Fanfic: A Morte do Sol | Tema: Terror, Romance Gótico, Mistério, Suspense, Psicológico
Respondi a Lady Morgana com um sorriso, tentando disfarçar o nervosismo que sentia. “Tenho passado bem, Lady Morgana. As histórias que ouvi sobre sua família são fascinantes, e é uma honra estar aqui.”
Enquanto falava, não pude deixar de prestar atenção na mulher que me havia recepcionado na entrada. Ela parecia eficiente e discreta, e agora voltava para o saguão para recolher as malas que haviam sido retiradas do automóvel.
Voltei meu olhar para Lady Morgana, que ainda me observava com um brilho de curiosidade em seus olhos. Sabia que aquele seria apenas o começo de uma série de interações que poderiam revelar muito mais do que eu esperava.
Lady Morgana sorriu ligeiramente e fez um gesto elegante com a mão, convidando-me a subir. “Venha, deixe-me mostrar seu quarto.”
Enquanto seguíamos pelo corredor, ouvi Lady Morgana chamar a mulher que retornou do saguão. Mary, que estava carregando as malas à minha frente, acenou com a cabeça em resposta e começou a subir as escadas. Subimos atrás dela, e eu não pude deixar de me sentir um pouco ansiosa sobre o que encontraria no quarto.
O corredor era longo e estreito, com paredes cobertas por um papel de parede escuro e desgastado, adornado com padrões intricados que pareciam dançar sinistramente à luz fraca das lamparinas. A iluminação era suave e amarelada, lançando sombras profundas que pareciam se mover e contorcer com cada passo que dávamos. Tapetes espessos e antigos amorteciam nossos passos, mas o silêncio era quase opressor, quebrado apenas pelo ocasional ranger do assoalho de madeira, como se a própria casa sussurrasse segredos inquietantes.
Em uma mesa de mogno encostada na parede, repousava um relógio antigo, seu tique-taque constante soando como um coração sombrio batendo dentro do casarão. Cada segundo que passava parecia ecoar pelo corredor, amplificando a sensação de tempo se arrastando, quase se esticando dolorosamente.
Pequenas estatuetas de bronze e prata decoravam nichos ao longo do corredor, cada uma mais enigmática e perturbadora que a anterior. Algumas representavam figuras mitológicas em poses dramáticas e macabras, enquanto outras eram de animais selvagens em movimento, capturando momentos de brutalidade congelada. Havia também vasos de porcelana, alguns com flores secas que pareciam ter sido esquecidas há décadas, outros vazios, mas todos contribuindo para a atmosfera sombria e carregada, como se o corredor estivesse saturado de memórias e lamentos.
Mary chegou ao quarto primeiro, e quando entrei, fui imediatamente envolvida por uma sensação de frio e isolamento. Embora espaçoso, a decoração sombria do quarto tornava-o quase claustrofóbico. As paredes estavam cobertas com o mesmo papel de parede escuro e desgastado do corredor, e a única fonte de luz vinha de uma lamparina a óleo sobre a mesa de cabeceira, lançando sombras trêmulas que dançavam pelas paredes, apesar de ser apenas três horas da tarde lá fora.
Uma enorme cama de dossel ocupava o centro do quarto, com cortinas pesadas de veludo que quase bloqueavam a pouca luz disponível. Aos pés da cama, um baú de madeira antiga, repleto de entalhes, parecia guardar segredos esquecidos. Havia uma lareira na parede oposta, mas estava apagada, e a sensação de frio parecia emanar dela, como se há muito tempo ninguém a tivesse usado para aquecer o ambiente.
Enquanto observava tudo ao meu redor, senti um calafrio percorrer minha espinha. Este quarto, como o corredor, estava impregnado de histórias não contadas e de uma atmosfera que parecia engolir qualquer vestígio de calor e vida.
“Este será o seu quarto durante a sua estadia.” Lady Morgana fez um gesto elegante com a mão, indicando o ambiente ao nosso redor. “A lamparina serve como uma luz do sol e pode ser especialmente útil se tiver algum vício em leitura.”
“Não se preocupe. Estou certa de que vou me adaptar bem. Se não for inconveniente, posso utilizar a biblioteca para minhas leituras.”
“Ah, sim, o seu local de trabalho.” Lady Morgana assentiu com um aceno gracioso. “Imagino que queira conhecê-lo agora, não é?”
Senti um leve desconforto com a pressa de Lady Morgana em direcionar a conversa para a biblioteca. Nos relatos do meu pai, ela sempre era descrita como uma figura calma, apesar de seu semblante arisco e a impressão de que sabia de tudo. No entanto, agora parecia que ela estava tentando apressar os objetivos implícitos da minha visita, agindo de forma direta e objetiva até mesmo na conversa. Lady Morgana era realmente o que os rumores diziam: aceitava historiadores de fora ao mesmo tempo em que demonstrava claramente que não os suportava.
“Tem muito trabalho para você fazer. Muitos historiadores já passaram por aqui, mas poucos conseguiram realmente captar a essência do nosso acervo. O trabalho de catalogar os livros é árduo, mas essencial para o estudo da história da nossa família.”
Ela caminhava com passos firmes, e eu a seguia, observando as sombras que dançavam nas paredes à medida que nos movíamos. “Deixei que Mary não arrumasse algumas estantes,” Lady Morgana continuou, “pois eram os livros importantes que os historiadores pegaram e separaram para catalogar com cuidado. Suponho que você vá precisar utilizar alguns deles para seu trabalho.”
Chegamos a uma escada em espiral que descia para o andar inferior. Lady Morgana liderou o caminho com confiança. “A biblioteca fica no piso térreo,” explicou, enquanto descíamos. “É um espaço mais reservado.”
Ao chegar ao piso térreo, passamos por um longo corredor, até que chegamos a uma porta dupla de madeira escura, ornamentada com entalhes intricados que pareciam contar uma história própria. Lady Morgana abriu as portas com um movimento decidido, revelando a biblioteca.
O ambiente era vasto e impressionante, com estantes que iam do chão ao teto, abarrotadas de livros antigos. A sala era iluminada por grandes janelas com cortinas pesadas, que deixavam entrar apenas uma tênue luz do sol, dando ao lugar uma sensação de penumbra constante. Lustres antigos pendiam do teto, suas luzes trêmulas lançando sombras que dançavam sobre os livros e móveis.
No centro da sala, havia várias mesas de leitura de madeira escura, algumas já ocupadas por pilhas de livros e papéis esparramados. Poltronas de couro desgastadas estavam estrategicamente colocadas em cantos de leitura, oferecendo um espaço para mergulhar nos volumes. Cheiros de papel envelhecido e couro permeavam o ar, criando uma atmosfera carregada de nostalgia e reverência.
Enquanto eu me movia pela biblioteca para absorver sua grandiosidade, a serenidade do ambiente começou a se desfazer, revelando uma sensação de inquietação crescente. Meu olhar, quase como que guiado por uma força invisível, foi atraído para a escadaria ao fundo da sala. Os degraus antigos e escuros, envoltos em uma penumbra inquietante, pareciam surgir diante de mim como uma visão de um pesadelo passado. Era a mesma escada que, segundo os relatos de Lady Morgana, havia sido o palco da tragédia que ceifou meu pai.
Autor(a): merophe
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