Fanfic: Fomos mais que só bons amigos - Vondy | Tema: Vondy

  Antes de continuar, eu queria lembrar a vocês que éramos jovens, estávamos na casa dos 20, era tudo novo, muita coisa acontecendo e, apesar de estarmos acostumados com a fama, nunca teríamos imaginado vive-la na dimensão que foi. Hoje eu entendo que a maturidade teria nos poupado de muita dor, mas também acredito que foi um caminho que nos moldou muito cedo e fez com que a essência de cada um ressoasse mais forte, nos fazendo mais seguros de quem éramos. Mas até aprender todas as lições, tropessavamos no caminho do sucesso.

 Acredito que nós, mulheres, mesmo que guerreiras e fortes, ainda temos a tendência de deixar o amor falar mais alto do que o brilho do sucesso, talvez porque tenhamos sido condicionadas a isso pelas novelas que assistíamos, pela próprio ambiente familiar ou por algum instinto biológico. Por isso o suceso em si não abalou o que eu sentia pelo Poncho. As opções, as oportunidades com outros homens que tinham se tornando inúmeras para mim, não ofuscavam em nada o que tínhamos construido, afinal era quase dois anos de relacionamento. Por outro lado, quando olhava para ele, as coisas não eram assim, desde o inciozinho do sucesso, todas as portas que se abriram com mulheres, parecia encher seus olhos, ele se sentia nas nuvens, eu percebia que esse sim era o grande sonho dele, ter todas as mulheres que queria e não ter algo sólido, com uma companheira que se dedicava ao relacionamento e o amava cegamente. Eu vi Any passando o mesmo com o Christopher. Todas as "fãs" que se aproximavam, e eles flertavam de alguma forma, nossos olhos imediatamente se reviravam. Nós duas nos olhavamos e sorriamos ao pensar no que era mais patético: o flerte deles ou a nossa reação. De todos os livros que li, nenhum me deu uma resposta exata para nós mulheres amarmos tanto e nos entregarmos tanto, enquanto até uma certa idade tudo o que os homens querem são conquistas. Eu sabia que logo isso se agravaria, pois tínhamos uma turnê chegando, nossa primeira tour.

 A turnê se aproximava e com isso vinham os compromissos dos ensaios, o que aproximou nos seis ainda mais, porque apesar das gravações, não fazíamos parte sempre do mesmo núcleo. Eu era mais próxima da Mai e do Christopher durante as cenas, enquanto Christopher estava sempre contracenando com Christian e Poncho com Any. Era assim que a nossa dinâmica fluia, além dos nossos lados de casais fora dali.

 Chegou enfim a Tour Generación, algo grande estava por vir e todos estávamos muito nervosos, pois era um desafio físico, vocal e emocional. Nunca havíamos ficado tanto tempo sobre os palcos e isso exigia muito de nós, mas estar com os fãs e receber todo aquele carinho que não imaginávamos que tinham pela gente, era uma sensação única e nos dava forças para continuar. Por outro lado era um grande desafio suportar algumas "fãs" que flertavam tanto com Ucker, quanto com Poncho. Os dois aparentavam gostar, retribuíam sorrindo com o canto de boca ou com algum elogio, como quem nada quisesse. Discuti algumas vezes por isso, mas quem eu admirava era Any. Ela sabia dar muito bem o troco e em qualquer oportunidade agia igual com alguém dos bastidores, o que deixava Christopher louco. Eu nunca gostei de jogos ou de dar o troco, apesar de todos verem em mim a Roberta Pardo, ela só aparece na Dulce nos momentos de flerte e paixão, no amor sempre busquei calmaria e segurança, o que demorou muito para eu encontrar.

 Apesar de todo o cansaço, entre um show e outro, além dos compromissos publicitários, conseguíamos tempo para nos divertirmos, seja para comer ou ir para festas, estavamos.no auge dos nossos 20 anos. Eu não tínha esse ânimo todos os dias, quem já teve um relacionamento desgastado e sem confiança sabe que sair para onde haja muitos desconhecidos faz com que seja mais cansativo e desanimador do que a vontade de se divertir e isso fazia com que eu ficasse no hotel e Poncho seguisse com os outros. No dia seguinte eu sempre me deparava com manchetes ou algum comentario bem perspicaz de Anahí e Maite afim de me alertarem sobre o comportamento não muito ortodoxo do nosso companheiro de banda e meu companheiro de vida. Quando eu tirava satisfações, como sempre ele virava o jogo, me chamava de louca ou dizia que a culpa era minha por não acompanhá-lo, que eu deixava brechas para que outras mulheres pensassem que estava sozinho. Eu era tão apaixonada e tão ingênua que permitia ser convencida, me culpava e fazia de tudo para agradar, mas eu percebia os sinais, eu sabia que estava se tornando insuportável. Por outro lado eu via Christopher tratando Any como uma rainha. Ela era dominante e ele evitava fazer qualquer coisa que fosse contrariara. Aquilo realmente mexia comigo, mas era evidente que os dois tinham prazer em flertar com outras pessoas, o que me fazia manter certa distância dele durante a tour. 

 A turnê era bem estressante, desgastante, tínhamos muito problema com a produção no geral, ainda éramos iniciantes e desafinavamos ou perdíamos nosso tempo de entrada. Algumas vezes os instrumentos estragaram ou deixaram bem nítidas as vozes de apoio, as coreografias também saiam dessincronizadas. Como eu disse, era um desafio e nós estávamos começando, deixava nossos nervos a flor da pele e aconteciam várias discussões, principalmente entre Any e Poncho. Os dois tinham gênios muito fortes, ela não aceitava nunca não ter razão e ele nunca cedia aos caprichos. Eu e Christopher saímos de perto e deixávamos que se resolvessem, sempre com cara de indignados que a discussão acontecia novamente. Eu me poupava muito das brigas e só entrava em alguma discussão se achasse que realmente valia a pena. Nessa tournê a que realmente me lembro foi com a Any, quando ela soltou agudos, totalmente fora do roteiro, durante "Cuando el amor se acaba" e Maite ficou muito chateada por já não se sentir valorizada o suficiente e ainda ter seu momento "ofuscado". Any não deu o braço a torcer e justificou ter feito aquilo para que a música não ficasse tão contínua. A falta do pedido de desculpas me tirou do sério e eu aconselhei que fizesse isso em suas músicas, nas suas partes e questionei se os momentos dela já não eram o suficiente. Eu fui respondida com um olhar de desprezo e com suas costas, mas eu realmente senti que foi algo que valeu a pena, sempre presei muito por justiça e não me sentiria bem em ficar calada. Any tinha o gênio mais forte, mas também o maior coração. Com ela tive grandes discussões, mas muito maiores colos, apoios e conselhos. Ainda acho que os toques dela foram os grandes responsáveis pelo ponto final com Poncho.

 De volta para casa estávamos com a sensação de dever cumprido, mas eu sabia que meu relacionamento ainda era um grande desafio. Estava estonteada em como éramos conhecidos, em como as pessoas nos amavam, mal desfiz as malas e já fui ver Poncho para conversarmos sobre o que era o RBD, em como estávamos estourando. Fui até sua casa e conversávamos enquanto ele tomava banho. Naquele momento eu estava feliz, pois falávamos do grupo, quando um bip do celular anunciou uma mensagem. Eu fiz o que sempre julguei, o que sempre critiquei, peguei seu celular e li. Pra mim a desconfiança é o maior sinal de que um relacionamento acabou. Na mensagem dizia: "Eu ainda não acredito que pude compartilhar momentos tão incríveis ao seu lado. Você é muito mais do que a TV mostra. Na próxima semana chego a Cidade do México, mando mensagem com o horário como combinamos. Vou estar no Plaza. Beijos já com saudades ". Não sei definir o que senti, o estômago embrulhava, a visão ficou turva e eu estava a beira de um ataque de raiva. Sabia que se ficasse alí, se desse tempo a ele, seria coberta por desculpas que me convenceriam. Juntei todas as minhas forças, peguei tudo o que tinha meu no quarto. Deixei o celular aberto na mensagem, bati a porta e naquele quarto nunca mais voltei. Assim terminou nosso namoro, não nossa história, pois ainda conviveriamos por longos anos.

 Na semana seguinte voltaríamos a gravar, tiramos todos 3 dias de folga, o suficiente para eu me afastar e colocar a cabeça no lugar. Eu não o atendia, porque aquilo não era a primeira vez que acontecia, mas sim a primeira vez que eu tinha coragem de dar um basta em tudo. Decidi que conversaria no meu tempo, quando eu me sentisse forte o suficiente para seguir com a minha decisão e foi o que fiz. Nóos encontramos um dia antes das gravações começarem. Ele, como sempre, tentou me convencer que não passava de um mal entendido, que não era nada de mais, que eu estava vendo coisas onde não havia, mas não cedi. Segui com a minha decisão e decidimos usar o discurso que não era todo verdade, mas que fazia sentido nas nossas crises: estava muito difícil compartilhar a vida pessoal e a vida profissional, não tínhamos uma divisa entre os dois. Ponto. Essa fase foi a mais difícil da minha vida, pois se comigo ao seu lado ele já dava suas escapadas sempre que possível, agora tudo estaria muito visível, a cortina caiu.

 Um pouco depois também foi divulgado o término da Any e do Ucker, mas pelo motivo que nós, que acompanhávamos os dois, já sabíamos que aconteceria: traição e, apesar do que a mídia divulgou, não foi só da Anahí, os dois traíram concomitantemente. Em meio aos jogos de flerte, nenhum deles saíram vencedores, empataram com sucesso, mas eu senti neles algo bem mais resolvido do que entre o Poncho e eu, pois não tinham ressentimento, como se as coisas tivessem seguido a ordem natural. O que eu achava mais engraçado é que, apesar de uma certa distância, o que não era usual, eles mantinham o carinho e atenção um com o outro, o que para mim era extremamente admirável.

 Eu tive vários términos ao longo desses anos, mas o único "bom término", se é que isso é possível, foi o último. Acredito que leva-se tempo para amadurecer e para escolher alguém maduro a ponto de que nem o fim seja uma grande tragédia.