Fanfic: Te Daria Tudo - Vondy | Tema: Vondy

Capítulo Um

O Fim

2010

        O tom suave de dourado invade o quarto através da janela entreaberta, a brisa fresca da manhã sopra suavemente, tocando meus cabelos e fazendo as cortinas dançarem lentamente. O cheiro dele ainda está por toda parte, assim como sua ausência. Não preciso me virar para saber que a cama está vazia e que em seu travesseiro está mais um maldito bilhete.

Ontem à noite ele parecia tão presente, tão meu. Suas palavras ainda estão em mim como uma melodia que se recusa a desaparecer. – Eu te amo, Dulce. Nunca duvide disso –, ele havia dito entre beijos, sua voz suave como se carregasse o peso de um amor eterno. Mas o amor dele é como corda bamba. Um passo em falso e o chão desaparece, deixando apenas um abismo de incertezas.

Não preciso olhar. Não quero saber.

E ainda assim me viro, e é claro que o bilhete está lá. Sempre está. Aquele lembrete silencioso de que, por mais que eu tente acreditar, o ciclo sempre se repete. Estendo a mão e toco o papel, ele é leve, quase frágil, assim como tudo que somos. Respiro fundo antes de abrir, sei exatamente o que ele diz, mas sinto a necessidade de lê-lo, de me torturar com a caligrafia que já conheço tão bem e as desculpas que sei de cor.

"Dul, você merece mais. Mais do que eu posso te dar.

Não quero ser a razão de você não ser feliz.

Não quero te prender a algo que eu sei que não posso sustentar.

Te amo, mas não sou o homem para você.

Christopher."

O mesmo discurso, a mesma fuga. A tortura doce de um amor que se desfaz entre os dedos. Não é a primeira vez que acordo acompanhada de um simples pedaço de papel e vejo suas palavras se transformarem em facas afiadas, cortando um pedaço do que ainda resta em mim.

Eu me sento na cama e olho através da janela, tentando ignorar a realidade, mas os sentimentos que se misturam em mim são como um coquetel amargo que bebo todas as vezes que ele vai embora. Relembro a noite passada tentando me convencer de que ele realmente me ama. A maneira como ele me olhou, como se eu fosse o centro do seu universo. Todas as promessas sussurradas entre os beijos, o som da sua risada ecoando na sala, preenchendo toda a minha alma se transformaram em ecos vazios.

Eu queria acreditar nele. Queria acreditar que ele volta porque me ama. Mas quanto tempo mais posso suportar? Quanto tempo mais vou fingir que uma parte de mim não está se quebrando a cada ida e volta?

Eu queria. Queria tanto que isso fosse diferente. Queria tanto que ele ficasse. Mas talvez o problema não seja ele. Talvez o problema seja eu... e essa insistência em acreditar que o amor pode consertar tudo, mesmo quando ele só deixa rachaduras ainda maiores.

Respiro fundo, levantando-me da cama, a camiseta dele ainda cobrindo meu corpo. O tecido macio carrega o cheiro dele, uma lembrança cruel de como tudo parecia certo algumas horas atrás, jogo o bilhete no lixo e me encaro no espelho. Talvez ele não seja o homem para mim, mas, por mais que doa, talvez ele tenha razão. Talvez eu precise aceitar que há amores que só existem na promessa, mas nunca na realidade.

E talvez, só talvez, eu finalmente precise deixá-lo ir.