada ali, em toda a sua beleza singela, ignorante sobre o efeito que causava nele. Se ela lhe desse uma chance…
O garoto suspirou, desviando o olhar. Enquanto esperava a resposta de Ino, encheu mais algumas bexigas, só para ter o que fazer. Hinata começou a juntá-las em arranjos de três e quatro bexigas.
— Então — Naruto limpou a garganta, tentando pensar em alguma coisa para puxar assunto. — Como foi ontem com a sua irmã?
Hinata sorriu, à menção da irmã. Naruto se auto congratulou pela escolha.
— Foi ótimo — disse ela, com a voz carinhosa. — Ela tentou fazer o jantar, mas acabou perdendo o ponto do arroz de forno e queimou tudo.
— Coitada. Qual é mesmo o nome dela?
— Hanabi.
— E quantos anos ela fez?
— Dezessete.
— Vocês comeram a comida queimada?
— Não — Hinata riu. — Nós acabamos indo a um restaurante. Ela ficou bem chateada.
— Eu sou solidário ao sofrimento dela.
O silêncio entre eles depois disso não foi incômodo. Desde que Naruto havia confessado seus sentimentos e ouvido o “não” dela, ele prometeu que não voltaria a tocar no assunto. E isso, por si só, foi suficiente para que Hinata se mostrasse mais relaxada perto dele. O que era bom, porque ele acabava passando mais tempo com Hinata. Se conseguisse mostrar para ela quem ele realmente era e que queria trata-la com respeito e carinho, talvez um dia Hinata se abrisse e o deixasse convida-la para sair.
Seria tão fácil errar o tempo, se deixar levar e acabar assustando-a de vez! Seria tão fácil estragar tudo. Naruto não era do tipo que sabia esperar, ficar quieto ou ser discreto. Ele era hiperativo e barulhento e trocava os pés pelas mãos com frequência. Por isso, ele próprio nunca estava relaxado perto de Hinata. Estava sempre se segurando.
— Naruto — ouviu Hinata o chamar. Levantando os olhos para ela, ficou confuso por um momento, até vê-la sorrindo. — Faz meia hora que estou te chamando.
— Desculpa, Hina — disse, largando as coisas e lhe dando toda a sua atenção. — Pode falar. Estou ouvindo agora.
— A Ino disse que a gente já pode parar — explicou ela. — Você me ajuda a montar os conjuntos e pendurar?
Naruto sorriu.
— Claro.
Os dois foram ao trabalho, Hinata juntando as bexigas e Naruto distribuindo-as pelo salão. Quando terminaram essa parte, Naruto quis fazer um high five com ela, mas Hinata foi pega de surpresa e se atrapalhou, colocando as mãos na frente do rosto, como se ele fosse bater nela. Assim que percebeu seu engano, a menina começou a rir e se desculpou.
— Tudo bem, vamos treinar — disse Naruto, se posicionando na frente dela. Os dois levantaram as mãos direitas e bateram as palmas uma na outra algumas vezes.
— Estou ficando boa nisso — brincou Hinata, depois que tinham repetido isso umas dez vezes.
— High five é uma coisa séria. Você não quer errar e acabar acertando a cara de alguém.
Hinata deu um leve empurrão nele, de brincadeira e se afastou, para olhar o celular, onde o barulho de mensagem havia acabado de tocar.
— Ino já está vindo.
— Okay.
— Quando ela chegar eu vou pra casa, tomar um banho — informou Hinata, se sentando em uma mesa próxima.
— Também estou precisando de um banho — comentou ele, se aproximando. — A gente pode voltar junto, depois.
Hinata olhou para ele. Naruto perguntou-se se tinha dito alguma coisa errada. Ele só estava pensando em voltar com ela para a festa para que não viesse sozinha. A garota, no entanto, concordou, aliviando a consciência dele.
— Tudo bem.
— Combinado, então — disse ele, o coração acelerando algumas batidas. — Eu encontro com você no seu dormitório.
*
— A princesa já terminou de se arrumar? — perguntou Shino, revirando os olhos para a demora de Kiba. — É só uma festa, Kiba. Você já foi em várias, se lembra?
— Eu já estou indo — falou Kiba, ignorando a impaciência do amigo e se olhando no espelho uma última vez.
— Isso tudo é para encontrar a Ino?
— Não — respondeu Kiba, de cara fechada. — Eu gosto de me vestir bem. Coisa que você podia experimentar, também.
— Estou satisfeito com a minha roupa.
Kiba não respondeu, indo pegar seu perfume no banheiro. Quando voltou para a sala, colocou uma jaqueta de couro falso preto, pegou o violão e a chave do carro.
— Pronto? — perguntou Shino, recebendo um olhar irritado em resposta.
— Pronto, Shino. Vamos, você não estava com pressa?
Os dois saíram do apartamento ainda trocando farpas. Kiba colocou o violão no banco de trás e entrou no carro, tomando seu tempo para ajeitar suas coisas, enquanto Shino esperava do lado de fora. Já com a chave na ignição, ele abriu a porta do passageiro para Shino e se afastou para o amigo entrar. Ignorando o olhar irritado do outro, ele pegou um cigarro no maço e o ofereceu para Shino, que aceitou sem dizer nada. Eles acenderam o cigarro e partiram para a festa.
Shino ligou o rádio e Kiba sorriu ao ouvir os primeiros acordes de I wanna be yours do Arctic Monkeys começando. Esticou a mão para aumentar o volume e começou a cantar.
I wanna be your vaccum cleaner
Breathing in you dust
I wanna be your Ford Cortina
I will never rust
If you like your coffee hot
Let me be your coffee pot
You call the shots, babe
I just wanna be yours
Kiba olhou para Shino, batendo em seu braço, para que ele olhasse na sua direção. Sabia que o amigo gostava daquela música.
— Qual é, não finge que não conhece essa — disse, o cigarro balançando no canto de sua boca.
Secrets I have held in my heart
Are harder to hide than I thought
Maybe I just wanna be yours
I wanna be yours, I wanna be yours
Shino o ignorou o máximo que pôde, mas no meio da música, começou a cantarolar discretamente.
— Wanna be yours. Wanna be yours. Wanna be yours.
Ouvi-lo fez Kiba rir. Os dois seguiram cantando, curtindo a noite fresca que fazia. A última semana tinha sido quente, mas a chuva tinha chegado na sexta-feira para aliviar um pouco o tempo seco que fazia. Tinha chovido durante a manhã toda e durante a tarde havia apenas a ameaça de mais chuva, com nuvens escuras no céu e uma brisa gelada, que entrava pela janela do carro.
Enquanto dirigia, Kiba pensava em Ino. Não conseguia evitar estar ansioso para vê-la. Eles tinham ficado na noite passada, quando saíram do shopping e tinha sido bom pra caralho. Ela era exatamente o que ele tinha imaginado, talvez até melhor. Ele estava viciado e queria mais. Queria olhar para aquele rosto que não conseguia esquecer e tocar aquele corpo que o deixava maluco.
Passou a mão pelo cabelo, tentando aliviar a tensão. De alguma forma, ele sabia que seu lance com Ino não duraria muito tempo. Já era quase um milagre que ela tivesse olhado para ele e o considerado minimamente digno de atenção. Ino era uma garota para buquês de flores e ursos de pelúcia. E ele não era esse tipo de cara. Já tinha namorado duas vezes. Sua primeira namorada era uma garota legal, do tipo que acabaria se casando cedo, com um cara mediano, e tendo uma vida satisfatória. Sua segunda namorada tinha sido o oposto. Tayuya era uma “maluca do bem”, como ela mesma se descrevia. Ela não gostava de fazer planos. Eles se conheceram em uma festa da faculdade. Ela também tinha uma banda e eles não eram ruins. Quando ficaram juntos, não foi por amor, foi por diversão. Eles se davam bem e, quando terminaram, continuaram amigos. Até hoje eles se viam e às vezes tocavam juntos.
Kiba se perguntava se seria assim com Ino, também. Se conseguiriam dar a volta e ser amigos de novo, quando as coisas não dessem certo entre eles.
*
Sakura olhou para Sasuke, confusa, quando ele parou o carro no estacionamento do restaurante onde Naruto trabalhava.
— O que a gente veio fazer aqui? O Naruto está trabalhando hoje?
— Não — foi a única coisa que Sasuke respondeu, com um sorriso de canto, enquanto tirava a chave da ignição. — Vamos.
Sakura saiu do carro e reparou no carro de Kiba estacionado perto da vaga deles. Sem juntar os pontos, ela se deixou ser guiada por Sasuke até dentro do restaurante. Enquanto atravessavam o salão principal, ele segurava a mão dela, acariciando seus dedos com delicadeza. Isso a distraiu por um momento, até que chegaram a uma porta dupla de madeira e Sasuke abriu um lado para ela. Sakura espiou para dentro, mas não viu nada, pois estava escuro.
— Sasuke?
— Entra.
Sakura entrou. A luz acendeu e, antes que ela registrasse os rostos que estavam ali, várias vozes gritaram ao mesmo tempo:
— Surpresa!
— Eu… o quê? O que vocês estão fazendo?
Ino se adiantou e a abraçou.
— O que você acha? Feliz aniversário!
Sakura recebeu o abraço dos pais e dos amigos, tentando registrar tudo que acontecia.
— Eu mato vocês! — disse ela, olhando para Ino e Sasuke. — Você foi a isca! — acusou, esticando o dedo para Sasuke.
— Eu enchi muito o saco dele nas últimas semanas — confessou Ino, com Sasuke concordando com a cabeça ao seu lado.
Sakura se aproximou dele, sorrindo.
— Você ainda não me deu os parabéns.
Sasuke não precisou ser avisado duas vezes. Abraçou Sakura, apertado. Ela aproveitou a sensação alguns segundo a mais do que devia. Sentindo o calor dele, seu abraço, seu perfume.
Uma última vez.
Autor(a): Doddy
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).