Fanfics Brasil - Capítulo 01 Querida Vilã

Fanfic: Querida Vilã | Tema: Época, Mundo Parelelo, Ficção


Capítulo: Capítulo 01

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Não sou o tipo de pessoa que costuma se incomodar com chuva, na verdade eu até gosto. Mas costumo preferir quando ela começa quando estou no meu apartamento, debaixo de um enorme edredom com uma xícara de achocolatado nas mãos. E claros, assistindo Crepúsculo.


Só que a bendita resolveu começar justo quando acabo de sair do meu estágio e agora estou presa em uma livraria minúscula que fede a coisa velha.


 


Suspiro cansada enquanto vejo o temporal varrendo as ruas.


 


— Olá mocinha.– Sobressalto ao som de uma voz feminina e me viro rápido na direção do som.


 


Uma mulher com aparência não muito jovem e nem muito velha me oferecia um sorriso gentil. Eu lhe daria 40 e poucos anos, as pequenas rugas em torno de seus olhos denunciava um pouquinho da sua idade e podia ver alguns fios brancos em seus cabelos castanhos presos em uma coque perfeito. 


Ela estava sentada atrás de um balcão enorme antigo marrom-avermelhado com alguns livros empilhados, já a frente do balcão tinha uma bancada com livros de todo tipo.


 


– Desculpe, olá.– Sorri sem jeito e me aproximei da bancada.


 


— Fugindo do temporal, não é?– Não era bem uma pergunta mas ainda sim assenti.— Essa chuva não vai parar tão cedo.– Comentou enquanto olhava pela vitrine.


 


— Pelo jeito.– Murmurei. Eu poderia dizer que não era uma pessoa de muita sorte.


 


Hoje o dia tinha sido uma loucura, acordei atrasada, esbarrei em alguém que derramou um copo de chá gelada em cima de mim. Tive que pegar roupa emprestada de uma colega, mas nossos corpos são totalmente diferentes. Ela é alta que veste 36 e eu sou uma garota média que veste 40 porque meus quadril são enormes. Recebi uma dosagem ridícula de assobios pelo campus e olhares desagradáveis de homens que provavelmente não sabe lavar o próprio saco. Sem contar o esporro do meu professor com meu trabalho de inglês que não era ruim, mas como ele mesmo disse, tinha pouca referência. Ou vamos comentar que me mandaram para uma sessão de fotos de uns modelos insuportáveis com rei na barriga. Vale lembrar que eles nem são conhecidos mas se acham as super-estrelas.


 


Meu sonho sempre foi me torna uma fotografá conhecida, sempre amei fotografar tudo. Até as coisas mais insignificante. Mas fotografar pessoas era minha paixão. Criei um blog na minha adolescência e postava fotos como meu passatempo favorito.


A dona Margarida, minha vizinha, me presenteou com uma câmera e ainda me deixava usar o computador.


Eu gostava de registrar as pessoas pela minha própria ótica. Um casal apaixonado, uma criança contente no parque, um senhor idoso rabugento mas que ama alimentar os bichinhos. Uma moça distraída enquanto escuta alguma música pelos fones, um rapaz andando de bicicleta. 


 


Em pensar que meu sonho tem sido esmagado por pessoas tão arrogantes, me faz questionar se vale a pena seguir esse caminho.


 


Voltando para o mundo em minha volta, olhei para a bancada de livro a minha frente. Franzi a testa para uma caixa parda com um laço, em cima estava um papel escrito, "Livro surpresa" por dois dólares.


 


— Oh, você gostou?– A mulher saiu de trás do balcão e parou ao meu lado. Ela era incrivelmente baixa. Vestia um vestido preto por baixo de um cardigan longo de tricot e calçava um mocassim. Ela cheirava a livro velho e chá de ervas.— É uma ideia bem interessante, não acha? São livros de autores desconhecidos, o que é bem legal por sinal. Você sabe, autores desconhecidos normalmente não tem grande alcance de leitores, o que é uma pena pois existem grandes autores por ai.– Ela tagarelava sustentando um sorriso enorme no rosto.


 


— É bem interessante sim.– Falei tocando a caixa.


 


— Você vai querer? É o último.


 


Pensei um pouco e assenti, ganhando um sorriso alegre da mulher baixa ao meu lado. Se fosse em um dia normal, talvez eu nem olharia aquela caixa por muito tempo mas se aquele temporal demorasse muito, um livro desconhecido poderia me prender até diminuir a chuva.


 


Paguei pelo livro e achei uma mesa no fundo da livraria.


 


Não era um lugar ruim, na verdade eu até gostava, era silencioso e eu amava o silêncio, sem falar na estética rústica. Eu com certeza registraria uma foto daquele lugar. Tirando o cheiro de livro velho, era um lugar que com certeza irá se tornar meu lugar favorito naquela cidade.


 


Colocando a caixa em cima da mesa, desfiz o laço e abri a caixa. Dentro tinha um papel em cima do livro com uma letra muito elegante por sinal.


 


"Querido leitor, agradeço a escolha. Espero que se diverta com esse romance cheio de aventuras e paixão ardente. Vamos nos aventura juntos?


Com amor, Anônima"


 


Bufei uma risada.


 


Coloquei o papel de lado e peguei o livro da cor branco que não era muito grosso. O título, "Lírio" com um desenho do lírio na capa. Folheei o livro e o começo já conta a história de uma moça que não se chama Lírio mas Catarina.


 


A mocinha era uma doce princesa, amorosa e boa. Era negligenciada pelo pai, maltratada pela madrasta e a invejada pelas mulheres, o que ocasionava em bulliyng terrível. Pequena e frágil, como um príncipe azul gosta.


 


Argh! Eu poderia vomitar com tanto clichê em um livro só.


 


Era bem engraçado que a princesa era cobiçada por três grandes príncipes, todos loucos por elas, matava e morria por ela, bastava ela pedir com a voz mansa. Isso grita clichê em um nível tão alto que me faz revirar os olhos tão forte que temi que não voltassem ao normal.


 


Não era meu tipo de livro, eu odiava romance como aquele. A mocinha sem personalidade alguma, que fica "confusa" mas todos sabem quem ela vai escolher.


Uma vilã pé no saco desesperada para ter atenção de macho, que ao invés de tentar ser no mínimo inteligente, fica infernizando a vida logo da protagonista.


 


Deixando um pouco o livro de lado, lembrei de avisar a minha companheira de apartamento/melhor amiga–Camille, onde eu estava, caso se preocupasse.


 


(...)


 


Havia passado exatamente uma hora e vinte sete minutos por ali. A dona Yvone, a senhora do balcão veio checar como eu estava, me falou seu nome e a idade que surpreendentemente não é 40 anos, é 54 anos, também contou um pouco dos filhos e netinhos e depois me trouxe alguns coockies de chocolate e achocolatado, o que me aqueceu por dentro.


 


Não falei muito de mim, apenas o básico, Selene, 22 anos. Contei que curso fotografia, estou no meu terceiro ano de bacharelado. Faço estágio na LOyB que é uma das grandes marca de modelo fotográfica do país. Era uma grande conquista para uma garota de apenas 22 anos, Yvone ficou maravilhada.


 


Não sou muito de falar sobre mim, primeiro que não gosto de contar sobre meu relacionamento com minha família. Odeio a pena nos olhos das pessoas quando chego a mencionar a minha história infeliz.


 


Meu pai morreu antes de eu sequer ter nascido. Minha mãe se envolveu com um homem idiota. Ele me odeia abertamente, ele já disse isso com todas as letras.


Não posso dizer que fui amada pela minha própria mãe, ela me odeia tanto quanto meu padrasto. Ela diz que sou um estorvo na vida dela e que se meu pai tivesse vivo, também me odiaria. Aquilo doeu por muitos anos e talvez sempre será uma cicatriz dolorida no fundo do meu coração.


 


— A chuva já deu uma amenizada, só está pequenos chuviscos.– Dona Yvone apareceu em minha frente novamente.— Você quer pegar um táxi? Uber? Alguém vem buscá-la?


 


— Ah não, eu moro pertinho daqui.– Levantei e coloquei o livro dentro da caixa para levar.— Acho que não vai me molhar muito ir andando. É só 3 quarteirão daqui.


 


— Certo.– Pausou.— Gostou do livro?


 


Olhei a caixa em minhas mãos e dei um risinho.


 


A escrita era muito boa, bem envolvente. Eu mudaria muita coisa nessa história para ficar ao meu gosto, mas não tinha odiado 100%. Os príncipes dessa história eram simplesmente perfeitos, o que a protagonista não tinha de personalidade, eles tinham em dobro. Uma delícia cada um deles. Se eu pudesse, daria uma protagonista digna para esses 3 pobre homens.


 


— Não é meu estilo de livro, mas eu até gostei.– Falei por fim.


 


— Que bom.–Sorriu.— Se puder escrever o que achou no nosso blog. Aqui está o link da nossa página.– Me entregou um cartão de visita com o nome da livraria "DreamBook", número para contato e o link do blog. Criativo.


 


— Claros, quando eu terminar de ler o livro, vou deixar minha resenha por lá.– Ofereci um pequeno sorriso simpático.


 


— Obrigada querida. Tome cuidado nas ruas e volte sempre, tá bom?– Assenti e recebi um pequeno abraço.


 


Sai dali totalmente perdida, era tão embaraçoso ser abraçada. Eu nunca sabia lidar bem com demonstrações de afeto.


Camille que era estudante de psicologia dizia que era por eu não ter recebido muito na minha infância, e por isso se tornava embaraçoso ou até mesmo incomodo quando alguém era minimamente afetuoso comigo. Isso eu não discordava.


Era algo que eu tinha certeza que jamais iria me acostumar.



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Autor(a): franpsouza19

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