Fanfic: Te Daria Tudo - Vondy | Tema: Vondy

2019

O som suave da madeira estalando na lareira foi a primeira coisa que registrei ao despertar. Pequenos ruídos vinham da cozinha, acompanhados pelo aroma inconfundível de café fresco. A névoa da manhã ainda se agarrava à paisagem, como um manto que flutuava sobre o vale enquanto o sol nascente pintava o céu com tons dourados. Mesmo com o fogo crepitando ao canto da sala, ainda fazia frio fora das cobertas. Puxei a manta macia sobre os ombros e deixei os olhos passearem pelo chalé.

O teto panorâmico ainda emoldurava as últimas estrelas que se dissolviam na claridade do amanhecer, e a visão do deck amplo com a jacuzzi vazia me trouxe uma pontada de melancolia. Hoje era nosso último dia aqui. Paco havia planejado essa viagem com semanas de antecedência, insistindo em manter o destino em segredo até o último momento, ele quis fazer uma surpresa para o meu aniversário e o nosso primeiro mês de casados. Mas quando chegamos ao eco resort escondido entre as montanhas, entendi o motivo do suspense. O lugar era deslumbrante. O requinte discreto, a arquitetura perfeitamente integrada à paisagem e a elegância rústica me fizeram querer ficar aqui pra sempre. Quatro dias não tinham sido suficientes—eu já sentia saudade antes mesmo de partir.

Meus olhos encontraram Paco na cozinha aberta, se movendo com aquela tranquilidade que sempre me fazia sorrir. Ele estava de costas para mim, arrumando a mesa cuidadosamente, conferindo cada detalhe da refeição que haviam deixado na porta para nosso último café da manhã aqui. Como sempre, ele cuidava de tudo.

Ele ergueu os olhos no instante em que me percebeu observando-o, e um sorriso nasceu em seu rosto—aquele sorriso familiar, sereno, como se não houvesse nada mais natural do que eu estar ali.

— Bom dia, meu amor. — Sua voz era cálida, carregada de afeto. — Está com fome?

Meu estômago roncou em resposta, me denunciando.

— Agora que você falou...

Ele riu baixo, aquele som leve e despreocupado que eu tanto amava.

Ainda parecia surreal. A ideia de que agora eu era uma mulher casada. Que Paco era meu marido. Que minha vida havia encontrado um ritmo perfeito ao lado dele. Não havia dúvidas, nem hesitações. Apenas uma certeza tranquila de que eu havia feito a escolha certa. Ao lado dele, eu me sentia leve, completa e segura.

Meu celular vibrou na mesinha ao lado da cama, anunciando uma notificação.

Ignorei. Enrolei-me melhor na manta e caminhei até a cozinha, sentindo o chão de madeira fria sob os pés descalços. Fiquei na ponta dos pés e beijei Paco, meu marido. Meu coração sempre se aquecia ao lembrar disso. Apesar de sempre ter sido boa com palavras, eu nunca conseguia descrever completamente a paz que ele me trazia. Era algo novo, totalmente bem-vindo.

Outra notificação.

Paco se afastou apenas o suficiente para me olhar nos olhos, segurando meu rosto de leve.

— Você não vai ver o que é?

— Agora não — murmurei, roçando os lábios nos dele. — Vamos aproveitar nossos últimos momentos nesse paraíso.

Ele assentiu, satisfeito com a resposta.

— Quer creme e açúcar?

Suspirei, lembrando do quanto me entreguei aos prazeres da gastronomia nos últimos dias.

— Eu exagerei um pouco... pode ser puro mesmo.

Mais uma notificação.

Paco se aproximou, entregando-me uma xícara quente. O cheiro forte e familiar do café me envolveu, mas minha atenção já estava dividida.

— Acho que você deveria pelo menos verificar quem é.

Hesitei.

Não queria.

Queria permanecer nessa bolha mágica por mais um pouco. Fingir que nada do lado de fora existia. Mas caminhei de volta à cama. E no instante em que vi o nome na mensagem, soube que deveria ter deixado o celular de lado.

As notificações eram de Poncho. No nosso grupo. Ele sugeria um reencontro.

Meus dedos permaneceram sobre a tela, mas minha mente estava longe. Eu nunca respondia aquele grupo, porque sabia que, no fundo, manter contato com partes do meu passado significava abrir um portal que levava de volta para Christopher. E desde aquele dia, daquela ligação no meio da madrugada, algo insistia em me fazer duvidar de todas as certezas que construí. Por isso, a única certeza que eu tinha era que precisava me manter afastada.

Paco notou minha hesitação. Ele conhecia esse olhar.

— Tudo bem? — Sua voz veio suave, mas atenta.

Demorei um segundo a mais do que deveria para responder.

— Sim... — Deslizei a tela para cima, bloqueando o celular. — Nada importante.

Ele me olhou por um instante, como se estivesse ponderando se deveria insistir ou não. Mas, como sempre, Paco sabia quando respeitar meus silêncios. Ele apenas sorriu de leve e passou o polegar pelo dorso da minha mão antes de se afastar para pegar sua xícara.

Mas eu não conseguia afastar a sensação de que algo dentro de mim começava a se remexer com o simples fato de saber que Christopher estava lá, do outro lado da tela.