Fanfic: Entre Linhas e Olhares | Tema: Vida na favela, Romance....
Maju se viu em uma sala claustrofóbica, com paredes úmidas e um cheiro de mofo no ar. E embora a luz fraca não deixasse claros os rostos dos homens que a cercavam, ela podia sentir a hostilidade deles. A sensação de estar em território inimigo era assustadora e sua mente acelerava, buscando formas de escapar.
— O que você está fazendo aqui? — uma voz grave cortou o silêncio. Era um dos homens, um sujeito com tatuagens que cobriam os braços como um manto sombrio.
Ela tentou firmar a voz, apesar do medo que a consumia. — Eu… eu me perdi.
Os homens trocaram olhares, e Maju percebeu que não acreditavam em sua história. Então, um segundo homem se aproximou, com um sorriso desdenhoso. — Ah, é assim que as coisas funcionam, não é? As meninas se perdem na noite e acabam em lugares que não deveriam. Especialmente em um beco como esse.
Maju engoliu em seco, percebendo que sua situação era crítica. Naquela tensão, lembrou das palavras de Dada. Eles estavam, sem dúvida, em uma rede muito maior. Seu pai, João Caveira, era uma figura poderosa, mas também vivia em perigosas associações. Ser filha dele poderia ser uma arma.
— Espere — Maju disse, decidida a entrar em uma negociação. — Não sou só uma garota perdida. Meu pai é João Caveira. Ele… ele pode ajudar vocês.
A menção do nome causou um sussurro discreto entre os homens. O tatuado se aproximou mais, avaliando.
— João Caveira, hein? — ele sorriu, mas não era um sorriso amigável. — E o que você acha que ele pode fazer por nós?
Maju forçou-se a pensar rápido. — Ele tem muitos contatos. Podem precisar de proteção, de um meio de sair dessa vida. Eu… eu posso falar com ele.
O homem olhou para seu parceiro, que parecia considerar o que ela tinha a dizer. Maju viu uma oportunidade e decidiu arriscar.
— Eu sei que ele não é fácil de se trabalhar, mas ele pode ser útil para vocês. Se vocês me deixarem ir agora, eu prometo que trago uma proposta para ele que pode beneficiar a todos nós.
O homem tatuado cruzou os braços, a agitação em seu olhar. — E se você estiver mentindo?
— Não estou. Eu não quero estar aqui e correr riscos. Preciso voltar para meus amigos. Não quero me envolver nessa situação mais do que já estou.
O olhar de desconfiança ainda estava presente, mas algo na sinceridade de Maju parecia ter impressionado. Ela fez uma pausa, respirando fundo. Se conseguisse sair dali, teria uma chance de ir até seu pai e avisar sobre o que estava acontecendo.
— Tudo bem — finalmente disse o homem, abrindo um pequeno espaço. — Mas você vai ter que fazer algo por nós primeiro. Precisamos de uma mensagem entregue a um dos homens do seu pai. Se você falhar, as consequências serão suas para arcar.
Maju assentiu, aliviada pela brecha. — O que você quer que eu diga?
— Diga a ele que estamos no atrás de algo que ele precisa saber. O poder dele não é apenas respeitado é temido. Que isso não mude.
Maju logo quis memorizar as instruções, sabendo que cada palavra poderia ser importante.
Assim que saiu da sala, sua mente se encheu de pensamentos desencontrados. O que seria um jogo perigoso estava se transformando em uma batalha pela sobrevivência e o risco de seu pai se envolver na confusão que ela acabara de pisar era maior do que qualquer dança no caos da boate.
Ela caminhou pelas ruas, seu coração acelerado, enquanto se perguntava se estava realmente pronta para enfrentar seu pai. Ao mesmo tempo, a certeza se firmava. Se algo estivesse ameaçando a vida de quem amava, ela precisava fazer todo o possível para proteger aqueles que estavam ao seu redor.
Maju estava retornando ao morro após uma série de eventos. Ao chegar na boca do morro, sentiu uma tensão no ar. Jean, seu irmão, a agarrou pelo braço, levando rapidamente para a casa onde seu pai vigiava a comunidade. Era madrugada, e o pai, perdido em seus próprios pensamentos, não imaginava o que havia se desenrolado.
Quando Maju finalmente se deparou com o olhar severo de seu pai, decidiu que era hora de enfrentar a verdade. Com coragem, ela revelou que tanto ela quanto Jean estavam cientes das fotos que ele vinha recebendo, imagens que poderiam comprometer a segurança deles e do morro. Maju, em um desabafo angustiante, contou sobre sua experiência e a pressão que sentiu, fazendo com que o pai finalmente tivesse que encarar a situação e repensar suas prioridades.
Após a revelação de Maju, o pai ficou paralisado, absorvendo a magnitude da situação. O peso da responsabilidade caiu sobre seus ombros, e uma mistura de raiva e preocupação invadiu sua mente. Ele sabia que precisava agir, mas a incerteza do que fazer o deixava ainda mais angustiado.
Depois de alguns momentos de silêncio, ele se afastou da filha e do filho, pegando o telefone fixo que estava na mesa velha da sala. Com mãos tremendo, discou um número que guardava em segredo, uma linha direta para um homem que sempre esteve à sombra do morro, alguém que poderia ajudar a resolver problemas complicados.
A ligação foi atendida rapidamente. O homem do outro lado da linha, com uma voz baixa e firme, perguntou o que havia acontecido. O pai parou , mas sabia que precisava ser claro. Ele compartilhou as últimas notícias, mencionando as fotos e a ameaça sobre a família.
Precisamos de uma solução. ele disse, sua voz carregada de tensão. O homem ouviu atentamente antes de responder, prometendo que iria verificar a situação e que precisava de tempo para bolar um plano. O pai desligou o telefone, agora com um novo peso em seus ombros, mas também com a esperança de que talvez houvesse uma saída.
Ele virou-se novamente para Maju e Jean, o olhar mais acalmado. Temos que ficar unidos. O que quer que aconteça, nós enfrentaremos juntos.
Após o telefonema do pai, Maju sentiu uma onda de exaustão e confusão a envolver. O peso da situação a deixava inquieta, então decidiu que precisava de um momento para si. Ao chegar em casa, seu corpo pesado se deixou cair no sofá, enquanto sua mente ainda girava em torno dos recentes acontecimentos.
Foi então que pegou o celular e notou uma notificação diferente. Uma mensagem de um número desconhecido a chamou a atenção. Curiosa, abriu a mensagem e, antes de pensar melhor, decidiu ouvir o áudio que estava anexado. Assim que a voz serena começou a falar, seu coração pulou. Era Lucca, o garoto que ela conhecia de vista e por quem sentiu uma simpatia , mas que nunca tiveram a chance de se conhecer melhor.
Oi, Maju. Aqui é o Lucca. A minha irmã Daniela me deu seu número. Queria saber por que você não respondeu minha mensagem no Instagram, dizia ele, com um tom descontraído que fazia com que Maju se sentisse aliviada.
Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto. A conversa fluiu de forma natural, e ela rapidamente respondeu, explicando que havia estado ocupada com algumas coisas pessoais e que não havia tido a chance de olhar as mensagens.
Enquanto trocavam mensagens e vozes, Maju sentiu a tensão ir embora. Lucca era atencioso e divertido, e suas palavras estavam longe das preocupações que ela estava enfrentando no morro. Ele a fazia rir e esquecer um pouco da pressão que pesava sobre seus ombros.
Aos poucos, a conexão entre eles se fortalecia, e Maju se viu imersa na descontração daquela conversa, um refúgio temporário que a ajudava a se distrair dos problemas que a cercavam.
Autor(a): anonimamisteriosa_
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A madrugada se despedia, e os primeiros raios de sol entravam pela janela, iluminando o quarto de Maju. A noite anterior a deixou exausta, mas a lembrança da conversa com Lucca ainda dançava em sua mente. As risadas compartilhadas estavam longe da realidade sombria que a cercava, e ela percebeu que precisava se apegar a esses momentos de leveza. ...
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