Fanfic: Odeio Amar Você | Tema: Vondy
# Olá, olha só quem decidiu aparecer novamente com mais uma obra para vocês. 😁
# Quem já leu a primeira e a segunda versão, tem mais ou menos uma noção de como as coisas irão suceder. Espero que curtem essa também, porque ela e o meu presentinho para vocês antes de eu me ausentar definitivamente daqui.
# OAV, será dívida em duas, essa e a primeira parte, com aproximadamente 45 capítulos. A segunda será um pouco mais curta. Espero que gostem.
Christopher Uckermann || 🤓
Agosto de 2014
A sacada do apartamento que eu dividia com Anna, minha melhor amiga, oferecia uma vista privilegiada para a rua Botânica, uma grande avenida que atravessava quase toda a cidade. Apoiei o cotovelo no parapeito de ferro e observei o tráfego, levantando os olhos para o céu, onde algumas nuvens cinzentas começavam a se formar. Certamente, uma chuva estava a caminho. Só espero que não vire uma tempestade. Cuernavaca costumava ser bem chuvosa nessa época do ano, com verões que ultrapassavam os 30°C e invernos tão secos e frios que chegavam a fazer nossos narizes sangrarem.
O fluxo de carros continuava a aumentar gradativamente, e a fumaça tóxica das descargas contribuía ainda mais para poluir o céu. Isso era péssimo para minha bronquite, já que sempre que respirava esse ar, precisava fazer inalação duas vezes ao dia. Observei um grupo de pessoas atravessando a faixa de pedestres em direção ao nosso prédio azul de 10 andares. Algumas com o olhar fixo à frente, alheias ao que acontecia ao redor, outras caminhando apressadas. Um grupo de senhoras conversando tranquilamente, ao julgar pelos passos lentos que davam na mesma direção. Logo atrás, três estudantes, que me fizeram pensar em como as coisas seriam daqui para frente. Estava voltando às minhas raízes, justamente para o colégio onde terminei a preparatória. Por muito tempo, San Diego foi meu lar. Foi lá que descobri o valor de uma amizade verdadeira, que, graças a Deus, perdura até hoje. Poncho sempre foi um grande amigo, uma amizade que nasceu através do esporte e me acompanhou, inclusive, na universidade. Estudamos juntos na Universidade da Califórnia, onde me formei em Ciências Biológicas e vivi grandes experiências ao lado dele e de outras pessoas incríveis que conheci por lá.
E como sempre tive o desejo de lecionar, decidi cursar mais quatro anos de licenciatura. Agora, finalmente, teria a oportunidade de dar aulas no San Diego, graças ao Poncho, que foi meu mediador nesse processo. Se não fosse pela sua indicação, dificilmente teria conseguido o emprego.
— Não está atrasado para o trabalho? — a voz da Anna me trouxe de volta à realidade.
Ela era uma das pessoas incríveis que eu havia conhecido na Califórnia. E, embora não fosse exatamente o meu tipo de mulher, acabamos nos envolvendo romanticamente durante um período.
— Já estou de saída, só vim pegar um pouco de ar antes de ir. — Respirei fundo, inalando parte da poluição para os pulmões. Minha bronquite que aguente.
— Poluição, você quer dizer. — Sorri com os lábios fechados e virei o corpo na sua direção. Nossos olhares se cruzaram, e vi um sorriso discreto surgir no canto de seus lábios expressivos e curiosos.
— Exatamente, eu deveria te escutar mais a cada bronca que me dá quando venho para a sacada. — Ela me deu um beijo carinhoso na bochecha e, logo em seguida, tirou um fiapo de linha da minha camisa polo verde.
— Espero que tudo dê certo por lá. Tenha um ótimo primeiro dia de trabalho e, se precisar, me liga.
— Obrigado, Aninha! Torça por mim, porque vou precisar. Estou muito nervoso e receoso de que os alunos não gostem de mim.
— Tenho certeza de que eles vão te adorar, Chris. Você é incrível, o cara mais inteligente que conheço.
— Para de me bajular, garota.
— Não é bajulação, benzinho, só estou sendo sincera. — Ela segurou a ponta do meu queixo com o polegar e quase aproximou o rosto do meu para me beijar. Era sempre assim; sempre que surgia uma oportunidade, ela tentava se aproximar, mas como um bom mestre, eu percebia tudo e me afastava.
Ela gostava de misturar as coisas, enquanto eu fazia questão de deixar claro que o passado nunca retornaria.
— Podemos jogar mais tarde? — ela arqueou as sobrancelhas.
— Só se for damas — sugeri, já prevendo sua confirmação.
— Você me conhece tão bem. — Ela suspirou. — E saiba que eu adoro isso. — Uma risadinha baixinha escapou de seus lábios.
— Anna! — reprovei-a com o olhar.
— Desculpa, não quero quebrar nosso acordo, porque eu realmente gosto de ter você por aqui. Assim, não me sinto tão sozinha. — Ela encolheu os ombros.
— Então coopere para eu não ter que procurar outro lugar para ficar.
— Prometo que não vou insistir mais em você. Mas saiba que não vai ser fácil resistir a um homem nerd e gostoso como você. — Ela espalmou a mão em meu tórax.
— Pelo menos tente. — Afastei sua mão, dando dois passos para trás. — Quero que me veja como um amigo e nada mais.
— Tentarei.
— Jura de dedinhos? — Fiz o gesto e ela seguiu meu exemplo.
— Ótimo! Tenho que ir, está quase na hora, e eu não gosto de me atrasar.
— O senhor britânico está de volta.
— Muito engraçado. — Ri sem humor, pegando a bolsa que estava em cima do sofá. Despedi-me dela com um beijo na testa antes de caminhar até a porta.
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Depois de estacionar o carro no amplo estacionamento do colégio, olhei para o ipê, que ainda estava ali. Era a mesma árvore que trazia recordações incríveis dos momentos que passei com meus amigos no passado, jogando conversa fora enquanto Alex tocava violão. Alex foi quem me ensinou a tocar, e logo me apaixonei pelo instrumento.
Certa vez, depois do treino, Alfonso e eu estávamos suados e sem camisa, atravessando o corredor que levava ao jardim, quando encontramos Alex cercado por belas garotas que não paravam de babar por ele. Graças à nossa popularidade no time de futebol, ele começou a nos bajular também e até ofereceu aulas gratuitas para mim. A partir daí, desenvolvi uma verdadeira paixão pelo violão, que se tornou uma espécie de terapia para mim. Sempre que enfrentava algum problema, começava a tocar uma música que gostava para aliviar a mente.
Sob a mesma árvore, um casal trocava carícias, quase se esfregando um no outro. Que promiscuidade! Peguei minha bolsa e, após fechar a porta do carro, caminhei em passos moderados até o campo de golfe. Ele ainda estava como sempre: grama bem aparada, verde e os mesmos arbustos ao redor. Um grupo de alunos estudava ali, enquanto um casal se beijava ao lado e outros faziam uma baita algazarra. Dois deles estavam fumando, enquanto duas morenas balançavam os quadris, parecendo executar uma dança do acasalamento para chamar a atenção dos rapazes. As duas eram bonitas e certamente queriam impressionar seus namorados, mas acabaram atraindo olhares de todos ao redor.
Continuei meu caminho até o corredor que me levaria à sala do diretor. Sabia que o Sr. Pallares havia falecido há dois anos, mas não fazia ideia de quem o substituíra. Esperava que fosse alguém de boa conduta e não um desses diretores que bajulam os alunos por interesses pessoais. Ao chegar à recepção, a secretária me olhou por cima dos óculos, concentrada no computador enquanto anotava algo em um pedaço de papel.
— Pois não! — Ela me olhou minuciosamente, de baixo para cima, como se estivesse avaliando minha roupa. Eu sabia que deveria ter escolhido outra calça; as pessoas desse lugar sempre foram esnobes e metidas, e se achavam superiores por causa da conta bancária.
O ambiente ainda mantinha a mesma decoração: paredes vermelhas e aquela atmosfera densa que me era familiar desde os tempos de estudante. Minha família nunca foi rica, mas meus pais sempre se esforçaram para me proporcionar a melhor educação, por isso me matricularam no San Diego, um dos colégios mais caros do estado.
— Desculpe, nem vi você entrar. Estava tão atarefada — ela riu. — É pai de algum aluno?
— Não, sou o novo professor de Biologia — respondi, apertando a alça da bolsa.
— Ah, claro! — Ela espalmou a mão sobre a testa. — O diretor está conversando com o pai de uma aluna. É só aguardar um pouco; ele logo te atenderá. — Manteve uma postura séria e deu um meio sorriso antes de voltar a se concentrar no computador novamente.
— Obrigado!
Acomodei-me no estofado marfim e encostei no encosto, deixando minhas costas afundarem. Em outra ocasião, provavelmente não pensaria duas vezes em tirar um cochilo ali. Comecei a tamborilar os dedos sobre a bolsa enquanto olhava de relance para o lado e percebia algumas revistas na mesinha. As que estavam na frente não me interessaram muito, pois eram revistas de moda. Porém, abaixo delas havia uma edição da National Geographic que peguei para folhear até que ele me atendesse.
Embora minha atenção estivesse totalmente voltada para a revista, acabei ouvindo vozes vindas da sala do diretor, provavelmente dos dois homens que acabaram de sair, um deles sendo o pai da aluna mencionada pela secretária. Olhei por cima da mesa e avistei dois homens vestidos em ternos que, com certeza, custavam mais do que o meu salário. Ambos tinham cabelos grisalhos e barbas espessas. Juntos, exalavam uma aura de autoridade, especialmente o que usava um Rolex no pulso. Seu olhar era tão frio e intimidador que me deixou inquieto, como se pudesse causar danos apenas com um olhar. Sem se despedir, ele saiu e eu soltei um suspiro, aliviado por ele levar consigo toda aquela energia pesada que o acompanhava.
— Bom dia, Sr. Uckermann! Peço desculpas pela demora, estava resolvendo alguns assuntos com o Sr. Saviñón. — Ele sorriu amplamente. — Vamos.
Levantei-me e segui-o até sua sala, notando que a secretária estava tão concentrada em seu computador que nem percebeu nossa saída repentina.
Ao entrar, arrastei os pés pelo assoalho, e a porta rangeu levemente ao ser fechada. A sala mantinha as mesmas paredes brancas, adornadas com uma prateleira repleta de troféus que remetiam aos tempos de glória do time, algo que imediatamente chamou minha atenção. Na ponta da prateleira, a taça que ganhamos no intercolegial contra o Colégio Saint Germain brilhava, e seu prateado reluzia ainda mais sob a iluminação. Definitivamente, era uma taça magnífica. Senti saudades dos tempos em que era artilheiro do extinto time do colégio, quando a vida era uma mistura de estudos e festas. Por que as responsabilidades da vida adulta tinham que ser tão estressantes?
— Relembrando os velhos tempos, Sr. Uckermann. — Sua voz grossa e firme me puxou de volta à realidade.
— Sim... É uma pena que o time tenha sido extinto. Tenho ótimas recordações daquela época.
— Sente-se, rapaz. Vamos conversar um pouco. — Ele apontou para a cadeira estofada em marrom.
Acomodei-me, sentindo minhas nádegas afundarem no estofado, e olhei em seus olhos. Ele pegou uma caixa ao meu lado e retirou dois charutos de dentro.
— Vamos, pegue. É para relaxar antes das aulas começarem. Os alunos não são fáceis; melhor estar preparado.
— Obrigado, mas eu não fumo. Tenho bronquite.
— Perdão. — Ele devolveu o outro charuto à caixa.
— Sem problemas. — Respondi com um sorriso amigável.
Colocou o charuto entre os lábios e pegou o isqueiro ao lado para acendê-lo.
— Espero que não lhe faça mal. Meu pai também tinha bronquite e eu sempre evitava fumar perto dele, porque ele passava mal.
— Tudo bem, eu faço inalação quando chego em casa.
Ele tragou e logo em seguida jogou a fumaça para o lado. Mesmo tomando cuidado para não direcionar a fumaça na minha direção, acabei sentindo o cheiro e tive que tossir.
— Vou fumar ali na janela. Você pode continuar aí, rapaz.
— Certo — concordei, observando-o levantar e caminhar até a janela.
— Amanda, do RH, disse que você veio da Califórnia. Então, não é mexicano?
— Não, fui para lá fazer faculdade, mas sou daqui, de Cuernavaca mesmo.
— Entendi. — Tragou fortemente o charuto, fazendo suas bochechas afundarem. — A Srta. Sodi nos deixou na mão, e precisávamos de alguém rapidamente para substituí-la. Os alunos não podiam ficar sem professor de Biologia. Sei que você nunca deu aulas, mas não se preocupe; você aprenderá rapidamente.
— Estagiei ainda na faculdade, mas faz algum tempo que não piso em uma sala de aula. — Estalei alguns dedos por baixo da mesa.
— Isso não será um problema, porque eu mesmo te levarei até a sala deles e te ensinarei a impor respeito. — Exibiu um sorriso travesso.
Era para eu ter relaxado, mas seu sorriso me deixou um pouco apreensivo.
— Eu sei me impor, senhor...
— Hernández, certo? — Ele duvidou. — Sua postura não está me dizendo isso.
— É que estou nervoso — justifiquei.
— Não precisa ficar assim, rapaz. Os jovens não mordem. Só uma. — Ele riu.
— O senhor está me dizendo que tem uma aluna problemática? — Arqueei as sobrancelhas.
— Exatamente! — Soprou a fumaça e jogou o que restou do charuto pela janela. Depois, caminhou em direção à sua mesa.
Ele se acomodou em sua cadeira, que ficava do outro lado, e logo apoiou os braços no encosto dela.
— Não sou recém-formado, Sr. Hernández, e sei como me impor com essa aluna — respondi, firme.
— Vamos ver — ele retrucou. — A Srta. Saviñón não é uma aluna qualquer. Você sabe quem é o pai dela?
— Não faço ideia. — Passei a língua nos lábios, nervoso.
— Já imaginava. — Começou a tamborilar os dedos na mesa. — O Sr. Saviñón é o dono da RS Enterprises, a maior marca de bolsas e sapatos do México.
— Ouvi falar, mas nunca comprei um sapato dessa marca; é muito caro.
— Essa aluna é um... — ele suspirou profundamente. — Faltam-me adjetivos para descrever seu comportamento. Digamos que ela foi contaminada pelo vírus da rebeldia. Não respeita as normas do instituto, vive se metendo em confusões e confrontando os professores. Resumindo: não tem respeito por ninguém.
— Mas o que isso tem a ver comigo?! — franzi as sobrancelhas. — Estou aqui para dar aulas, e isso deveria ser responsabilidade dos pais e da escola.
— É, responsabilidade dos professores também — ele confrontou. — Você passará boa parte do dia com os alunos, só estou tentando te preparar. Seja firme com essa aluna, não deixe que ela te manipule. Já era para ter sido expulsa, mas, em consideração ao Sr. Saviñón, ainda não fiz isso.
— Você está dizendo que eu tenho que lidar com um problema que não é meu? — perguntei, incrédulo.
Era só o que me faltava; já bastavam os meus problemas, e agora eu teria que ensinar boas maneiras ao filho dos outros. Principalmente a uma adolescente mimada, que não recebeu as lições que deveria ter aprendido na infância.
— Se quiser fazer parte do corpo docente dessa instituição, a minha resposta é sim.
— Vou ter que virar babá de uma adolescente mimada? — perguntei, cético.
— Eu não disse isso, rapaz; você não entendeu direito.
— Entendi sim — rebati. — Na entrevista, não me falaram que eu teria que ser babá de um aluno.
— E você não será uma babá. Apenas ajudará a controlar os impulsos dela, como a rebeldia, a teimosia e a audácia.
— Ok, mas quando...
— Se fizer tudo corretamente, eu vou te dar uma recompensa. Precisamos colocar essa aluna nos eixos. Este é o último ano dela aqui no internato, e o pai dela quer que a coloque nos trilhos até o final do ano letivo.
— Não vou aceitar... Isso é problema do colégio. Sinto muito, mas não vou ajudá-lo — declarei, convicto.
— Certo, então não precisa me acompanhar até a sala. Pode dar meia-volta e ir embora, porque se não está disposto a acatar as minhas ordens, também não estará pronto para trabalhar nesta instituição.
Pelo visto, o diretor era exatamente o tipo que eu temia: um corrupto chantagista. Com certeza, ele passava a mão na cabeça da aluna em troca de algumas propinas.
— Ok, eu vou aceitar, porque preciso muito do emprego.
Mais uma das desvantagens da vida adulta era ter que engolir sapos; isso era um saco. Infelizmente, não nasci herdeiro, então precisava trabalhar.
— É isso aí, rapaz. Seja inteligente e obediente que só terá a ganhar. Os alunos já devem estar na sala, vamos? — Ele olhou para o relógio em seu pulso. Mesmo sem querer parecer intrometido, estiquei um pouco o pescoço para ver o objeto, que, pelo aspecto, não era um relógio qualquer. Com certeza era um presentinho daquele senhor mal encarado.
— No seu currículo diz que você é fluente em três idiomas, estou certo?
— Sim, além do espanhol, falo italiano, inglês e sueco — respondi, rindo. — Isso porque minha mãe é sueca e veio ainda jovem para o México trabalhar como modelo.
— Isso é excelente! Assim, poderemos tê-lo também nas atividades extracurriculares. Os alunos precisam de um professor que fale italiano — disse, entrelaçando as mãos com certa empolgação.
— Se vocês pagarem mais, eu não hesitarei em aceitar.
— Fica tranquilo, que terá algo a mais além do seu salário. É só andar na linha e fazer tudo que eu te ordenar — ele exibiu o mesmo sorriso presunçoso.
Ele se levantou da cadeira e eu o segui, juntos caminhamos por um longo corredor que me trazia lembranças dos meus tempos como estudante aqui. Chegamos ao final e paramos em frente a uma porta de madeira pintada de cinza. O barulho de vozes se misturava, indicando que a sala estava cheia. Nervoso, traguei a saliva, apertando a bolsa contra o peito enquanto inalei o ar, exatamente no momento em que as mesmas garotas do campo de golfe passaram ao nosso lado. Ambas tinham cabelos escuros, mas o da mais baixa chegava até o quadril.
— A da esquerda é ela. — O Sr. Hernández apontou discretamente para a garota, e tive a sorte de que elas estavam de costas.
— A mais baixinha?
— Exatamente! Ela não é fácil, mas se você fizer o trabalho corretamente, terá sua recompensa. — Ele fez um gesto com os dedos, e logo percebi do que ele estava falando. — Vou entrar com você e dar uma palavrinha com eles antes da sua aula.
— E, até melhor. — Suspirei, sentindo a ansiedade aumentar.
— Está com medo, rapaz?
— Não, só um pouco nervoso, mas não há nada que um copo d`água não resolva.
— Deixe a água para depois. Primeiro, você vai entrar comigo, ok?
Ele foi na minha frente, e eu o segui, arrastando os pés pelo piso de cerâmica branca. A sala era ampla, com um quadro branco na frente, e duas grandes janelas laterais que deixavam entrar uma luz natural agradável. Cada aluno tinha seu computador, e pareciam inofensivos. Inclusive, a Srta. Saviñón. Não queria fazer isso, mas acabei observando-a mais do que deveria. Ela era bonita, até demais para ser tão problemática. Traços angelicais, olhos grandes e expressivos, e lábios pequenos e carnudos tornavam-na ainda mais bela. Um rosto que engana facilmente, pois ela não tinha a aparência de quem apronta.
— Bom dia, jovens! — A voz do Sr. Hernández foi firme e forte. Os alunos pararam instantaneamente e olharam para ele, mas não a Srta Saviñón, que, com um movimento casual, mexeu no cabelo e continuou a encará-lo com uma audácia evidente. Prestei atenção em seu rosto mais uma vez e não pude deixar de imaginar a linda mulher que ela se tornaria um dia. Se adolescente era assim, imagina quando tivesse seus vinte e poucos anos.
— Quero apresentar o novo professor de Biologia a vocês. Ele substituirá a Srta. Sodi.
— Interessante, então teremos mais um que não vai aguentar ficar aqui por muito tempo. Pela cara de “lerdo” que ele tem, com certeza não suportará o rojão. — Ela passou a língua entre os lábios, como se estivesse avaliando a situação. — Seja bem-vindo ao hospício, professor. Espero que sobreviva ao primeiro dia de aula. Sr. diretor, eu vi meu pai saindo daqui hoje. Aposto que chamou ele para mais uma de suas reclamações. Sabe que sou uma santa e jamais faço as coisas sem pensar. Espero que ele não tenha contratado outro energúmeno para vigiar meus passos, porque, se isso acontecer, eu irei enxotá-lo. Ou posso fazer melhor, como devorá-lo, porque na calada da noite eu me transformo em uma fera perigosa que devora a presa.
Um burburinho começou e alguns alunos riram baixinho, incluindo a outra morena que estava sentada ao lado da Saviñón.
— Silêncio, por favor! — exclamou o Sr. Hernández, exaltando-se. — De pé agora, Srta. Saviñón! — ordenou, com o cenho franzido.
— E se eu não quiser? O que o senhor vai fazer? Me agredir ou me expulsar deste colégio? Já deveria ter feito isso há muito tempo. Vamos ver... já sabemos a resposta, não é, querido diretor? — A ironia em sua voz era inconfundível.
— Chega, senhorita! Não estou com paciência para suas gracinhas. Levante-se agora e peça desculpas ao Sr. Uckermann.
— Não irei pedir desculpas a ninguém, porque não fiz nada. Apenas disse a verdade: esse lugar é um verdadeiro hospício de corruptos. Acha que eu amo ficar presa aqui? Por mim, já teria saído dessa prisão há muito tempo.
Definitivamente, ela não tinha papas na língua. Era do tipo que falava tudo o que pensava.
— Deixa pra lá, Sr. Hernández. — Tentei contornar a situação, mas ele não gostou muito, mudando de feição.
— É assim que você vai impor seu respeito, rapaz? Espero que, da próxima vez, tenha mais pulso. Essa aluna faltou com respeito a nós dois, duas autoridades que estão acima dela. — Ele passou a mão sobre o paletó cinza, que fazia parte de seu terno.
— Respondendo a sua pergunta, Srta. Saviñón, eu aguentarei, sim, porque não estou aqui para crucificá-la ou complicar a vida de vocês. — Ignorei completamente os chiliques do Sr. Hernández, fixando meu olhar diretamente nela. — Entrei nesta instituição para ensinar a cada um a se preparar para a universidade. Esse é o meu papel como educador: formar novos profissionais.
— E quem disse que eu quero ir para a universidade? Já é um saco estudar aqui. — Ela revirou os olhos. — Olha, professor, não quero que banque o amiguinho comigo, porque, assim como os outros, eu não facilitarei para você. Se tentar me coagir ou meter o nariz onde não deve, eu vou ferrar contigo, entendeu?
Engoli a seco, não deveria estar com medo, mas a presença dela era intimidante, mesmo com seu um metro e meio de altura.
— Acabou, Srta. Saviñón! — disse o Sr. Hernández, enfurecido. — Quero que me acompanhe até a minha sala agora! — ordenou.
— Vai me dar advertência, querido diretor? — ironizou. — Zoé, nos vemos lá fora. — Com muito custo, ela se levantou da cadeira. — Acho que dessa vez vai. — Piscou para a outra morena, que balançou a cabeça em negação.
Achei estranho ela caminhar na nossa direção, como uma ovelha obediente. Pela fala do diretor, ela não parecia tão rebelde.
— E não ouse tocar em mim, porque, se o fizer, vou gritar dizendo que você está tentando me estuprar.
— Acompanhe o diretor, por favor — ordenei, tentando manter a compostura.
— Só irei acompanhá-lo porque estou com vontade, não por causa da sua ordem — respondeu, ríspida.
— Já basta, Srta. Saviñón! Anda logo, que não tenho todo o tempo do mundo para os seus chiliques juvenis. Não acha que já passou da hora de ter mais respeito pelas pessoas? Se não entrar na linha a partir de hoje, terei que tomar as devidas providências.
— Você sabe que eu ficaria imensamente feliz se me expulsasse. Assim, não teria que olhar para essa sua cara feia nunca mais.
— Senhorita, vá com o diretor. — Fui firme, tentando não deixar transparecer a frustração.
Com relutância, ela acompanhou o Sr. Hernández, arrastando suas botas pretas de cano longo para fora da sala. Embora soubesse que não deveria, não consegui evitar de observar novamente. Ela marchava firme atrás do diretor, parecendo uma rebelde disfarçada de ovelha.
ܣܣܣܣܣܣܣܣܣܣ
<> Já começamos daquele jeito. 😏
<> Quem aí estava com saudades da história?
Autor(a): Vondy_fics
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Dulce María Saviñón || 😎😈 Enfurecida, era exatamente assim que eu me sentia. Nunca fui de esconder o que sinto, mas agora estava controlando a imensa vontade de apertar o pescoço desse velho corrupto até que ele morresse asfixiado. Que diretor idiota! Quem esse hipócrita pensa que é? E o novo professor com car ...
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