Fanfic: Corações Em Meio Ao Caos | Tema: Vida na favela

A luz do sol mal conseguia penetrar as vielas apertadas do Morro do Horizonte, onde as casas de barro e concreto se empilhavam umas sobre as outras como tijolos em um jogo cruel de sobrevivência. Samyra, com seus olhos castanhos cheios de determinação, caminhava rapidamente para não se atrasar. O pequeno Lorenzo, agarrado à mão da mãe, curiosamente observava tudo ao seu redor, sem compreender completamente a complexidade da vida que levavam.

Victor, seu irmão, havia se tornado uma figura temida e respeitada. Seus passos ressoavam nas escadas íngremes da favela, e sua voz, que ecoava entre as paredes, fazia os moradores se calarem. Ele era o comando absoluto, e Samyra sentia o peso desse poder em seus ombros. O amor e a lealdade que ela tinha por ele eram complexos, misturados com medo e frustração.

 Mãe, por que o tio Victor grita tão alto? perguntou Lorenzo, puxando a blusa de Samyra.

Ela se agachou e olhou nos olhos inocentes do filho, tentando esconder sua ansiedade. Porque ele precisa que as pessoas o escutem, meu amor. É assim que ele mantém a paz.

Paz… repetiu o menino, pensativo. O conceito era um mistério, tão distante da realidade em que viviam.

Samyra sempre havia desejado que Lorenzo crescesse longe dessa vida. Com Felipe, seu amor, estava determinada a encontrar uma saída. Mas quanto mais ela tentava se distanciar da influência de Victor, mais essa tentação chamada poder a puxava de volta. Felipe, por sua vez, estava cada vez mais envolvido nas operações do morro, e isso a deixava apreensiva.

Naquele dia, uma tensão no ar fazia com que seu coração disparasse. Ela sentia que algo estava prestes a acontecer. A favela estava inquieta, sussurros passavam entre as pessoas, e apesar de ter certeza de que não era um dia comum, Samyra tentava manter a rotina. Tomou Lorenzo pela mão e caminhou até a pequena loja da esquina, onde sempre comprava o lanche da tarde.

 Amanhã é o aniversário do Lorenzo! ela disse a Felipe, que estava encostado no balcão, com um olhar distante.

Vamos fazer uma festa?  Lorenzo iluminou-se com a ideia, e Samyra sorriu, mesmo tendo a mente ocupada com preocupações maiores.

Felipe hesitou. A festa pode atrair muita atenção. Não sei se é seguro…

As palavras dele ecoavam na mente de Samyra. O morro estava cheio de incertezas, e qualquer movimento em falso poderia desencadear o caos. Ela precisava garantir a segurança do filho, mas também queria fazer aquele dia especial.

 Precisamos de um motivo para comemorar disse ela, determinada. E se não fizermos nada, o que teremos de bom para lembrar?

Felipe olhou para Samyra e viu a chama de luta em seus olhos. Ele sabia que ela não desistiria facilmente. Então vamos fazer algo pequeno, só nós três. Prometo que será especial.

Aquela promessa trouxe um pouco de alívio ao coração de Samyra. Mas, assim que deixaram a loja, algo chamou sua atenção. Uma sombra na entrada do morro, uma figura que ela conhecia bem. Era um dos homens de Victor, e seu olhar estava fixo em Felipe. O clima de tensão que se formou fez Samyra sentir um frio na espinha. O que quer que estivesse prestes a acontecer, ela precisava estar pronta.

A vida no Morro do Horizonte seria apenas mais um dia marcado por conflitos e amor. Mas Samyra estava determinada a lutar por sua liberdade, pela vida de Lorenzo e por um futuro longe das garras do poder e da violência.

E assim, entre sombras e luz, a batalha começou a se desenrolar.