Fanfic: Entre Linhas e Olhares | Tema: Vida na favela, Romance....

Logo pela manhã, Maju acordou com o som familiar do morro ganhando vida. As vozes dos vendedores ambulantes, o barulho das crianças brincando, e o som distante dos rádios tocando músicas conhecidas se misturavam em uma sinfonia caótica, mas reconfortante. As lembranças da noite anterior ainda estavam frescas em sua mente, e a proposta de dar um tempo a Léo parecia mais lógica com a clareza da luz do dia.

Levantou tentando se concentrar nas tarefas do dia, mas não conseguia evitar as preocupações sobre as questões não resolvidas com seu pai e os impactos que isso teria em sua vida no morro. Seu pai sempre se esforçou para manter a ordem e a solidariedade entre os vizinhos, mas ultimamente, os boatos de um possível conflito com um grupo rival haviam deixado todos apreensivos.

Maju sabia que os desafios enfrentados pelo pai não eram simples. Ele estava tenso, e a pressão para encontrar uma solução pacífica era crescente. Ao entrar na sala, encontrou-o discutindo com alguns membros da comunidade, suas vozes baixas indicando a gravidade da situação.

Pai, há algo que eu possa fazer para ajudar? perguntou, desejando sinceramente contribuir de alguma forma.

Seu pai olhou para ela com uma expressão cansada, mas cheia de gratidão. Sua presença era um lembrete de que não enfrentava tudo sozinho. Maju, sua preocupação já é uma grande ajuda. Mas estou tentando negociar algo que possa trazer benefício para todos, disse ele, pausando brevemente para escolher as palavras.

Decidiram que ela poderia ajudar a mobilizar os jovens do morro para montar algumas atividades comunitárias, uma forma de desviar a atenção dos problemas e promover a união entre as pessoas. Organizariam uma pequena feira cultural, com jogos, música e comida, garantindo que a comunidade permanecesse forte e engajada mesmo em tempos difíceis.

A decisão trouxe um sopro de esperança para Maju. Era uma oportunidade de fazer a diferença e, ao mesmo tempo, distrair das questões pessoais com Léo. Convocou seus amigos mais próximos, explicando seus planos e pedindo ajuda para colocar tudo em prática.

No decorrer dos dias, a preparação para a feira consumiu seu tempo e energia. Ajudava a pintar faixas, montar barracas, e coordenar as atividades planejadas. O envolvimento com a comunidade deu uma sensação de propósito, e aos poucos, sentiu mais conectada com aqueles ao seu redor.

No dia da feira, o morro estava em festa. O aroma de comidas típicas no ar, enquanto sons de risadas e música embalavam todos que participavam. Maju observava o sorriso das crianças enquanto brincavam, e os olhares de gratidão dos pais à sua volta. Foi então que percebeu a importância de pequenas ações coletivas em tempos de incerteza.

Enquanto a feira acontecia, Léo reapareceu, como prometido, não para falar dos problemas entre eles, mas para ajudar nos detalhes que ainda precisavam ser ajustados. Juntos, trabalharam lado a lado, em silêncio, mas em sincronia, uma lembrança sutil do laço que compartilhavam.

Como um time, focaram no que era realmente importante o bem estar da comunidade que tanto amavam. Ao final do dia, Maju e Léo sentiram que, apesar das dúvidas pessoais, tinham contribuído para algo maior.

Os desafios continuariam a surgir, tanto no coração quanto no morro, mas juntos ou separados, estavam finalmente entendendo a força das suas raízes e a importância de enfrentar cada questão com compaixão, compreensão e coragem.

Enquanto Maju e Léo trabalhavam juntos para guardar as últimas barracas e limpar os restos da feira, uma sensação de satisfação estava no ar. A festividade havia sido um sucesso, trazendo um pouco de alegria à comunidade em meio a tempos incertos. O sol já estava se pondo,  o céu com tons de laranja e rosa, quando o celular de Maju começou a vibrar no bolso.

Léo, que estava ao seu lado, notou a tela piscando com o nome  Lucca  e Maju rapidamente pegou o aparelho, ficando um pouco sem jeito. Ela se afastou alguns passos, tentando processar o que Lucca poderia querer naquele momento.

Ao abrir a mensagem, leu: Oi, Maju. Achei muito legal a feira no morro hoje. Agora entendo um pouco mais sobre você e por que você fica apreensiva quando está com a gente. Podemos conversar em breve?

A mensagem de Lucca a pegou de surpresa. Ele era alguém que fazia parte de um grupo com o qual ela se envolvia nada muito sério, mas que carregava um mistério e perigo. Maju sempre sentiu necessidade de separar sua vida no morro de suas aventuras fora dele, em parte para proteger aqueles que amava.

Ela respirou fundo, pensando sobre a situação. A aproximação de Lucca ao seu mundo real a deixava preocupada e o fato de ele ter participado da feira sem que ela soubesse adicionava uma nova camada de confusão à sua vida já tumultuada. Precisaria pensar no que isso significava para ela e quais passos dar a seguir.

Léo, percebendo a mudança na expressão de Maju quando ela voltou, perguntou: Tudo bem com você? Parece que algo te preocupou agora.

Hum, é só uma mensagem de um amigo respondeu Maju. Não é nada demais, mas acho que pode estar mais envolvido nos meus assuntos do que eu esperava.

Léo assentiu, respeitando o espaço dela, mas não conseguiu evitar uma pontada de preocupação. Pela primeira vez em muito tempo, eles estavam começando a encontrar estabilidade entre si, apenas para mais incertezas surgirem.

Conforme terminaram de guardar os materiais restantes, Maju sabia que precisaria pensar com cuidado sobre como lidar com Lucca e manter o equilíbrio entre suas diversas vidas. Talvez fosse hora de reavaliar suas prioridades e tomar decisões sobre quem ela queria ser e com quem queria se envolver.

Após um longo dia, Maju e Léo se despediram, cientes de que muito ainda precisava ser resolvido. Sob o céu estrelado, Maju começou a caminhar de volta para casa, refletindo sobre como manter seu mundo inteiro seguro e harmonioso. As luzes distantes da cidade piscavam, lembrando das escolhas que precisaria fazer nos dias que viriam.