Fanfic: Coração de Prata [+18] | Tema: Amor Doce

Após terminar o banho, Nathaniel inclinou-se sobre a porta do banheiro, pressentindo o seu coração palpitar mais uma vez. 

Uma onda de calor invadiu o seu peito e subiu em direção à sua garganta, causando-lhe um confuso e estranho sentimento de vulnerabilidade. 

A sua mente borbulhava relembrando o contato íntimo que acabara de acontecer, quando Castiel o puxou pela cintura, ao tentar ensiná-lo como se deve flertar com uma garota.

Aquela aproximação inusual despertou uma sensação diferente em Nathaniel. Ele não sabia muito bem como defini-la, pois é o tipo de sensação que somente está ali, buscando uma forma de se propagar e existir. 

Apesar de toda a circunstância ser intimidadora, o loiro sabia que não tinha escapatória. Ele teria que sair, a qualquer momento, do banheiro, e enfrentar o guitarrista que voltou a repousar na cama, dedilhando a sua preciosa guitarra. 

Com uma mão segurando a maçaneta e a outra firmando a toalha na cintura, Nathaniel inspirou profundamente antes de sair do recinto como se estivesse prestes a enfrentar um exército de valentões do outro lado da porta.

Se esforçando para não olhar na direção de Castiel, Nathaniel foi vestindo a sua roupa despretensiosamente, mantendo-se de costas para o ruivo. 

Ao finalizar a sua arrumação aplicando um perfume adocicado no pescoço, a troca de olhares entre ambos foi inevitável.

-Boa sorte no encontro! -Castiel falou de um jeito seco, mas ainda assim demonstrando um sútil nervosismo. 

Embora estivesse exibindo um sorriso casual, Nathaniel estava mais rígido consigo mesmo do que o habitual, despedindo-se do ruivo às pressas e com um aceno desconcertado. 

Do lado de fora, Nathaniel apertou o próprio peito, tentando se acalmar. 

Com uma feroz fungada, o loiro prosseguiu o restante do seu caminho, absorto em pensamentos desordenados. 

Há alguns passos adiante, os irmãos gêmeos Armin e Alexy cochichavam entre si de forma suspeita. 

-Se descobrirem estaremos ferrados. -Alexy dizia cerrando os dentes. 

-Ninguém vai descobrir se você não abrir a sua maldita boca. 

-Fica quieto! -O gêmeo de cabelos azulados escondeu o rosto no celular assim que avistou Nathaniel abeirando-se deles.

-E aí, Presidente! Como vai indo essa força?! -Armin enunciou fingindo uma formalidade totalmente fora do comum, fazendo com que Alexy reagisse dando-lhe uma discreta cotovelada nas costelas. Contudo, Nathaniel pareceu não escutar a troca de farpas entre os irmãos, tendo em vista que o cujo continuou a andar com um olhar perdido.

A caminho da entrada principal do colégio, o loiro imediatamente se deparou com Melody, que o aguardava ansiosamente. 

-Olá, Nath! -A garota o cumprimentou timidamente. -Você está muito bonito hoje… quero dizer, você sempre está… é que… bem… Ah! -Ela suspira em agonia enquanto começa a pentear a lateral do seu couro cabeludo. -Perdoe-me por isso, é que eu não queria que você achasse que eu estivesse dizendo que lhe acho feio nos outros dias, sabe? Ainda mais hoje que é um dia especial para nós dois… então eu queria… você me entendeu! Não é? -A jovem emite um riso fraco devido ao seu discurso atrapalhado, porém Nathaniel, que parecia ainda estar absorvendo o cenário anterior com Castiel, simplesmente sorriu e agradeceu roboticamente, sem ao menos se dar conta do que havia sido dito. 

-Vamos chamar um táxi? -Melody sugere após um breve silêncio se instaurar. 

-Sim! Vamos! -Nathaniel, por fim, despertou de seus devaneios mais íntimos, piscando os olhos pelo menos umas três vezes enquanto Melody o levava na direção da portaria, onde o segurança responsável por vigiar o portão de entrada os relembrou que todos os estudantes deveriam retornar ao campus antes das 21 horas, visto que, este foi o horário pré-estabelecido pela diretora Shermansky para aqueles que desejassem estar fora do âmbito acadêmico - o que incluía também os finais de semana e feriados nacionais.

Pela calçada, Melody e Nathaniel percorreram a rua principal até virarem uma esquina grosseiramente imunda e que ia para a avenida Marlon Faye, onde próximo a um ponto de ônibus, era possível encontrar uma fileira de táxis defronte a um edifício empresarial. 

Com um levantar de dedo, um dos taxistas prontamente dirigiu o carro até parar perto do casal, que adentrou no veículo, se acomodando confortavelmente nos bancos de trás, cuidadosamente acolchoados por um tecido feito de couro, evidentemente, falso.

Instruindo o motorista a levá-los ao shopping Boulevard Plaza, o homem de meia-idade assentiu com um modesto sorriso, prosseguindo no esperado percurso. 

Melody, que ansiava por conversar com Nathaniel, não conseguia sequer expressar-se sem soar como se estivesse engasgada com um caroço de ervilha. Já Nathaniel, voltou a sentir o seu peito queimar como antes, só que desta vez, numa frequência mais intensa. 

Atordoado por esses vorazes sentimentos, o loiro balançou a cabeça diversas vezes, se esforçando para trazer à tona a sua racionalidade. Quando finalmente sentiu que conseguiu este feito, virou-se para Melody, que contemplava silenciosamente a beleza e agitação da vida urbana, através da janela do carro em movimento. 

Com um olhar mais sensível, Nathaniel passou a admirar a postura da sua companheira de viagem, que estava muito bem-vestida para aquela ocasião. 

Ela usava uma blusa branca de mangas bufantes, que vinha acompanhada por uma moderna saia cor de rosa, estilo veraneio. Já em seus pés, eram calçados um par de sapatilhas pretas. Enquanto em seu pescoço, um colar dourado, em formato de coração, repousava pacificamente sob a sua pele. 

O seu belo par de brincos realçavam as maçãs do seu rosto, que tinham sido maquiadas com tons levemente rosados, e a pequena bolsa, que trazia ajustada em seu colo, agraciava ainda mais o seu estilo, em razão da tonalidade bege-champanhe.

-Você está muito elegante! -Nathaniel a elogia. 

Melody, que pareceu dar um pequeno pulo, fitou-o com o rosto avermelhado. 

-O-Obrigada! -Agradeceu comprimindo os lábios inferiores numa mordida desalinhada. 

O comentário genuíno de Nathaniel em relação a Melody pareceu, finalmente, ter quebrado o gelo que pairava entre os dois, fazendo com que os mesmos passassem o restante do trajeto conversando amistosamente, assim como costumam fazer na Sweet Amoris, quando estão trabalhando juntos. Logo, não tardou para que chegassem ao shopping. 

Após pagarem o taxista, o casal seguiu rumo a praça de alimentação, que estava lotada de pessoas, como de costume. 

-Eu vou fazer o pedido. Você espera aqui? -Nathaniel sugeriu após uma longa busca por mesas disponíveis. 

-Claro! -Melody assentiu, resguardando o lugar para ambos. 

Marchando para a fila de uma rede de fast-food qualquer, o loiro aguardou por alguns minutos até que pudesse efetuar o pedido, e com isso, trazer os lanches de volta. 

-Espero que a carne do hambúrguer tenha sido bem cozida. -Nathaniel comenta ao avaliar o estado da sua comida. 

-Bem, se não tivermos uma intoxicação alimentar, já é um bônus, não? -Melody pontua com uma certa acidez, o que fez Nathaniel rir. 

-Você falou igualzinho ao Castiel agora. -O loiro gargalha. 

Melody, que mordiscou uma batata-frita, não pareceu gostar da comparação feita pelo rapaz, no entanto, ela se propôs a manter uma pose de serenidade, a fim de evitar um mal-estar. Sendo assim, ela engoliu, junto com a sua batata, uma parte do seu incômodo. 

Nathaniel, sem perceber o incômodo em questão, pensou que seria engraçado compartilhar com a colega a história das aulas de flerte, mas claro, omitindo as partes que mexeram com ele, trazendo então, uma nova versão, em que Castiel parecia um completo abestalhado. 

-Você tinha que ter visto! -Dizia entre risadas calorosas. 

Melody, se esforçando para rir, não conseguiu esconder por muito tempo uma careta, que rapidamente foi notada pelo outro. 

-O que foi? -Nathaniel perguntou gradualmente parando de rir.

-Nath! -Melody soltou um riso fraco. -Não me leve a mal, mas será que poderíamos mudar de assunto? 

-Por quê? -Sentindo-se envergonhado, Nathaniel encostou na cadeira fria, afundando alguns centímetros no próprio lugar. 

-Acontece que todos os dias são sobre Castiel. Será que hoje poderíamos fazer diferente? 

O tom levemente irritado de Melody acarretou uma tempestade de questionamentos internos em Nathaniel. Ele não tinha se dado conta do quão assíduo eram os seus monólogos a respeito do ruivo, até Melody pontuar isto para ele. E o fato dela ter reparado em seu comportamento repetitivo, é o que tornava tudo aquilo ainda mais bizarro para o loiro. Afinal, há quanto tempo ele estava falando de Castiel para os outros? 

-E-Eu… 

Abismado pela realização do óbvio, Nathaniel calou-se, sem saber como reagir. Melody, apesar de chateada, prosseguiu se esforçando para entreter aquele encontro destinado ao fracasso. No entanto, o que ambos não sabiam é que dali em diante, as coisas entre os dois nunca mais seriam as mesmas, assim como Nathaniel com os seus conturbados e conflitantes sentimentos internos.